Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Estes três livros – O Resto do Meu Nome, Solo à Luz e Histórias de Amor - foram publicados em 2022 e 2023 com a autoria de três talentosas escritoras, diversas no modo de escrita, mas unidas na vastidão das suas bagagens culturais, das suas perspicácias e das suas infindas sensibilidades.
A primeira autora, Alexandra Barreiros, inspirada nas penas magistrais de Marcel Proust e de Fernando Pessoa. A segunda autora, Luísa Costa Macedo, inspirada em Rainer Maria Rilke e em Sophia de Mello Breyner Andersen. A terceira autora, Maria Joana Almeida, inspirada em Albert Camus e em José Saramago. As três autoras compaginando, assim, referências literárias nacionais e internacionais.
1. O romance de Alexandra Barreiros é de um estilo literário depurado pela cultura aprofundada e extensa da autora, que lhe foi publicamente reconhecido com o Prémio Imprensa Nacional/Ferreira de Castro de 2022. O fio condutor deste livro intitulado O Resto do Meu Nome (Lisboa, Editora Imprensa Nacional da INCM, 2022) é o imaginário infantil, que não se deve nunca perder de vista e enriquece a vida adulta. É um conjunto de crónicas que a autora escreveu a partir do seu imaginário vivido e ficcionado, baseando-se nas suas múltiplas viagens por cidades e locais, maioritariamente, do Ocidente.
Tem, pois, uma valia literária insuperável, só, talvez, se Ferreira de Castro ou Eça de Queiroz reencarnassem nos nossos dias conseguiria esta sua obra ser superada, tal a qualidade literária com que a autora nos brinda. Chegou, pois, ao topo do Evareste, onde os horizontes geográficos e espirituais são inultrapassáveis.
A mensagem deste livro, do meu ponto de vista, consiste numa redescoberta da Ítaca de Ulisses, dado que para conseguirmos renascer é necessário redescobrir a nossa infância, uma vez que esta coluna vertebral estrutura a nossa identidade. É, mesmo, como afirma o título, a redescoberta do resto do “meu” nome (de Alexandra Barreiros), o que se consegue descortinar no conteúdo do livro, isto é, a sua própria identidade pessoal, familiar e lusófona, ao redescobrir literária, filosófica e linguisticamente Fernando Pessoa e que, por isso, se sente pertencer, também, a esta pátria lusófona, apesar do seu trajeto de uma vivência internacionalista entre cidades e locais como Nova York, Bruxelas, Paris, Varsóvia, Viena, Helsínquia, Veneza, Guincho, Sintra, etc.
Começou uma licenciatura em História da Arte, em Lisboa, mas logo percebeu que estudar alçados e plantas de catedrais não era o que desejava, pelo que rumou a Viena com a família, onde tirou um mestrado em Relações Internacionais e foi lecionando línguas e literaturas em várias instituições e universidades europeias.
O público pode esperar deste livro muita qualidade literária, reflexões filosóficas intercaladas com histórias muito divertidas, umas vividas e outras ficcionadas a partir da realidade, numa narração intensamente autobiográfica.
2. O livro Solo à luz de Luísa Costa Macedo (Lisboa, Editora Gato Bravo, 2023) insere-se no estilo poético clássico, inspirado no gosto pela leitura dos poemas de autores consagrados. Com formação académica em comunicação empresarial, a autora iniciou as suas incursões literárias com um livro infantil, com a escrita de um conto de contexto pandémico, mas revela especial apetência pela escrita poética com poemas publicados nas revistas Nova Águia e Devir e, ainda, em plataformas digitais.
Os seus poemas curtos expressam, muitas vezes, conexões emocionais, mas inspirando-se em poemas de autores consagrados como Sophia de Mello Breyner Andersen, Clarice Lispector, Jorge de Sena ou Carlos de Oliveira, afastando-se do encantamento pelo verbo fácil, situando-se assim numa simbólica modernidade poética. A valia literária destes poemas reside na palavra densamente trabalhada, partindo de poemas de autores conceituados de língua portuguesa. O livro tem o prefácio do poeta, professor e crítico literário António Carlos Cortez, estando esta obra dividida em três partes intituladas “Espiral”, “Solo à luz” e “Batimentos”.
O público pode esperar deste livro uma grande qualidade nos pequenos poemas, nem sempre fáceis de compreender pelo simbolismo que encerram e pelas referências ocultas a grandes poetas inspiradores, mas de enorme beleza.
