Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Francisco José Vieira Machado (1898-1972), filho do general Francisco José Machado, licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa em 1919. Posteriormente, tirou em Paris um Curso de Ciências Económicas que lhe permitiu ser integrado nos quadros do Banco Nacional Ultramarino e alçar-se a banqueiro de instituições financeiras coloniais. Da sua carreira político-administrativa, durante o Estado Novo, salientou-se no cargo de Subsectretário de Estado das Colónias (1934-1936), de Ministro das Colónias (1936-1944) e de Governador do Banco Nacional Ultramarino (1951-1972).
De facto, foi ministro no período crítico da história universal em que se iria desenrolar a Segunda Grande Guerra (1939-1945). Na sua concepção ideológica, o reforço das relações económicas no espaço imperial foi decisivo no concretizar daquilo a que ficou conhecido pelos historiadores como “Pacto Colonial”, isto é, a interdependência económica dos produtos metropolitanos e coloniais. Pretendeu, no seu longo “consulado”, à frente da pasta das colónias que as matérias-primas das terras de "além-mar" fossem absorvidas pela metrópole e que os produtos manufacturados metropolitanos fossem consumidos nas colónias.
Em suma, procurar materializar o conceito de império na vertente económica da relação comercial entre a metrópole e as colónias. Deste modo, assume que as colónias estavam ao serviço dos interesses económicos metropolitanos. Foi neste sentido, que impôs limites ao crescimento industrial das colónias, que tornou obrigatórias algumas culturas agrícolas nas colónias, que reforçou o regime do trabalho forçado dos "indígenas", que procurou impulsionar a exploração dos produtos coloniais e garantir o mercado colonial como mercado privilegiado para o consumo dos produtos industriais metropolitanos através de um sistema aduaneiro filtrador do comércio externo[1].
Estas medidas técnicas tomadas por Francisco José Vieira Machado enquadram-se numa resposta à pressão sofrida por Portugal em Junho de 1937 na qual diversos autores estrangeiros contestam a nossa capacidade económica e legitimidade histórica de administrar as próprias colónias. Foi neste contexto histórico antecedente ao grande conflito mundial que a imprensa nacional e estrangeira invoca a possibilidade de algumas potências europeias pretenderem ceder territórios das colónias portuguesas à Alemanha e à Itália como forma de apaziguar os impulsos de expansionismo bélico de Adolfo Hitler e de Benito Mussolini.
A sua acção promotora da propaganda da ideologia colonial fomentou Congressos, Comemorações e Exposições Coloniais, das quais se destacou, nesta fase, a Exposição do Mundo Português de 1940, comemorativa do duplo centenário da nacionalidade (1140 e 1640) que permitiu a revalorização urbanística do sítio de Belém, à frente do Mosteiro dos Jerónimos, uma vez que essa zona estava ocupada por uma importante aglomeração industrial. Esta Exposição procurou patentear o mundo português, que se espraiava no tempo e no espaço, através dos diversos Pavilhões que rodeavam a Praça do Império, requalificando esteticamente essa área urbana de Lisboa.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
[1] João Carlos Paulo, “Franscisco José Vieira Machado”, in Dicionário de História do Estado Novo, vol. II, Lisboa, Editora Bertrand, 1996, pp. 535-536.
A 27 de Janeiro deste ano ( 2010) consumaram-se 65 anos sobre a libertação Aliada dos campos de concentração de Auschwitz. A carnificina do Holocausto nazi configurou o genocídio de 6 milhões de judeus. Só no campo número II Birkenau de Auschwitz morreu mais de um milhão de judeus. Foi, nesta medida, uma tragédia de assinalável proporção que levou à violação de múltiplos Direitos Humanos.
A ideologia nazi nasceu num contexto de crise económica, social e moral da Alemanha, ainda a assimilar as humilhações do Tratado de Versalhes. Aparece, assim, a ideia de um Estado Autoritário e Totalitário, de partido único ( Nazi ), com uma vontade nacionalista de expansão territorial. Contudo, a concepção racista foi prevalecente na ideia de que os alemães eram descendentes dos Arianos considerados uma raça superior às demais raças.
