Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Esta doença infecciosa, conhecida por COVID-19, detectada primeiramente na China, continua a expandir-se para outros países, como em Itália onde apareceu no dia 31 de janeiro de 2020 ou nos Estados Unidos da América, que confirmaram o primeiro caso no dia 24 de fevereiro deste ano ou em muitos outros os países em que foi sendo diagnosticado, tornando-se uma pandemia reconhecida pela Organização Mundial de Saúde.
Em Portugal, o primeiro caso foi diagnosticado no dia 2 de março de 2020, encontrando-se ainda em crescimento a sua difusão, bem como no mundo com o surto pandémico a acelerar o seu ritmo de expansão estatística, de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde.
A resistência que houve em França e em outros países, durante a segunda guerra mundial, foi um dos fatores fundamentais para a vitória das forças aliadas sobre os nazis. A resiliência psicólogica e física irá ser fundamental para os portugueses, os europeus, os brasileiros e muitos outros povos do mundo nesta batalha contra esta pandenia do Coronavírus 2019 (COVID-19) e que, neste momento, tem o seu epicentro na Europa.
Chama-se a este fenómeno de resistência coletiva estabelecido em Portugal pelo Estado de Emergência isolamento social profilático, mas é preciso resiliência para não se cair no desânio ou na depressão perante notícias mais alarmantes. É um conjunto de três elementos que é fundamental para garantir a resistência/resiliência perante a evolução ciclópica desta pandemia em Portugal, na Europa e no mundo. Iremos, então, referir estes 3 elementos cruciais para a sanidade psíquica, física e sanitária dos milhões de cidadãos, que em Portugal, na Europa e no mundo se encontram em isolamento social nas suas habitações (#ficaemcasa).
Em primeiro lugar, apenas a unidade espiritual e as solidariedades coletivas em termos familiares, fraternais entre comunidades de amigos, patrióticas, lusófonas e europeias nos poderão garantir o ânimo para enfrentar este isolamento social imposto em muitos países do mundo e, em particular, na Europa.
A Inglaterra que resistia a tomar medidas tão drásticas, acabou de decretar este mesmo isolamento social profilático. Nesta era digital, apesar da sobrecarga das plataformas de comunicação, a internet e os “smartphones” tornaram estas atitudes mais fáceis de realizar. As solidariedades patenteiam-se nas compras que os vizinhos mais novos fazem aos vizinhos mais velhos e as palavras de conforto que trazemos uns aos outros através destes meios digitais.
Em segundo lugar, apenas com uma fé transcendental ou com uma forte convição espiritual, num retorno necessário às humanidades e às revistas culturais, aos livros e à “cultura online”, se conseguirá vencer este inimigo invisível, que anda por aí devido à globalização social que facilitou a inesperada circulação de pessoas numa escala planetária, com viajantes de todas as nações e de vários grupos sociais.
As humanidades, num indispensável retorno do mundo à metafísica, permitirão perceber que esta crise imeniente irá fazer tomar consciência às pessoas, aos governantes e às empresas sedentas do lucro fácil, especulativo, de que o abismo climático estará à nossa porta dentro de algumas décadas, neste século XXI.
O maravilhoso mundo novo, numa alusão a uma obra-prima de denúncia simbólica do escritor Aldous Huxley, que nos prometiam os positivistas e os neopositivistas do progresso constante, como foi o ingénuo caso de Francis Fukuyama, não passou de uma ilusão de ideólogos tecnocráticos.
Assim, unicamente com a complementaridade das visões tecnocráticas e das visões humanistas será possível construir um mundo melhor para as próximas gerações, pois, caso contrário, a Humanidade irá de colapso em colapso até ao seu próprio extermínio. É imperioso cuidar da “nossa casa comum”, como nos diz o Papa Francisco, com um espírito mais franciscano e mais afastado da teoria dos interesses.
Em terceiro lugar, emerge o papel da ciência médica e da indústria farmacêutica na busca de novos métodos de tratamento, de cura e de uma vacina para prevenir os novos surtos de COVID-19, que poderão aparecer ainda em final de 2020 ou início de 2021. É absolutamente vital a investigação laboratorial humanitária, da China, dos Estados Unidos e da Alemanha, em prol de tod@s os cidadãos do mundo, uma vez que poderá ser primordial para reduzir vítimas letais deste surto pandémico e minimizar grandes efeitos colaterais na economia.
Estão a revelar-se autênticos heróis os trabalhadores do Sistema Nacional de Saúde dos países europeus e do mundo, eventualmente, onde haja estruturas sanitárias semelhantes, pois o mundo foi apanhado desprevenido com este surto pandémico e apenas o esforço humanitário e o sacrifício suplementar da comunidade médica, de enfermeiros, de auxiliares de ação médica, de farmacêuticos e de fornecedores de bens essenciais tem conseguido responder com dificuldade ao crescimento exponencial de casos por todo o mundo, cifrando-se em mais de 350 mil de pessoas infectadas a nível global, embora a batalha esteja a ser muito dura, particularmente em Itália e em Espanha, nesta fase no fim do primeiro trimestre de 2020.
O problema continua a ser que a economia está baseada em pantanosos alicerces financeiros, que apenas desvirtua a economia real e a torna muito mais vulnerável aos golpes fraudulentos dos detentores de grandes fortunas e à fuga de capitais para maléficos paraíses fiscais, que garantirá mais desigualdades sociais no mundo, como o anunciam os relatórios PNUD da ONU.
Neste âmbito financeiro, foi positiva a decisão da Comissão Europeia, anunciada por Ursula Von Der Leyen, de que os países europeus da União Europeia passavam a usufruir de uma flexibilidade orçamental com a exclusão da regra de um máximo de défice orçamental de cada país de 3%, no decorrer desta conjuntura pandémica.
Em suma, nesta conjuntura de guerra contra esta pandemia, impõe-se uma resistência coletiva com um isolamento das famílias e das pessoas infetadas para se estancarem as correntes infecciosas, que circulam nas nossas sociedades neste mundo global. Unicamente mediante esta resistência coletiva, a que apelou Winston Churchil com o seu famoso discurso, do início da segunda guerra mundial, de “sangue, suor e lágrimas” face ao inimigo nazi, em 1940, será possível vencer este terrível inimigo invisível que é o Coronavírus 2019 (COVID-19).
Uma epidemia de doença infecciosa, que se alastra facilmente por uma grande região geográfica como uma doença nova e perigosa, dá-se o nome de pandemia. Presentemente, a Organização Mundial de Saúde ainda não classificou o COVID-19 como uma pandemia.
Os coronavírus são um conjunto de vírus, que já se conhecem desde os anos 60 do século XX. A maioria dos indivíduos sofre infeções de coronavírus durante a vida mas como infeções respiratórias leves a moderadas. Contudo, este coronavírus de 2019 (com o nome oficial COVID-19) é ainda bastante desconhecido, podendo originar pneumonia. Foi identificado, pela primeira vez, na cidade chinesa de Hubei, no fim de 2019.
É ainda preciso mais tempo para estudar, cientificamente, este novo vírus, nas suas caraterísticas e na possibilidade de se alcançar um método de tratamento. Desconhece-se, na comunidade internacional, neste momento a origem da infeção. A sintomatologia é idêntica a uma gripe, constando de febre, de tosse, de falta de ar e de cançaso. Em situações mais complicadas, pode dar origem a uma pneumonia grave com insuficiência respiratória, falência dos rins e provocar mesmo a morte.
É de 2 a 14 dias o período de incubação da doença, desde a infeção inicial do COVID-19 até ao surgimento de sintomas, daí a recomendação de se fazer um tempo de quarentena de duas semanas para pessoas provenientes de regiões ou de países com muitas pessoas infectadas.
A transmissão faz-se através de contacto pessoal e o tratamento destina-se a debelar os sintomas dos doentes. O uso de antibióticos é contraproducente no tratamento do COVID-19, dado que estes não curam vírus e a sua utilização poderá aumentar a resistência futura a antibióticos.
Já neste século XXI, em 2002-2003 e em 2012, se verificaram, no mundo, surtos de coronavírus provocado pelo SARS-CoV e pelo MERS-CoV, tendo provocado infeções respiratórias graves. Não existe ainda vacina para o COVID-19.
É conveniente adoptarmos, todos nós caríssim@s concidadãos, algumas medidas de proteção e prevenção para diminuir o risco de sermos contagiados pela doença: a higiene frequente das mãos; ao tossir e ao espirar cobrir a boca com um pequeno pano para evitar a difusão de gotículas difusoras da doença; manter uma distância social de pelo menos 1 metro diante de doentes infectados, ou diante daqueles que tossem ou manifestam sintomas febris; evitar tocar nos olhos, no nariz e na boca antes de lavar as mãos, pois se alguma superfície tiver sido contaminada poderemos contrair a doença; se tivermos febre ou dificuldade em respirar devemos pedir auxílio médico e o mesmo se tivermos vindo de uma viagem de uma zona de prevalência intensa de proliferação do vírus (casos da China, de Itália, da Coreia do Sul, do Japão ou do Irão); quando visitarmos mercados, de animais vivos, deveremos lavar, muito bem, as mãos e não colocar as mãos nos olhos, na boca, nem no nariz, antes de procedermos à sua higienização; evitemos o consumo de animais crus ou pouco cozinhados; manipulemos os alimentos crus com muita precaução.
A pneumónica de 1918-1919
A gripe pneumónica, também conhecida como gripe espanhola, foi a maior pandemia da história da humanidade, tendo provocado a morte de 50 a 100 milhões de pessoas, nos anos de 1918-1919, por todo o mundo. A sua mortalidade foi muito superior à verificada no período da Peste Negra do século XIV. A pneumómica também ficou conhecida como gripe espanhola, visto que, no decorrer da primeira guerra mundial, em período de censura de guerra na imprensa europeia, a imprensa espanhola noticiava evidências do surto epidémico.
Em Portugal, a gripe pneumónica chegou durante o mês de maio de 1918 e encontra-se muito bem descrita no romance histórico de Francisco Moita Flores – Mataram o Sidónio!. Neste país, algumas regiões foram dizimadas com uma perda populacional da ordem dos 10%.
O combate ao surto epidémico, em Portugal, foi dirigido pelo Diretor Geral de Saúde, Ricardo Jorge, que deu nome ao atual Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que nestes dias tem feito análises aos cidadãos que entram em Portugal e são suspeitos da possibilidade terem contraído o coronavírus 2019. A política de Saúde Pública do Doutor Ricardo Jorge passou, na época, por encerrar escolas e proibir feiras e romarias, tendo-se convertido muitos espaços públicos em enfermarias. No entanto, a situação revelou-se bastante caótica, como muito bem nos descreve Francisco Moita Flores no seu referido romance histórico.
A gripe de 1918 foi causada pelo vírus influenza A do subtipo H1N1, que se revelou, com muita frequência, mortal. A origem geográfica desta pandemia é desconhecida, ao contrário da atual gripe COVID-19, que consta ter tido o seu início no mercado da cidade chinesa de Hubei. A doença foi detectada, pela primeira vez, a 4 de março de 1918 no Kansas, nos Estados Unidos da América, e em Nova Iorque a 11 de março.
Na Europa, as primeiras manifestações da doença verificaram-se, em abril de 1918, em tropas francesas, britânicas e americanas posicionadas em portos franceses, no decurso da primeira guerra mundial. Todas as tropas beligerantes, em confronto, foram dizimadas por este surto infecioso.
A parábola literária da obra-prima A Peste de Albert Camus
Este livro publicado em 1947, numa ressonância crítica do que foi a segunda guerra mundial, aborda o horror e a resiliência do ser humano a fenómenos extremos como o de uma peste ou o morticínio bárbaro e inarrável do Holocausto nazi.
Esta obra consagrou Albert Camus como um escritor consagrado da literatura contemporânea. A narrativa começa numa manhã de 16 de abril, da década de 40, quando o doutor Bernard Rieux, ao sair do seu consultório, tropeça num rato morto.
Esta situação será a manifestação de uma epidemia de peste que se espalhará pela cidade de Orão, na Argélia, a qual será sujeita a um período de quarentena, tal como se verificaram também tempos de quarentena em Hubei, com o isolamento de milhões de chineses, e, em Itália, onde as autoridades reagiram às infecções por coronavírus, isolando 50 mil pessoas em povoações do norte do país. A cidade de Orão tornou-se um local claustrofóbico, em que os seus habitantes foram tomados por estados de grande sofrimento, ou mesmo, de loucura.
Neste ano de 2020, Portugal, a cidade do Porto, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e a Assembleia da República celebram os 200 anos da revolução liberal portuguesa de 24 de agosto de 1820, realizando no mês de outubro de 2020 um Congresso Internacional da Revolução de 1820. Fazemos, neste texto, uma breve evocação do contexto histórico e do acontecimento político, que o país e as suas instituições celebram.
1. Contexto histórico
Na transição do século XVIII para o XIX, o liberalismo começou a singrar em Portugal como doutrina, devido à excessiva importância social da nobreza, ao crescente protagonismo da colónia do Brasil e à monarquia absolutista.
Um conjunto de fatores, no início do século XIX, permitiu que o regime absolutista caísse em descrédito em Portugal, visto que a ideologia revolucionária francesa se propagou pela Europa, o Brasil começou a ganhar autonomia (1808-1822), a economia portuguesa passava por resultados ruinosos, fruto em parte das invasões francesas e o conservadorismo da estrutura social portuguesa deixava espaço ao descontentamento social das classes populares.
Assim, a revolução liberal portuguesa singrou em 1820, sobretudo no meio da burguesia urbana, num país fortemente ruralizado em termos sociais, mentais e económicos, alavancada por figuras carismáticas da burguesia como Manuel Fernandes Tomás, José da Silva Carvalho e José Ferreira Borges.
O triunfo titubeante do liberalismo, nos anos 20 do século XIX, foi possível devido ao fulgor intelectual iluminista, ao papel da Maçonaria e à relevância da burguesia de mentalidade aberta a novas ideias. Também não é de menosprezar a vontade de revolta contra o domínio inglês, que fez dizer, na segunda década do século XIX, a Alexandre Herculano que Portugal estava transformado numa colónia inglesa. Outro dos fatores, que impeliu os militares a 24 de agosto de 1820 a proclamarem a extinção do regime absolutista, na cidade do Porto, foi a necessidade de restruturação do tecido sócioeconómico português, rumo à modernidade, que levou o Padre José Agostinho de Macedo a evocar terem os liberais pretendido a regeneração da nação.
O projeto liberal defendido por Manuel Fernandes Tomás, em 1821, focava a necessidade de revitalizar o setor agrícola, em particular a exploração cerealífera, de terminar com os forais, de suprimir as ordens religiosas e de dinamizar a livre circulação comercial terrestre e fluvial no país.
A saída para este marasmo comercial passava, também, por investir no desenvolvimento das colónias africanas, o que seria feito já só no último quartel do século XIX, e por apostar na implementação de estradas e de caminhos de ferro, o que na verdade se começou a concretizar no cabralismo e no fontismo. Outro dos problemas económicos emergentes era o atraso industrial português, a que se somavam umas finanças exauridas.
Este projeto liberal consagrava já os seguintes princípios ideológicos: o direito à propriedade privada, as liberdades dos cidadãos e a nação portuguesa integrante dos territórios de aquém e de além mar. A experiência liberal portuguesa só se consubstanciou após a vitória liberal na guerra civil (1832-1834) e na legislação reformista da década de 30, que permitiu a afirmação de uma burguesia financeira interessada em títulos de nobreza. No entanto, a pequena burguesia e as classes populares cedo se desiludiram com o paradigma político liberal, tanto que muitos portugueses emigraram rumo ao Brasil.
Na realidade, no enraizamento da ideologia liberal, ao longo do século XIX, foram decisivos alguns intelectuais que, com uma mentalidade romântica em diferentes ramos literários e artísticos, difundiram os valores liberais, designadamente autores como Almeida Garrett e Alexandre Herculano, na literatura, ou António Domingues Sequeira, na pintura, ou João Domingos Bomtempo, na música[1].
2. O acontecimento – a efeméride da revolução liberal portuguesa (1820-2020)
Já em 1817 se congeminava na necessidade de promover uma revolução regeneredora da pátria portuguesa, porquanto a crise económica que afectava a agricultura, a indústria e o comércio no país, a indiferença da família real no Brasil e a dependência, quase colonial, da Inglaterra deixou os grupos ilustrados muito descontentes.
Dois magistrados, Manuel Fernandes Tomás e José da Silva Carvalho, e o advogado José Ferreira Borges protagonizaram no início dos anos 20, do século XIX, a tentativa de constitucionalizar a monarquia portuguesa. Eles tinham sido iniciados em lojas maçónicas. Pretendiam reformar o país como cidadãos ilustrados, dirigindo o Estado refundado.
