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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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COMPOSITORES PORTUGUESES: CARLOS SEIXAS E MARCOS PORTUGAL (SÉCULOS XVIII E XIX)

Carlos Seixas e Marcos Portugal


Portugal teve grandes expoentes na composição musical dos séculos XVIII e XIX. Carlos Seixas e Marcos Portugal foram dois bons exemplos, como se poderá aferir pelos excertos que a seguir vos apresento.

 

José António Carlos de Seixas (1704-1742) foi um grande compositor, organista e cravista português do século XVIII. Iniciou a sua carreira como organista da Sé de Coimbra, mas pelo seu mérito foi colocado ao serviço da Corte Portuguesa, tendo sido designado organista da Sé Patriarcal e da Capela Real, onde teve oportunidade de conviver com Domenico Scarlatti, compositor italiano e Mestre régio. Acabou por falecer, precocemente, já como Mestre da Capela Real. Na sua curta vida tocou em diversas Igrejas, obras religiosas para órgão, e em saraus aristocráticos muitas peças para cravo de tons mais festivos. Deixou vários discípulos, como professor de cravo e criador de obras artísticas de inestimável valor.

 

Marcos António da Fonseca Portugal (1762-1830) teve uma vida bem mais longa e ligada a alguns acontecimentos marcantes da História de Portugal. Adquiriu como compositor e organista um grande prestígio internacional. Aos 21 anos tornou-se compositor e organista da Sé Patriarcal de Lisboa. A Corte Portuguesa encomendou-lhe algumas obras religiosas para serem exibidas no Palácio Real de Queluz e na Basílica de Mafra. Pela fama alcançada na Corte Portuguesa conseguiu uma bolsa de estudo para Itália. Assim, durante oito anos, foi estrangeirado nesse país, tendo criado várias óperas que foram exibidas em teatros célebres de Florença, Veneza e Milão.

 

Quando Marcos Portugal regressou a Lisboa em 1800 foi nomeado Mestre do Seminário da Patriarcal e Maestro do Teatro de São Carlos, onde alguns anos mais tarde colaborou com os invasores franceses, aceitando algumas encomendas. Acabou, mais tarde, por se deslocar para o Brasil continuando a trabalhar com a família Real Portuguesa, ao compor várias óperas apresentadas no Teatro Real de São João, no Rio de Janeiro, e foi professor de música do futuro D. Pedro IV de Portugal e imperador do Brasil. Faleceu no Rio de Janeiro em 1830. Afigura-se-me que a sua relevância tem sido um pouco esquecida no reportório de orquestras de câmara que se dedicam à Música Antiga.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

Obra de Carlos Seixas

 

Obra magnífica de Carlos Seixas

 

Obra de Marcos Portugal

 

AGOSTINHO DA SILVA (1906-1994), PENSADOR DA CULTURA, DA LIBERDADE E DA LUSOFONIA



George Agostinho Baptista da Silva, nasceu no Porto no início do século XX no regime da Monarquia Constitucional, tendo-se destacado como professor, filósofo e poeta. Contudo, a sua humildade e o seu sentido cívico aproximaram-no dos cidadãos, que muitas vezes tendem a olhar de soslaio para os filósofos, na medida em que procurou fazer da filosofia o móbil de legitimação da intervenção na sociedade e, por isso, mostrou a importância da “praxis” na vida dos filósofos. Deste modo, evidenciou-se como um Humanista no seu original pensamento da Liberdade e da Lusofonia que edificou com os seus escritos e com a sua vida.

 

Formou-se em 1928 em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto com 20 valores. Desde então passou a colaborar na revista “Seara Nova”[1], durante 10 anos, onde teve oportunidade de conhecer grande parte do escol intelectual português. Com apenas 23 anos sustentou a sua Dissertação de Doutoramento, enveredando por uma perspectiva de Filosofia da História com o seu trabalho académico “O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas”. De 1931 a 1933, já no contexto do autoritarismo português, foi estudar para Paris como Bolseiro na Sorbonne e no Collège de France.

