Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
A revista Nova Águia de publicação semestral e dedicada à cultura portuguesa e lusófona é composta por artigos de ensaio e por poemas, de autores com diferentes proveniências como Portugal, Cabo Verde, Brasil, Galiza, Itália, entre outros. Neste novo número, o 22, referente ao 2º semestre de 2018, colaboram 61 autores. A revista é apresentada, geralmente, a meio de cada semestre em março/abril e em outubro.
Neste último número, destacam-se 3 grandes temas: as comunicações ao V Congresso da Cidadania Lusófona; artigos sobre a humanista Dalila Pereira da Costa no Centenário do seu nascimento; e comunicações referentes ao V Centenário do nascimento do humanista Francisco de Holanda.
Da sua composição também fazem parte textos sobre várias outras figuras de relevo da cultura portuguesa como o pedagogo Manuel Ferreira Deusdado, o padre Manuel Antunes, o poeta Adolfo Casais Monteiro, o escritor António Quadros, o pensador Agostinho da Silva, entre outros. São, ainda, publicados dois textos inéditos de Agostinho da Silva e de António Telmo.
Na Nova Águia colaboram dezenas de ensaístas, entre os quais saliento como grandes autores de referência e sem qualquer menosprezo pelos demais, Adriano Moreira, António Braz Teixeira, José Eduardo Franco, Miguel Real, Pinharanda Gomes, Samuel Dimas e Renato Epifânio, que constituem as figuras tutelares da revista, pelos seus brilhantes percursos vivenciais ou académicos, na definição de uma filosofia portuguesa. No final do volume, apresenta-se um conjunto de recensões críticas e de poemas de grande interesse.
Esta revista, sendo ligada ao Movimento Internacional Lusófono, é uma homenagem a uma revista de cultura que surgiu na 1ª República, da necessidade de reerguer o valor da pátria portuguesa, intitulada A Águia, na qual colaboraram figuras eminentes ligadas ao movimento cultural e cívico intitulado Renascença Portuguesa, como Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, António Sérgio, Teixeira de Pascoaes, Raul Proença, Fernando Pessoa, entre outros escritores e pensadores.
Nesta presente revista existe uma recensão de livros da coleção Nova Águia da Editora Zéfiro, pois tal como a Renascença Portuguesa, que na segunda década do século XX criou uma série de publicações, também a Nova Águia dá nome a uma coleção desta editora com mais de 50 livros de autores individuais.
A estratégia editorial da Nova Águia consubstancia-se na difusão da cultura lusófona, espraiando-se por vários espaços ligados à língua e à cultura portuguesa e inspirando-se na sua predecessora já supramencionada. Esta procurou burilar durante mais de vinte anos (1910-1932) uma cultura patriótica em torno da identidade portuguesa, tão abalada com a crise da monarquia lusa desde a última década do século XIX, em tempos em que o analfabetismo grassava na população portuguesa.
Salienta-se que esta revista se carateriza pela evidente escassez de publicidade comercial, sendo a existente apenas ligada às atividades editoriais, ao contrário da maioria das outras revistas culturais portuguesas e do espaço lusófono. A tiragem da revista é, geralmente, de 1000 exemplares por número.
Em suma, a revista Nova Águia, numa sólida solução de compromisso, reflete sobre a identidade portuguesa na sua cultura, na sua língua e no seu pensamento, sem se esquivar ao contexto atual da globalização com a promoção de uma cultura lusófona, mediante os autores tratados, a proveniência diversa dos colaboradores da revista e os diferentes espaços da lusofonia, onde esta é apresentada.
Na senda de um humanismo espiritual, a Nova Águia trilha o seu caminho desde 2008, o que para um projeto cultural independente no seio deste deserto tecnocrático em que vivemos é já de assinalar vivamente. À qualidade dos seus conteúdos junta-se o enriquecimento com referências bibliográficas e, agora, com imagens e fotografias ilustrativas de alguns dos artigos publicados.