3. O livro “Histórias de Amor” de Maria Joana Almeida (Espinho, Elefante Editores, 2023) insere-se num estilo de prosa poética, que tem como fio condutor 41 poemas de abordagens livres ao tema do amor. É um conjunto rico em reflexões existenciais com uma linguagem bastante acessível em torno de situações próximas ao tema do amor, mas de grande profundidade pela beleza emocional com que abordam as vivências humanas. A sua área profissional é a docência da Educação Especial e é, também, formadora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, sendo uma “blogger” conceituada ao nível da Educação e uma colaboradora do jornal Público, nesta área.
O público pode esperar deste livro diversas incursões introspetivas sobre este tema central da felicidade humana, pontuando alguns dos seus poemas com referências culturais a músicos e a escritores. A sua prosa poética, na cadência das suas pequenas histórias de amor, fazem-nos lembrar a linguagem literária e modernista de José Saramago, pelo tom coloquial e intimista de aproximação ao leitor.
O leitor pode ter a expectativa de um livro empolgante que se lê de um trago devido à cadência das pequenas histórias diversas de amor, que nos agarram a uma leitura contínua ou descontinuada, consoante o padrão comportamental de leitura.
Deixo, assim, estas ótimas sugestões para as vossas leituras de férias, com diferentes estilos literários em conformidade com as vossas apetências de leitores. Apresento, complementarmente, três vídeos de três autores portugueses e lusófonos, que de alguma forma inspiraram estas nossas autoras.
Dedico este texto ao grande historiador José Mattoso, ontem falecido (08/07/2023).
“(…) Tenho pensado muito em José Medeiros Ferreira (1942-2014). A triste notícia chegou-me a meio do discurso de Vladimir Putin no Kremlin sobre a anexação militar da península ucraniana da Crimeia pelas forças de operações especiais russas. Um dia histórico, portanto. (…)”
Miguel Monjardino, “Um colunista na História”, in Por onde irá a História?, Lisboa, Edição Clube do Autor, março de 2023, p. 253.
Este texto inspira-se num título de uma brochura famosa de Antero de Quental intitulada As causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos[1], mas se, no fim do século XIX, eram os povos ibéricos que “estavam na berlinda” e alguns políticos e intelectuais ilustres falavam na necessidade de um federalismo ibérico para a revitalização da Ibéria, neste momento, na terceira década do século XXI, tornam-se exponenciais os sinais que evidenciam um inequívoco declínio da Civilização Ocidental.
Osvald Spengler, historiador e filósofo alemão, teve a premonição da decadência da Civilização Ocidental com a obra A decadência do ocidente[2], publicada, pela primeira vez, em 1918, que foi escrita em função da beligerância da 1ª guerra mundial, que destroçou as nações europeias e tendo gerado, neste continente exausto, uma enorme descrença e um tremendo pessimismo na capacidade dos países europeus se reerguerem e reafirmarem como grandes potências. Este contexto histórico permitiu, inclusivamente, que os EUA emergissem como grande potência (superpotência), no primeiro pós-guerra, passando a deter a hegemonia internacional até ao fim do século XX e início do século XXI.
A Civilização Ocidental começou o seu ocaso com os “ventos da mudança” do fenómeno descolonizador, que levou ao colapso vertiginoso dos impérios coloniais europeus, após a 2ª guerra mundial, e à hegemonia dos EUA. No entanto, os norte-americanos e os europeus ainda tentaram evitar o descalabro económico do “Velho Continente”, em meados do século XX, com o recurso ao Plano Marshall e com o projeto europeu do Tratado de Roma, de suscitar uma comunidade económica europeia. Estes recursos dilatórios ainda permitiram trinta anos de glorioso crescimento económico na Europa e nos EUA (1945-1973), que desembocaram nas crises petrolíferas dos anos 70, na implementação de políticas neoliberais e no fenómeno da globalização no último quartel do século XX.
A ilusão de um Mundo Novo, vindouro, democrático e liberal produziu-se com o colapso do bloco soviético, com a queda do muro de Berlim e com a reunificação da Alemanha, isto é, com o fim da guerra fria. As esperanças eufóricas traduziram-se nas teses optimistas e ingénuas de Francis Fukuyama[3], mas a desintegração do bloco de leste europeu também deu azo a algumas dúvidas. A Europa, sob o élan de alguns políticos carismáticos e com o plano de uma unificação monetária, ainda teve o seu último fôlego, na viragem do milénio, com a entrada em funcionamento da moeda europeia em 2002, o euro.
Contudo, a neurose provocada pela vulnerabilidade dos EUA, com o atentado de 11 de setembro de 2001, arrastou-se à Europa, com a globalização do terrorismo a atingir várias cidades europeias. O entusiasmo hegemónico europeu neste contexto desvaneceu-se e o peso do “Velho Continente” nas transações globais tornou-se cada vez mais reduzido.