 

No regresso a Portugal em 1935, já em pleno Estado Novo, começa a leccionar no ensino público secundário, mas tendo-se recusado a assinar um documento, que obrigava todos os funcionários públicos a declararem que não participavam em organizações secretas, é exonerado do cargo. Passa então para o ensino privado, onde foi professor de Mário Soares e de Lagoa Henriques. Nesta fase da sua vida dedicou-se com empenho às questões pedagógicas, levando-o à criação da Escola Nova de São Domingos de Benfica e do Núcleo Pedagógico Antero de Quental.

 

No início dos anos 40 quando se torna mais incómodo, pelos seus escritos, para o regime Salazarista, posicionando-se como um denodado oposicionista, a PVDE ( antiga designação da PIDE ) prende-o em 1943 e a Igreja Católica critica-o pelas suas ideias religiosas pouco ortodoxas. Estes factos adversos, indicativos de plena assumpção da sua liberdade, irão levá-lo ao exílio na América do Sul, tendo estado no Brasil, no Uruguai e na Argentina.

 

De 1947 a 1969 viveu no Brasil onde estudou e ensinou em diversas Universidades. Foi, com efeito, um intelectual empreendedor ao participar na criação da Universidade de Santa Catarina e na Universidade de Brasília e ao criar Centros de Estudos[2] que o fizeram aprofundar a compreensão da importância da Lusofonia. A proximidade intelectual que manteve com Jaime Cortesão, na investigação que desenvolveram sobre a figura de Alexandre de Gusmão e na Exposição do Quarto Centenário da cidade de São Paulo, terá sido decisiva para aprofundar a sua convicção lusófona, pois este eminente Historiador dos Descobrimentos Portugueses sempre sustentou a tese do Humanismo Universalista dos Portugueses.

 

Agostinho da Silva regressou a Portugal durante o período do Marcelismo, em 1969, e dedicou-se nessa altura, fundamentalmente, à escrita. Só após a Revolução do 25 de Abril de 1974 passou a leccionar regularmente em Universidades Portuguesas, designadamente na Universidade Técnica de Lisboa onde dirigiu o Centro de Estudos Latino-Americanos e foi designado consultor do Instituto da Cultura e Língua Portuguesa. Veio a transformar-se num dos mentores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) pelas suas concepções e vivências lusófonas de fraternidade e união cultural dos países de língua portuguesa[3], sonhando mesmo com uma futura União Lusófona. Faleceu em Lisboa em 1994 sem conhecer esta nova instituição supranacional.

 

No princípio dos anos 90 a RTP1, imbuída de uma meritória missão de Serviço Público, emitiu uma série de notáveis entrevistas com o Professor Agostinho da Silva que o popularizou na sociedade portuguesa. Irei mostrar, de seguida, dois destes documentos televisivos intitulados “Conversas Vadias”. Além desta homenagem em vida, a este promotor da Cultura Lusófona, já postumamente constituiu-se a Associação Agostinho da Silva, em 1995, realizou-se a Comemoração do Centenário do seu nascimento, em 2006 e publicou-se o terceiro número da revista Nova Águia intitulado “O legado de Agostinho da Silva – quinze anos após a sua morte”[4] em 2009.

 

O original pensamento filosófico, expresso muitas vezes numa linguagem poética de maior acessibilidade, de Agostinho da Silva, que nos foi legado pelos seus escritos e depoimentos orais, só aparentemente é libertário pelo tom provocador, crítico, que imprimiu em algumas das suas mediáticas entrevistas, mas, na verdade, este pensador foi um construtor de uma “praxis” comprometida com uma elevada consciência cívica e social actuante, como a sua vida nos demonstra sobejamente.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão



[1] Fernando Farelo Lopes, “Seara Nova”, in Dicionário Encclopédico da História de Portugal, vol. II, Alfragide, Selecções do Reader’s Digest, p. 216.

[2] Agostinho da Silva criou o Centro de Estudos Afro-Orientais na Universidade de Santa Catarina e o Centro Brasileiro de Estudos Portugueses na Universidade de Brasília.

[3] Renato Epifânio, “Agostinho da Silva: um legado”, in A Via Lusófona – Um novo horizonte para Portugal, Sintra, Edições Zéfiro, 2010, pp. 86-89.