Em Espanha, em janeiro de 1820, houve uma revolta militar em Cádis para restaurar a Constituição de 1812, o que veio a influenciar os liberais portugueses no pronunciamento militar do Porto. Os 3 amigos, já referidos, formaram em janeiro de 1818 o Sinédrio (sociedade secreta), procurando chefes militares para a intentona. Aderiram ao projeto insurrecional os coronéis António da Silveira Pinto da Fonseca, Sebastião Drago Valente de Brito Cabreira e Bernardo Correia de Castro Sepúlveda.
A 24 de agosto de 1820 na cidade do Porto, no Campo de Santo Ovídio, os líderes do Sinédrio, os militares e o povo, depois de uma missa, exigiram cortes constituintes e os militares propuseran uma Junta Provisional do Governo do Reino. A Regência em Lisboa resistiu e mandou avançar tropas para o Porto para repôr a “autoridade legítima”, mas estes soldados, contraproducentemente, juntaram-se à Junta do Porto.
A 15 de setembro os militares no Rossio, em Lisboa, com grupos populares nomearam uma nova Junta Provisional de Governo, agregando os membros da Junta do Porto, formando-se um governo nacional, com a revolta liberal a alastrar pelo país.
A notícia da sublevação liberal chegou ao Rio de Janeiro a 17 de outubro, deixando a família real perplexa. Em janeiro e fevereiro de 1821 o Pará e a Baía mostraram-se fiéis às Cortes de Lisboa. A tropa portuguesa do Rio de Janeiro obriga o rei D. João VI a reconhecer o governo Liberal de Lisboa e a regressar a Portugal, ficando o seu filho D. Pedro no Brasil. Deste modo, foi possível instaurar em Portugal uma Monarquia Constitucional com a separação dos poderes executivo, legislativo e judicial[2].
_____________________
[1] Nuno Sotto Mayor Ferrão, A desumanização do “Outro” no periódico A Tripa Virada (1823) de José Agostinho de Macedo, Trabalho realizado na Ação de Formação intitulada “Humor e política na transição do Antigo Regime para o Liberalismo”, Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, setembro de 2019, 6 p.
[2] Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, “Invasões francesas, tutela inglesa e monarquia brasileira (1807-1820) – A revolução”, in História de Portugal, Lisboa, Esfera dos Livros, 2010, pp. 453-456.
No contexto histórico da crise de valores, que tem perpassado as nossas sociedades, desde o início do século XX, tal como explanei em artigo da revista Brotéria[1], e face aos desafios da globalização e da rápida transformação que tem gerado novas desigualdades sociais no mundo e no país, compreendemos plenamente a urgência da implementação da Estratégia Nacional da Educação para a Cidadania, mas, paradoxalmente, temos de perceber que as mudanças das práticas pedagógicas, sendo fundamentais, terão de ser paulatinas para serem consistentes.
Nas sociedades contemporâneas dois vetores têm gerado crescentes faltas de civismo bem visíveis nos cidadãos e nos nossos jovens, naquilo a que o Professor José Filipe Teles de Matos chama “déficit cívico”: a importância desmesurada dada aos direitos em detrimento dos deveres, quando partindo do conceito implícito de cidadania de Turner (1993) estes terão de andar a par e a crescente reivindicação de que todos os indivíduos são iguais na sociedade.
Também hoje, no seio das concorrenciais sociedades globalizadas manietadas por nefastas políticas neoliberais, os valores universais da Solidariedade, da Tolerância, da Participação, da Gratuitidade e do Diálogo permanente estão a ser postos de lado por uma maioria dos cidadãos e, sem isso, a segurança global climática e a paz no mundo encontram-se num risco maior do que nunca. O vício instalado de correr atrás do vil dinheiro em detrimento dos valores está a tornar as sociedades contemporâneas profundamente desumanizadas.
O “déficit cívico” advém da falta de tempo dos pais para educarem os filhos nas nossas sociedades e do facto de muitos pais não se cultivarem nas virtudes (Aristóteles), não se tornando assim modelos de referência. Só derrubando estes muros de egoísmo e dando gratuitamente tempo aos outros é possível cumprir “uma cidadania ativa e altruísta” como nos pede Sua Eminência o Cardeal-Patriarca D. Manuel Clemente.
Num momento em que na democracia portuguesa se revelam elevados níveis de indiferença cívica, com indicadores de mais de 50% de abstencionistas nas eleições legislativas de 2019, cada vez em maior número desde o fim do século XX, a cidadania encontra-se em crise.
No atual quadro local, nacional e global, a cidadania ativa implica uma consciência da complexidade do mundo contemporâneo e a aquisição de competências para o seu entendimento e para a sua participação efetiva. As recomendações da UNESCO de 2015 suscitaram a reintrodução da Educação para a Cidadania nos Currículos nos finais da segunda década do século XXI no nosso país.
Em conformidade com o Desp. N.º 6173/2018, de 10 de Maio, define-se a necessidade das crianças e jovens necessitarem de formação formal para o exercício de condutas cívicas em sociedades ocidentais em que crescem exponencialmente os fenómenos de indiferença perante o próximo, porque urge que os futuros cidadãos saibam com sentido de responsabilidade assumir os seus deveres e reivindicar os seus direitos. Numa sociedade que proclama constitucionalmente o direito de todos a terem uma habitação condigna causa profunda indignação a situação confrangedora dos sem-abrigos, que habitam as cidades de Portugal e muitas cidades das sociedades ocidentais.
Não obstante, a Assembleia Geral da ONU, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em 1966, tenha pretendido acabar com a pobreza, proteger o ambiente e promover a prosperidade e o bem-estar de todas as pessoas, a verdade é que a sua concretização está muito longe de serem alcançados com a oculta ditadura dos mercados financeiros.
As grandes questões de atualidade do nosso mundo global decorrem da emergência climática, assinalada pela nova Comissão Europeia liderada por Ursula von der Leyen, e pelas crescentes desigualdes sociais dentro dos países e entre países, assim como temos assistido às migrações de populações que atravessam o Mar Mediterrâneo em condições de grande precariedade. Só revalorizando as virtudes cardeais (a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança), não numa perspetiva excessivamente aristotélica, se conseguirá mobilizar os cidadãos para uma participação responsável e gratuita no sentido de formar nos jovens condutas cívicas para responderem a estas problemáticas emergentes.
De quatro concepções de cidadania possíveis (comunitarista, cívico-republicana, neoliberal e socióliberal)[2] perante as problemáticas vigentes nos nossos dias, as duas últimas estão na moda, mas revelam-se ineficazes para enfrentar os ingentes desafios globais que temos pela frente. Talvez, só um compromisso das duas primeiras concepções possa tornar possível romper as redes de indiferentismo social, como nos alerta Sua Santidade o Papa Francisco, e ajudar na promoção dos laços de solidariedade e de responsabilidade coletiva rumo a um mundo mais justo e socialmente mais sustentável.
O mundo que nos rodeia está cada vez mais repleto de multimilionários sem escrúpulos e de pessoas sem abrigo que os Estados demonstram dificuldade em combater, porque as redes de offshores e de planeamentos fiscais das grandes empresas escondem verbas essenciais à missão dos Estados Sociais no ocidente.
Num mundo dominado pela sensação da insegurança coletiva (emergência climática, proliferação das armas nucleares - veja-se o primeiro vídeo deste "post"-, vulnerabilidade dos mercados financeios) só uma participação responsável de tod@s com a luta pela defesa dos nossos direitos e o cumprimento das nossas obrigações e deveres garantirá um ambiente de paz e de tranquilidade na sociedade.
Esta insegurança tem feito crescer as espiritualidades e as terapias orientais (o ioga, o reiki, o budismo, a meditação, o tai chi chuan, o chi kung, as artes marciais, a acupunctura, o shiatsu, a medicina tradicional chinesa, etc)[3] no seio do mundo ocidental, demasiado apegado aos valores do materialismo e do consumismo. Só a segurança dos valores interiores e morais nos podem dar a força para confrontar o turbilhão ciclópico de mudanças e de incertezas que pairam nesta sociedade global do fim da segunda década do século XXI.
Hoje somos confrontados com riscos alargados ligados às crescentes catástrofes naturais, às inúmeras vulnerabilidades económicas e sociais, aos inúmeros conflitos escolares, às manifestações de terrorismo, de forma que unicamente consciências cívicas individuais e coletivas nos podem salvar deste abismo de que já nos falava nos anos 80 do século XX E. F. Shumacher no seu livro Small is beatifull. Dizia-nos ele, num texto de grande atualidade: “(...) De longe bem maior é o capital fornecido pela natureza – e nós nem sequer o reconhecemos como tal. (...) é um erro absurdo e suicida. (...)”[4]
Os Direitos Humanos constituem a base da cidadania, porque só a defesa dos Direitos Humanos internacionalmente consagrados desde o pós-guerra, nas suas diferentes gerações (1ª, 2ª, 3ª e 4ª) pelos Estados de Direito através das Constituições permite a promoção da paz e do bem-estar coletivo, mas perante os desafios e a complexidade da conjuntura internacional global como a guerra comercial EUA-China e o avanço dos populismos no mundo colocam-se obstáculos à universalidade dos Direitos Humanos cada vez mais difíceis de superar.
Daí o papel que as pessoas têm e terão, designadamente os jovens em particular num mundo à beira do abismo. Só as sinergias das Constituições ocidentais, da ação dos cidadãos e dos jovens, que começam a tomar a liderança das questões ambientais globais, das instituições supranacionais da UE à ONU poderão garantir um mundo mais justo. Deste modo, unicamente através da formação dos jovens e dos adultos em questões cívicas será possível tentar romper com as constantes violações com as quais nos confrontamos diariamente no país e no mundo.
O nosso papel de professores, de pais e de cidadãos passa por exemplificar com boas maneiras cívicas e suscitar a informação, a vontade de pesquisa e o espírito crítico, para que os nossos jovens possam ter a consciência e a vontade de agir na sociedade com condutas construtivas afastadas das atitudes violentas que proliferam em meio escolar e em alguns meios sociais.
Como afirmava António Sérgio, em 1915, o papel do professor não se pode resumir a ensinar a resolver problemas de Matemática ou de outra disciplina, mas também a enfrentar os problemas sociais e cívicos para que possam cumprir as suas obrigações de cidadãos[5], quando chegarem à idade adulta, ou como nós diremos no fim da escolaridade obrigatória. Todavia, convém lembrar que as mentalidades mudam muito paulatinamente, como sublinhava com assertividade António Sérgio[6], no início do século XX.
“(...) Ao assumir a Presidência do Conselho de Ministros, a 5 de julho de 1932, cargo que só viria a abandonar em1968, Salazar pronunciou algumas palavras. (...)”
Filipe Ribeiro de Meneses, Salazar – Uma biografia política, 2ª edição, Lisboa, Edições D. Quixote, 2010, p. 110.
“(...) É a rejeição da pequena elite do Cadaval forjada pelo nascimento e temperada pela riqueza da exploração da terra. O jovem fidalgo rural desaparecera. Júlio Fogaça sente-se na plenitude um filho adoptivo do proletariado (...)”
Adelino Cunha, Júlio de Melo Fogaça – O líder de origem burguesa que desafiou Álvaro Cunhal e foi apagado da históriado PCP, Porto Salvo, Edições Dessassego, 2018, p. 52.
“(...) José Agostinho conseguira evitar durante mais de três anos o cutelo que sobre ele queriam abater os gracianos; mas era espada de Dâmocles, sobretudo porque o seu feitio turbulento e a sua irreprimível tendência para o disparate acabaram por lhe alienar os últimos (e poderosos) apoios que conseguira, in extremis, concitar. (...)”
António Mega Ferreira, Macedo – Uma biografia da infâmia, Porto, Sextante Editora, 2011, p.77.
A obra de Filipe Ribeiro de Meneses sobre António de Oliveira Salazar[1], sendo uma biografia política, é de uma excelente qualidade científica e foi elaborada como Tese de Doutoramento pelo autor, ao longo de uns 7 anos de uma exaustiva investigação histórica. É um livro que aborda o percurso formativo, académico, político e amoroso de Salazar e nos vai dando a conhecer um enquadramento das várias conjunturas históricas vividas pelo protagonista, bem como nos apresenta uma análise rigorosa, quase um “raio X”, do regime político do Estado Novo, nas suas diversas circunstâncias internas e externas.
Ao mesmo tempo, que fez uma cuidada análise documental, concede-nos uma interpretação original do regime e do seu fundador. Esta biografia contém uma rica documentação fotográfica, que nos permite ir acompanhando o evoluir da vida do biografado, o que não é uma qualidade muito comum nestas obras biográficas simples, sendo mais vulgares nas fotobiografias.
O livro de Adelino Cunha sobre Júlio de Melo Fogaça[2] centra-se muito no pensamento do dirigente comunista e nas suas bravatas de afrontamento dos dirigentes comunistas pró-soviéticos, com destaque para Álvaro Cunhal, com quem manteve profundas divergências. Este texto biográfico padece de socorrer-se, em demasia, de citações documentais, o que reduz bastante a fluência sintáctica da narrativa histórica. Além disso, a linguagem é excessivamente científica com recorrentes análises abstractas no texto, que nos afastam das condições empíricas do biografado.
A exceção a esta tendência surge quando nos descreve o momento horribilis dos seus encarceramentos, na Colónia Penal do Tarrafal. Estas duas biografias, de Salazar e de Júlio Fogaça, permitem-nos ter perspectivas diametralmente opostas da mesma realidade perante o posicionamento dos biografados, ou se preferirem, do mesmo regime político.
Por seu turno, a biografia de José Agostinho de Macedo[3] é escrita num tom romanesco, pela sua linguagem profundamente literária, sem prejudicar a visão da vida do biografado, antes dando dela uma impressão cinematográfica, que nos permite acompanhar, com calor humano e veracidade, as estroinices do Padre José Agostinho e o seu percurso literário. De tal forma que o autor deixa-nos uma perceção muito realista da vida do biografado, embora com ajuizamentos pouco próprios de um historiador, apesar de uma grande preocupação metodológica de confronto das informações recolhidas nas fontes históricas, que compulsou.
Fica, assim, mais próximo do romance histórico do que da simples narração da vida do biografado, mas vai-nos brindando com uma descrição bem emotiva e dramática dos desmandos e das estronices do Padre José Agostinho. Poder-se-à questionar se este estilo literário é próprio do género biográfico, mas, no caso de um literato com o calibre deste Padre, acreditamos que a escolha e a sensibilidade de António Mega Ferreira foram correctas.
Um dos pontos fracos comum às 3 biografias é a ausência de cronologias da vida e da obra dos biografados. Nos documentos históricos, a biografia de Filipe Ribeiro de Meneses não nos faculta o acesso a documentos escritos nos seus anexos, mas apenas nas suas notas de rodapé, resultado da transformação da tese académica em livro de divulgação histórica.
A biografia de Adelino Cunha padece do facto de ser um pouco fastidiosa na sua leitura porque crava no texto narrativo demasiadas transcrições de documentos históricos, o que é excelente para o leitor de critério científico mas pouco cómodo para o leitor comum.
O Padre José Agostinho de Macedo é pouco conhecido da opinião pública e, por isso, esta biografia é bem pertinente. António de Oliveira Salazar, ditador português do século XX, é uma figura sobejamente conhecida da História de Portugal mas ainda pouco estudada como biografia, com exceção da parcial biografia que lhe dedicou Franco Nogueira. Júlio de Melo Fogaça foi um dissidente da ortodoxia soviética, que se confrontou no PCP durante os anos da liderança de Álvaro Cunhal. É conhecido das gerações que viveram durante o Estado Novo, mas quase completamente desconhecido das gerações mais novas.
António Mega Ferreira é um veterano e talentoso jornalista e escritor, com reconhecidos méritos literários plasmados em múltiplas obras e no Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, que recebeu em 2002. Filipe Ribeiro de Meneses é um prestigiado historiador português que vive na Irlanda, sendo professor na Universidade de Maynooth, que escreveu esta biografia como tese de Doutoramento com um abundante manacial de investigação de múltiplas fontes históricas.
Adelino Cunha é um jornalista e professor de História Contemporânea na Universidade Europeia, com obras publicadas que partem da visão atualista do jornalista para a perceção global do historiador.
O género biográfico na historiografia tem merecido ser revisitado desde a Antiguidade Clássica até aos dias de hoje. Se na Antiguidade se pretendia recolher lições morais da leitura das biografias, na atualidade pretende-se suscitar a comprensão da natureza humana nas suas virtualidades e fragilidades e, ao mesmo tempo, dar a conhecer os respectivos contextos históricos, que, nos casos presentes, foram o ambiente do Salazarismo e a viragem do Antigo Regime para o Liberalismo em Portugal.
________________________
[1] Filipe Ribeiro de Meneses, Salazar – Uma biografia política, 2ª edição, Lisboa, Edições D. Quixote, 2010, 803 p.
[2] Adelino Cunha, Júlio de Melo Fogaça – O líder de origem burguesa que desafiou Álvaro Cunhal e foi apagado da história do PCP, Porto Salvo, Edições Dessassego, 2018, 317 p.
[3] António Mega Ferreira, Macedo – Uma biografia da infâmia, Porto, Sextante Editora, 2011, 366 p.
