OS ATUAIS IMPASSES DA UNIÃO EUROPEIA E O PRÉMIO NOBEL DA PAZ DE 2012 – TRILHOS DO PASSADO, DO PRESENTE E DO FUTURO EUROPEU
A crise da Zona Euro (2010-2012), com o emergir do problema financeiro na Grécia, gerou tensões nacionalistas, no seio da União Europeia, que são lamentáveis para o projeto institucional Europeu. Todos os países Europeus mais aflitos, neste tempo de aperto financeiro, começaram a invocar o facto de serem melhores que algum dos seus parceiros comunitários, o que tem desencadeado uma crescente mentalidade eurocética.
Habituamo-nos a ouvir, num tom de competição autoritária, de insensata sensibilidade tecnocrática, imposta pelo ultraliberalismo dos mercados financeiros, os países do Norte da Europa a queixarem-se dos povos da Latinidade de serem excessivamente ociosos. Ora, estas tensões nacionalistas, em vez de serem parte da solução, são verdadeiramente parte do problema por levarem a um enfraquecimento do espírito comunitário com uma União Europeia centrífuga, sendo este o autêntico “busílis” da problemática.
No início do século XX os antagonismos nacionalistas, herdados desde o fim do século XIX, levaram a Europa a mergulhar na 1ª Guerra Mundial (1914-1918) que prejudicaram de forma colossal o desenvolvimento económico do “Velho Continente”. Com o recrudescimento da crise económica dos anos 30, na Europa, os antagonismos nacionalistas internos aumentaram, novamente, e desembocaram no despoletar da 2ª Guerra Mundial (1939-1945). No entanto, o sonho Utópico de políticos Europeus sonhadores (Robert Schuman e Jean Monnet) tornou possível transformar o “Velho Continente” mais defendido de conflitualidades bélicas, não obstante tenha havido exceções, talvez residuais, como foi o caso do desmembramento da Ex-Jugoslávia que gerou feridas dramáticas no seio do continente Europeu no fim do século XX.
A 12 de outubro de 2012 o Comité Nobel da Academia Sueca, numa louvável manobra política de alento moral ao projeto institucional Europeu, que está moribundo pela mentalidade pessimista dos Europeus, em resultado dos impasses nacionalistas, atribuiu o Prémio Nobel da Paz à União Europeia. Na realidade, o fundamento apresentado para a atribuição deste Prémio é o facto da União Europeia e das suas antecessoras (CECA, CEE e CE) terem sido a salvaguarda, durante décadas da “paz, da reconciliação, da democracia e dos Direitos Humanos” no espaço Europeu nas afirmações públicas do Porta-voz do Comité Nobel.
O evidente desacordo sobre os fundos do orçamento plurianual Europeu para 2014-2020 decorrente do euroceticismo dos países do Norte da Europa (principalmente, Inglaterra, Suécia e Holanda) com a promessa de cortes profundos no orçamento comunitário está na origem da crescente perda da credibilidade da União Europeia, não obstante o galardão recebido da prestigiada Academia Sueca. As divergências nacionalistas na União Europeia a 27 patenteiam a falta de solidariedade comunitária para enfrentar a conjuntura de crise financeira da Zona Euro, situada no contexto internacional de abrandamento do crescimento económico mundial, deste momento em que vivemos.
Importa ter em atenção que só outro paradigma de desenvolvimento, como estratégia coletiva da União Europeia e do mundo Globalizado, com reforço das instituições supranacionais permitirá enfrentar os ingentes desafios que a Humanidade tem pela frente. Por outras palavras, convém ter consciência que a Globalização Capitalista Ultraliberal pariu uma monstruosa crise multipolar sem mecanismos e instituições supranacionais reguladores.
Assim, os impasses da União Europeia resultam da falta de uma tática conjuntural para debelar a crise da Zona Euro e de uma ausência de estratégia Federalista que salvaguarde o Bem Coletivo do Modelo Social Europeu, em face da falta de carisma europeísta dos seus atuais líderes. Este pessimismo larvar, a par da estratégia da austeridade cega, ajuda a explicar os enormes “cortes” nos fundos estruturais do orçamento comunitário que se traduziu no desacordo dos Chefes de Governo nesta Cimeira Europeia, terminada a 23 de novembro de 2012, que irão implicar uma redução substancial nos fundos estruturais de apoio ao desenvolvimento das regiões mais desfavorecidas da Europa (Portugal, Grécia e Países da Europa de Leste).
Em suma, estes impasses da União Europeia gerados pelos atuais egoísmos nacionalistas só poderão ser superados, com uma forte consciência histórica, se for reposta uma ambição coletiva e comunitária de cumprir ideais Utópicos para que a Esperança seja possível de retornar à mentalidade dos Europeus, porque o excessivo pragmatismo contabilístico da tecnocracia neoliberal tem deixado a Europa sufocada socialmente debaixo de uma ideologia prevalecente de cada indivíduo ou cada nação por si se deve salvar, esquecendo os princípios da solidariedade e da justiça social.
Este rumo da União Europeia que revela falta de uma estratégia política e de lideranças fortes, advém do bloqueamento das necessárias convicções utópicas por meio da ideologia neoliberal, que se devem conseguir compaginar com um pragmatismo moderado. Deste modo, estas dissidências nacionalistas Europeias tornarão, neste mundo Globalizado, cada vez mais difícil a concretização da Paz Perpétua de que nos falava I. Kant.
Nuno Sotto Mayor Ferrão