No presente ano, de 2016, em que transcorrem 100 anos sobre o nascimento de Vergílio Ferreira (1916-2016) e 20 anos sobre a sua morte, importa evocá-lo em toda a magnitude da sua singularidade de escritor e de ensaísta. Na realidade, ele foi um eminente escritor e um exigente professor da disciplina liceal de Português, que culminou, por um lado, o seu destino literário com o galardão do Prémio Camões e, por outro, sua carreira docente no Liceu Camões.
Assim, nos seus derradeiros passos, a coroar o seu retumbante percurso literário, de 1979 a 1992, foi honrado com o título honorífico de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’iago da Espada, assistiu e participou na adaptação à sétima arte do seu romance emblemático Manhã Submersa e foi eleito membro da Academia das Ciências de Lisboa.
A sua obra literária ramifica-se em vários géneros que soube cultivar com uma inexcedível mestria, tais como a ficção em romances, o ensaio cultural e o diário, tendo sido marcada por duas correntes filosóficas, o neorrealismo e o existencialismo. Com efeito, a sua obra passou por dois períodos literários, um influenciado, nos anos 40 e 50, pelo neorrealismo e, outro, marcado pelo existencialismo, desde os anos 60, tendo o primeiro incutido nas suas primeiras obras um cunho próximo do marxismo, enquanto o segundo o conduziu a um afastamento do catolicismo.
Se os primeiros romances foram eivados do tom neorrealista, já os seus livros mais amadurecidos dos anos 50 e 60 foram apanhados na teia existencialista, que caraterizou em particular o contexto do pós 2ª guerra mundial. Torna-se interessante notar que a sua obra-prima foi, porventura, o romance Manhã Submersa, que se baseou na sua vivência de seminarista beirão, o qual trilhou um caminho diverso do seminarista de Santa Comba Dão.
Entretanto, forma-se em Filologia Clássica, em 1940, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo seguido a carreira docente, iniciando um périplo profissional por vários liceus do país, sem nunca abdicar da sua veia ficcionista.
Na sua obra literária o tema da felicidade é transversal aos diversos períodos artístico-filosóficos, dado que se constitue como o eixo nuclear da condição humana. Outro dos temas do seu pensamento literário é a imponderabilidade da vida humana, com os imprevisíveis desvios das caminhadas vivenciais. Nos seus livros perpassam ainda temas recorrentes como a morte da arte, a sensação da ausência de Deus, de um agnóstico perplexo, e a busca do sentido da existência num universo vazio, sem âncoras valorativas.
Depois dos seus primeiros romances, entre 1938 e 1953, atinge uma fase de amadurecimento literário, deixando-se contaminar pela corrente existencialista, então em muito em voga no contexto do pós-guerra, e nos seus romances, em particular na obra Manhã Submersa, patenteia a descrença em Deus e a crença em si próprio, mas concomitantemente evidencia-se amargurado com a crise de valores potenciada pela conjuntura histórica contemporânea[1] e, em especial, com a desintegração social da arte.
Nos últimos anos da sua vida, entre 1980 e 1994, publicou um diário em vários volumes com o título Conta-Corrente, nos quais dissertou sobre a evolução das ideias em Portugal no século XX, ao mesmo tempo em que foi desvendando a sua intimidade. Deste modo, se terminou inesperadamente a sua vida literária com o género diarístico, convém não olvidar que começou a escrever livros de ficção com 22 anos, iniciando a sua criatividade literária com uma obra de um título paradoxal A curva de uma vida, em 1938, embora só publicado postumamente.
O grande drama humano, que o seu pensamento assume, é o paradoxo entre a eternidade da alma e a corruptibilidade do corpo, sendo esta intransponível dicotomia geradora de um sentimento angustiante na senda da corrente existencialista.
Do vasto conjunto da sua obra literária destacam-se os seguintes livros, pelo impacto social que tiveram: O Caminho fica longe (1943), Manhã Submersa (1954), Aparição (1959), Da Fenomenologia a Sartre (1962), Introdução a “O Existencialismo é um Humanismo”, de Jean-Paul Sartre (1962), Espaço do Invisível (4 volumes, 1965-1987), Nítido Nulo (1971), Conta-Corrente (5 volumes, 1980-1988). Revelaram-se atentos estudiosos da sua obra autores como Eduardo Lourenço, António Quadros, Eduardo Prado Coelho, Jacinto do Prado Coelho, João Décio ou Alexandre Pinheiro Torres, entre outros investigadores.
