Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Estas breves considerações alicerçam-se em alguns dados estatísticos que recolhi no útil site “Pordata” e analisei com algum cuidado. Embora a temática não seja inédita, julgo que desvendo alguns dados interessantes e algumas questões dignas de reflexão.
A Cultura humanista no nosso país e na Europa, nas últimas décadas, tem sido alvo da opressão dominante do paradigma tecnocrático dos políticos actuais e de outros factores sistémicos, que irei referir. O drama da empregabilidade tem reduzido os candidatos estudantis com vocação para as Humanidades, o que se tem revelado um problema, dado que as perspectivas humanistas têm sido secundarizadas e com estas condicionantes perde-se, nas nossas sociedades, sob pressão dos consumismos materialistas, a noção da necessidade da formação integral do Ser Humano[1].
A crise das Humanidades acompanha o esquecimento a que público português tem votado a Biblioteca Nacional de Portugal. Vejamos que, nos dados abaixo apresentados, não obstante o número de livros disponíveis tenha sido multiplicado por cinco (por arredondamento), o número de leitores, tendo variado neste período em estudo, permanece em cifras bastante idênticas comparando os números de leitores de 1960 e de 2008 (respectivamente 41.304 e 42.453).
Desta forma, o aumento da escolaridade da maioria da população portuguesa (sucessivamente de 4 anos do ensino primário, 6 anos do ensino primário e preparatório, 9 anos dos três ciclos do ensino básico até aos 12 anos previstos actualmente pelo Estado Português) tem conduzido a menores níveis de literacia, devido a uma complexidade de factores, como afirmam até à exaustão o fiscalista Henrique de Medina Carreira e o matemático Nuno Crato no programa “Plano Inclinado” da SIC-Notícias. Em suma, a democratização do ensino tem gerado mais pessoas escolarizadas, com mais anos de frequência escolar, mas menos capacitadas para ler, pensar, calcular e escrever com facilidade e correcção.
A imprensa acompanha estes baixos índices de literacia dos portugueses, uma vez que os jornais têm aumentado os seus leitores à custa dos diários gratuitos, da diminuição da densidade informativa e do aumento do espaço destinado às imagens que tornam mais apelativa a leitura a todos os portugueses. Com efeito, aumentam os recursos e os meios de informação e de divulgação da cultura, mas diminui a qualidade dos serviços prestados.
O fenómeno tecnocrático das nossas sociedades tem correspondência com a falta de formação ideológica dos nossos cidadãos que tem esvaziado as democracias Ocidentais do exercício da plena liberdade dos cidadãos pela força da “musculatura técnica”, naquilo a que os politólogos designam por “democracias musculadas”. Ora este facto tem potenciado o crescente divórcio entre os cidadãos e os políticos[2], porque os primeiros sentem que as suas escolhas contam pouco e que tudo já está, mais ou menos, predeterminado pelos constrangimentos das instituições comunitárias e das instituições financeiras.
As políticas culturais portuguesas, das últimas décadas, têm investido em equipamentos e infra-estruturas que concorrem para potenciar a democratização da cultura, mas convém reparar no facto do número de Bibliotecas crescer mais significativamente do que o número dos seus utilizadores. Em 1960 as Bibliotecas do país não chegavam a uma centena, enquanto em 2003 ultrapassavam já um milhar, tendo crescido 11.4 vezes. No mesmo período, o número de utilizadores situava-se em 1960 abaixo de um milhão de utilizadores, enquanto em 2003 o número de utilizadores pouco passava dos oito milhões e meio, tendo crescido 9 vezes[3].
Com efeito, tem havido uma efectiva democratização da cultura com o aumento do número de livros publicados e com idêntico fenómeno ao nível do número de edições e tiragens anuais das publicações periódicas, mas este aumento tem correspondido a critérios comerciais, ou seja, a oferta livreira tem aumentado devido às operações de “marketing” e aos títulos sensacionalistas que permitem grandes tiragens. Exemplo emblemático, desta tendência, foi o livro de Carolina Salgado que teve uma tiragem excepcionalmente elevada[4].
A publicação de livros entre 2000 e 2008, segundo os dados estatísticos que consultei, de acordo com os registos de títulos no Depósito Legal tem um crescimento anual de 3,3%, tendo os valores absolutos passado de 14066 em 2000 para 17778 em 2008. Assim, afigura-se-me que, eventualmente, tenham ocorrido tiragens maiores e mais edições de “best sellers nos últimos anos”, contudo a maioria das vezes prevalece a lógica econométrica de mercado de uma sociedade devassada pela iliteracia de consumos e gostos culturais qualitativamente questionáveis.
Em suma, tem-se verificado um avanço exponencial da cultura de massas em Portugal entre 1960 e 2008 com a construção de grandes espaços comerciais a venderem livros em quantidades impensáveis, com os espectáculos de música, dança, variedades a serem frequentados hoje em dia pela maioria da população, enquanto em 1960 estes espectáculos ao vivo eram muito raros e os espectadores, pelo restrito número, pertenciam às classes médias e às elites. Este fenómeno é, claramente, louvável, mas urge passar a outra etapa do amadurecimento das democracias europeias.