*Nuno Sotto Mayor Ferrão, “José Hermano Saraiva: historiador e divulgador da cultura portuguesa - evocação no centenário do seu nascimento”, inBrotéria, vol. 189, nº 4 – outubro de 2019, (no prelo).
*Idem, “Breve evocação do Padre Manuel Antunes – No Centenário do seu nascimento (1918-2018)”, in Nova Águia, nº 22, 2º semestre de 2018, pp. 216-218 (no prelo).
*Idem, "A Nova Águia e cultura lusófona, das suas raízes identitárias a um futuro coletivo de esperança", in Nova Águia, nº 20, 2º semestre de 2017, pp. 235-240.
*Idem, "O Padre António Viera, um precursor do espírito e da convivência lusófona no Século XVII” in Nova Águia, nº 19, 1º semestre de 2017, pp. 103-111.
*Idem, “O Padre António Viera, um precursor do espírito da convivência lusófona no Século XVII”, in Brotéria, vol. 183, nº 5/6 – novembro/dezembro de 2016, pp 367-383.
* Idem, "A arte no pensamento de Vergílio Ferreira" in Nova Águia, nº 18, 2º semestre de 2016, pp. 61-66.
* Idem, "Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico - Nos 120 anos da obra 'O Culto da Arte em Portugal' (1896-2016)" in Nova Águia, nº 17, 1º semestre de 2016, pp. 115-120.
*Idem, “Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico – Nos 120 anos da obra ‘O Culto da Arte em Portugal’ (1896-2016)”, in Brotéria, vol. 182, fevereiro de 2016, pp. 133-144.
*Idem”, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na Revista Orpheu – Evocação no seu centenário”, in Brotéria, vol. 181, julho de 2015, pp. 41-50.
*Idem, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na revista Orpheu”, in Nova Águia, nº 15, 1º semestre de 2015, pp. 18-24.
*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa – no centenário da Grande Guerra”, in Brotéria, vol. 180, nº 1 – janeiro de 2015, pp 33-44.
*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa e na revista A Águia”, in Nova Águia, nº 14, 2º semestre de 2014, pp. 231-238.
*Idem, “A atualidade internacional da Doutrina Social da Igreja no contexto da globalização”, in Brotéria vol. 178, nº 7/8 – julho/agosto de 2014, pp 33-44.
*Idem, “Balanço diacrónico (1974-2014) da Revolução de 25 de Abril”, in Nova Águia, nº 13, 1º semestre de 2014, pp. 57-63.
*Idem, “Nos 80 anos do historiador José Mattoso: a sua viva lição de sabedoria”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 162-163.
*Idem, “António José Saraiva como cidadão e historiador: nos 20 anos da sua morte”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 153-159.
*Idem, “A poesia portuguesa: o mar e a lusofonia”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 23-24.
*Idem, “As linhas de força do pensamento historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 130-135.
*Idem, “A Renascença Portuguesa e o percurso político e historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 9, 1º semestre de 2012, Sintra, Zéfiro Editora, 2012, pp. 138-144.
*Idem, “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, Janeiro de 2012, pp. 47-51.
*Idem, “A dinâmica histórica do conceito de Lusofonia (1653-2011)” in Nova Águia, nº 8, 2º semestre de 2011Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 204-208.
*Idem, "Fernando Pessoa: o sentimento lusófono na sua obra", in Nova Águia, nº7, 1º semestre de 2011, Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 34-38.
*Idem, "Alexandre Herculano, aspectos da vida e obra e sua ascendência ideológica sobre o Republicanismo", in Sintra, Zéfiro Editora, Nova Águia, nº 6 - 2º semestre de 2010, pp. 130-135.
*Idem, "Leonardo Coimbra, a revista 'A Águia' e o panorama cultural contemporâneo", in Nova Águia, nº 5 - 1º semestre de 2010, Sintra, Editora Zéfiro, pp. 34-36.
*Idem, Aspectos da vida e obra do Almirante Sarmento Rodrigues (1899-1979), Mirandela, Edição Câmara Municipal de Freixo de Espada-à-Cinta, 1999, 293 p.
*Idem, O pensamento colonial de Sarmento Rodrigues enquanto Ministro do Ultramar (1950-1955), Dissertação de Mestrado em História Contemporânea, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1997, 233 p.
Citações bibliográficas do autor:
» Clio: revista do Centro de História da Universidade de Lisboa, “Resumo das Teses de Mestrado em Letras (História)”, Lisboa, 1996, p. 168.
» Joaquim Veríssimo Serrão, “Do berço humilde em Freixo à imortalidade da História”, Almirante Sarmento Rodrigues, 1899-1979: testemunhos e inéditos no centenário do seu nascimento, Academia de Marinha e Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Lisboa, 1999, p. 163.
» Cadernos de Estudos Africanos – Memórias Coloniais, Lisboa, Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2006, p. 150.
» Cultura - Revista de História e Teoria das Ideias, vol. 25, 2008, Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, pp. 33 e 44.
» António E. Duarte Silva, “Sarmento Rodrigues, a Guiné e o lusotropicalismo”, in Cultura: Revista de História e da Teoria das Ideias Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, vol. 25, 2008, p. 44. (António E. Duarte Silva, « Sarmento Rodrigues, a Guiné e o luso-tropicalismo », Cultura [Online], Vol. 25 | 2008, consultado a 29 julho 2014. URL :http://cultura.revues.org/586.
» Ana Reis e João Garrinhas, “2 anos sob tutela autárquica”, inProfforma (Revista do Centro de Formação de Professores do Nordeste Alentejano), nº 2, março de 2011, pp. 1-7.
» Victor Andrade de Melo, “O esporte na política colonial portuguesa: as iniciativas de Sarmento Rodrigues na Guiné (1945-1949)”, in Revista Brasileira de História, vol.34, no. 68, São Paulo, July/Dec. 2014, pp. 179,180 e 189.
» Rui Jorge Martins, “Rui Chafes, René Girard, Ramalho Ortigão e José Luís Peixoto na Brotéria“, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultural (portal da internet).
» Sérgio Neto, Do Minho ao Mandovi – Um estudo sobre o pensamento colonial de Norton de Matos, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, p. 317.
» Álvaro Henriques do Vale, Do Mapa Cor de Rosa à Europa do Estado Novo, Lisboa, Chiado Editora, 2015, nota 145.
» Isabel Maria Freitas Valente (Coord.), Europa, Mobilidades, crises, dinâmicas culturais, Pensar com Maria Manuela Tavares Ribeiro, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, p. 404.
“(...) Em quanto entre nós existirem Lojas de Pedreiros livres e Bosques Carbonários, teremos o fermento da rebellião, e o fóco de todas as desventuras; os alicerces da Religião serão solapados, abalado o edificio social, serão pisados os principios da eterna Justiça (...) Cáia o machado da Lei nas raizes desta arvore pestilente, cujos frutos são a destruição, e a morte. Aprendão os Reis, e aprendhão os Povos, reproduzão-se as nossas Leis primordiaes, que souberão organizar o estado civil (...) por isso fomos tão venturosos até á Epoca do Maçonismo. Não necessitamos de outra Legislação, que não seja a nossa, ella nos salvará (...) Temos restabelecida a Monarquia e com ella a nobreza que a rodea (...) Morra o Maçonismo. (...)”
José Agostinho de Macedo, A Tripa Virada, 1823, nº1, pp. 11-12.
O padre José Agostinho de Macedo nasceu, em Beja, no ano de 1761 e faleceu, em Lisboa, no ano de 1831, sendo sacerdote, escritor e político. Foi um autor de escritos multifacetados (poesias, peças de teatro, ensaios de filosofia, escritos políticos, críticas literárias, sermões, etc) com uma veia de polemista, que se excedeu inúmeras vezes pelo seu temperamento colérico, evidenciando uma aversão às revoluções liberais.
Tornou-se pregador régio e aproveitou as suas influências sociais, designadamente de Diogo Inácio de Pina Manique, para atacar os seus inimigos, designadamente Manuel Maria du Bocage e Almeida Garrett. Com o miguelismo, no final dos anos 20 do século XIX, pretendeu ser o ideólogo do absolutismo, tendo sido nomeado por D. Miguel ‘cronista régio’, evidenciando assim um pensamento tradicionalista e contrarrevolucio-nário[1].
Com as leituras de autores franceses foi influenciado, no início da sua vida pública, pelo Iluminismo, mas aquando das invasões francesas exercitou o seu dom de polemista sobre os filósofos do movimento das Luzes, os maçons e os jacobinos. Aderiu às ideias do progresso científico e do valor da monarquia absolutista de pendor anglófila.
As suas contradições internas levaram-no a aderir à Revolução Liberal Portuguesa, tendo sido até deputado pelo círculo de Portalegre às Cortes de 1822, pelo que ficou com a reputação de “viracasacas”. Na linguagem desbragada das suas sátiras de verve contrarrevolucinária atacou os liberais, em periódicos como A Tripa Virada (1823), A Besta Esfolada (1828-1829) e o Desengano (1830-1831).
Na sua vida conventual, em 1792, e após um furto, aos seus superiores, de umas “lampreias” preparadas para o banquete comemorativo do dia de Santo Agostinho, foi expulso da Ordem Religiosa dos Agostinhos do Convento da Graça, em Lisboa, tendo-lhe sido retirado o hábito perante toda a comunidade conventual, mas conseguiu tornar-se presbítero secular a 20 de março de 1794, alcançando grande prestígio devido aos seus sermões.
Tornou-se proverbial o seu furto de livros em várias ocasiões. Nestes seus desmandos e estroinices de delinquente foi submetido a vários processos e sujeito diversas vezes ao cárcere. Tomou o nome de José Agostinho de Macedo e recusou o nome de família, “Teiguera”, como Hipólito José da Costa frisou em tom odioso. Tornou-se, pelas suas influências sociais, membro da Real Mesa Censória (1824-1829) com a função de eliminar obras ou passagens de livros hostis ao absolutismo régio.
Macedo mostrou uma grande instabilidade opinativa, decorrente da sua faceta de “viracasacas”, que se manifestava no seu caráter colérico e rebelde, marcado por um contexto social de viragens políticas e literárias, do absolutismo ao liberalismo e do classicismo arcádico ao romantismo.
Por este seu feitio iracundo, ficou conhecido, por se mamifestar frequenteente irritado e entrar constantemente em conflito, com a alcunha de ‘Padre Lagosta’. Notabilizou-se como introdutor da poesia naturalista e científica em Portugal, tornando-a rival da poesia épica clássica e evidenciando uma hostilidade ao uso da mitologia clássica e aos efeitos estilísticos dos poetas arcádicos.
Não obstante, tenha colaborado na Nova Arcádia, tomando o nome de Elmiro Tagídeo e convivendo literariamente com Bocage. Escreveu o poema épico “O Oriente”, com o qual se julgou o novo Luís Vaz de Camões de Oitocentos. Manteve uma grande amizade inicial com Manuel Maria Barbosa l’ Hedois du Bocage, mas a rivalidade poética acabou por levá-los a uma grande desavença pública numa polémica, que a História registou.
Bocage, após ter sido fustigado pelos desmandos poéticos de José Agostinho, respondeu com um clamor e um sentido airoso com o seu poema Pena de Talião. No fim da vida de Bocage, ainda José Agostinho o acompanhou, mas este atacou-o postumamente, em 1814, alguns anos após a sua morte[2], talvez pela vontade de se afirmar como o primeiro dos poetas da pátria.
Escrevia para publicações periódicas, visando chegar rapidamente ao público com uma linguagem clara, muitas vezes satírica e outras vezes com um cunho violento. O seu periódico designado A Tripa Virada foi publicado durante o golpe da Vilafrancada, relativa à noite de 5 de junho de 1823, depois dos miguelistas fazerem um golpe para tomar o poder. O golpe da Vilafrancada é o nome atribuído a este acontecimento insurrecional liderado pelo infante D. Miguel, por inspiração da rainha D. Carlota Joaquina, ocorrido em Vila Franca de Xira, a 27 de maio de 1823, para restaurar o regime político absolutista. Existe, neste periódico, uma diabolização dos liberais e uma crítica à moderação do rei D. João VI.
Este periódico evidencia a sua tendência para o extremismo contrarrevolucionário, pois nele se descrevem sessões da Maçonaria de forma caluniosa. Há, pois, uma diabolização do “Outro”, isto é, dos indivíduos aderentes ao ideário liberal[3].
_______________
[1] António Ventura, “José Agostinho de Macedo”, in História de Portugal, vol. VIII, dir. João Medina, Amadora, Ediclube Editora,1993, pp. 196-198.
[2] António Mega Ferreira, “Os vates desavindos”, in Macedo – Uma biografia da infâmia, Porto, Sextante Editora, 2011, pp. 91-99.
[3] Ferreira, João Pedro Rosa, “ ‘Alimpem a mão à parede’ – A Tripa Virada” in Castigar a rir. O humor na imprensa periódica portuguesa, Tese de Doutoramento em História e Teoria das Ideias, especialidade Pensamento, Cultura e Política, FCSH – UNL, vol. I, 2018, pp. 109-113.
2008 - 2 de outubro - irrompe a pior crise financeira mundial desde 1929.
2009 a China torna-se a terceira maior economia do mundo.
2 de março – O Presidente da Guiné-Bissau João Bernardo Vieira é assassinado.
Abril - arrasta-se a crise financeira mundial.
Abril - alastramento da gripe A no México com mais de 150 mortos.
26 de abril - Nuno Álvares Pereira é canonizado.
2009 Bernard Madoff é condenado a 150 anos de prisão pela maior fraude financeira do mundo.
2010 tem início a era dos “tablets”.
10 de janeiro - terramoto do Haiti.
2011 o governo português pede ajuda financeira à Troika.
Gaddafi é morto na Líbia, terminando a sua longa ditadura.
Sudão do Sul foi reconhecido como país independente.
2011-2017 – Guerra Civil Iraquiana.
2013 os smartphones começam a expandir-se à escala global (revolução tecnológica).
2014 – Junho- grande ofensiva para a constituição do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, com o projeto de constituir um grande Califado Islâmico.
2014-2019 guerra civil na Líbia.
2015 - 10 de Novembro - o governo de Pedro Passos Coelho é reprovado no Parlamento com os votos do PS, BE, PCP, PEV e PAN.
13 de Novembro - atentados terroristas em Paris.
2016 - 10 de junho- Seleção Portuguesa de Futebol ganha o Campeonato Europeu de Futebol em França.
25 de novembro - Morte de Fidel Castro.
2017 - 1 de janeiro - António Guterres é mandatado como Secretário-Geral das Nações Unidas.
12 e 13 de maio - Visita do Papa Francisco a Portugal na celebração do Centenário das Aparições aos Pastorinhos em Fátima.
13 de maio - Vitória Portuguesa no Festival da Eurovisão da Canção.
junho e outubro - Grandes incêndios florestais em Portugal com 115 mortos.
2018 - 18 de março - Vladimir Putin é reeleito Presidente da Rússia.
18 de maio - crise no Sporting Clube de Portugal com o turbilhão chamado Bruno de Carvalho.
24 de junho - Mulheres na Arábia Saudita passam a ter o direito de conduzir.
2 de setembro - Grande incêndio atinge o Museu Nacional do Brasil.
11 de novembro - Centenário do fim da 1ª guerra mundial.
2019 - 10 de janeiro - Crise política na Venezuela com contestação do poder presidencial Nicólas Maduro.
15 de abril - Violento incêndio destrói parcialmente legado e as algumas estruturas da Catedral de Nôtre-Dame em Paris.
Estes dez anos, entre 2009 e 2019 - tempo correspondendente à duração deste nosso blogue -, foram marcados por acontecimentos muito significativos da História recente. Houve acontecimentos dramáticos e alguns bastante emocionantes, como podemos observar ao analisar esta sintética cronologia.
Se o mundo, em 2009, foi atingido pela pior crise financeira da sua História, desde a Grande Depressão de 1929, também em 2019 houve várias catastrófes naturais e uma humana, abalando profundamente a sociedade europeia, que foi o grande incêndio que lavrou na Catedral de Notre-Dâme de Paris.
Foram assustadores acontecimentos desta década como a epidemia da gripe A, as catástrofes naturais, que se intensificaram com as alterações climáticas e a crise da dívida soberana na Europa, que levou Portugal a ser intervencionado pela Troika, em 2011, tal como já tinha acontecido com a Grécia e com a Irlanda, assim como a grande ofensiva do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, a partir de 2014, e os consequentes atentados terroristas no mundo ocidental, que recomeçaram com o ataque de 13 de novembro de 2015 em Paris, os grandes incêndios que deflagraram em Portugal em 2017, com a trágica morte de 115 pessoas.
Por outro lado, houve acontecimentos inovadores ligados à revolução tecnológica com o aparecimento dos “tablets” e dos “smartphones”, que passaram a proliferar no mundo nesta segunda década do século XXI, quebrando fronteiras e tornando o planeta cada vez mais uma “aldeia global”.
