Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Florbela Espanca, Sonetos, Lisboa, Bertrand Editora, 1978, p. 134
Florbela Espanca nasceu no fim do século XIX na localidade alentejana de Vila Viçosa, onde a família real costumava passar temporadas, como filha ilegítima de um fotógrafo. Os últimos anos da sua vida angustiada e depressiva estão agora plasmados num excelente filme português, realizado por Vicente Alves do Ó.
Esta “película” trata o período final da sua vida passado em plena Ditadura Militar, 1927-1930, em tempos de grande agitação política e social (com revoltas e greves constantes) e alguns ecos dos “loucos anos 20”, em que pairava um ambiente de euforia de viver e de libertinagem, bem representado no filme, que chegavam a Portugal por detrás das cortinas do autoritarismo. Perpassa no filme a crise de valores que se instalou com a anarquia das mentalidades fragilizadas com a instabilidade económica e política e com a perda dos referenciais tradicionais.
Está bem representada a grave neurose da escritora, associada aos desequilíbrios familiares em que foi criada, que se traduziu numa alma torturada de mágoas e sofrimentos (de três casamentos e da morte do seu irmão) que se reflectiu na sua obra poética. A sua vida encarnou uma atitude feminista que a levou a um instinto de emancipação que não lhe permitiu estabilidade conjugal e a conduziu a três casamentos infelizes.
Em 1919 a escritora publicou com o apoio paterno o seu primeiro livro intitulado “Livro de Mágoas”, onde já transparece a sua personalidade doentia. Ingressa no Curso de Direito na Faculdade de Lisboa, mas cedo entra no mercado de trabalho como jornalista e tradutora, embora publicando as suas poesias. O tom dos seus poemas revela-se moderno nos conteúdos pessimistas da conjuntura histórica que viveu, mas tradicionalista na forma que escolheu, os sonetos clássicos, influenciada pelos cânones estéticos do Neo-romantismo e passando um pouco ao lado da filosofia literária do Modernismo.
Assim, como Fernando Pessoa foi, também, Florbela Espanca uma “maníaca de génio”, retomando uma expressão feliz de Joana Amaral Dias, pois revelou uma sensibilidade muito apurada sem o contrapeso de uma sensata inteligência. Ora esta situação potenciou-lhe uma ímpar capacidade criativa na produção poética, mas impediu-lhe qualquer tipo de estabilidade emocional que a conduziu a várias tentativas de suicídio devido a uma grave neurose, descompensada, que incutia à sua alma uma angústia muito exacerbada.
Deste modo, acabou por morrer com 36 anos no dia do seu aniversário depois de ter tomado um frasco de sedativos. Entretanto, a sua poesia continua bem viva graças à sua criatividade baseada nessa sua hipersensibilidade.
“(…) Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: «Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão de chamá-lo Emanuel, que quer dizer Deus connosco. Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. E, sem que antes a tivessem conhecido, ela deu à luz um filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus. (…)” Evangelho segundo São Mateus, 1, 22-25, in Bíblia Sagrada, Lisboa, Difusora Bíblica, 2002, p. 1566.
O Natal é a celebração do nascimento de Jesus Cristo, que se assume como um acontecimento religioso que expresso nas escrituras Sagradas do Novo Testamento tem influenciado a Ética e a Arte da Civilização Ocidental nos últimos séculos. No entanto, não nos podemos esquecer que a religião Cristã surgiu e desenvolveu-se no seio de um império materialista que estava a entrar em decadência - o império romano. Hoje, como ontem, e digo-o como eco-socialista-cristão, face à cultura materialista e tecnocrática dominante que desencadeou tendências individualistas e egoístas parece-me que a existência de místicas e de utopias é cada vez mais fundamental para que todos possamos ser concidadãos num mundo mais justo e mais humano. Esta foi a razão objetiva da conversão de São Paulo no primeiro século da nossa Era e do imperador Constantino no início do século IV.
Obviamente, para os cidadãos laicos, das sociedades europeias, Jesus Cristo pode não passar de um revolucionário que subverteu no longo prazo as estruturas religiosas e mentais do Império Romano. Contudo, para as pessoas de fé Jesus Cristo é visto como o filho de Deus que desceu à terra para pregar ideais Éticos que, defendidos e praticados, afastavam, paulatinamente, o Homem do Mal (do pecado) e garantiam a multidimensionalidade do Homem (corpo e espírito) nas sociedades onde vivessem cristãos. Acontece que, hoje em dia, com o capitalismo financeiro instalado no centro da Globalização, os cidadãos e os políticos tendem a olvidar os valores Éticos, porque as tendências para o hedonismo e o individualismo fazem desprezar os sentimentos da bondade, da solidariedade e da compaixão.
A Europa tem-se esquecido progressivamente da sua matriz cultural cristã, como se notou quando afastou do projeto de um Tratado Constitucional Europeu uma referência clara do Cristianismo como um dos pilares da Civilização Europeia, que se encontra, como todos sabemos, em decadência. A Doutrina Social da Igreja é respeitadora dos Direitos Humanos e Sociais dos indivíduos e, por isso, é profundamente lamentável que as correntes políticas moderadas e humanistas da democracia-cristã, da social-democracia e do socialismo cristão democrático estejam a perder terreno para a “teologia de mercado”, designada por neoliberalismo. O Natal surgiu como data comemorada no século IV d.C., após a conversão do Imperador Constantino, num ato de fé individual. Todavia, o Natal tornou-se no Império Romano, neste século, uma data celebrativa para converter os pagãos. Desde essa época, até hoje, o Cristianismo foi-se espraiando e moldando às diferentes conjunturas históricas pelos sete cantos da Europa e do mundo.
Em conclusão, o significado do Natal é aquele que já apresentámos, mas tornou-se, também, a festa das famílias cristãs que se reúnem para se recolherem no aconchego dos seus lares afetivos e para celebrarem a vinda de Deus feito Homem que desceu dos céus para nos dar a Boa Nova de uma vida que se deve nortear por uma conduta impoluta de Amor aos outros e por uma mensagem de Esperança em relação ao futuro.