A solução para a iliteracia e para se superar a apatia política dos cidadãos passa por revalorizar os agentes e os estabelecimentos culturais que nos apresentam produtos de qualidade literária, estética e filosófica, porque, como muito bem diz o Dr. Mário Soares num excelente ensaio de história política, urge encontrar um novo paradigma político-cultural[5] que permita à Humanidade responder à ingente crise múltipla que as nossas sociedades nesta Era da Globalização Neoliberal enfrentam.
Acrescento, em conclusão, que só com o ressurgimento das Humanidades será possível encontrar esse novo paradigma que permita uma formação mais sustentada dos cidadãos no plano das suas bagagens culturais e das suas consciências éticas. Será, pois, com um renovado modelo político-cultural, de que deve fazer parte o combate, sem tréguas, à iliteracia e o desassombrado impulso às Humanidades, que será possível responder aos grandes desafios do presente e do futuro, pois só com estas variáveis será exequível, ao país e ao mundo, salvaguardar a formação integral dos cidadãos e a plena preservação do nosso “habitat” natural rumo a mundo melhor.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
Anexo - dados extraídos do site Pordata
Biblioteca Nacional: livros e leitores
Livro
Indivíduo
Tempo
Livros
Leitores
1960
469.644
41.304
1961
476.345
34.867
1962
480.531
33.861
1963
488.972
32.502
1964
500.508
28.928
1965
505.675
30.983
1966
515.276
16.696
1967
533.998
17.557
1968
551.997
14.730
1969
561.702
13.400
1970
568.333
31.238
1971
582.253
38.367
1972
595.236
42.982
1973
608.764
37.489
1974
628.479
34.838
1975
658.585
58.232
1976
675.151
83.107
1977
693.060
67.219
1978
711.416
71.018
1979
728.711
65.104
1980
753.388
55.546
1981
773.984
56.301
1982
793.651
60.142
1983
816.437
36.638
1984
1.022.743
36.906
1985
2.026.763
53.286
1986
2.055.457
70.528
1987
2.084.991
67.780
1988
2.106.207
68.604
1989
2.139.644
65.099
1990
2.153.324
43.433
1991
2.175.385
40.492
1992
2.198.505
64.142
1993
2.222.436
64.484
1994
2.242.869
68.863
1995
2.260.420
70.548
1996
2.282.409
67.209
1997
2.303.996
61.054
1998
2.325.174
66.082
1999
2.348.660
x
2000
2.391.554
69.341
2001
2.415.429
62.454
2002
2.489.018
57.764
2003
2.505.074
58.546
2004
2.519.626
52.782
2005
2.533.067
49.193
2006
2.552.427
52.629
2007
2.593.837
43.386
2008
2.643.570
42.453
Fonte de Dados: BNP Fonte: PORDATA Última actualização: 2010-02-22 13:21:21
[1] Bento XVI, Encíclica – Caridade na verdade, Prior Velho, Edições Paulinas, 2009, pp. 109-120.
[2] Vide A nova primavera do político, org. Michel Wievieorka, Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2007. Este livro que recolhe o contributo de vários intelectuais europeus fala, precisamente, do afastamento entre os cidadãos e os políticos e da premente necessidade de reabrir o debate para a indispensável reinvenção do “Welfare State”.
[3] Segundo os dados disponibilizados pelo site “Pordata”, cuja iniciativa pertenceu a António Barreto: em 1960 existiam no país 89 Bibliotecas e em 2003 já se contabilizaram 1018, enquanto o número de utilizadores no mesmo período passou de 957 113 para 8 641 276.
[4] Carolina Salgado e outros, Eu, Carolina – A história verdadeira, Lisboa, Edições Dom Quixote, 2006.
[5] Mário Soares, Elogio da política, Lisboa, Sextante Editora, 2009, pp. 80-87.
No primeiro aniversário deste blogue, iniciado a 23 de Julho de 2009, quero partilhar convosco algumas ideias. É com gratidão, e imenso prazer, que tenho sentido um caloroso acolhimento por parte do público leitor. Agradeço, por isso, todo o apoio, atenção, estímulo e paciência que muitos amigos e leitores me têm dispensado. Com efeito, tem sido com muita satisfação que tenho escrito para este blogue que se tem desenvolvido em função de temas culturais, em textos longos de maior pesquisa ou em textos breves de maior vigor inspirativo, embora não tenha dado tanta relevância aos temas da actualidade como inicialmente tinha definido na filosofia deste projecto.
Tudo começou quando, no Verão de 2008, comecei a escrever uns textos manuscritos que depois enviei pela Internet a alguns amigos e a perceber, em seguida, existir alguma receptividade geral. No início de 2009 fiz circular uns textos sobre política educativa e política geral, que se podem ainda hoje encontrar na Internet, que tiveram uma empática recepção no contexto da crispação entre os docentes e a tutela. Houve, em particular, uma colega de Língua Portuguesa da Escola Secundária, onde anteriormente leccionei, que teceu considerações muito simpáticas sobre um dos meus textos e que o ajudou a divulgar. Fico-lhe, por isso, muito grato e este projecto é resultado deste e de outros importantes contributos que abaixo menciono.