[4]Nova Águia, nº 3 – 1º Semestre de 2009, Sintra, Zéfiro Editores, 203 p.

 

Entrevista do Professor Agostinho da Silva conduzida pelo jornalista Adelino Gomes

Entrevista do Professor Agostinho da Silva conduzida pelo jornalista e escritor Armando Baptista-Bastos

 

J. VIANNA DA MOTTA (1868-1948), COMPOSITOR PORTUGUÊS DE MATRIZ NACIONALISTA E MUNDIVIDÊNCIA GLOBAL


Retrato de José Vianna da Motta da autoria de Columbano


José Vianna da Motta, nascido em São Tomé em 1868 e falecido em Lisboa no ano de 1948, marcou a História da Música portuguesa[1] com os seus múltiplos talentos de pianista, de compositor, de professor, de maestro, de escritor, etc. Desde cedo revelou o seu talento precoce, uma vez que aos 10 anos se apresentou num primeiro concerto público. Este facto levou o rei D. Fernando II a dar-lhe apoio mecenático que terá certamente aumentado a sua auto-estima.

 

Tirou o Curso na Escola do Conservatório em Lisboa com um excelente aproveitamento confirmando os seus dotes musicais, o que o levará a partir para a Alemanha onde irá estudar piano com Scharwenka e com F. Liszt e a adquirir uma forte admiração pelas obras de Richard Wagner. Em 1893 toca de forma exuberante em Lisboa e o retumbante sucesso público que alcança leva o rei D. Carlos I a atribuir-lhe o título de Comendador de Sant’ Iago da Espada.

 

No início do século XX fez diversas digressões internacionais com músicos afamados, que lhe aumentou o prestígio, tocando designadamente com Enesco, Pablo Casals ou Guilhermina Suggia. Neste período entre o crescente reconhecimento nacional e internacional irá criar as suas principais obras musicais. De entre estas avulta a Sinfonia “À Pátria” (1895), no rescaldo da exacerbação nacionalista resultante do Ultimato inglês de 1890 e das Campanhas de África (1895), considerada a sua obra-prima, intensamente marcada pela corrente do Romantismo de matriz nacionalista, em que evoca a obra Camoniana d’ “Os Lusíadas” e se inspira no modelo sinfónico de Beethoven. Esta atmosfera criativa, que radica neste contexto cultural, fê-lo inspirar-se em muitas das suas canções com piano em poemas nacionais de João de Deus, de Guerra Junqueiro, de Almeida Garrett, de Luís Vaz de Camões, etc.

 

Quando é apanhado a desenvolver o seu trabalho na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, exila-se na Suíça onde dirigiu o Conservatório de Genebra. Com o fim do conflito bélico, acaba por regressar a Portugal, abandonando grande parte da sua produção musical possivelmente por não se identificar com as correntes Modernistas que varriam a Europa, tornando-se maestro da Orquestra Sinfónica de Lisboa e no mesmo ano Director do Conservatório Nacional que ocupará até 1938.

 

Um outro momento de glória, da sua carreira musical, aconteceu nas celebrações do Centenário da morte de Beethoven, em Viena de Áustria no ano de 1927, com as suas virtuosas interpretações de piano das Sonatas de Beethoven que foram aclamadas pelo exigente público Vienense e pela crítica internacional. Levado por este êxito instituiu no Conservatório Nacional o Prémio “Beethoven” cujas receitas revertiam para os alunos mais carenciados da escola. A comunidade internacional considerou-o de forma definitiva como um sublime interprete das composições de Liszt, de Bach e de Beethoven.

 

O seu trabalho em prol da Cultura manifestou-se, também, nas reformas que implementou no ensino da música, em termos de programas e de métodos pedagógicos, em parceria com o compositor Luís de Freitas Branco em 1919, como Director do Conservatório de Lisboa. Teve uma invulgar erudição que o fez escrever no fim da sua vida alguns livros sobre música[2] ou sobre as suas fontes de inspiração, ao mesmo tempo que exerceu o seu magistério de crítica musical em múltiplas revistas e jornais nacionais e estrangeiros.