A globalização e a deslocalização de muitas empresas multinacionais, com sedes ou sucursais na europa, conduziram a uma desindustrialização dos países do “Velho Continente”. Ora, esta circunstância tem feito os países europeus perderem dinamismo económico e relevância no conjunto da economia mundial.
Por seu turno, o dinamismo económico e a vitalidade demográfica das potências asiáticas como a Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura, Taiwan, Índia e, principalmente, a China, na actualidade, que passaram por uma rápida industrialização e mantiveram taxas de crescimento excepcionalmente altas, na segunda metade do século XX e, no caso desta última potência, já no início deste século, estão a provocar uma inusitada concorrência aos países europeus. Estas novas potências económicas asiáticas estão a fazer perder protagonismo aos principais países europeus (Alemanha, Grã-Bretanha e França).
A crise financeira de 2008-2009 indicou para uma crescente debilidade das estruturas financeiras ocidentais, que tiveram impacto económico em alguns países europeus mais vulneráveis tais como a Grécia, Portugal, a Itália, a Irlanda e a Espanha, devido aos endividamentos excessivos e ao grandes défices públicos, conhecido este fenómeno como “a crise da zona euro”. A UE ainda prossegue o seu alargamento geográfico com a integração da Croácia em 2013 e com várias candidaturas de novos países, na atualidade, no sentido do seu futuro alargamento superar os impasses da afirmação da UE neste primeiro quartel do século XXI e na primeira metade desta centúria. A crescente perda de importância internacional e económica da UE fez com que o Reino Unido, no início de 2020, tenha saído da UE com o designado Brexit, pois parte dos ingleses convenceu-se que conseguia reafirmar-se internacionalmente, através da “Commonwealth”, recuperando alguma da sua soberania.
Na segunda década do século XXI, o Brexit (2016-2020) e a eleição de Donald Trump nos EUA (em novembro de 2016) evidenciaram a decadência do Ocidente, que se refugiou, no caso destas duas nações, nas premissas nacionalistas, xenófobas e no proteccionismo para criarem a ilusão de que os EUA e a Grã-Bretanha, apesar de decaírem em termos económicos, conseguirão ressurgir das cinzas como a Fénix com estas receitas esgotadas[4]. Os grandes desafios da actualidade - a globalização e a revolução digital – inserem-nos numa nova Era histórica e não será através do proteccionismo comercial e social, que a perda de fulgor económico das grandes potências do Ocidente recuperarão o seu protagonismo internacional ou posições hegemónicas. O receio e o pessimismo dos povos das antigas grandes potências ocidentais levou os EUA e a Grã-Bretanha a recuarem, ao invés de apostarem numa fuga para a frente, daí que os fenómenos da eleição de Trump e do Brexit tenham marcado a segunda década do século XXI.
A globalização e a grande revolução digital tornaram possíveis às grandes nações do Ocidente (EUA e Grã-Bretanha) perder terreno em termos de poderio e de riqueza, de tal forma que do G7 se passou em concomitância para um contemporâneo G20, para outras nações asiáticas que emergiram pelos seus potenciais económicos e tecnológicos. O Ocidente da revolução industrial, das descobertas científicas, dos direitos humanos e das sociedades democráticas está a perder terreno para outras nações que se estão a alçar ao cume da economia e da geopolítica global.
O declínio demográfico, neste início do século XXI, com o envelhecimento da população europeia tem feito acolher muitas correntes migratórias, muitas comunidades de imigrantes, para tentar garantir o funcionamento e o dinamismo da sua economia. O “Velho Continente” também está a perder fulgor tecnológico com os avanços rápidos das potências asiáticas. Com a crise do Ocidente, os seus valores essenciais, como a democracia e os direitos humanos, estão a ser questionados no mundo, favorecendo a emergência de autoritarismos em várias partes do globo e os fenómenos de populismo, que está a varrer a europa, até pela crescente descrença nos sistemas democráticos. O declínio do Ocidente é bem patente na diminuição do seu poder económico e militar, com exceção a este nível dos EUA, que só desta forma conseguem influenciar o cenário internacional atual. Contudo, o “Velho Continente” perdeu o fulgor económico e desinvestiu na sua capacidade militar.
___________________________________
[1] Antero de Quental, Causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos, Lisboa, Tinta-da-China, 2008, 118 p.
[2] Oswald Spengler, A decadência do ocidente: esboço de uma morfologia da história universal, 1918.
[3] Francis Fukuyama, O fim da História e o último Homem, Lisboa, Gradiva, 1999.