Verificaram-se vários sinais de que algumas ditaduras estavam decadentes, como foi o caso da deposição de Gaddafi na Líbia em 2011 e a, presente, revolta na Venezuela contra o Presidente Nicólas Maduro desde o início de 2019.
Outros acontecimentos lançaram alguma esperança em Portugal e no mundo, como foram os casos da vitória da Seleção Portuguesa de Futebol, no Euro 2016; a vitória de Salvador Sobral na Eurovisão da Canção de 2017; a vinda do Papa Francisco a Fátima para beatificar dois dos pastorinhos das Aparições de Nossa Senhora, por ocasião do Centenário deste fenómeno religioso; ou a nível internacional as derrotas militares, com o seu confinamento geográfico, do Estado Islâmico do Iraque e do Levante; a evocação memorialista do Centenário do fim da 1ª guerra mundial (1918-2018), lembrando que a paz é sempre um fénomeno efémero e que, se os ideais não comandarem a vida, o mundo fica estilhaçado em catástrofes humanas e é neste dilema que as intervenções da ONU e do atual Secretário Geral desta instituição se encontram.
A atual aceleração vertiginosa do ritmo contemporâneo tem-se feito sentir, de forma ainda mais intensa, nesta década de 2009-2019. Portugal, mergulhado na crise da dívida soberana, em 2011, foi bafejado por alguns sinais de esperança, nos anos de 2016 e de 2017, que foram hasteados como bandeiras promissoras pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebello de Sousa.
Deste modo, a Europa foi marcada pela crise da dívida soberana e pelo Brexit, tornando necessária uma maior integração comunitária, para fazer frente à crescente decadência económica e tecnológica do “Velho Continente”, perante as novas potências emergentes, entre as quais se destacam a China e a Índia.
Dois dos problemas inerentes à globalização do desenvolvimento económico e tecnológico são as pandemias, como a verificada com o alastramento mundial da gripe A, e as alterações climáticas, que alguns líderes mundiais teimam em não reconhecer, como Donald Trump e Jair Bolsonaro.
A instabilidade financeira, climática e social, com as grandes migrações de refugiados tornou-se uma característica essencial do nosso tempo, bem como as flutuações e irupções atmosféricas inesperadas causadoras de grandes catástrofes, como foram o terramoto do Haiti de 2010 e as inundações devastadoras de Moçambique de 2019 resultante de 2 ciclones.
“Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo” “25 de abril”, in Sophia de Mello Breyner Andresen, O Nome das Coisas
“Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades”
“Exílio”, in Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto'
Sophia de Mello Breyner Andersen foi uma grande poetisa portuguesa do século XX, que recebeu o Prémio Camões em 1999 e que, postumamente, recebeu uma homenagem em 2014 com a transladação do seu corpo para o Panteão Nacional.
Nasceu, no Porto, a 6 de novembro de 1919, às 11 horas da manhã, no seio de uma família burguesa, sendo os seus pais Maria Amélia de Mello Breyner e de João Henrique Andersen. Viveu com os seus pais, na Quinta do Campo Alegre, no que é hoje o Jardim Botânico do Porto. Pelo que, neste ano de 2019, Portugal e o mundo lusófono, celebram o Centenário do seu nascimento.
Iniciou os estudos no Colégio Sagrado Coração de Jesus, tendo recebido uma educação moral cristã, no seu ambiente aristocrático familiar, pelo que, alguns anos mais tarde, se tornou dirigente de movimentos universitários católicos durante a frequência do curso, em 1939-1940, de Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, que acabou por não terminar. Contactou com poetas influentes, como Ruy Cinatti e Jorge de Sena, ao colaborar na revista Cadernos de Poesia.
Veio a ter um posicionamento político relevante como católica progessista ao denunciar os defeitos do regime Salazarista e os seus apaniguados, tendo escrito uma Cantata da Paz como canção de intervenção oposicionista ao regime.
Deste modo, Sophia teve uma intervenção cívica assinalável, como oposicionista, no regime do Estado Novo ao denunciar o regime autoritário, conforme consta do apoio, em 1958, à candidatura presidencial do general Humberto Delgado e ao integrar movimentos católicos contra o Salazarismo, tendo assinado a Carta dos 101 Católicos contra a guerra colonial e o apoio da Igreja Católica à política Salazarista. No mesmo espírito de independência, de liberdade e de democracia apoiou a independência de Timor-Leste, já durante o regime democrático português, que se concretizou no ano de 2002.
Em 1946 casou-se com Francisco Sousa Tavares, jornalista, político e advogado, tendo o casal 5 filhos, entre eles salienta-se Miguel Sousa Tavares, conhecido jornalista e escritor. Os filhos inspiraram-na a escrever contos infantis.
Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia atribuído pela Sociedade Portuguesa de Escritores. No período democrático, a seguir à revolução de 25 de abril de 1974 foi deputada constituinte, em 1975, eleita pelo Partido Socialista no círculo do Porto.
Celebrizou-se com o livro de contos intitulado Contos Exemplares e com livros infantis como A Menina do Mar, O Cavaleiro da Dinamarca, A Fada Oriana, entre outros. Traduziu, para português, obras de autores clássicos como Eurípedes, Claudel, Dante Alighieri e Shakespeare. Em vida, foi homenageada com um Doutoramento Honoris Causa em 1998, na universidade de Aveiro, e com o Prémio Rainha Sofia em 2003.
Viria a falecer com 84 anos, em Lisboa, a 2 de julho de 2004. Seria homenageada, postumamente, com a integração dos seus restos mortais no Panteão Nacional, em 2014, e com a inscrição dos seus poemas marítimos, em 2005, no Oceanário de Lisboa.
A sua obra poética recorre à sua memória afectiva como fonte inspiradora, descrevendo as suas casas e os seus objectos familiares, partindo assim da vivência para a criação literária, pelo que a sua obra está recheada de uma grande carga autobiográfica.
A poesia é para Sophia o valor transformador da vida. Habituou-se, sobretudo, a escrever de noite quando a concentração no seu objeto literário era plena. Evidenciou cedo, aos 3 anos de idade a sua propensão poética, ao recitar num serão natalício em família o poema “Nau Catrineta”.
Na criação literária realçam-se como temas fundamentais da sua poesia a vivência juvenil e estudantil, a natureza e os seus elementos simbólicos (as árvores, os pássaros, o luar, a praia, as ondas, etc) como motivos bucólicos de inspiração mas, como tema contrastante de aversão permanente, surge a cidade como espaço de interação fria e desumanizada. O tempo é, também, tema de reflexão poética da autora.
Há, na obra de Sophia, um culto da literatura clássica e, em particular, da arte e da cultura gregas, visíveis em obras como O Rei de Itaca, Os Gregos, Soneto de Eurydice, Crepúsculo dos Deuses, entre outras.
Fernando Pessoa foi um poeta referencial para a autora, convergindo com ele na influência de Platão, nas memórias afectivas, na importância concedida ao sebastianismo e ao messianismo.
Contam-se como valores fulcrais, que sobresssaem na sua poesia, a busca da justiça e do equilíbrio, o pendor moral na ação quotidiana, a consciência da contemporaneidade, o amor como dinâmica da ação, os ensinamentos clássicos e da Civilização Helénica, o idealismo platónico, o individualismo psicológico, o humanismo cristão e a crença messiânica.
A sua obra literária encontra-se traduzida em várias línguas, tendo uma linguagem poética simples, intimista, baseada no paradigma da cultura helénica, em que evoca nos seus poemas objetos, seres vivos e míticos, os tempos e os dias na sua singeleza. A autora escreveu, ainda, contos, artigos, ensaios e peças de teatro. Entre as dezenas de livros que publicou contam-se como os mais conhecidos de poesia: Dual (1972 e 1986), O Nome das Coisas (1977); Mar (2001) - antologia organizada por Maria Andresen de Sousa Tavares; Orpheu e Eurydice (2001).
Os poetas do seu tempo e os críticos literários portugueses como Eduardo Prado Coelho, Álvaro Manuel Machado, David Mourão-Ferreira e Jorge de Sena foram unânimes em considerar que a poesia de Sophia está repleta de uma sabedoria que se expressa com enorme simplicidade e originalidade, na senda do paradigma cultural clássico, mas profundamente inspirada pelo seu espírito platónico, guiado por uma intensa cultura humanista e por uma defesa intransigente da liberdade.
Em suma, Sophia fez da poesia a trave-mestra da sua vida e converteu a sua ação pública em fulgores poéticos de intervenção cívica.
As alterações climáticas caracaterizam-se pela mudança radical dos padrões metereológicos, num tempo longo. Ora, estas alterações têm-se verificado nas últimas décadas, designadamente com o aquecimento global do planeta. O clima define o padrão médio metereológico numa região, num período estenso.
Tomando como exemplo a cidade de Lisboa onde existia um clima temperado atlântico, será que, perante estas alterações, os climas identificados pelos geográfos ainda se mantêm válidos? Este fim da primavera e início de verão, em Portugal, tem sido atípico, pois verifica-se um tempo mais fresco do que é comum, tendo muitos dos portugueses, que usufruíram férias balneares em junho de 2019, sido prejudicados com as temperaturas mais baixas para esta época.
Com as atuais alterações climáticas estão a verificar-se, com mais frequência, fenómenos extremos em Portugal, no mundo lusófono e no planeta, designadamente com cheias terríveis, secas preocupantes, incêndios de grandes dimensões, quedas abruptas de granizo, manifestação de tornados e de furacões de efeitos catastróficos. Temos, ainda, bem presente os dramáticos ciclones de Moçambique, neste ano de 2019, em´particular o mais trágico intitulado “Idai”.
A caraterística básica das alterações climáticas traduz-se no aquecimento global do planeta, nas últimas décadas, manifestando-se vários efeitos indesejáveis como a subida do nível médio das águas do mar (recentemente o Secretário Geral das Nações Unidas apareceu simbolicamente, na capa da revista Time, com as pernas dentro de água); o aquecimento da atmosfera e dos oceanos; a diminuição das quantidades de neve, de gelo e reduções drásticas dos glaciares e a concentração de gases com efeito de estufa a aumentarem perigosamente na atmosfera.
Também, num recente relatório das Nações Unidas de Philip Alston apresentado ao Conselho dos Direitos Humanos, fala-se de um “apartheid climático”, pois com as alterações climáticas as populações mais pobres dos países ricos e as populações dos países mais pobres vão sofrer um impacto muito maior sobre as suas vidas em função destas alterações[1].
O efeito de estufa é imprescindível à sobrevivência da maioria das espécies pelo efeito amenizador das temperaturas, mas os gases em excesso produzidos pelo homem têm provocado um aumento inusitado dos gases da atmosfera, resultante da desmesurada utilização de combustíveis fósseis em veículos, nas fábricas e nas centrais elétricas.
Destes gases nocivos, destaca-se o incremento do dióxido de carbono, a par de outros gases e da grande desflorestação mundial, de que a Amazónia é um triste exemplo, pois com menos árvores no planeta a absorção de dióxido de carbono é bastante menor.
Desde meados do século XX com o incremento da industrialização e da vida urbana, o nosso ecossistema está a ficar mais desequilibrado, em função do aumento dos gases com efeito de estufa provenientes das atividades humanas. Esta problemática é de tal forma relevante que o Papa Francisco, em 2015, já dedicou uma encíclica ao tema ambiental, intitulada Laudato Si’[2].
Para estancar esta hemorragia vital do planeta, é fundamental reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, tornando os automóveis menos poluentes, com a opção pelos carros elétricos, e as fábricas menos emissoras de fumos. Se a humanidade, com a ajuda de alguns líderes mundiais como António Guterres, tem alertado o mundo e não conseguir estancar esta hemorragia ambiental, poderão manifestar-se consequências catastróficas de elevado calibre para a vida humana, animal e vegetal do planeta. Infelizmente, alguns líderes como Donald Trump e Jair Bolsonaro estão a menorizar estas problemáticas das alterações climáticas.
Além das manifestações já antes assinaladas, serão consequências prováveis que alguns rios e lagos acabem por secar; que o número de secas aumente, prejudicando, mormente, a Europa Mediterrânica; que as reservas de água potável diminuam, prejudicando o consumo, a higiene e a produção agrícola; que muitas espécias animais e vegetais se extingam, lesando a harmonia dos ecossistemas.
Ao longo do século XX e nos anos iniciais do XXI, o ritmo das alterações climáticas cresceu fortemente. São cada vez mais frequentes as ondas de calor e os fenómenos de seca, que afectam, sobretudo, o sul de Portugal. A temperatura, no século passado no mundo, aumentou quase 1 grau celsius, enquanto que a previsão para este século é de um crescimento entre 2 e 4 a 6 graus celsius, tornando a vida, em muitos climas temperados ou quentes, menos aprazível ou, mesmo, quase insuportável.
Importa que os políticos possam agir e que os cidadãos actuem no seu quotidiano, optando por eliminar, progressivamente, o uso de combustíveis fósseis, por preferir energias renováveis e por procurar poupar energia e programar formas de garantir a eficiência energética. As manifestações juvenis de luta contra as alterações climáticas estão na ordem do dia, de forma que o Secretário Geral da ONU disse, em junho de 2019, que, face à falência das lideranças mundiais, os jovens vão passar a liderar os programas de combate às alterações climáticas.
O objetivo, nos acordos climáticos de Paris, é de limitar o aumento da temperatura do planeta em 2º celsius, mas para isso será necessário diminuir globalmente 45% das emissões de dióxido de carbono até 2030, o que não será fácil sem uma cidadania e uma governança globais.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
__________________
[1] Susana Peralta, “Apartheid climático: os pobres que paguem a crise (climática)”, Público, nº10658, 28 de junho de 2019, p.8.
A disrupção secularista, apartada das filosofias helénicas e da espiritualidade cristã, tem conduzido o Ocidente a procurar reencontrar a Alma perdida, em inúmeros fenómenos milenares trazidos do Oriente, uma vez que a separação, nestas paragens geográficas, da Alma e do Corpo não foi tão abrupta. A valorização do cienticismo, desde o Positivismo do século XIX, tem levado ao descrédito da filosofia, que passou a ser menosprezada.
Esta tendência levou a própria filosofia a desvirtuar-se com a desvalorização da metafísica, em correntes que dominaram no século XX, tais como o Existencialismo e o Pragmatismo e que tem reduzido o valor dos intelectuais em favor dos tecnocratas.
A descristianização da Europa, traduzida no sul do continente pelo elevado número de católicos não praticantes, tem potenciado a laicização das sociedades ocidentais. Os europeus, na busca de superarem o seu declínio material, mergulharam na ideologia tecnocrática, que os levou a sentirem-se desumanos e a procurarem formas espirituais orientais.
As culturas orientais sempre originaram no Ocidente sentimentos de atração e de repulsa. Desde os autores da Antiguidade Clássica, como Ésquilo e Eurípedes, as culturas do Oriente apareceram como estranhas e antagónicas à cultura do Ocidente. Apenas na época helenística, com as aventuras de Alexandre “O Grande”, as culturas orientais influenciaram o Ocidente.
Com o crescente afastamento dos ocidentais das filosofias, com a descristianização e com a laicização da Europa houve, desde os finais do século XX, uma aproximação das espiritualidades orientais.
Desde os Descobrimentos marítimos ibéricos dos séculos XV e XVI, onde os portugueses foram pioneiros, houve um progressivo questionamento da mundividência eurocêntrica, com um interesse paulatino dos missionários pelas culturas chinesa, indiana e tibetana.
Desde o Iluminismo até à Revolução Francesa, a China e a Índia atraem as atenções dos europeus cultos, com o aparecimento de traduções de obras de autores orientais e sucedendo às primeiras traduções feitas pelos jesuítas portugueses. O desenvolvimento da filologia sânscrita, na charneira do século XVIII para o XIX, irá originar o sentimento da indofilia de Schlegel e da indofobia de Hegel.
O Romantismo atraiu os intelectuais pelo exotismo da cultura indiana e do Oriente, mas, já no século XX, as universidades votaram ao abandono o interesse pelas culturas orientais, com algumas pequenas exceções traduzidas em Centro de Estudo ou Institutos dedicados a temas orientalistas.
Somente fruto da globalização do fim do século XX e da referência inspiradora de figuras incontornáveis da História Contemporânea como Mahatma Gandhi e o 14º Dalai Lama, devotados à meditação religiosa, ao culto da não violência e à defesa intrangente dos Direitos Humanos e de uma forma descomprometida, com a simultânea promoção do diálogo intercultural e interreligioso, estas personalidades históricas tornaram-se modelos éticos, virando as atenções internacionais para os diferentes paradigmas civilizacionais do oriente.
Este crescente interesse pelo orientalismo levou à proliferação de movimentos como os de Hare Krishna ou o grande surto budista, zen ou tibetano, que se espraia com figuras de budas a inundarem lojas, casas particulares e jardins.