 

Contam-se como seus discípulos mais proeminentes o pianista José Sequeira Costa e o compositor Fernando Lopes Graça, que no ano seguinte ao seu desaparecimento escreveu sobre Vianna da Motta um texto em que destilou o seu imenso fascínio. Faleceu em 1948 na companhia da sua filha Inês Vianna da Motta e do seu genro Henrique Barahona Fernandes.

 


[1] Humberto d’ Ávila, “José Vianna da Motta”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, vol. II, Lisboa, Selecções Reader’s Digest, 1990, pp. 324-325.

[2] José Vianna da Motta escreveu como livros de referência: "Pensamentos extraídos das obras de Luís de Camões" (Porto, Renascença Portuguesa, 1919); "Vida de Liszt" (Porto, Edições Lopes da Silva, 1945);"Música e músicos alemães", 2 vols. Coimbra: Coimbra Editora, 1947).

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

Sinfonia "À Pátria" de José Vianna da Motta

 

Concerto para piano em lá maior de José Vianna da Motta

MÁRIO VARGAS LLOSA – JUSTO VENCEDOR DO PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 2010

 

Mário Vargas Llosa, escritor, jornalista, ensaísta, professor universitário e político, nasceu em Arequipa, no Peru, em 1936. Foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura de 2010 na tradicional atribuição da Academia Sueca de Ciências, a 7 de Outubro, com o fundamento de ter desmascarado, nas suas descrições literárias, as opressivas estruturas das ditaduras, os meandros do poder político e de ter colocado como tema central dos seus livros a liberdade como correlativo indispensável da felicidade. A sua escrita de um apurado recorte literário, de matriz clássica, já merecia este galardão.

 

Da sua formação inicial destaca-se a sua frequência no Colégio Militar Leôncio Prado, na povoação de La Perla, que terá, certamente, forjado o seu temperamento fortemente disciplinado como o reconheceu, na televisão portuguesa, em entrevista à jornalista Judite de Sousa. Na capital do Peru, Lima, nos anos 50 estudou Letras e Direito na Universidade de São Marcos. Veio, mais tarde, a doutorar-se em Filosofia e em Letras na Universidade Complutense de Madrid com uma tese sobre Gabriel Garcia Marquez. No entanto, na sua vida literária manteve sempre uma forte animosidade com este escritor, tal como em Portugal António Lobo Antunes manteve com José Saramago.

 

Lembro-me de ter lido, através de excertos publicados no “Diário de Notícias”, as denúncias que Mário Vargas Llosa fez a propósito da invasão do Iraque em 2003 em que muito do Património Histórico da Mesopotâmia foi saqueado e roubado da Biblioteca de Bagdad.

 

Deixando-se arrastar pelas suas férreas convicções e pela força da sua consciência assumiu-se como um político de Direita, de laivos conservadores, que se candidatou à Presidência da República do Peru em 1990. Fê-lo, com o apoio partidário da FREDEMO, subscrevendo ideias liberais de luta contra a estatização da economia Peruana, no entanto a sua peleja política saldou-se por uma derrota eleitoral que deu a vitória a Alberto Fujimori. Devido ao ambiente adverso que sentiu no seu país, após esta derrota, adquiriu a nacionalidade espanhola, tendo hoje uma dupla nacionalidade.

 

A marca distintiva da sua valorosa obra literária foi, sempre, o seu combate pela liberdade individual que procedeu de alguma influência filosófica recebida do Existencialismo de Jean-Paul Sartre, apesar das evidentes diferenças de quadrante político-ideológico. Assim, a sua escrita caracteriza-se por um estilo fluente, que nos absorve, de uma matriz classicista expressa numa linguagem cuidada no respeito pelas regras gramaticais e pelo enriquecimento lexical dos leitores.

 

Por outro lado, quanto aos conteúdos das suas ficções abordou com grande mestria os temas políticos e eróticos. Sempre considerei que era um dos escritores que melhor escrevia por compaginar o rigor dos cânones gramaticais ao tratamento de temas que apelavam à imaginação ou ao empenhamento político nas sociedades Latino-Americanas. Já tinha vincado, num dos “posts” deste blogue, o valor que lhe atribuía em “A Literatura e a blogosfera”, pois a sua prosa escorreita e bem firmada nos valores do Património Cultural da Humanidade fazem-me lembrar o vigor criativo de Marguerite Yourcenar.