Na verdade, Vergílio Ferreira merece ser evocado na vida e obra neste ano do Centenário do seu nascimento, pois foi um escritor marcante de Língua Portuguesa da 2ª metade do século XX.
___________
[1] Nuno Sotto Mayor Ferrão, “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, janeiro de 2012, pp. 47-51.
O lançamento da revista cultural “Nova Águia”, número 12, de periodicidade semestral será feito, em primeiro lugar, como já foi anunciado na imprensa Açoriana, no dia 15 de outubro, em Lisboa, às 17 horas no Palácio da Independência, que se situa junto ao Teatro Nacional D. Maria II. Ainda, em outubro, será apresentada, também, no Porto no dia 23 na delegação do Movimento Internacional Lusófono e no dia 24 no Anfiteatro Nobre da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Este número da “Nova Águia” tem como núcleo temático central o estudo da obra filosófica de António Quadros (1923-1993). Esta personalidade, agora homenageada, foi um pensador, escritor e tradutor português de uma afamada família de escritores. A sua obra reparte-se pelo ensaio, ficção, poesia e tradução, tendo reflectido sobre o sentido da cultura portuguesa e divulgado a vida e a obra de Fernando Pessoa, como se pode constatar num dos vídeos aqui apresentados.
António Quadros foi um dos fundadores da Associação Portuguesa de Escritores e Diretor das Bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. Esteve ligado ao Grupo da Filosofia Portuguesa, onde teve como mestres inspiradores Leonardo Coimbra, Sampaio Bruno, Delfim Santos, Teixeira de Pascoaes e outros autores. Recebeu vários prémios literários e colaborou em vários jornais e revistas.
Neste número são, ainda, evocados diversos autores relevantes para a cultura lusófona e um autor de importância internacional Soren Kierkegaard, no ano do bicentenário do seu nascimento. Assim, salientam-se análises de autores lusófonos como Silvestre Pinheiro Ferreira, José Enes, Orlando Vitorino, Eduardo Sanches Soveral, António José Saraiva, Cesário Verde, José Mattoso, Daniel de Sá e Heraldo Barbuy.
Noutra secção aparecem artigos de fundo de autores como Adriano Moreira e António Telmo abordando, respectivamente, temas como o futuro da pátria e a nossa natureza coletiva. Vários temas lusófonos são tratados por especialistas. Sempre refrescantes emergem ao longo das suas páginas múltiplos poemas inéditos que a revista nos oferece e várias interessantes recensões bibliográficas.
Os textos escritos por inúmeros colaboradores integram ensaístas e investigadores como Adriano Moreira, António Braz Teixeira, D. Manuel Clemente, Eduardo Ferraz da Rosa, João Bigotte Chorão, Manuel Ferreira Patrício, Miguel Real, Pedro Martins, Pinharanda Gomes, Renato Epifânio, Samuel Dimas, etc.. Tenho, pois, o gosto e o privilégio de escrever, também, neste número dois artigos sobre o legado humano e intelectual de António José Saraiva e o testemunho espiritual de José Mattoso.
A revista tem sabido, nestes seis anos de vida (2008-2013), redescobrir autores e temas marcantes do pensamento português nos seus diversos números. Deste modo, autores como António Vieira, Agostinho da Silva, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Leonardo Coimbra receberam já uma especial atenção, bem como temas como a lusofonia, o pensamento da cultura de língua portuguesa, os centenários da República Portuguesa e da revista “A Águia” e a ideia de pátria.
O próximo número da revista - número 13 - promete, também, trazer pistas bastante interessantes a propósito do balanço dos 40 anos da Revolução do 25 de abril de 1974 e do perfil plurifacetado de Agostinho da Silva, que bem merece ser relembrado.