Ao mesmo tempo, tem crescido o interesse por práticas e terapias como a meditação, o ioga, o tai chi chuan, o reiki, o chi kung, as artes marciais, a acupunctura, o shiatsu, a medicina tradicional chinesa, etc. Igualmente, as tendências do vegetarianismo e do veganismo mostram a proliferação das correntes culturais orientais no Ocidente, em evidente decadência espiritual.
A meditação está hoje comprovada, nos seus benéficos efeitos no funcionamento cerebral, pela ciência ocidental, no momento em que os paradigmas ocidentais da tecnocracia, do hedonismo e do materialismo colapsaram, fazendo declinar a Civilização Ocidental e o Velho Continente.
Num Ocidente desnorteado, com a Europa suspensa do Brexit e os EUA liderados por um exuberante empresário multimilionário, a meditação gera, em muitos concidadãos, apartados das formas tradicionais da espiritualidade cristã - mística ou franciscana –, a procura de instrumentos de reequílibrio pessoal, que o paradigma produtivista não possibilita, ou a busca de uma viragem maior para a vida interior, afastando-os da feira de vaidades da mundanidade exterior. Apenas esta afirmação do homem pleno nas suas dimensões poderá levá-lo a uma verdadeira felicidade, centrada na pessoa e não descentrada nas ambições materialistas.
Este recentramento espiritual do Homem Ocidental é a alternativa aos antidepressivos, embora por intermédio do encontro cultural com técnicas e práticas espirituais do Oriente, quando a sabedoria ocidental já incorporava, desde há muitos séculos, nos exercícios espirituais de gregos e de cristãos, esta dimensão humana da Alma, que foi corrompida com o paradigma tecnocrático de reduzida visão produtivista.
O Buddha Eden da Quinta dos Louridos, no concelho do Bombarral, é um bom exemplo deste paradoxo civilizacional, quando mesmo ao lado se encontra o tradicional Santuário do Bom Jesus do Carvalhal. Isto é, o laicismo, a descristianização da sociedade portuguesa e a obsessão tecnocrática têm conduzido à desumanização da vida dos ocidentais, e dos portugueses, orientados para um produtivismo vazio, conduzindo a uma busca de uma sabedoria noutras civilizações, designadamente orientais, quando a civilização ocidental encerra em si, mesmo, esse património espiritual.
O Chavismo é uma ideologia de esquerda personalizada em Hugo Chávez, mas associando, de forma eclética, as ideias de Símon Bolívar, de Ernesto Che Guevara, de Fidel Castro e do socialismo marxista, ajustando-os aos desafios do século XXI. Uma frente política de esquerda permitiu o apoio e a duração deste regime.
A ascenção política de Hugo Chávez, em 1998, lançando a “Revolução Bolivariana” com uma nova Constituição de 1999 - e não nos olvidemos que N. Maduro surge muitas vezes associado a este símbolo do regime - tornou-se possível com a crise de confiança nos partidos democráticos venezuelanos do fim do século XX.
Desde 2006 que o Chavismo tem vindo a perder popularidade na América Latina, tendo até, na época, o presidente brasileiro Inácio Lula da Silva se demarcado dessa governação. Esta perda de popularidade do Chavismo explica-se pela grave crise económica, que se instalou em 2002-2003, desencadeando várias desvalorizações da moeda, que têm vindo a piorar o nível de vida do povo venezuelano, a par da mudança do carismático líder Chávez, por um sucessor sem uma carga mítica tão significativa.
Na realidade, os únicos e verdadeiros esteios do regime constituem as exportações de petróleo venezuelano e as Forças Armadas, que sustentam o poder autocrático do chefe do regime.
Em 2018, a esquerda francesa, através da revista Les Temps Modernes, denunciou o fracasso do modelo político do Chavismo. Se o regime do Chavismo é uma inequívoca ditadura, com mecanismos repressivos, a alternativa é uma democracia liberal agrilhoada aos perversos interesses financeiros de um capitalismo sem regras, que tem feito degenerar os sistemas democráticos.
Dirão alguns que mais vale uma meia democracia a uma execrável ditadura de Nicólas Maduro. O risco do impasse com o extremar de posições é a eventualidade de uma guerra civil. Por esta razão, a 26 de fevereiro de 2019 a ONU reuniu de emergência o Conselho de Segurança, com o representante diplomático da Venezuela a lamentar o bloqueio económico e o congelamento de ativos venezuelanos no exterior, insinuando ao mesmo tempo que a ajuda humanitária era um evidente pretexto para justificar uma eventual intervenção militar dos EUA.
Não obstante a comunidade internacional se encontre em grande parte ao lado de Juan Guaidó, que se declarou presidente interino da Venezuela a 23 de janeiro de 2019, na aparência o país encontra-se dividido entre um poder aparentemente bicéfalo, com defensores do Presidente Maduro e outros do Presidente Guaidó.
Contudo, as Forças Armadas na sua maioria encontram-se do lado do Presidente Maduro, apesar de algumas centenas de deserções de forças policiais e militares. E, desde então, parece haver um impasse, pois o país encontra-se dividido num extremismo dos defensores do autoritarismo marxista, de laivos latino-americanos, e os defensores de um regime democrático com a necessidade de eleições livres e plurais.
Atualmente, o contexto histórico difere do que se manifestou durante a 2ª guerra mundial, de luta entre as democracias e os regimes autoritário-fascistas, pois há uma luta entre uma ditadura socialista e uma pseudo-democracia, que presentemente existe na era da globalização. Certamente que uma meia democracia é melhor que uma ditadura, tal como uma democracia é melhor que uma meia democracia.
Em suma, a crise política na Venezuela resultou da crise social e económica da segunda década do século XXI, mas que já se vinha arrastando da primeira década, que se traduziu no aumento da criminalidade, na grande inflação, na carestia de bens alimentares e na contestação da legitimidade política da liderança de Nicólas Maduro, oriunda das dúvidas existentes relativamente à sua eleição em 2014.
O quadro de Francisco Goya intitulado 3 de maio de 1808 tem dimensões grandiosas, não patentes em obras de reprodução (2,68m X 3,47m), como é o caso de uma pequena exposição disponibilizada pelo Museu do Prado à embaixada de Espanha. Datado de 1814, tem como técnica a pintura a óleo sobre tela no estilo artístico romântico.
A obra reproduz o acontecimento histórico que foi precedido da revolta da população madrilena contra os invasores franceses, ou seja, as tropas napoleónicas. Neste ambiente de insurreição, Goya pintou um grupo de 400 habitantes de Madrid, que tendo sido encontrado com armas, foi fuzilado na colina Príncipe Pio, na data que confere título à obra.
Salientam-se algumas caraterísticas românticas nesta pintura de Goya, fazendo-nos lembrar da obra de Pablo Picasso intitulada Guernica, que retratou a colossal tragédia da guerra civil espanhola. De facto, esta peça pictórica de Goya influenciou outras pinturas posteriores, em particular de Édouard Manet, pintor impressionista, e de Pablo Picasso, pintor cubista.
Aparecem como traços distintivos desta pintura: o horror sanguinário do grupo de madrilenos já fuzilados, à semelhança dos seres desmembrados no quadro de Picasso; a iluminação com um laternim gigante das figuras, que estavam prestes a ser fuziladas e se encontravam desesperadas, como se observa nas suas fisionomias de terror, escondendo-se alguns atrás de outros e vários atrás das mãos, para não verem a cena terrífica dos mortos estendidos no chão e o grupo anónimo dos carrascos do exército imperial napoleónico com armas apontadas aos insurretos.
Se, por um lado, tematicamente a pintura se enquadra no romantismo de forma inequívoca, com um episódio histórico a ser retratado em todo o seu dramatismo, por outro, do ponto de vista técnico, a obra é ainda herdeira dos contrates claro/escuro das pinturas barrocas, com uma iluminação teatral das figuras, em pânico, prestes a serem fuziladas.
Esta pintura foi criada, em 1814, no momento em que a Espanha já se tinha libertado das tropas francesas invasoras, tendo sido alvo de restauro técnico e encontrando-se atualmente patente no Museu do Prado, em Madrid.
Realçam-se, na pintura, elementos simbólicos bastante relevantes, como sejam o frade tonsurado, que traduz implicitamente o apoio da Igreja Católica, em Espanha, à resistência dos madrilenos e a figura central, com uma camisa branca e os braços levantados em sinal de rendição, que muitos associam a Jesus Cristo crucificado devido à sua posição de braços abertos e aos estigmas nas palmas das mãos.
Em suma, trata-se de uma obra-prima da pintura universal do pintor espanhol Francisco Goya, que retratou, com espírito romântico, a tragédia das tropas imperiais napoleónicas a espalharem os seus ideais liberais na ponta das armas, violentando as populações ocupadas com a brutalidade de um fuzilamento, mas, na verdade, a esconder interesses geopolíticos.
A revista Nova Águia de publicação semestral e dedicada à cultura portuguesa e lusófona é composta por artigos de ensaio e por poemas, de autores com diferentes proveniências como Portugal, Cabo Verde, Brasil, Galiza, Itália, entre outros. Neste novo número, o 22, referente ao 2º semestre de 2018, colaboram 61 autores. A revista é apresentada, geralmente, a meio de cada semestre em março/abril e em outubro.
Neste último número, destacam-se 3 grandes temas: as comunicações ao V Congresso da Cidadania Lusófona; artigos sobre a humanista Dalila Pereira da Costa no Centenário do seu nascimento; e comunicações referentes ao V Centenário do nascimento do humanista Francisco de Holanda.
Da sua composição também fazem parte textos sobre várias outras figuras de relevo da cultura portuguesa como o pedagogo Manuel Ferreira Deusdado, o padre Manuel Antunes, o poeta Adolfo Casais Monteiro, o escritor António Quadros, o pensador Agostinho da Silva, entre outros. São, ainda, publicados dois textos inéditos de Agostinho da Silva e de António Telmo.
Na Nova Águia colaboram dezenas de ensaístas, entre os quais saliento como grandes autores de referência e sem qualquer menosprezo pelos demais, Adriano Moreira, António Braz Teixeira, José Eduardo Franco, Miguel Real, Pinharanda Gomes, Samuel Dimas e Renato Epifânio, que constituem as figuras tutelares da revista, pelos seus brilhantes percursos vivenciais ou académicos, na definição de uma filosofia portuguesa. No final do volume, apresenta-se um conjunto de recensões críticas e de poemas de grande interesse.
Esta revista, sendo ligada ao Movimento Internacional Lusófono, é uma homenagem a uma revista de cultura que surgiu na 1ª República, da necessidade de reerguer o valor da pátria portuguesa, intitulada A Águia, na qual colaboraram figuras eminentes ligadas ao movimento cultural e cívico intitulado Renascença Portuguesa, como Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, António Sérgio, Teixeira de Pascoaes, Raul Proença, Fernando Pessoa, entre outros escritores e pensadores.
Nesta presente revista existe uma recensão de livros da coleção Nova Águia da Editora Zéfiro, pois tal como a Renascença Portuguesa, que na segunda década do século XX criou uma série de publicações, também a Nova Águia dá nome a uma coleção desta editora com mais de 50 livros de autores individuais.
A estratégia editorial da Nova Águia consubstancia-se na difusão da cultura lusófona, espraiando-se por vários espaços ligados à língua e à cultura portuguesa e inspirando-se na sua predecessora já supramencionada. Esta procurou burilar durante mais de vinte anos (1910-1932) uma cultura patriótica em torno da identidade portuguesa, tão abalada com a crise da monarquia lusa desde a última década do século XIX, em tempos em que o analfabetismo grassava na população portuguesa.
Salienta-se que esta revista se carateriza pela evidente escassez de publicidade comercial, sendo a existente apenas ligada às atividades editoriais, ao contrário da maioria das outras revistas culturais portuguesas e do espaço lusófono. A tiragem da revista é, geralmente, de 1000 exemplares por número.
Em suma, a revista Nova Águia, numa sólida solução de compromisso, reflete sobre a identidade portuguesa na sua cultura, na sua língua e no seu pensamento, sem se esquivar ao contexto atual da globalização com a promoção de uma cultura lusófona, mediante os autores tratados, a proveniência diversa dos colaboradores da revista e os diferentes espaços da lusofonia, onde esta é apresentada.
Na senda de um humanismo espiritual, a Nova Águia trilha o seu caminho desde 2008, o que para um projeto cultural independente no seio deste deserto tecnocrático em que vivemos é já de assinalar vivamente. À qualidade dos seus conteúdos junta-se o enriquecimento com referências bibliográficas e, agora, com imagens e fotografias ilustrativas de alguns dos artigos publicados.
Tenho o ensejo de dirigir umas breves palavras de saudação aos queridos familiares e amigos, que quiseram estar presentes neste festejo e me acompanharam nestes 50 anos de vida. Não pude deixar de contar com o apoio de todos nos momentos mais difíceis, de uma forma ou de outra, e de esperar uma colaboração afectuosa rumo à sabedoria dos anos que virão.
Na pessoa do ilustre Diretor da revista da Nova Águia, Professor Renato Epifânio, cujo alto profissionalismo e superior dedicação à causa lusófona me é grato referir, apresento os meus agradecimentos pelo contributo, com a apresentação do número 22 da revista, que nos dá neste festejo, que pretendi familiar, mas de cunho cultural.
O que significa fazer meio século de vida ? Sem dúvida, implica uma graça divina, a que procuro corresponder com o coração aberto e a alma cheia de uma fraternidade transcendental, recordando o Padre António Vieira que concebeu o V Império em que os portugueses legarão à Humanidade num futuro moldado pelos parâmetros da cultura portuguesa, pela capacidade lusa de assumir um desígnio universalista e pelo anseio cristão de um mundo onde seja possível compaginar a felicidade pessoal e a harmonia social. Daqui depreendo um significado teológico do meu aniversário ancorado na cultura portuguesa.
A presença de todos vós, queridos familiares e amigos, é símbolo dos laços de afecto, de companheirismo e de entreajuda, que são fundamentais para atravessarmos os mares tormentosos de todas as eras e que aparecem sempre de forma inusitada. A caminhada que fazemos na peleja pelo bem, na vossa presença e na do Espírito Santo, numa subida íngreme cheia de espinhos, com cada vez menos forças, só é possível com o vosso carinho e a esperança numa fé que nos ancora a tibieza dos nossos passos.
Não querendo parecer ser poético, profético ou utopista, mas um realista de alma cheia e coração aberto, quero agradecer à minha mãe, ao meu pai, à minha mulher, à minha filha, aos meus sogros, aos meus padrinhos, aos familiares e amigos o desvelo ímpar e apreço que têm patenteado ao longo desta minha caminhada.
A vida humana sem cultura é de uma estranheza “escanifobética”, usando um termo da minha infância, ou nas avisadas palavras do Padre Manuel Antunes, sobre quem escrevi um pequeno artigo nesta última revista da Nova Águia, que dizia: “A cultura promove a dignidade da pessoa, porque fomenta a sua liberdade espiritual, porque educa a sua capacidade de admirar, de compreender e de contemplar...” (Brotéria, novembro de 2018, p. 658). Daí que tenha dado nomes de revistas culturais portuguesas às mesas onde vos convidei a sentar, tendo procurado um significado simbólico nas mesas a que vos associei.
Não me identifico com as palavras existenciais de Albert Camus, mas com as palavras cinzeladas de certa espiritualidade de Vinicius de Moraes. Frisava Albert Camus numa descrença de espírito: “A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino. Nada passa mais depressa que os anos. Quando era jovem dizia: “verás quando tiver cinquenta anos”. Tenho cinqüenta anos e não estou vendo nada.”
Pelo contrário, afirmava, na nossa querida Língua Portuguesa, Vinicius de Moraes aquilo que verdadeiramente conta: “Queira-se antes ventura que aventura/ À medida que a têmpora embranquece/ E fica tenra a fibra que era dura./ E eu te direi: amiga minha, esquece.../ Que grande é este amor meu de criatura/ Que vê envelhecer e não envelhece.”.
Estes meus 50 anos de vida passaram-se num tempo histórico, que medeia entre o Marcelismo outonal, do tempo em que nasci, e os fenómenos erráticos dos populismos que emergem de uma globalização sem norte, em que vivemos submergidos. Assisti à queda do Muro de Berlim, à queda das Torres Gémeas, ao declínio da Civilização Ocidental sobre os quais espero um dia escrever um registo memorialístico ou, pelo menos, ler um livro de um historiador sem medo e com fôlego, que me faça lembrar Arnold Toynbee, Fernand Braudel ou Eric Hobsbawm.
A vida que tenho vivido tem frutos muito doces, embora o curso da nossa vida, como bem recordava o Concílio Vaticano II, navegue sempre entre alegrias e angústias, pois isto é próprio da condição humana.