Em Junho de 2009, após uma formação espiritual sobre o apóstolo São Paulo, a propósito da comemoração dos dois mil anos do seu nascimento, fui convidado a fazer uma pequena comunicação, a título de testemunho, na Igreja da minha paróquia que depois transformei num texto insuflado de inspiração, que se tornou o “post” inaugural do blogue intitulado “A Modernidade Cultural e Cívica do apóstolo São Paulo – o apóstolo dos gentios”, a seguir a ter participado num debate aberto numa conferência, sobre esta eminente figura histórica e religiosa, proferida pelo Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa.
Devo, também, uma palavra de grande reconhecimento ao meu amigo Professor Doutor José Medeiros Ferreira que me estimulou a continuar a desenvolver pesquisas históricas e a escrever novos textos. Foi, também, muito relevante o “post” que escreveu no seu antigo blogue “Bicho Carpinteiro” sobre o aparecimento destas “Crónicas”. Espero que passado um ano, este trabalho, não lhe tenha frustrado as expectativas.
As encorajadoras palavras recebidas de um dos nossos grandes Pensadores têm-me, também, dado bastante alento para continuar a escrever e a partilhar, neste blogue, textos de reflexão e de pesquisa.
Tenho desenvolvido ainda o gosto de viajar na blogosfera e de fazer comentários em blogues com os quais me identifico e em que encontro conteúdos de qualidade. Foi, por isso, extremamente importante o incentivo e a troca de ideias com autores de outros blogues, como sejam os casos: do Embaixador Francisco Seixas da Costa, da Professora Doutora Ana Paula Fitas, do Deputado e Advogado Osvaldo de Castro, dos Jornalistas João Rodrigues e Carlos Barbosa de Oliveira, etc. Quero também deixar uma palavra de agradecimento à amiga e escritora Gilda Nunes Barata que através das suas lisonjeiras palavras e pertinentes sugestões me deu ânimo, bem como o incentivo e o impulso que me foi dada pelo Doutor Renato Epifânio, Investigador na área da Cultura Contemporânea, com o qual partilho uma mesma convicção lusófona.
Devo ainda à gentileza de uma colega de trabalho o ensinamento para a incorporação de vídeos no blogue, que têm sido muito úteis para divulgar música clássica e introduzir excertos audiovisuais de valor histórico. “Last but not least”, não me esqueço do inestimável estímulo que a Rita (minha “cara-metade”), os meus pais, os muitos amigos e alguns primos me têm dado no desenvolvimento deste aliciante projecto.
De acordo com a estatística do “Sitemeter”,o blogue já conta com alguns poucos milhares de visitas, desde 12 de Fevereiro de 2010, altura em que introduzi este contador. Por mês, em média, tem registado, com algumas variações, mais de 1000 visitas mensais e nota-se já alguns leitores fiéis que o visitam regularmente, o que me deixa muito satisfeito. Em termos de interactividade, este blogue já recebeu várias dezenas de comentários que têm contribuído para transmitir uma palavra de estímulo ou para aprofundar o debate em torno dos temas tratados. Bem-haja a todos os que têm contribuído para o crescimento e amadurecimento sustentado deste blogue!
Para terminar direi que os meus propósitos iniciais poderão ter ficado aquém, na medida em que as questões políticas directas e os textos de grande actualidade foram em pequeno número. Espero, em todo o caso, que vocês, caríssimos leitores, sejam benévolos, continuem interessados e possam deixar sugestões para que possamos tornar este projecto cada vez mais apelativo e interactivo!
Cordiais saudações a todos, caríssimos leitores e amigos, Nuno Sotto Mayor Ferrão
Joana Amaral Dias, psicóloga clínica e professora universitária, publicou o livro “Maníacos de qualidade – portugueses célebres na consulta com uma psicóloga” em Janeiro de 2010 na Editora “A esfera dos livros” (1ª edição)[1]. Este livro, bem original, assume-se como um inovador ensaio sobre o conjunto de oito biografias psicológicas de personalidades, mais ou menos, relevantes da História de Portugal. No seu conteúdo abordam-se temas conhecidos da História do país do século XVII ao XX através das figuras públicas analisadas.
Em cada um dos oito capítulos, que podem ser lidos como um todo ou em separado, examinam-se as manias de cada uma das oito/dez figuras históricas, uma vez que em dois capítulos (2 e 5) o texto é desdobrado entre a figura principal e uma figura complementar. Estes indivíduos analisados nas suas vidas, públicas e/ou privadas, são identificados como “pessoas maníacas de qualidade” devido ao facto de serem pessoas com notoriedade social, pelos cargos ocupados ou pelas suas obras, que possuíam comportamentos estranhos ou menos equilibrados.