 

Da sua prolífera obra literária destaco como livros de ficção mais emblemáticos: A Casa Verde (1966), Conversa na Catedral (1969), O falador (1987), Quem matou Palomino Molero ? (1986), Elogio da Madrasta (1988), Os cadernos de Dom Rigoberto (1997), O Paraíso na Outra Esquina (2003) e Travessuras da Menina Má (2006).

 

No entanto, o livro que me abriu ao inesgotável universo Llosiano foi o seu fantástico romance “O falador” na medida em que se confrontam duas mundividências, a racional de um amigo de um etnólogo e a de um contador de histórias indígena, a partir de duas visões cósmicas de uma mesma tribo amazónica. Um livro verdadeiramente encantatório para quem pretenda começar a conhecer a literatura deste consagradíssimo escritor. Outro livro que recomendo, vivamente, é “O Paraíso na Outra Esquina” que nos fala da procura da felicidade, contando-nos um pouco a história de vida de Paul Gauguin e do seu contacto com Vicent Van Gogh. Deixo-vos aqui um empolgante testemunho, do próprio Mário Vargas Llosa, do que deve ser o papel crucial da Literatura na vida da Humanidade.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

LANÇAMENTO DA REVISTA “NOVA ÁGUIA”, Nº 6 (2º SEMESTRE DE 2010), INTITULADA “A REPÚBLICA – 100 ANOS DEPOIS”



No dia 7 de Outubro de 2010 às 19 horas na Universidade Católica do Porto e em Lisboa no Palácio da Independência a 12 de Outubro às 17 horas irá ser lançado o número 6 da revista de Cultura intitulada “Nova Águia”, respectivamente com as apresentações do jornalista Carlos Magno e do professor Pinharanda Gomes nas referidas cidades.

 

Neste sexto número da revista “Nova Águia” procede-se ao balanço dos 100 anos da República Portuguesa, com o contributo de dezenas de textos, mas a exemplo do que foi a “Renascença Portuguesa” na 1ª República apontam-se, também, para a pátria caminhos cívicos e culturais, de uma modernidade que se compagina com um Humanismo universalista, neste tempo de uma Globalização caracterizada por uma atonia Ética e por uma substantiva perda dos referenciais identitários históricos e culturais.

 

Além da temática, central, evocam-se quatro efemérides culturais de relevante interesse neste ano de 2010: o Bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano (1810-2010); o centenário do nascimento de Miguel Reale, falecido em 2006 (1910-2010); o cinquentenário do falecimento de Jaime Cortesão (1960-2010); e o ano da morte de António Telmo (1927-2010), professor e ilustre filósofo estremocense, colaborador desta revista, recentemente falecido.

 

Neste número da revista escrevo sobre a importância cultural de Alexandre Herculano, a sua vida e o relevante magistério intelectual que exerceu sobre os Republicanos. Na próxima revista, número 7 relativo ao 1º semestre de 2011, será dedicada a Fernando Pessoa e à sua concepção de pátria (em conformidade com a sua afirmação: “a minha pátria é a língua portuguesa) a propósito dos 15 anos da formação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Aliás, a alargada difusão desta revista no espaço lusófono tem sido possível graças, em grande parte, ao dinamismo do Movimento Internacional Lusófono.

 

Convidamos todos os cidadãos interessados, na presente temática do Centenário da República Portuguesa e nas questões ligadas à Cultura Contemporânea, a assistirem à prelecção do Professor Pinharanda Gomes relativa aos cem anos da República e à apresentação deste novo número da “Nova Águia”.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

GUERRA JUNQUEIRO (1850-1923), ARAUTO DO IDEAL REPUBLICANO NO CONTEXTO DA CRISE PATRIÓTICA DO FIM DA MONARQUIA

 

Abílio Manuel de Guerra Junqueiro (1850-1923)[1] nasceu em Freixo de Espada-à-Cinta, em meados do século XIX, do casamento entre José António Junqueiro Júnior e Ana Guerra[2], abastados proprietários rurais da região. O jovem Abílio, após uma formação incompleta no Curso de Teologia, acaba por tirar o diploma do Curso de Direito em Coimbra. Ingressou, de seguida, no funcionalismo público e tornou-se mais tarde, episodicamente, político, mas veio a ganhar fama como escritor.

