LUÍSA TODI (1753-1833) UM DOS EXPOENTES DO CANTO LÍRICO PORTUGUÊS
Luísa Rosa Aguiar Todi foi uma grande cantora lírica portuguesa de projecção internacional do fim do século XVIII, que tem estado bastante olvidada da memória colectiva, não fosse a sua terra natal, Setúbal. Tem sido considerada, pelos musicólogos, na ópera meio-soprano, tendo alcançado uma invulgar expressão lírica em libretos em francês, em inglês e em italiano. Desde cedo revelou as suas prodigiosas qualidades vocais, estreando-se aos 14 anos no teatro declamado numa peça de Molière em Lisboa.
Aos 16 anos casa-se com o violinista italiano Francesco Saverio Todi, que lhe permite aperfeiçoar os seus dotes vocais com aulas que recebeu do compositor David Perez, que se encontrava ao serviço da Corte Portuguesa. De 1777 a 1799 tem uma carreira fulgurante, brilhando em inúmeras cidades estrangeiras cosmopolitas (Londres, Paris, Turim, Potsdam, Viena, Bona, Veneza, Pádua, Bergamo, Sampetersburgo, etc.). Num dos seus itinerários artísticos terá sido ouvida em Bona por Ludwig Van Beethoven que se apercebeu do seu imenso virtuosismo.
A imperatriz, Catarina da Rússia, chama-a para a ouvir e depois de lhe reconhecer as raras qualidades líricas nomeia-a professora de música das suas filhas. Ao enviuvar, em 1801, perde o ente amado e seu programador artístico e, na verdade, as suas atuações públicas quase que desaparecem.
Nesta altura, já regressada a Portugal, depois de ter sido estrangeirada por longos anos, fixou residência na cidade do Porto. Anos mais tarde, aquando das invasões francesas, em 1809 ao tentar a travessia do rio Douro, em Ponte das Barcas, cai no leito do rio, salvando-se a custo, e perde muito dos seus bens no momento em que procura salvaguardar o seu valioso património pessoal, inclusivamente algumas jóias que lhe tinham sido oferecidas pela Catarina da Rússia, do saque e do roubo a que as tropas francesas estavam a levar a cabo por todo o país.
No fim da vida acabará por ficar cega e passará por dificuldades financeiras na cidade de Lisboa, onde passou a viver, o que desmente o provérbio popular de que “a sorte protege os audazes”. É legítimo reconhecer o seu indesmentível papel na História da Música, uma vez que levou e elevou o nome de Portugal a decibéis de harmoniosa sonoridade.
Provavelmente, a ausência da Corte Portuguesa no Brasil devido à ameaçante perda de independência nacional terá feito com que os seus dons tenham sido desperdiçados a par do facto do marido ter perecido prematuramente. Em conclusão, é, por isso, legítimo reconhecer o seu inestimável valor artístico na cultura musical europeia e custa perceber o aviltante esquecimento a que tem sido votada.
Nuno Sotto Mayor Ferrão