José Luís Pio de Abreu, médico psiquiatra e professor universitário, prefacia o livro invocando as dificuldades científicas em definir uma doença mental e os erros que ao longo da História médicos psiquiatras famosos fizeram com os seus pacientes. Partindo deste pressuposto, a autora evoca o facto de a psiquiatria ter adoptado ao longo da História da Humanidade terapêuticas desumanas que foram desrespeitadoras da dignidade da pessoa, como foram os casos evidentes do rei D. Afonso VI, do poeta Ângelo de Lima e da marquesa Margarida Vitória. Na verdade, a discriminação feita aos doentes mentais nos últimos séculos foi uma aberração, à luz dos nossos sentimentos e dos mais elementares princípios dos Direitos Humanos, porque uns eram isolados em asilos, em alguns casos usando fardas identificativas nos sanatórios, outros eram simplesmente sujeitos a tratamentos cruéis (choques eléctricos, tareias, sanguessugas, banhos frios, imobilização, etc.).
A análise psicológica das oito/dez figuras é precedida, relativamente às figuras mais antigas, de uma rigorosa contextualização histórica. Essas personalidades apresentadas, pela autora, através de episódios significativos das suas vidas que reportam para determinados pensamentos, atitudes ou comportamentos invulgares são analisadas em função dos diagnósticos médicos e dos tratamentos recebidos na época em comparação com os eventuais diagnósticos actuais e os presumíveis tratamentos a que poderiam ser submetidas.
Uma das linhas de força da sua análise reside na conexão entre a loucura e a genialidade que aborda com mestria. Deste modo, nestas biografias psicológicas de pessoas famosas, com doença mental ou perturbação da personalidade, esta interessante questão é debatida em particular nos capítulos dos poetas Antero de Quental e Fernando Pessoa e do cineasta João César Monteiro.
Joana Amaral Dias na biografia psicológica do rei D. Afonso VI diagnostica uma psicopatia pela sua dificuldade de refrear os impulsos e o gosto de agredir os outros. O político Sebastião José de Carvalho e Melo, vulgarmente conhecido por marquês de Pombal, é visto como um paranóico megalómano que tanto permitiu o progresso do país como agiu persecutoriamente sobre a aristocracia e o clero, tendo-se servido do padre e profeta jesuíta Gabriel Malagrida como “bode expiatório”. A rainha D. Maria I é apresentada como delirante, a partir dos 57 anos, após grandes desgostos familiares. O poeta Antero de Quental, grande vulto da geração de 70 do século XIX, é perspectivado em função das suas oscilações de humor características da bipolaridade maníaco-depressiva que o conduziu ao suicídio.
Os poetas Ângelo de Lima e António Gancho são percebidos nas suas inadaptações sociais que os levaram à extrema solidão devido às suas esquizofrenias, internados em hospícios como era comum na época, já que hoje em dia se tem a perspectiva mais humanizada de os integrar plenamente na sociedade. O poeta Fernando Pessoa viveu no entendimento da autora para glorificar a sua obra literária, amesquinhando a sua vida afectiva, a coberto do seu medo da loucura que sempre foi prevalecente. Por conseguinte, padeceu de uma pseudo-loucura que o impediu de amar Ofélia. A marquesa Margarida Vitória que passou por várias depressões, um internamento forçado no estrangeiro com tratamentos desumanos devido à incompreensão da família, viveu uma série de amores fracassados e padeceu de uma perturbação histriónica que a ficcionada[2] sessão de psicoterapia lhe diagnosticou. O cineasta João César Monteiro foi-nos retratado como um excêntrico, tanto na vida como na obra, e agressivo nos comportamentos sociais, tendo-lhe diagnosticado uma perturbação em estado-limite da personalidade.
A autora considera, neste livro, que se tivessem vivido nos nossos dias, algumas destas figuras célebres, teriam sido poupadas a grande parte dos seus sofrimentos, porque ao invés das terapêuticas atrozes seriam usados os meios actuais de medicação, de psicoterapia e de integração dos doentes socialmente mais desajustados.
Em suma, este livro em forma de ensaio, por vezes ficcionado, encontra-se muito bem fundamentado através da intensa investigação histórica efectuada, como se constata da documentação e bibliografia consultada e do apoio crítico e logístico que recebeu de historiadores (José Medeiros Ferreira e Maria José La Fuente), do psiquiatra José Luís Pio de Abreu, de cineastas (Edgar Pêra e António Escudeiro) e de amigos para aperfeiçoar as suas análises históricas e psicológicas. Um dos méritos do livro advém do facto de, não obstante a densidade científica da problemática, Joana Amaral Dias ter imprimido ao texto uma leveza que torna acessíveis os complexos temas, da natureza humana e das suas patologias, ao público leitor mais leigo.