Deste princípio absurdo nasceu o sentimento anti-semita de ódio aos judeus propalado por Adolfo Hitler no seu livro “Mein Kampf”. Deste modo, após a sua ascensão política, em 1933, começam os maus tratos e as discriminações públicas aos judeus na Alemanha. Efectivamente, entre 1933 e 1945 as atitudes e comportamentos de desprezo pelas comunidades judaicas serão recrudescentes. Começou-se com o uso de braçadeiras com a estrela de David, distintivo judaico, e com leis raciais de discriminação social entre 1933 e 1935. Não tardou, no entanto, que se desencadeasse uma radicalização da discriminação em 1938, naquilo a que ficou conhecido na História por “noite de Cristal”, em que se encerraram sinagogas e lojas, se enviaram os primeiros judeus para os campos de concentração, se construíram guetos em cidades e se fuzilaram judeus.
A atitude discriminatória e de completo menosprezo dos Nazis pela dignidade e pela vida das comunidades de judeus, de ciganos e dos grupos de deficientes e de homossexuais representam uma grave violação de vários Direitos Humanos Fundamentais ( à vida, à igualdade e dignidade de todos os seres humanos, à proibição de formas de escravatura, de torturas e tratamentos cruéis e da prisão sem criteriosa justificação ).Foi, nesta conjuntura, que as Nações Unidas fizeram em 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos e no ano anterior tinham dado oportunidade à criação do Estado de Israel.
Os atrozes executores da purificação racial da “grande Alemanha” foram os agentes das SS ( polícia política ) liderados por Heinrich Himmler. Por um lado, instigavam à multiplicação dos genes pretensamente arianos e, por outro lado, tratavam do extermínio daquelas comunidades e daqueles grupos enunciados.
Este processo histórico de alienação colectiva conduziu ao “Inferno de Auschwitz” que começava com o degradante transporte dos prisioneiros em vagões de gado, sem quaisquer condições higiénicas. O caminho dos prisioneiros conduzia-os aos diversos instrumentos de extermínio utilizados sobre estes segmentos sociais ( câmaras de gás, campos de trabalho e fuzilamentos ). Era uma ironia, pejada de malícia e de perversidade, o slogan que encimava os portões de Birkenau – Auschwitz II: “o trabalho liberta”. Muitos prisioneiros iam na ilusão de desenvolver trabalhos forçados e só os mais perspicazes se aperceberam de que, realmente, o destino final era outro, daí que alguns tenham tentado fugir. Com efeito as pessoas que chegavam adoentadas eram encaminhadas para as câmaras de gás e, em seguida, ou queimavam os cadáveres em fornos crematórios ou utilizavam, de forma macabra, os restos dos mortos para fabrico de produtos ou, ainda, se serviam deles para a elaboração de experiências laboratoriais.
Em Janeiro de 1945, com a 2ª Guerra Mundial já perdida, as tropas Nazis fizeram uma prévia evacuação dos campos de concentração de Auschwitz, antes que chegassem as tropas Aliadas, neste caso soviéticas, para libertar a Europa do jugo Nazi. Finalmente, a 27 de Janeiro o exército Soviético libertou, por completo, os três campos polacos de concentração Nazis ( Auschwitz I, Birkenau e Monowitz ), de que se evocou este ano o sexagésimo quinto aniversário deste simbólico acontecimento histórico.
Em conclusão, não deve ser esquecido da memória colectiva da Humanidade este abominável acontecimento histórico ( o Holocausto ) e daí que as ruínas dos campos de concentração de Auschwitz tenham sido classificados como Património Cultural da Humanidade em 2002 pela UNESCO. Ao mesmo tempo, os notáveis e incomensuráveis filmes feitos sobre este fenómeno ( “A lista de Schindler”, “O pianista”, “A vida é bela” e muitos outros ) tem vindo a despertar a opinião pública para uma consciência moral que radique numa sabedoria histórica. Que nunca esqueçamos o horror que foi o Holocausto!