Os frutos dulcíssimos da nossa vida são resultado dos nossos amores maiores e das nossas paixões - os meus queridos pais, a minha cara metade, a nossa filha - de quem escrevi, no momento do seu nascimento: “Ontem um sopro de vida/ bateu inesperadamente à nossa porta./ Só tivemos tempo de o acolher de Coração aberto/ e irradiantes de Felicidade, / esperamos que o alento que lhe demos,/ com a Graça do Espírito Santo, / lhe possa servir de fermento/ para brotar como uma flor viçosa” (Nuno Sotto Mayor Ferrão), as minhas publicações e a árvore da nossa filha que plantámos no sentido de simbolizar o seu crescimento, pois só, quando edificamos sonhos, a felicidade bate à nossa porta, numa perspetiva que se afasta em tudo da preconizada por Bertrand Russell.
Quero agradecer esta oportunidade de estar convosco neste marco histórico pessoal, de celebração dos meus 50 anos, ao evocar a minha identidade e vossa inestimável presença neste momento simbólico. Fazendo os melhores votos pelas prosperidades e felicidades a este querido grupo de familiares e amigos, aqui reunido, quero levantar a taça/a ”flute” pela Saúde e o Bem-Estar de todos, queridos familiares e amigos.
*Nuno Sotto Mayor Ferrão, “Breve evocação do Padre Manuel Antunes – No Centenário do seu nascimento (1918-2018)”, in Nova Águia, nº 22, 2º semestre de 2018, pp. 216-218 (no prelo).
*Idem, "A Nova Águia e cultura lusófona, das suas raízes identitárias a um futuro coletivo de esperança", in Nova Águia, nº 20, 2º semestre de 2017, pp. 235-240.
*Idem, "O Padre António Viera, um precursor do espírito e da convivência lusófona no Século XVII” in Nova Águia, nº 19, 1º semestre de 2017, pp. 103-111.
*Idem, “O Padre António Viera, um precursor do espírito da convivência lusófona no Século XVII”, in Brotéria, vol. 183, nº 5/6 – novembro/dezembro de 2016, pp 367-383.
* Idem, "A arte no pensamento de Vergílio Ferreira" in Nova Águia, nº 18, 2º semestre de 2016, pp. 61-66.
* Idem, "Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico - Nos 120 anos da obra 'O Culto da Arte em Portugal' (1896-2016)" in Nova Águia, nº 17, 1º semestre de 2016, pp. 115-120.
*Idem, “Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico – Nos 120 anos da obra ‘O Culto da Arte em Portugal’ (1896-2016)”, in Brotéria, vol. 182, fevereiro de 2016, pp. 133-144.
*Idem”, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na Revista Orpheu – Evocação no seu centenário”, in Brotéria, vol. 181, julho de 2015, pp. 41-50.
*Idem, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na revista Orpheu”, in Nova Águia, nº 15, 1º semestre de 2015, pp. 18-24.
*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa – no centenário da Grande Guerra”, in Brotéria, vol. 180, nº 1 – janeiro de 2015, pp 33-44.
*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa e na revista A Águia”, in Nova Águia, nº 14, 2º semestre de 2014, pp. 231-238.
*Idem, “A atualidade internacional da Doutrina Social da Igreja no contexto da globalização”, in Brotéria vol. 178, nº 7/8 – julho/agosto de 2014, pp 33-44.
*Idem, “Balanço diacrónico (1974-2014) da Revolução de 25 de Abril”, in Nova Águia, nº 13, 1º semestre de 2014, pp. 57-63.
*Idem, “Nos 80 anos do historiador José Mattoso: a sua viva lição de sabedoria”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 162-163.
*Idem, “António José Saraiva como cidadão e historiador: nos 20 anos da sua morte”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 153-159.
*Idem, “A poesia portuguesa: o mar e a lusofonia”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 23-24.
*Idem, “As linhas de força do pensamento historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 130-135.
*Idem, “A Renascença Portuguesa e o percurso político e historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 9, 1º semestre de 2012, Sintra, Zéfiro Editora, 2012, pp. 138-144.
*Idem, “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, Janeiro de 2012, pp. 47-51.
*Idem, “A dinâmica histórica do conceito de Lusofonia (1653-2011)” in Nova Águia, nº 8, 2º semestre de 2011Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 204-208.
*Idem, "Fernando Pessoa: o sentimento lusófono na sua obra", in Nova Águia, nº7, 1º semestre de 2011, Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 34-38.
*Idem, "Alexandre Herculano, aspectos da vida e obra e sua ascendência ideológica sobre o Republicanismo", in Sintra, Zéfiro Editora, Nova Águia, nº 6 - 2º semestre de 2010, pp. 130-135.
*Idem, "Leonardo Coimbra, a revista 'A Águia' e o panorama cultural contemporâneo", in Nova Águia, nº 5 - 1º semestre de 2010, Sintra, Editora Zéfiro, pp. 34-36.
*Idem, Aspectos da vida e obra do Almirante Sarmento Rodrigues (1899-1979), Mirandela, Edição Câmara Municipal de Freixo de Espada-à-Cinta, 1999, 293 p.
*Idem, O pensamento colonial de Sarmento Rodrigues enquanto Ministro do Ultramar (1950-1955), Dissertação de Mestrado em História Contemporânea, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1997, 233 p.
Citações bibliográficas do autor:
» Clio: revista do Centro de História da Universidade de Lisboa, “Resumo das Teses de Mestrado em Letras (História)”, Lisboa, 1996, p. 168.
» Joaquim Veríssimo Serrão, “Do berço humilde em Freixo à imortalidade da História”, Almirante Sarmento Rodrigues, 1899-1979: testemunhos e inéditos no centenário do seu nascimento, Academia de Marinha e Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Lisboa, 1999, p. 163.
» Cadernos de Estudos Africanos – Memórias Coloniais, Lisboa, Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2006, p. 150.
» Cultura - Revista de História e Teoria das Ideias, vol. 25, 2008, Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, pp. 33 e 44.
» António E. Duarte Silva, “Sarmento Rodrigues, a Guiné e o lusotropicalismo”, in Cultura: Revista de História e da Teoria das Ideias Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, vol. 25, 2008, p. 44. (António E. Duarte Silva, « Sarmento Rodrigues, a Guiné e o luso-tropicalismo », Cultura [Online], Vol. 25 | 2008, consultado a 29 julho 2014. URL :http://cultura.revues.org/586.
» Ana Reis e João Garrinhas, “2 anos sob tutela autárquica”, inProfforma (Revista do Centro de Formação de Professores do Nordeste Alentejano), nº 2, março de 2011, pp. 1-7.
» Victor Andrade de Melo, “O esporte na política colonial portuguesa: as iniciativas de Sarmento Rodrigues na Guiné (1945-1949)”, in Revista Brasileira de História, vol.34, no. 68, São Paulo, July/Dec. 2014, pp. 179,180 e 189.
» Rui Jorge Martins, “Rui Chafes, René Girard, Ramalho Ortigão e José Luís Peixoto na Brotéria“, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultural (portal da internet).
» Sérgio Neto, Do Minho ao Mandovi – Um estudo sobre o pensamento colonial de Norton de Matos, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, p. 317.
» Álvaro Henriques do Vale, Do Mapa Cor de Rosa à Europa do Estado Novo, Lisboa, Chiado Editora, 2015, nota 145.
» Isabel Maria Freitas Valente (Coord.), Europa, Mobilidades, crises, dinâmicas culturais, Pensar com Maria Manuela Tavares Ribeiro, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, p. 404.
Desde a Idade Média que o combate com o touro, em Portugal, se veio a transformar numa manifestação artística. Rezam as crónicas que os reis portugueses feriam com lanças os touros. São conhecidos os casos régios de D. Sancho I e de D. Sebastião como toureiros.
É já, em pleno século XV, que as touradas assumem uma forma organizada. D. Duarte, no seu tratado Ensinança de bem Cavalgar toda a sela de 1438, já abordava o combate com o touro. No entanto, será mais tarde o rei D. Sebastião a popularizar a arte tauromáquica, ao ordenar a construção de uma praça de touros em Xabregas, em Lisboa, e ao tourear na arena de Almada.
Data do século XVII a técnica dos forcados com lança, designados ‘peões lança’, e o primeiro tratado do toureio, cujo autor se chamava António Galvão de Andrade. Contudo, é no reinado de D. João V que se encontram as raízes da corrida à portuguesa com espectáculos faustosos, vestuários e adereços requintados. No século XVIII, começaram a difundir-se as praças de touros no país, sendo edificada a primeira praça taurina redonda, uma vez que, até à altura, tinha uma forma retangular.
No século XIX, deram-se transformações importantes com a abolição da morte do touro, por proibição formalizada em decreto real, nas praças taurinas e com a substituição da vara pela farpa. Um dos momentos altos, nesta centúria, foi a realização da grandiosa tourada de gala na Praça do Campo Pequeno, em 1898, para celebrar o 4º Centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia. Nesta corrida, além do toureiro a cavalo surgiram os forcados com o vestuário atual. Já no século XX, o cavaleiro João Branco Núncio iniciou uma renovação artística do toureio a cavalo[1].
A proibição concretizada da morte dos toiros, em plena arena, foi decretada durante a Ditadura Militar, em 1928, não obstante terem-se morto, posteriormente, em diversas ocasiões toiros no país.
Na atualidade, o debate em torno da arte tauromáquica tem-se reacendido nesta segunda década do século XXI. Devem as corridas de toiros acabar em Portugal? No leque partidário português, unicamente o BE e o PAN contestam a legitimidade das touradas.
O constitucionalista Vital Moreira recusa a realização das corridas de touros, afirmando que a tortura dos animais para gáudio do público configura um sadismo próximo das barbaridades, que entusiasmavam os romanos no Coliseu no tempo do império. Na sua argumentação, o constitucionalista frisa que este espectáculo significa uma degradação da dignidade humana.
O BE defende a erradicação paulatina deste espectáculo com a proibição da transmissão de corridas de toiros em televisões de canal aberto e o fim das subvenções públicas a estes eventos. O PAN, de forma mais radical, sustenta a necessidade do poder político ter a coragem de erradicar este espectáculo.
Gabriela Canavilhas, ex-ministra da Cultura, afirmou com pertinência que o espectáculo taurino é uma expressão cultural significativa, em que a maioria da população portuguesa se revê, pelo que não há razão de força maior para acabar com as touradas, dado que é uma tradição inegável do património cultural português, apesar das crescentes manifestações antitaurinas realizadas pelos defensores dos animais. O PSD, o CDS e o PCP contestam a proibição legal das touradas porque, sublinham, se trata de uma manifestação da cultura popular portuguesa, que reunem muitos aficcionados e espectadores.
Nos anos de 2013 e de 2014 houve, em cada um destes períodos, mais de 400 mil assistentes aos espectáculos tauromáquinos portugueses, em número superior a 200 anualmente, em conformidade com os dados da Inspeção-Geral das Atividades Económicas[2].
Em suma, a liberdade de escolha dos cidadãos e o valor das tradições culturais portugueses fundamentam que não se decrete a proibição das touradas, pois se estas terminarem deve ser de forma espontânea.
_____________________
[1] Jorge Mathias, “Tourada em Portugal”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, vol. 2, Lisboa, Publicações Alfa, 1990, pp. 291-292.
[2] Disponível em: jornal i, “Touradas, a polémica está de volta”, 24 de agosto de 2015 in <https://ionline.sapo.pt/408352> Acesso em: 8 de setembro de 2018.
O Padre Manuel Antunes foi um sacerdote jesuíta, ensaísta e professor universitário, nascido em 1918 na Sertã, comemorando-se, portanto, em 2018, o Centenário do seu nascimento.
Licenciou-se em Filosofia e em Teologia e cedo assumiu a missão de docente, leccionando aos estudantes da Companhia de Jesus e aos alunos da Faculdade de Letras de Lisboa. Colaborou em inúmeros artigos na revista Brotéria e na Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura da Editora Verbo, tendo sido Diretor desta revista dos jesuítas durante muitos anos.
Ingressou aos 18 anos na Companhia de Jesus, pelo que ficou marcado pela espiritualidade inaciana, identificando Deus em todas as coisas. Como professor e estudioso tinha uma propensão pelas grandes sínteses e pelo saber utilitário na sua atualidade, atraindo às aulas, pelo fascínio das suas preleções, uma multiplicidade de alunos de diferentes quadrantes ideológicos.
A sua brilhante carreira académica e cultural foi coroada com a atribuição do Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa e pela atribuição da comenda da ordem militar de Santiago da Espada, a 10 de junho de 1983, pelo Presidente da República, Ramalho Eanes.
Segundo o estudo de António Júlio Trigueiros, SJ[1], atual Diretor da revista Brotéria, do retrato feito dele por vários intelectuais na imprensa portuguesa, aquando do seu falecimento, sobressai o humanista, o pedagogo, o homem de cultura e o filósofo.
Escreveu inúmeros ensaios sobre temas contemporâneos, figuras da cultura, personalidades contemporâneas, temas de atualidade, e outros incidindo mesmo nas linhas mestras do seu pensamento doutrinário. Muitos destes ensaios verteu-os nas páginas da revista Brotéria, que dirigiu, durante vários anos, a partir de 1965.
O seu pensamento esteve marcado por um humanismo cristão, que lhe ficou a pautar a vida na integridade de conduta e na incomensurável humildade do seu relacionamento interpessoal. As suas reflexões versaram a cultura de vários povos e, em particular, a cultura portuguesa. Como jesuíta, o seu labor consagrou-o ao aperfeiçoamento da sua ordem religiosa.
A seguir ao seu falecimento, múltiplos foram os intelectuais (José Medeiros Ferreira, Jorge Borges de Macedo, Orlando Ribeiro, Guilherme de Oliveira Martins, Luís Filipe Barreto e outros) que, na imprensa portuguesa, em janeiro de 1985, elogiaram o papel do Padre Manuel Antunes de servir a Igreja Católica no plano cultural. Em 2018, celebra-se o Centenário do seu nascimento e convém evocá-lo como um professor que ensinou muitos alunos a reflectir e lhes mostrou uma ímpar vivência ética.
A 23 de julho de 2018, o blogue “Crónicas do Professor Ferrão” celebra o seu nono aniversário (2009-2018) num espírito semelhante ao do Padre Manuel Antunes na abordagem variada de temas culturais e de atualidade, procurando uma visão global das problemáticas, como é típico dos historiadores. Aliás, foi o saudoso e estimado Professor José Medeiros Ferreira que me impulsionou a concretizar este projeto cultural, que depois foi também bastante bem acolhido e incentivado por amigos, conhecidos e desconhecidos do público em geral.
Tal como o Padre Manuel Antunes, este blogue procura ter uma abrangência cultural ampla (versando temas científicos, filosóficos, literários, artísticos e históricos), numa visão holística do conhecimento.
Quero agradecer os inúmeros contributos que favoreceram o enriquecimento qualitativo deste blogue, em termos técnicos, científicos e linguísticos, que acabou por me abrir as janelas para escrever em revistas culturais relevantes, como a Nova Águia e a Brotéria. O nome deste blogue foi prévio à sua existência, pois surgiu como projeto associado a artigos publicados num site.
O desafio de me ligar culturalmente à internet já me tinha sido lançado por um conhecido, para integrar conteúdos históricos num portal, mas muitas pessoas foram, de facto, as alavancas anímicas para que este projeto fosse possível. Os dois assuntos, aparentemente distintos do título deste “post”, estão afinal interligados pela proximidade dos temas que interessaram ao Padre Manuel Antunes e a este blogue.
Por fim, quero convosco celebrar o nono aniversário deste blogue, que só tem sido possível com os vossos apoios e o interesse sempre renovado das vossas leituras.
__________________
[1] António Júlio Trigueiros SJ, Posfácio – Padre Manuel Antunes, o último retrato, in Padre Manuel Antunes, Portugal, a Europa e a Globalização, Lisboa, Bertrand Editora, 2017, p. 416.
Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro é um futebolista de renome internacional, nascido a 5 de fevereiro de 1985 no Funchal, cujo nome homenageia o Presidente Norte-Americano Ronald Regan como ator de Hollywood. Afirmou-se no futebol internacional, no Sporting Clube de Portugal, num jogo contra a equipa do Manchester United para a inauguração do Estádio Alvalade XXI, que deixou o treinador Alex Ferguson muito impressionado, tendo-o levado então para Inglaterra.
Logo no Manchester United foi-se afirmando com os seus “dribles” magistrais e só depois, já no Real Madrid, a sua evolução desportiva o levou a transformar-se num avançado muito eficaz, um goleador nato temido pelos adversários e muito estimado pelos seus adeptos e companheiros. Uma das suas habilidades tem sido ao longo da sua carreira a marcação de livres, com a grande concentração e a encenação Olímipica de um atleta. Ronaldo fez do futebol um jogo espetáculo com habilidades artísticas inequívocas.
Tal como os atletas da Hélade eram considerados heróis, Cristiano Ronaldo deve ser evocado pela pátria lusófona como um herói, pois os vencedores nos jogos olímpicos na Antiga Grécia poderiam receber homenagens das suas pólis, alimentação gratuita, terem estátuas erguidas e serem exaltados pelos poetas. O movimento do pontapé de bicicleta de Ronaldo frente à Juventus merecia uma estátua parecida com a que representa o atleta grego a lançar o disco, conhecido como discóbolo, ou um poema como aquele que Manuel Alegre dedicou a Luís Figo.