Desta forma, o livro divulga conhecimentos históricos e, concomitantemente, permite uma melhor compreensão da complexidade da natureza humana. Com efeito, as suas abordagens desmistificam o corrente paradigma de normalidade humana enfatizando a noção de individualidade, de pessoa, e procurando situar as características patológicas, ténues ou mais profundas, como impeditivas da plena liberdade humana, assumida como o valor supremo para a felicidade dos seres humanos.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
[1] Joana Amaral Dias, Maníacos de qualidade – portugueses célebres na consulta com uma psicóloga, Lisboa, Editora A Esfera dos Livros, 2010.
[2] A autora usa neste ensaio uma inovadora metodologia no caso da marquesa Margarida Vitória ao transformar com rigor e inventividade um texto autobiográfico numa ficcionada sessão de psicoterapia entre a paciente e a psicóloga.
A música impressionista desenvolveu-se em França nas últimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX. Claude Debussy foi o “compositor revolucionário” que com a sua obra-prima “Prélude à l’après-midi d’un Faune” inventou este estilo de música inspirado na pintura impressionista, na poesia simbolista e na música asiática. Este compositor criou nas suas obras, a partir de uma linha melódica, várias sonoridades que aludem a metáforas simbólicas que despertam a imaginação e a fantasia dos ouvintes.
As artes (pictórica, musical e literária) abandonam as regras clássicas, das representações romântica e realista, procurando inventar novas formas de expressão. Com efeito, tal como na pintura impressionista (em que se destacaram: Claude Monet, Edouard Manet, Edgar Degas e Pierre Auguste Renoir) os efeitos de luz, cor e movimento ganham relevo, através de pinceladas de contrastantes tonalidades, para sugestionar, ao observador, um dado ambiente, em detrimento de pormenores e dos contornos das figuras e dos objectos, também na música a linha melódica dilui-se através do jogo de sons dispersos visando criar, no ouvinte, uma sensação geral.
Claude Debussy foi o mentor e o principal criador da música impressionista, mas destacaram-se ainda neste estilo inovador os compositores Maurice Ravel e Erik Satie, que encantaram a cidade luz, da Civilização Ocidental à época, no plano das vanguardas artísticas (Paris). As obras mais paradigmáticas desta corrente foram (além da obra já referida): “La Mer” de C. Debussy e de Maurice Ravel “Bolero” e o bailado “Daphnis et Chloé”.
Lisboa é uma cidade cheia de encantos que se espraia por uma área irregular alcandorando-se sobre o rio Tejo, donde partiram as naus e as caravelas para “abrir novos mundos ao mundo” nos séculos XV e XVI. As luzes, as sombras e as cores magníficas que sobressaem dos recantos pitorescos e das paisagens dos inúmeros miradouros enfeitiçam os turistas, mas, por vezes, na azáfama das nossas rotinas e das nossas angústias, que a crise financeira de rosto nacional e global e a crise de sustentabilidade ambiental, esquecemo-nos de observar e contemplar esta tão maravilhosa cidade.
Para a opinião pública internacional Lisboa é a cidade de Fernando Pessoa que cá se entrincheirou na sua vida boémia e poética, mas muitos outros poetas cá nasceram e viveram. Nos bairros antigos (Alfama, Castelo, Graça, Lapa, Madalena, Mercês, Penha de França, Santa Catarina, Santa Engrácia, Santa Maria de Belém, Santos-o-Velho, São Sebastião da Pedreira, São Vicente de Fora, etc) apetece passear e desfrutar da beleza criativa que os portugueses conseguiram erguer nos seus bairros mais castiços da capital. Já nos bairros novos paira uma amarga tristeza nos insípidos bairros de prédios modernos onde a identidade urbanística se dilui.
Para se conhecer bem a riqueza patrimonial (histórico-cultural) e social desta cidade nada melhor que calcorreá-la em passeio pedestre de ritmo calmo, em passo antigo de cidadão Oitocentista em revivalismo romântico, para lhe sentirmos e tomarmos pulso à sua alma. Talvez, os filmes que melhor retrataram esta urbe tenham sido “Lisboa Story”, de Wim Wenders, realizado em 1994 ou “O Pai Tirano”, de António Lopes Ribeiro, de 1941 ou outra destas comédias da época de ouro do cinema português.
A Olisipografia[1], como conjunto de estudos históricos, culturais e sociais sobre a cidade de Lisboa, foi criada por Júlio de Castilho e desenvolvida por Gustavo de Matos Sequeira, cuja edilidade lhes reconheceu o supremo contributo para o maior conhecimento urbanístico atribuindo-lhes os seus nomes, respectivamente, a uma praça junto à rua do Limoeiro e uma rua junto à rua da Escola Politécnica. Estes iniciadores deste ramo do conhecimento urbanístico da cidade têm ainda como cultores afamados destes estudos, como pares distintos, Norberto Araújo e Marina Tavares Dias. Esta autora, nossa contemporânea, tem publicado as suas obras em ricas edições de papel lustroso.