 

Alcançou grande notoriedade pública como poeta que instigou o ódio antimonárquico e anticlerical, tendo potenciado o ambiente revolucionário que desembocou na implantação da República em 5 de Outubro de 1910. Em Coimbra, no eclético ambiente das tertúlias académicas alargou a sua mundividência, integrando o grupo de intelectuais da Geração de 70[3] que ficou conhecido como “Vencidos da Vida”[4]. Neste viçoso ambiente, da intelectualidade Coimbrã, cedo começou afirmar-se como um promissor poeta e como um encarniçado Republicano.

 

Em 1873 escreveu um poema de elogio à República Espanhola denominado “À Espanha livre”. Na sequência do Ultimato inglês, de 11 de Janeiro de 1890, encolerizado com a cedência da Monarquia portuguesa aos interesses ingleses que abortaram o sonhado projecto colonial do mapa cor-de-rosa de unir os territórios da costa ocidental de Angola à contra-costa Moçambicana, publicou o opúsculo “Finis Patriae” (1890) que pela popularidade que alcançou exacerbou a descrença popular nas instituições da Monarquia Constitucional. Em reconhecimento dos seus serviços, em prol do ideal Republicano, foi nomeado em 1910 Ministro Plenipotenciário da República Portuguesa na Confederação Suíça, função que ocupou até 1914.

 

Alcançou um extraordinário êxito literário com o poema “A morte de D. João” (1874) que foi alvo de apreciação crítica por parte de grandes escritores como Joaquim Pedro de Oliveira Martins ou Camilo Castelo Branco. Tornou-se tradutor dos contos infantis de Hans Christian Anderson, que certamente terá influenciado a sua escrita fortemente sentimental. Com a obra, satírica e lírica, intitulada “A velhice do Padre Eterno” (1885) abriu uma acesa polémica anticlerical que enraiveceu as hostes monárquicas e eclesiásticas para gáudio dos Republicanos que o ergueram em arauto da sua Causa.

 

Em 1892 publicou o livro “Os Simples” em que exaltou os mais desfavorecidos da sociedade, as pessoas humildes e os camponeses, numa cadência lírica em homenagem aos corações mais genuínos dos seus conterrâneos Freixenistas que viviam da lavoura. O seu prestígio literário rompeu fronteiras, pois algumas das suas obras encontram-se traduzidas em diversas línguas. No momento em que celebramos o Centenário da implantação da República não quis deixar de evocar um dos grandes vultos da Cultura Portuguesa que mais contribuiu para a galvanização popular a favor do regime Republicano na transição do século XIX para o XX.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão



[1] Ana Maria Martins, “Abílio Manuel de Guerra Junqueiro”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, vol. I, Lisboa, Selecções do Reader’s Digest, 1990, pp. 302-303.

[2] A sobrinha do poeta, Margarida Augusta Guerra Junqueiro casou-se em 1935 com o Almirante Manuel Maria Sarmento Rodrigues. Vide Nuno Sotto Mayor Quaresma Mendes Ferrão, Aspectos da vida e obra do Almirante Sarmento Rodrigues (1899-1979), Mirandela, Edição Câmara Municipal de Freixo de Espada-à-Cinta, 1999, p. 28.

[3] João Medina, Eça de Queiroz e a geração de 70, Lisboa, Moraes Editores, 1980.

[4] Este grupo de promissores intelectuais reunia José Duarte Ramalho Ortigão, Joaquim Pedro de Oliveira Martins, Abílio Guerra Junqueiro, Luís de Soveral, Francisco Manuel de Melo Breyner, Carlos Lobo de Ávila, Eça de Queirós, entre outros.

 

 

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