No fim da temporada 2017/18 ameaçou sair do Real Madrid por falta de empatia com o presidente do clube e falta de apoio na questão das suas dívidas fiscais ao Estado Espanhol. Ao longo da sua carreira profissional de 2003 a 2018 tem batido muitos recordes desportivos, apesar da sua carreira desportiva ainda ter possivelmente alguns anos na montra do futebol mundial. Os números milionários que o rodeiam, primeiro na contratação nunca vista do Real Madrid ao Manchester United pelo preço de 94 milhões de euros deixou o mundo estupefacto.
Fez parte, como promessa do futebol, da Seleção Portuguesa, com Luís Figo e outras estrelas da “geração de ouro”, que chegou a finalista do Euro 2004. Desde este período cresceu muito como jogador e como homem, retivemos as lágrimas que soltou na Final do Euro 2004 e a atitude de fair-play com Edinson Cavani no jogo dos oitavos de final de Portugal contra o Uruguai no Campeonato do Mundo de 2018.
Desde 2008 a 2017 tem sido várias vezes premiado como o melhor jogador do mundo pela FIFA e ganhou várias bolas e botas de ouro, atríbuídas por periódicos da imprensa desportiva.
Em 8 de janeiro de 2009, Ronaldo teve um mediático acidente de carro com o seu Ferrari, 599 GTB Fiorano, num túnel perto de Manchester, tendo saído do incendente com ferimentos de pouca gravidade.
Neste início de julho de 2018, Ronaldo parece ter feito as malas para representar a Juventus, numa nova transferência astronómica de 100 milhões de euros, sendo este já o quarto clube de prestígio que irá defender, os outros foram o Sporting Clube de Portugal, o Manchester United, o Real Madrid e agora a Juventus, onde certamente acabará a sua carreira de futebolista. A transferência de Ronaldo para a Juventus está fazer subir em flecha o valor das ações do clube de futebol de Turim.
Por que razão é já um herói da Pátria lusófona ? As suas habilidades inatas e a condição física ímpar, fruto de treinos muito esmerados e grande profissionalismo, fizeram dele um jogador de exceção. Estes fatores fizeram-no um artista, criativo com a bola, que fez vibrar milhões de adeptos do futebol de todo o mundo. Quando CR7 marcou este ano de um atlético pontapé de bicicleta à Juventus a uma altura de 2,38 metros deixou os espetactadores da Juventus embasbacados e a ouvacionarem o atleta adversário de pé pelo seu feito invulgar. O jornalista desportivo Rui Santos considera que esta transferência não foi a mais benéfica para a projeção mundial de CR7.
Ronaldo levou, muitas vezes, às costas o Sporting, o Manchester United, o Real Madrid e a Seleção Portuguesa, catapultando os clubes da Inglaterra e da Espanha para estrelato máximo com a conquista de várias Ligas dos Campeões e permitindo a Portugal vencer o Euro 2016, num feito inédito do futebol luso.
De 2007 a 2018 tem estado na ribalta do futebol mundial, tendo feito o seu primeiro hat-trick a 12 de janeiro de 2008 pelo Manchester United contra o New Castle e o seu último hat-trick frente à Seleção Espanhola no Campeonato do Mundo de Futebol de 2018. Ronaldo passou a exercer uma força anímica indispensável no Real Madrid e na Seleção Portuguesa, nos últimos anos.
Ronaldo já tem um busto no aeroporto do Funchal e uma merecida condecoração honorífica de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique atribuída pela Presidência da República Portuguesa em 2014. Portugal continua a ser, como o reconhece Rui Proença Garcia[1], um país de Fátima, do Fado e do Futebol, como uma das marcas indeléveis da sua identidade coletiva. Por isso, não admira que CR7 terá um lugar reservado no Panteão Nacional, dado que espalhou o seu nome e o do país pelos 7 cantos do mundo. Nos últimos anos tem disputado com o argentino Lionel Messi o título de melhor jogador do mundo. Em 15 de dezembro de 2015, Ronaldo inaugurou o Museu CR7 no Funchal. Superou em prestígio internacional Eubésio da Silva Ferreira e Luís Figo, só podendo comparar-se na sua projeção mundial com Pelé.
Em suma, Ronaldo não se limita a ser um futebolista com habilidade, mas um atleta com um génio artístico, que soube fazer render os seus talentos e deixar a Humanidade estupefacta perante as suas proezas desportivas, fazendo lembrar os atletas herocizados da Grécia Antiga.
_________________
[1] Rui Proença Garcia, “Fátima, Futebol e Fado: uma leitura contemporânea”, in Brotéria –Cristianismo e Cultura, vol. 186, maio/junho de 2018, pp. 631-653.
A 23 de maio de 2018 assinalam-se os 20 anos sobre a realização da Expo 98, certame internacional no contexto inicial da globalização, em que se celebrava o V Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Este evento motivou o nome atribuído à segunda ponte sobre o Tejo da cidade de Lisboa, com o navegador responsável pelo feito – Vasco da Gama e que foi inspirado - e muito melhor planeado - na Expo Sevilha 92, que registou publicamente a descoberta das Antilhas por Cristovão Colombo.
A Expo 98 veio a modernizar uma zona ribeirinha de Lisboa marcada pela paisagem industrial, permitindo aos cidadãos uma maior proximidade vivencial com o rio Tejo. António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura idealizaram este certame internacional, que renovou a paisagem urbanística de Lisboa. De uma cidade de traçado e de perfil tradicional em termos urbanísticos e arquitectónicos, não obstante as erupções modernistas de Porfírio Pardal Monteiro, transformou-se numa cidade com um pólo muito modernista, que veio a designar-se de Parque das Nações.
O crescimento da cidade de Lisboa, em direção ao interior, desde o início do século XX, com o surgimento das Avenidas Novas durante o Estado Novo e com bairros novos no fim do regime da ditadura e no início do regime democrático levou os lisboetas, alfacinhas, a virarem as costas ao rio.
Contudo, Lisboa tem duas faces inequívocas: a zona litoral ligada ao Império Colonial Português e à expansão marítima e a zona interior, que confina com a “região saloia”, hoje transformada em área metropolitana da capital com cidades-satélite e localidades autênticos dormitórios, em que as casas se debruçam sobre os campos, aproveitando o facto para fazerem pequenos quintais de produtos hortícolas, como bem o frisou o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles na sua definição da identidade alfacinha da cidade de Lisboa.
Tal como a Expo 98 possibilitou a renovação da área urbana na zona oriental de Lisboa, também em 1940 a zona de Belém, que se encontrava bem degradada com um hediondo parque industrial, foi nobilitada pela realização de arranjos urbanísticos no seio da Exposição do Mundo Português.
A exposição internacional do fim do século XX foi o motivo para a renovação urbanística deste espaço da capital portuguesa, tendo tirado partido dos ensinamentos advindos da Expo de Sevilha de 1992, em que o recinto de exposições se volveu num espaço fantasma, abondonado ao vento e aos insectos.
Na Expo 98 edificaram-se pavilhões efémeros de vários países, mas também foram construídos vários edifícios perduráveis como o antigamente denominado Pavilhão Atlântico, o Pavilhão de Portugal ou o Oceanário, entre outros.
Na Exposição do Mundo Português a maioria dos pavilhões, como são os casos do Pavilhão da Formação e Conquista, do Pavilhão da Independência e do Pavilhão dos Descobrimentos, foram construídos em materiais efémeros e apenas alguns persistem como o denominado Museu de Arte Popular e o Padrão dos Descobrimentos, este edificado de forma definitiva em 1960 para assinalar o V Centenário da morte do Infante D. Henrique e a própria Praça do Império.
A Exposição do Mundo Português, que foi inaugurada a 23 de junho de 1940, em pleno contexto da 2ª guerra mundial com a Europa sob o jugo nazi, decorreu no contexto nacionalista do regime de António de Oliveira Salazar, celebrando, concomitantemente, as datas de 1140 e de 1640 ligadas à independência portuguesa do reino e à restauração da soberania nacional após o domínio Filipino. O espaço industrial de Belém foi transformado em espaço urbano, que com o decorrer das décadas do século XX se assumiu como um espaço nobre de manifestações públicas e, igualmente, um lugar privilegiado do turismo cultural.
As fontes históricas conhecidas não permitem datar, com exatidão, a chegada dos portugueses às ilhas de Porto Santo e da Madeira, havendo divergências na historiografia sobre a data deste acontecimento desde o século XIX. As autoridades madeirenses preferiram comemorar a descoberta oficial de Porto Santo, em 2018, com base numa versão historiográfica da datação, que não recolhe o consenso dos peritos.
João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo foram os navegadores responsáveis pelo achamento destas ilhas atlânticas, que se encarregaram também do seu povoamento inicial.
As ilhas da Madeira e de Porto Santo eram conhecidas desde o século XIV, como o provam documentos cartográficos, segundo os estudos de Armando Cortesão, mas foi, efectivamente, por volta dos anos de 1418-1420 que foram descobertas oficialmente. Assim, na cartografia estrangeira do século XIV aparece já a toponímia de origem portuguesa nestas ilhas atlânticas.
Sendo certo que, desde 1425, os seus territórios começaram a ser povoados, apenas nas décadas de 1440 e de 1450 se constituíram as capitanias-donatarias de Machico, do Funchal e de Porto Santo, atribuídas pelo Infante D. Henrique àqueles navegadores, com amplos poderes de administração civil, criminal e económica, configurando, no fim da Idade Média, um autêntico regime senhorial.
A ilha da Madeira constituiu-se ainda no século XV como uma importante plataforma comercial. Nesta atividade mercantil avultaram, como principais produtos de exploração silvícola e agrícola, a madeira, o pastel e a urzela como plantas tintureiras, o trigo, o vinho e o açúcar.
Nos primeiros anos do segundo quartel da centúria, afirmou-se o trigo como cereal escasso na metrópole e, a partir da década de 1470, o açúcar como o produto preponderante de comercialização.
Como é consabido, a Madeira era conhecida dos navegadores portugueses desde o século XIV, mas na realidade já se efectuavam contactos marítimos com os territórios desde a Antiguidade, ou seja, desde o século VII a. C..
As navegações iniciais de Trezentos à Madeira encontram-se descritas em fontes históricas como a Relação de Francisco Alcoforado, do primeiro quartel do século XV, o escrito de Gaspar Frutuoso As Saudades da Terra, do fim do século XVI, e a Crónica dos Feitos da Guiné de Gomes Eanes de Zurara.
É bastante provável que a descoberta oficial da Madeira tenha acontecido no contexto das navegações atlânticas, ao longo das costas do Norte de África, por ação de ventos e de correntes marítimas inusitadas.
A 28 de março de 2018 irá ser apresentado o novo número da revista Nova Águia (nº 21, 1º semestre de 2018) na Sociedade de Geografia de Lisboa às 16 horas e 30 minutos, depois de ser atribuído o Prémio Personalidade Lusofóna 2017 pelo Movimento Internacional Lusófono a Manuel Araújo, com a presença do Diretor da revista, Renato Epifânio.
Este novo número da revista não se centra em nenhum núcleo temático, mas nele se evocam figuras incontornáveis e contemporâneas da cultura portuguesa como sejam: o escultor José Rodrigues, recentemente falecido; o investigador e político Fidelino de Figueiredo no cinquentenário da sua morte; o jornalista e o escritor Raul Brandão e o poeta António Nobre e ainda surgem na publicação textos inéditos da escritora e ensaísta Dalila Pereira da Costa no centenário do seu nascimento, do escritor e filósofo Agostinho da Silva e do filósofo e professor José Enes.
Os colaboradores da revista representam diferentes espaços geográficos, jazendo jus à partilha cultural no espaço lusófono, mas também se celebram em todos os números inúmeras figuras da cultura portuguesa e lusófona, designadamente porque a língua portuguesa é o elemento vital desta identidade afetiva e cultural comum.
A revista Nova Águia nasceu em 2008, pelo que conta dez anos de uma vida dinâmica, tendo aparecido no seio da crise profunda que abalou a Europa e Portugal no fim da primeira década do século XXI, tendo uma identidade lusófona ligada à corrente da filosofia portuguesa e à figura tutelar de Agostinho da Silva, pelo que tem uma difusão de leitores no espaço geográfico da lusofonia.
Na Nova Águia colaboram habitualmente também dezenas de ensaístas em todos os números, entre os quais saliento como mestres Adriano Moreira, António Braz Teixeira, João Bigotte Chorão, Miguel Real, Pinharanda Gomes, Samuel Dimas e Renato Epifânio, que atualmente a dirige em conjunto com outros colaboradores. Esta revista tem uma periodicidade semestral, contando habitualmente com cerca de 30 a 40 artigos, com um conjunto de recensões críticas e com inúmeros poemas.
A sua fonte de inspiração é a revista A Águia, uma importante revista cultural do início do século XX (1910-1932), em Portugal, que congregou muitas figuras de destaque das Humanidades, das Artes e das Ciências com distintas mundividências que veicularam visões plurais.
Sobressaíram na História Cultural Portuguesa, no conjunto dos inúmeros colaboradores desta revista, intelectuais como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Hernâni Cidade, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, António Sérgio, etc. A revista nos seus 22 anos de vida comportou temas literários, artísticos, filosóficos e de crítica cívica, que tanto inspiram os fundadores e colaboradores da Nova Águia.
A revista e o Movimento Internacional Lusófono estão vinculados a múltiplos eventos cívicos e culturais, sendo promotores ou co-promotores de iniciativas como os Congressos da Cidadania Lusófona, a atribuição do Prémio Personalidade Lusófona atribuído pelo MIL nos últimos anos e a múltiplos Colóquios de diversas instituições culturais e académicas, que surgem divulgados nas respectivas páginas da internet.
“Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram falar de conflito entre Fé e Ciência. (...) Ora, à medida que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente de equilíbrio – não eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver de se resolver o conflito."
Teilhard de Chardin, O fenómeno humano
Pierre Teilhard de Chardin afirmou-se no mundo como um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês, nascido em França no último quartel do século XIX, que procurou ter uma visão conciliadora da ciência e da fé cristã, na senda dos trabalhos inconclusivos do Concílio Vaticano I (1869-1870). Esta proposta surgiu no seio de um contexto claramente anticlerical, no início do século XX. No entanto, a sua atitude de compaginar as duas perspetivas foi mal recebida pela Igreja Católica e pelos setores republicanos laicos.
A adversidade com que foi acolhida a sua perceção teológica levou a Igreja Católica a proibi-lo de lecionar nas suas escolas e de publicar as suas obras teológicas. Os seus polémicos pontos de vista sobre o pecado original originaram uma censura da Igreja Romana até aos anos 70 do século XX, pelo que só nos últimos Pontificados de S. João Paulo II, Bento XVI e Francisco houve um reconhecimento pleno do valor da sua obra teológica.
Educado numa família fortemente católica, Chardin entrou na Companhia de Jesus, como aprendiz, em 1899. No seu país, sofreu num ambiente fortemente anticlerical, o que o obrigou a prosseguir estudos em Inglaterra, onde se licenciou em 1902, em filosofia e em letras. Em 1911 foi ordenado sacerdote. Nos anos de 1912 a 1914 tirou o curso de Paleontologia, no Museu de História Natural de Paris, permitindo-lhe desenvolver pesquisas científicas, tendo visitado em Espanha as pinturas murais pré-históricas de Altamira.
Foi mobilizado para os contingentes da 1ª Guerra Mundial como carregador de macas e capelão nas trincheiras. Nas frentes de batalha, nesse contexto histórico infernal, escreveu textos místicos, onde se cruzam conhecimentos científicos, filosóficos e teológicos. De facto, este jovem cientista jesuíta, na qualidade de maqueiro, conseguiu conceber uma verdadeira mística cristã.
Exprime a sua fé inabalável no complicado contexto da guerra das trincheiras, de modo que os seus escritos de guerra vão ser a base concreta do seu pensamento místico com os ensaios Meio místico, de 1917, e Meio divino de 1926-1927. É espantoso que no cenário de guerra tenha delineado uma mística cristã, que o terá ajudado a manter o equilíbrio psíquico e humano. Esta sua capacidade invulgar irá fazê-lo revelar-se um grande intelectual e escritor cristão[1].
Nestes testemunhos vivenciais, vemo-lo valorizar as competências contemplativas perante a arte e a natureza. Na realidade, o seu sentido místico procurou perante o caos exterior pontos internos de estabilidade, de paz e de Absoluto. Tal como a espiritualidade de Santo Inácio de Loyola, também a de Chardin faz sobrevir a presença de Deus no coração humano, nos momentos de sucesso e de fracasso na vida.
Segundo o seu entendimento, a verdadeira prova de fé emerge nos momentos de crise, dando ao Homem vitalidade nesses momentos difíceis. Só em Deus o Homem encontra o sentido da sua existência terrena, daí o vácuo niilista e o aspeto pernicioso do secularismo no mundo contemporâneo. E, na verdade, um projeto de vida cristã enforma exigências éticas. O ser místico no seu pensamento vive a presença divina em todas as suas circunstâncias existenciais, reinventando uma vivência mística, não como fuga ao real, mas como imersão do divino no concreto da existência.