Da cidade antiga faziam parte como elementos bem castiços os românticos quiosques de estilos variados, os bebedouros e os fontanários, além de que o perímetro urbano era bem mais acanhado. Basta lembrar que freguesias como Benfica ou o Lumiar eram, nos séculos XVIII e XIX, zonas de repouso das famílias aristocráticas que lá possuíam as suas quintas, ainda hoje apesar da proliferação coexistem zonas de prédios com quintas antigas como seja a Quinta da Granja, em Benfica, bem ao lado do Centro Comercial Colombo, que no fim do século XX foi tenazmente defendida a sua preservação e o seu espaço envolvente pelo arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles e recebeu uma visita de José Sousa Veloso que aí rodou um dos seus celebérrimos programas da TV Rural.
Ao longo do século XX o aspecto urbanístico da cidade de Lisboa mudou radicalmente com a integração da arquitectura funcionalista. Em particular teve grande significado a tentativa de viragem da cidade para a sua zona ribeirinha, uma vez que a sua expansão geográfica a fez crescer para o interior. Com efeito, houve dois momentos históricos que procuraram reabilitar a face ribeirinha da capital: a Exposição do Mundo Português de 1940[2] que levou à intervenção no sítio de Belém e no final do século XX à edificação da nova zona urbanística reabilitada para a realização da Expo em 1998. Assim, estes antigos espaços portuários, ou antigas zonas de instalações fabris, foram requalificados para que se tornassem “salas nobres” para a vivência dos alfacinhas e a recepção dos turistas e Chefes de Estado, no caso da zona de Belém.
Ao mesmo tempo, pretendeu-se nestes espaços nobres da zona de Belém, intervenção recebida no tempo de António de Oliveira Salazar, e da zona Expo, intervenção recebida no “consulado” de António Guterres, criar um simbolismo histórico que fosse marcante para a identidade nacional. Este aspecto justifica que se tenham construído como marcos arquitectónicos semelhantes: o Padrão dos Descobrimentos[3] em frente à Praça do Império durante o Estado Novo e a Torre de Vasco da Gama a flanquear a zona oriental da Expo 98. Por um lado, a Exposição do Mundo Português visando comemorar a fundação do Estado Português em 1140 devido às proezas bélicas de D. Afonso Henriques e a restauração da independência em 1640 com a libertação do jugo Filipino e, por outro, a Expo 98 pretendendo comemorar os 500 anos da chegada de Portugal à Índia realçou o espírito português em contexto de Globalização.
Em suma, a cidade de Lisboa merece em tempo de estio e de férias, uns bons passeios a pé, porque muitas vezes quem nos visita acaba por conhecer melhor a capital do que “os alfacinhas” que se querem ausentar dela para irem para a Costa da Caparica, para o “reino dos Algarves” ou para o estrangeiro. Fica a sugestão de um passeio de reconhecimento urbanístico num dia soalheiro nesta muita bela cidade.
[1] Fernando Castelo Branco, Breve História da Olisipografia, Lisboa, Edição Instituto da Cultura Portuguesa, 1979, 108 p.
[2] Nuno de Sotto-Mayor Quaresma Mendes Ferrão, A Praça do Império e o Padrão dos Descobrimentos à luz da mentalidade e da ideologia que os edificaram, Lisboa, Trabalho no âmbito da cadeira de História da Arte Contemporânea, Edição policopiada, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1992.
[3] O Padrão dos Descobrimentos e a Praça do Império com desenho arquitectónico de José Ângelo Cottinelli Telmo e o trabalho de importantes escultores como Leopoldo de Almeida, António Duarte Domingos Soares Branco, etc., foram erguidos em 1940 para a realização da Exposição do Mundo Português. Contudo, o Padrão dos Descobrimentos e alguns dos pavilhões foram construídos em materiais efémeros e a edificação deste “ex-libris” de Lisboa só foi erguido em materiais duradoiros em 1960 na comemoração dos 500 anos da morte do Infante D. Henrique.
Manuel de Brito Camacho (1862-1934) foi um homem de múltiplas e invulgares facetas sociais como médico-militar, jornalista, político, publicista e escritor. Começou a sua formação superior em Medicina, mas cedo percebeu a importância da sensibilidade cívica para garantir maiores padrões de justiça social, daí decorreu a sua preocupação em formar uma opinião pública sólida que o levou ao exercício do poder político como deputado e ministro Republicano, tendo contribuído para a implantação da República em 5 de Outubro de 1910. No fim da sua vida dando liberdade à sua sensibilidade humanista escreveu e publicou ensaios e contos.
Nasceu em Aljustrel a 12 de Fevereiro de 1862 no seio de uma família de camponeses remediados. Fez os primeiros estudos nesta povoação Alentejana e seguiu com estudos secundários no Liceu de Beja. Em Lisboa seguiu os estudos superiores de Medicina ingressando na Escola Médico-Cirúrgica em 1885. Em 1902-1903 esteve a estudar Medicina na Universidade de Paris para se candidatar a Professor da Escola Médica, mas abandona este seu projecto por motivações políticas que o levam a entusiasmar-se com a crítica jornalística ao regime Monárquico.
