“O IMPULSO ROMÂNTICO” COMO TEMA DO FESTIVAL “DIAS DA MÚSICA 2013” DO CCB (LISBOA)
O Festival Dias da Música de 2013, que se realiza em Lisboa no Centro Cultural de Belém nos dias 19, 20 e 21 de abril, lança-nos o desafio de saber se ainda é possível ser-se “romântico” em pleno século XXI. Pelo reportório de concertos, que nos são apresentados, ficamos com a noção de que o Romantismo transcendeu o próprio movimento cultural e a época Oitocentista em que se desenvolveu na sua plenitude, ou seja, outros estilos e artistas posteriores foram fecundados pelo impulso de liberdade criativa que pretendeu arrebatar plateias pela emoção melódica.
Ao invés da tendência anunciada, no prólogo deste Programa musical, como marca dos nossos dias – o aparente arcaísmo da identidade romântica como símbolo da Modernidade - o “romantismo” não se deve limitar ao plano afectivo como, na realidade, tem sucedido.com o eclodir das democracias tecnocráticas, antes, pelo contrário, esta marca de contemporaneidade interpela-nos para necessidade de se romperem os bloqueios “partidocráticos” com a urgência de se revitalizarem os movimentos de cidadania que renovem as democracias com a luz da Esperança, com o refulgir de novas utopias (realistas) tão bem interpretadas na música Romântica, que permita ultrapassar as crises a que o mecanicismo tecnocrático nos tem conduzido.
Em segundo lugar, o trilho seguido pelas neurociências do século passado ao início do século XXI, de Sigmund Freud a António Damásio, corroborando o saber multissecular das diversas Humanidades desde os primórdios das Civilizações Clássicas mostram que a natureza humana cerze a racionalidade e a sensibilidade de uma forma incontornável. É, na verdade, um logro pensar-se que uma racionalidade formal, econométrica, pode moldar a sensibilidade intrínseca dos indivíduos, porquanto preexistente nos seres humanos manifesta-se uma inata “inteligência emocional” que nos dignifica como criaturas possuidoras de liberdade e de consciência.
Portanto, a extrapolação interpretativa que os programadores dos Dias da Música de 2013 fazem do movimento Romântico é absolutamente legítima e consente esta leitura de filosofia da história, na linha metodológica que Raymond Aron nos legou. Hoje, mais do que nunca, o impulso romântico num mundo de pré-formatações comportamentais, impostas pela uniformidade avaliativa da ideologia economicista, importa ser revalorizado e vivido como espaço privilegiado para as autenticidades criativas.
Para nos iniciarem nesta viagem pelo Romantismo musical desde o século XIX aos nossos dias estão presentes, neste Festival, os grandes compositores estrangeiros e nacionais (Ludwig Van Beethoven, Piotr Tchaikovsky, Johannes Brahms, Frédéric Chopin, Luís de Freitas Branco, Joly Braga-Santos, entre muitos outros) que padronizaram este género estético que se tornou tão popular por conjugar a erudita gramática sonora com as linhas melódicas que falam ao coração dos ouvintes de diversas conjunturas históricas.
Nuno Sotto Mayor Ferrão