Na sua conceção, a instauração do “Reino de Deus” só é possível com uma ação mística na concretude da realidade do mundo. Apenas o espírito divino encaminha, de forma transformadora, as atitividades humanas. O místico para Teilhard de Chardin deve unir-se a Deus, mas empenhar-se na vida quotidiana para que consiga uma dinâmica edificadora do “Reino de Deus”.
Por outras palavras, no seu pensamento sustenta uma mística da ação, que não relega para o plano secundário a contemplação pois a mesma parte do encontro com Deus. Este misticismo opera sob o espírito de Deus para se converter numa ação humana, o que antecipa o rumo orientador do Concílio Vaticano II. Ele tornou-se num místico pela experiência vivida, como luz divina, no terrível turbilhão da 1ª Guerra Mundial. Este sentido da sua espiritualidade depreende-se da seguinte passagem do estudo de Michel Renaud:
“(...) Aqui estamos no coração da mensagem cristã e no momento culminante da experiência mística de Teilhard. Com efeito, uma nova inversão de atitude surge para o ser humano – Teilhard diria: para a alma – que procura com toda a sua ação unir-se ao Princípio divino mediante a transformação do mundo. (...)”.[2]
Após a Grande Guerra, continuou os estudos, tendo-se doutorado, a 22 de março de 1922, na Universidade da Sorbonne com a tese Os mamíferos do oceano inferior francês e seus sítios. Nos anos 20 tornou-se professor de Geologia no Instituto Católico de Paris.
Como teólogo aceitou a teoria evolucionista darwinista e procurou fazer uma síntese entre a ciência e a fé cristã. Em 1922, escreveu umas observações sobre o pecado original, que causaram intenso escândalo na Santa Sé, tendo sido acusado por esta de dissidente doutrinário, obrigando-o a abandonar a docência universitária em Paris e a refugiar-se na China. Em Pequim, realizou diversas expedições paleontológicas e colaborou na descoberta de um hominídeo fossilizado, chamado homem de Pequim. Neste país, escreveu nos anos seguintes as suas principais obras teológicas O meio divino e O fenómeno divino.
Devido ao seu grande prestígio intelectual internacional, em 1948 foi convidado a lecionar no Collège de France, apesar da pressão dissuasora do Vaticano que o terá proibido de lá lecionar. Acabou por leccionar na Universidade da Sorbonne, dando estímulo à elaboração da obra O grupo zoológico humano. Em 1950, foi eleito membro da Academia de Ciências de Paris, mas o Papa Pio XII criticou o teor das suas ideias teológicas.
Nos anos 50 mudou a sua residência para Nova Yorque, onde acabou por falecer em 10 de abril de 1955. Deixou um vasto legado científico em livros e artigos de revistas especializadas. De 1955 a 1976 as Éditions du Seuil editaram as obras completas de Teilhard de Chardin, que foram ainda traduzidas para diversas línguas.
Em 12 de maio de 1981 e durante a comemoração do centenário do seu nascimento, a Igreja Católica reconheceu o valor da sua obra teológica, que a partir de então incorporou as suas ideias no seu corpo discursivo. Existe uma evidente correlação entre a sua visão de paleontólogo e a sua perceção filosófica, teológica e mística, respeitante à evolução do Universo do início até ao despertar da consciência humana, devendo esta dialéctica desembocar no “Cosmo como hóstia viva”, como relembrava Bento XVI.
Em suma, Teilhard de Chardin concebia um panenteísmo cósmico em que Deus e o Universo se interrelacionam, favorecendo assim a evolução global. Entre as suas principais obras teológicas contam-se Ciência e Cristo, O fenómeno humano e O meio divino.
______________
[1] Michel Renaud, “Teilhard Chardin em 1917: das trincheiras à génese de um Pensamento Místico”, in Brotéria – Cristianismo e Cultura, volume 185, dezembro de 2017, pp.1037-1064.
O bom senso é um conceito ligado à percepção intuitiva de razoabilidade, que faz as pessoas prever as consequências das suas ações, instigando-as a bons julgamentos e a boas escolhas.
Segundo o filósofo grego Aristóteles, o bom senso era a condição indispensável para uma conduta ética e esta passaria por achar o meio termo entre hipóteses eventualmente antagónicas. Deste modo, o bom senso é a capacidade humana espontânea de fazer o que é mais correto, mas dentro de certos procedimentos considerados normais pela maioria das pessoas. Será que Donald Trump, Kim Jong-un, Pedro Pablo Kuczynski, Mariano Rajoy e Jimmy Morales estão a revelar atitudes sensatas, patenteando bom senso?
O Presidente Donald Trump decidiu, sem qualquer bom senso, transferir a embaixada dos EUA para Jerusálem e reconhecer, unilateralmente e à revelia da comunidade internacional e das Nações Unidas, esta cidade como capital de Israel para grande júbilo de Benjamin Netanyahu. Para Israel, Jerusalém tem sido a capital do Estado judaico, mas sem que tenha havido um reconhecimento internacional desta situação. Os EUA e a Guatemala transformaram-se, até ao momento, nos únicos países do mundo a fazer este reconhecimento.
O conflito israelo-palestiniano parece entroncar na fundação de Israel, em 1948, arrastando-se in illo tempore, pelo que lançar mais achas para a fogueira não parece ser de bom senso... Isto porque Israel considera Jerusalém, cidade santa, a sua capital, mas também os palestinianos, que aspiram à criação do seu próprio Estado, sustentam que Jerusalém-leste deverá ser a capital deste eventual futuro Estado Palestiniano. A falta de razoabilidade desta decisão de Donald Trump está no facto do estatuto de Jerusalém dever ser definido em negociações entre os israelitas e os palestinianos, como o consagram diferentes resoluções da ONU.
No absurdo discurso do início de dezembro de 2017, Donald Trump defendeu o direito de Israel e da Palestina de coexistirem, futuramente, como dois Estados soberanos e que tudo fará para ajudar a implementar uma solução pacífica. No entanto, as consequências previsíveis dum agravamento da tensão entre israelitas e palestinianos fizeram-se sentir, de forma bem visível, na comunicação social, logo após o insensato anúncio do Presidente dos EUA.
Porém, após a sua declaração formal é que apelou à calma e enviou o seu vice-presidente em viagem ao Médio Oriente. Este parece ser um exemplo significativo do que é a falta de bom senso nas relações internacionais.
Historicamente, a comunidade internacional nunca reconheceu Jerusalém como capital de Israel, porque Jerusalém oriental foi ocupada militarmente em 1967 pelo Estado Judaico, mas continua a ser reclamada pela Autoridade Nacional Palestiniana e mantém-se, por isso, como motivo de controvérsia o seu estatuto e constitui um dos principais impedimentos ao processo de paz no Médio Oriente.
Em 2017, também o mundo acordou assustado com a capacidade de hostilidade nuclear da Coreia do Norte, que criou uma poderosa bomba de hidrogénio, cuja experiência provocou abalos sísmicos nas zonas limítrofes. Kim Jong-un vem ameaçando que esta bomba nuclear pode ser colocada num míssil balístico intercontinental, podendo atingir grandes distâncias. Com as recentes experiências, no verão deste ano, a Coreia do Norte tem assustado os seus vizinhos e a comunidade internacional.
A tensão entre os EUA e a Coreia do Norte tem sido protagonizada pelos seus exuberantes e erráticos líderes, com atitudes provocatórias muito perigosas, as quais revelam a falta de sensatez destes dois protagonistas políticos da História da Humanidade.
Na Catalunha, o referendo de 1 de outubro de 2017, relativo a uma eventual independência do território, mostrou uma vontade inequívoca dos cidadãos catalães, que se deslocaram às urnas, de se emanciparem de Espanha. Mariano Rajoy reagiu com mecanismos opressivos, decidindo ilegalizar o referendo e depois destituir o Governo da Catalunha, no sentido de impedir a fragmentação do Estado Espanhol, uma vez que sabemos que a Espanha é formada por um conglomerado de nações.
No entanto, a tensão entre a Catalunha e Madrid revelou uma clara falta de lucidez, de bom senso se quiserem, uma vez que em democracia as questões políticas devem ser resolvidas pela via do diálogo e da auscultação das populações. Com as eleições de 21 de dezembro de 2017, este problema, amplificado pela insensatez de Mariano Rajoy, encontra-se longe de estar resolvido.
O Presidente do Peru, Pedro Kuczynski, evidenciou, também, grande falta de bom senso na sua atuação recente, porque indultou o antigo presidente Alberto Fujimori, sob o pretexto de uma saúde debilitada, quando pelo meio se suspeita que tenha havido negociações políticas para a manutenção do atual Presidente. Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão por violação dos Direitos Humanos e por corrupção financeira como Presidente do Peru. Este indulto desencadeou manifestações públicas de milhares de pessoas e mesmo confrontos físicos dos contestatários com a polícia.
Em suma, verificamos que sem o bom senso dos protagonistas políticos e económicos internacionais a paz e a justiça no mundo continuarão a ser miragens, apenas acessíveis aos discursos da ONU, das igrejas e dos filósofos. O Papa Francisco colocou, no centro da sua mensagem Natalícia neste dezembro de 2017, o sofrimento dos povos que estão sujeitos a crises, a guerras e a conflitos, e as crianças e os inocentes que arrastados por estes problemas se tornam, infelizmente, suas vítimas.
Contudo, o bom senso tem de emanar dos cidadãos para que possa chegar a contaminar positivamente a consciência errática dos líderes mundiais. E um exemplo disso foi o caso flagrante de mau senso, que colocou em causa a justiça social na cidade de Lisboa com uma loja da Padaria Portuguesa, da freguesia da Graça, a deitar no lixo um conjunto de bolos-reis, que podiam ser dados a pessoas mais carenciadas, o que justamente indignou a consciência de muitos concidadãos nas redes sociais.
A Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, insere-se no contexto internacional da guerra fria, no momento em que a Correia do Norte de ideologia marxista invadiu a Coreia do Sul, a 25 de junho de 1950, mas os Estados Unidos, com a anuência das Nações Unidas, vieram em socorro da Coreia do Sul. Por sua vez, a China e a URSS posicionaram-se do lado da Coreia do Norte.
Desde 1945 que as tropas dos EUA ocuparam o sul da península coreana. E logo, em 1948, a Coreia, no contexto do conflito ideológico marxismo-capitalismo, separa-se em dois Estados rivais, um de influência norte-americano a sul e outro de influência soviética a norte. As fronteiras entre as duas Coreias eram encaradas como efémeras. Quando a Guerra da Coreia teve início, a ONU condenou a invasão do exército do Norte e considerou-a ilegal, pelo que enviou um contigente de capacetes azuis para restabelecerem a paz na região.
Apesar de no início a Coreia do Norte estar em vantagem militar, os aliados da Coreia do Sul impuseram, posteriormente, algumas derrotas às forças Norte-Coreanas. Os EUA e os seus aliados conseguiram empurrar as tropas Norte-Coreanas para trás das suas fronteiras iniciais, o que motivou a intervenção militar da China ao lado da Coreia do Norte, dando algum equilíbrio às forças no terreno.
Nos anos de 1951 e de 1952, manteve-se uma guerra de pequenos incidentes em terra mas com uma firme resistência na linha divisória do Paralelo 38. Por outro lado, a guerra aérea intensificou-se com os EUA a submeterem as cidades norte-coreanas a bombardeamentos constantes e a península a ser alvo de combates de caças a jato entre as forças beligerantes. Este foi um dos primeiros episódios da guerra fria, em que os pilotos estrangeiros do mundo comunista e do mundo capitalista vinham em auxílio dos seus aliados político-ideológicos. Nesta Guerra da Coreia destacaram-se várias batalhas aéreas na zona chamada Alameda dos Migs, onde muitos aviões foram abatidos e ceifadas inutilmente 4 milhões de vidas.
A Guerra terminou em 27 de julho de 1953, com a assinatura dum periclitante armísticio. Todavia, este acordo prévio não desencadeou nenhum tratado de paz, apenas se estabeleceu uma zona desmilitarizada de separação das duas Coreias, pelo que, por definição, ambas permanecem na atualidade em guerra, arrastando-se as hostilidades fronteiriças e das cúpulas políticas.
Em 2017, o mundo acordou assustado com a capacidade de hostilidade nuclear da Coreia do Norte, que criou uma poderosa bomba de hidrogénio, cuja experiência provocou abalos sísmicos nas zonas limítrofes. Kim Jong-un vem ameaçando que esta bomba nuclear pode ser colocada num míssil balístico intercontinental, podendo atingir grandes distâncias.
Com as recentes experiências, no verão deste ano, a Coreia do Norte tem assustado os seus vizinhos e a comunidade internacional. A tensão entre os EUA e a Coreia do Norte tem sido protagonizada pelos seus exuberantes e erráticos líderes, com atitudes provocatórias muito perigosas. Isto deu lugar à atribuição pela Academia Sueca do Prémio Nobel da Paz de 2017 à instituição ICAN.
A tensão EUA-Coreia do Norte não é nova pois advém já do contexto da guerra fria, agudizando-se essa tensão desde a tomada de posse de Donald Trump. Algumas fricções têm percorrido a segunda metade do século XX, como aconteceu, em 1968, quando a Coreia do Norte capturou um navio norte-americano chamado USS Pueblo e, no ano seguinte, quando derrubou um avião de reconhecimento norte-americano. No fim de século, o líder Kim Jong-il, sucessor dinástico do regime setentrional coreano, prometeu desmantelar o seu programa nuclear, mas, na verdade, passado algum tempo o seu país experimenta um míssel balístico de longo alcance.
A tensão internacional exacerba-se mesmo depois da guerra fria, quando George W. Bush, na era do terrorismo global, declara como trilogia demoníaca - o Iraque, o Irão e a Coreia do Norte - que rotula de “Eixo do Mal”, por suspeitas de encobrirem atividades terroristas. Este fator potenciou a intensificação do programa nuclear norte-coreano, como estratégia preventiva de defesa do país em face de um eventual ataque hostil dos EUA.
Em 2008, os EUA, e ainda durante a administração Bush, reconhecem que a Coreia do Norte não apoia fenómenos terroristas, mas continua a exigir o controlo dos equipamentos nucleares do país. Apesar de este facto amenizar a tensão, continuou a haver acontecimentos nefastos neste ambiente de crispação, designadamente com a detenção na Coreia do Norte de vários norte-americanos.
Com King-Jong-un e a liderança de Donald Trump, a tensão internacional com os EUA voltou a reemergir no plano mundial. Há, assim, um pré-conflito que tem uma dimensão histórica e ideológica inegável, uma vez que o líder norte-coreano pretende exacerbar o ódio ao inimigo externo para poder unir o seu povo em volta da necessidade de construir armas nucleares.
Ao mesmo tempo, Trump tem ameaçado a Coreia do Norte, acentuando-se, em agosto e em setembro de 2017, este clima de hostilidade, em que a comunidade internacional chegou mesmo a temer o início de uma guerra nuclear, de efeitos previsivelmente catastróficos para a região e o mundo.
Desde 2006 que o regime norte-coreano tem feito testes nucleares e a ONU tem deliberado sanções, ao nível do embargo de armas e de natureza económicas, sobre o país, o que tem prejudicado bastante a economia do país e agravado ainda mais a miséria da população.
A Coreia do Norte intimida a comunidade internacional pelo seu programa nuclear e pelos seus testes nucleares provocatórios aos países vizinhos (Coreia do Sul e Japão) e o seu isolamento internacional também vem criando temores no mundo dos nossos dias, uma vez que pouco se conhece sobre o país e o seu singular líder, que detém um poder ditatorial individual.
Será que o início de um eventual conflito nuclear, entre a Coreia do Norte e os EUA e os seus aliados, configurará uma 3ª guerra mundial?
Este conflito não parece configurar uma guerra mundial, embora possa ter um impacto ambiental mundial pela irradiação dos gases tóxicos na atmosfera, dado que os especialistas julgam que não há condições para a formação de duas alianças militares rivais, como aconteceu na 1ª e na 2ª guerras mundiais. Seria, deste modo, um conflito de âmbito regional, possivelmente circunscrito à Ásia, mas que teria, obviamente, um impacto catastrófico sobre o nosso planeta.
Em suma, sair desta situação de tensão internacional é crucial. Para isso a mediação da UE ou da China num diálogo diplomático entre as partes hostis pode ser um caminho efetivamente recomendável e a recente passagem de Donald Trump pela China indica que esta estratégia estará em curso. Contudo, o afastamento total desta ameaça de guerra só será possível fazendo sair a Coreia do Norte do impasse em que se meteu, isto é, apesar de ter conseguido um progresso militar e nuclear bastante significativo, a sua população vive num estado económico deplorável e de grande opressão dos seus Direitos Humanos.