UM TRADICIONALISTA NA MÚSICA ANTIGA – MESTRE GUSTAV LEONHARDT (1928-2012)
Gustav Leonhardt de origem holandesa aprendeu na Escola Vienense a via tradicionalista que veio a marcar a sua carreira musical como professor, intérprete e maestro. Esta sua caminhada identitária manifestou-se na defesa e na aplicação da tese de que as músicas datadas devem ser interpretadas com instrumentos das respectivas épocas, daí a sua grande valorização do cravo como instrumento caído em desuso. Foi esta sua faceta que o fez expurgar as interpretações modernistas das sonoridades dos compositores de música Barroca, como sejam: Bach, Couperin, Scarlatti, Frescobaldi ou Handael.
A sua carreira de “estrangeirado” com uma estadia na Suíça e depois na Áustria permitiu-lhe regressar ao seu país com uma aprendizagem credenciada, sendo convidado para professor do Conservatório de Amesterdão. Recebeu ao longo da sua longa carreira inúmeros Doutoramentos Honoris Causa pelo seu trabalho de revitalização da música antiga.
A par desta tendência tornou-se um reputado e virtuoso intérprete de Johann Sebastian Bach. Adquiriu grande fama e tornou-se um cravista de projeção internacional fazendo périplos musicais por toda a Europa e pelos Estados Unidos da América. Liderou desde os anos 50 uma orquestra de câmara Barroca e patenteou uma paixão sem par pela obra de J.S.Bach, tendo participado num filme em 1967 de homenagem a este magistral compositor, representando-o. Fez, também, alguns estudos bibliográficos sobre a sua obra. Esteve envolvido nos anos 70 num projeto para gravar toda a música sacra deste compositor.
Vale a pena ouvir estas sublimes interpretações do Mestre Gustav Leonhardt recentemente falecido, em particular a magnífica obra de JS Bach "Goldeberg Variations". É uma singela homenagem a um amigo de Portugal que muito enobreceu a música antiga, com presenças frequentes na Casa de Mateus, em Vila Real, e na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Nuno Sotto Mayor Ferrão