Em 1891 ingressa na carreira de médico-militar como tenente que o levará ao posto de coronel em 1919. Exerceu clínica no Alentejo, na Estremadura e nos Açores e desenvolveu intensa actividade como jornalista e como professor do ensino básico. Toda esta actividade multifacetada de Brito Camacho levou-o a ser convidado a ingressar na Maçonaria, no Grande Oriente Lusitano em 1893[1], em Torres Novas onde estava a exercer clínica.
A sua afirmação como líder político ocorreu em 1888 ao tornar-se Presidente da Associação Académica de Lisboa. Assim, desde cedo revelou as suas convicções Republicanas, tendo-se tornado membro e dirigente do Partido Republicano Português nos anos finais do século XIX. Colaborou em vários jornais Republicanos, dirigindo designadamente o periódico “O intransigente” (1894-1895), que o catapultou para a carreira política tornando-se deputado desta causa, atacando os erros e vícios do regime monárquico (os aditamentos à Casa Real, a greve académica de 1907 de contestação ao Governo de João Franco, a questão religiosa, etc.), nos anos finais do século XIX e início do século XX.
A sua divergência ideológica com Afonso Costa e a hegemonia e radicalismo deste no Partido Republicano Português estimulou-o, já no novo regime Republicano, à fundação do Partido Unionista, também designado por União Republicana, em 1912, de que foi o principal mentor e dirigente. Deste modo, pretendeu com esta organização partidária opor-se à hegemonia da facção de Afonso Costa que se transmutou em Partido Democrático. Nesta qualidade ajudou à constituição de diversos Governos de coligação nos anos de 1912 e 1913 e sustentou uma polémica oposição à entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial (1916)[2], nos termos defendidos por Afonso Costa, defendendo apenas uma política minimalista de defesa militar das colónias.
Distinguiu-se na vida social portuguesa ao fundar e dirigir desde 1906 em Lisboa o importante jornal Republicano “A Lucta” que muito contribuiu para o desgaste da política monárquica. Neste papel de oposicionista ao antigo regime político foi um dos principais conspiradores e participantes na Revolução de 5 de Outubro de 1910 que instaurou em Portugal o regime Republicano, do qual comemoramos este ano o centenário. Neste novo regime irá exercer importantes funções políticas como ministro do Fomento, em 1910-1911, no Governo Provisório, onde subscreveu a lei de separação do Estado e da Igreja e como deputado por Beja nos anos de 1911, 1915,1919,1921 e 1922.
Brito Camacho como Ministro do Fomento revelou uma especial preocupação com o estímulo do ensino técnico por considerá-lo como fundamental para o progresso económico do país. A sua acção ministerial concedeu, também, um grande relevo à promoção do crédito agrícola e dos meios de transporte. Em 1911 reformou o Instituto de Agronomia e Veterinária subdividindo-o em Instituto Superior de Agronomia e Escola Superior de Medicina Veterinária e, concomitantemente, instituiu os títulos de engenheiro agrónomo e engenheiro silvicultor[3]. A 23 de Maio deste ano desmembrou o existente Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, de nível secundário, e transformou-o simultaneamente em duas instituições de ensino superior que ganharam a designação de Instituto Superior Técnico e de Instituto Superior de Comércio. Para a instalação do Instituto Superior Técnico convidou o Professor Doutor Alfredo Bensaúde que foi responsável pela organização dos primeiros cursos de especialização em Engenharia[4].
Em 1987 o Presidente da República, Mário Soares, numa pequena homenagem, colocou uma lápide comemorativa na casa de Aljustrel onde Brito Camacho viveu algumas temporadas. A alma rural Alentejana paira na sua obra literária, quer nos seus livros africanistas onde as comparações implícitas entre o Alentejo e a África são frequentes, quer nos seus livros de narrativas de quadros rurais desta região portuguesa. A importância desta característica regionalista na sua obra literária foi bem evidenciada no estudo que sobre ele fez Aquilino Ribeiro intitulado “Brito Camacho nas Letras e no Seu Monte”.
Publicou no fim da vida inúmeros livros de contos e de ensaios, tendo-se tornado escritor em progressiva substituição da sua vida como jornalista e político, e destacam-se, talvez, das suas obras literárias e políticas: Contos e sátiras (Guimarães & C.ª, 1920), A caminho d e África (Guimarães & C.ª, 1923), Quadros alentejanos (Guimarães & C.ª, 1925), Moçambique, Problemas Coloniais (1926), D. Carlos, intimo (Guimarães & C.ª, 1927), Cenas da Vida (1929), De bom humor (Guimarães, 1930), Por cerros e vales (Guimarães & C.ª, 1931) e ainda algumas publicações póstumas como sejam Política Colonial (1936), Rescaldo da guerra (Guimarães, 1936), Questões nacionais (Guimarães, 1937).
Brito Camacho foi Alto-Comissário de Moçambique de 1921 a 1923[5], com poderes políticos acrescidos em relação aos Governadores, e sustentou a perspectiva colonialista de que a riqueza das colónias africanas dependia da rentabilização do trabalho das populações nativas e não tanto do povoamento das populações da metrópole que achava não se adaptariam às difíceis condições climáticas africanas.
