Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Sua Santidade Bento XVI proferiu ontem, 12 de Maio no CCB, em Lisboa, um estimulante discurso perante grandes representantes da Cultura portuguesa, em que interpelou os criadores de pensamento, de ciência e de arte com palavras certeiras convidando-os a seguir os caminhos do diálogo intercultural como forma de se alcançar “o Bem, a Verdade e a Beleza”, evocando o papel pioneiro que os portugueses tiveram na Expansão marítima dos séculos XV e XVI no encontro de novos povos e novas culturas. Numa época ainda marcada pela tese de Samuel Huntington, do choque Civilizacional de culturas e religiões do mundo unipolar, o Sumo Pontífice veio sugerir que só através da dialéctica do Amor e do diálogo, tolerante e compreensivo, se poderá chegar a uma cidadania global capaz de erguer uma Humanidade respeitadora do integral desenvolvimento humano. Sendo o dia de hoje simbólico, para os portugueses de tradição católica e uma vez que a arte e a cultura nos permitem dialogar e sentir os mais profundos valores humanistas, deixo-vos a todos, caríssimos leitores, crentes ( de diversas confissões ), agnósticos, ateus com as maravilhosas obras que nos foram deixadas por Charles Gounod, J. S. Bach e Wolfgang Amadeus Mozart nas magistrais interpretações do tenor Enrico Caruso e da soprano Cecília Bartoli.
O Homem sempre viveu desde tempos “ponderados” (Civilização Helénica) a noção da sua própria dualidade existencial (corpo versus espírito). No entanto, houve épocas mais recentes da História humana que quiserem olvidar a consciência metafísica ao ponto de surgir o Existencialismo, no século XX durante o rescaldo da Segunda Guerra Mundial, como corrente filosófica contrária ao Essencialismo Ontológico.
O Papa, neste seu texto, situa-nos as raízes das injustiças humanas no coração perverso de muitos homens permeados do niilismo ético, herdeiro de F. Nietzsche, carente dos sãos influxos da transcendência. Daí, a prevalência nas sociedades, contemporâneas e pós-modernas, de fenómenos emergentes como o egoísmo e o individualismo como forças anti-éticas e pouco construtivas de conjuntos populacionais mais justos.
Radica nesta evidência de mal-estar colectivo o apelo que os cristãos sentem de se tornarem participantes de iniciativas em prol de um mundo melhor. É nesta dialéctica, da bondade, que nos introduz Karl Popper ao desconstruir a benignidade dos sistemas ideológicos fechados. Com efeito, a justiça cristã exige o nosso despojamento hiperbolizado do sentimento individual feito, tantas vezes, de afirmações agressivas. Assim, o cristão é convocado a praticar o Bem e a lutar por sociedades mais justas! O patamar da justiça divina que deve estar entranhado na boa conduta do cristão faz-nos seus agentes ao vivenciarmos o amor, a generosidade, os dons e a esperança que Deus nos concedeu como virtudes teologais. Em suma, como dizia o apóstolo São Paulo: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.
Antes que se gerem equívocos, Sua Santidade recorda-nos a existência de duas justiças, a divina e a humana. A conciliação destas duas dimensões pode-se fazer pela justiça trina (justiça cristã = justiça divina x justiça humana). A justiça divina assume-se, assim, como o coeficiente acrescido à justiça social, que tem mobilizado muitas forças políticas dos nossos dias. Em síntese, a justiça cristã advém da infinita misericórdia e das graças que Deus nos concede.
Neste contexto da ética cristã, a vivência plena da Quaresma implica a manifestação, cabal, dos sentimentos cristãos mais nobres (da caridade, da fé, da bondade, da compaixão, da generosidade, etc.) para praticarmos uma justiça ancorada num Cristianismo autêntico.