Atribuía uma dignidade humana às populações autóctones das colónias africanas pouco vulgar à mentalidade da maioria dos colonialistas, talvez pela acuidade da sua sensibilidade humanista. Considerava as populações nativas não como inferiores do ponto de vista genético, como era preconceito fazê-lo na altura, mas procedentes de um quadro Civilizacional que se encontrava num patamar inferior. Por conseguinte, considerava que o espírito civilizador estava mal orientado ao impor aos nativos africanos o modelo Civilizacional Ocidental, sustentando, ao invés, haver necessidade de estudar antropologicamente estas populações para que os funcionários da administração colonial tivessem conhecimento dos seus costumes e das suas línguas[6]. Esta visão colonialista de Brito Camacho era, na época, profundamente progressista.
Brito Camacho regressado de Moçambique em 1924, após o exercício da sua função de Alto-comissário da República com plenos poderes, fez um balanço da sua percepção colonialista numa Conferência feita em Lisboa que foi postumamente publicada. Afirma, de forma invulgar no panorama político português da época, que as relações entre a Metrópole e as colónias deviam prever e preparar a emancipação destes territórios, defendendo que o princípio descentralizador da administração colonial era contrário à exploração colonial, o que, aliás, em termos laborais lhe causou muito dissabores em Moçambique.
Portanto, a seu ver era necessário desenvolver os territórios ultramarinos e as suas populações para se garantir uma futura e madura emancipação das colónias africanas, à revelia da mentalidade da maioria dos colonialistas que acreditavam na indissolubilidade da ligação política entre Portugal e as suas terras além-mar.Esta perspectiva colonialista progressista evidencia-se quando nos diz:“(…) A principal obrigação da Metrópole em relação às colónias é preparar a sua emancipação. Uma colónia que não tende para a sua emancipação é uma terra escrava e seria absurdo que tendo-se abolido a escravidão dos indivíduos se mantivesse a escravidão dos povos. O termo natural da evolução de uma colónia, mais rápida ou mais demoradamente, conforme as suas circunstâncias é a sua emancipação. (…)”[7].
[1] António Henrique de Oliveira Marques (coordenador), “Manuel de Brito Camacho”, in Parlamentares e Ministros da 1ª República, Edições Afrontamento – Assembleia da República, s.d., p. 139.
[2] António Reis, “Manuel de Brito Camacho”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, vol. I, Lisboa, Publicações Alfa, 1990, p. 93
[3] Maria Fernanda Rollo, "Os engenheiros e a Ordem I: os antecedentes", in Ingenium, revista Janeiro/Fevereiro de 2006, p. 106.
[4] Agradeço a pertinente sugestão do Professor Doutor Adriano Moreira de evidenciar, neste texto, o papel inovador que Brito Camacho teve como Ministro do Fomento.
[5]Estas descobertas historiográficas, e outras ainda inéditas, surgiram no âmbito de um projecto de investigação que desenvolvi sob a criteriosa orientação do Professor Doutor José Medeiros Ferreira.
[6] João Fernandes, Brito Camacho – Algumas reflexões acerca da sua obra colonial, Lisboa, Edição Seara Nova, 1944, pp 47-49.
[7] Manuel de Brito Camacho, Política colonial, Lisboa, Editorial Cosmos, 1936, p. 11.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
( versão actualizada a 13 de Julho de 2009 )
Revolucionários Republicanos, populares e militares, na Rotunda em Lisboa a de 5 de Outubro de 1910
Gravura simbólica da proclamação da República junto à Câmara Municipal de Lisboa
António Vivaldi foi um músico, compositor e sacerdote que nasceu em Veneza em 1678 e faleceu em Viena em 1741. A sua música infunde uma energia bem característica das obras-primas musicais do período Barroco, tal como se manifesta no excerto melódico que a seguir apresento. Foi um autor de uma genial obra musical muito vasta, tendo composto centenas de concertos e dezenas de óperas, sinfonias, serenatas, cantatas, sonatas, etc. Assim, conseguiu criar em grande quantidade e em qualidade. A sua obra mais conhecida é a Opus 8 que encerra as magistrais melodias d’ “As quatro estações”, hoje muito divulgadas através de um anúncio televisivo. Desde jovem, seguindo o exemplo do seu pai, que além de barbeiro era um violinista virtuoso, tornou-se em Veneza um dos maiores violinistas do seu tempo.
Escreveu também muitas obras sacras na sua qualidade de membro do clero católico, cuja mais conhecida obra coral é “Gloria” que marca a sua inspiração divina. Autores, sem fundamentação documental, indicam-nos que terá mantido um caso amoroso com uma aluna, uma vez que era professor de violino num orfanato de raparigas. O seu trabalho foi reconhecido em vida em grande parte da Europa, o que o levou a fazer grandes viagens. A sua obra influenciou fortemente o trabalho de Johann Sebastian Bach que se tornou um compositor revolucionário de transição na música erudita Europeia.