NELSON MANDELA (1918-2013), O FIM DO “APARTHEID” E O DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS DO HOMEM
“(...) Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. (...)”
Nelson Mandela, 1964
A 10 de dezembro celebra-se o Dia Internacional dos Direitos Humanos, que normalmente coincide com a atribuição do Prémio Nobel da Paz. Perfaz-se, agora, vinte anos que este galardão foi concedido a Nelson Mandela (1993-2013), recentemente falecido. Importa lembrar que a intransigente defesa dos Direitos Humanos garante uma Cultura de Paz que tanta falta faz às nossas sociedades Contemporâneas.
Evocar e homengear Nelson Mandela constituem obrigações inapeláveis dos Homens de boa vontade, pois foi um líder carismático reconhecido pela História Contemporânea. Na realidade, afirmou-se como um advogado, um líder da rebelião contra o regime jurídico de Apartheid e Presidente eleito da África do Sul, tendo lutado contra a segregação racial juridicamente, politicamente e incitado à desobediência civil, o que o levou à prisão por um período ininterrupto de 27 anos (1962-1990).
Teve uma forte formação humanista (em áreas como as Artes e o Direito) e na Universidade de Fort Hare cruzou-se com individualidades que se transformariam em grandes líderes do Congresso Nacional Africano. Nos anos 40 apercebe-se do racismo subliminar que larvava na África do Sul. Em 1949 integrará a cúpula dirigente daquele orgão político, no momento em que o governo aprovava o regime jurídico de “Apartheid”.
Com a institucionalização do racismo segragacionista deste regime, Mandela incita à desobediência civil negra ao convidar a população negra a ocupar os locais reservados aos brancos e é, por isso, julgado.
De 1952 a 1958 abre um escritório de advogados com Olivier Tambo para a defesa dos Direitos dos Negros. Contudo, após anos de luta não violenta contra a injustiça da segregação racial torna-se, talvez inspirado pelo comandante Ernesto Che Guevara, no ano de 1962 num guerrilheiro contra os opressores brancos que reforçaram as barreiras segregacionistas. Neste ano acaba por ser preso, conjuntamente, com Walter Sisulu. Em 1964 recebe uma pena de prisão perpétua e é encarcerado num cubículo desumano.
Depois de muito tempo de resistência na prisão, nos anos 80 apercebe-se da crispação social entre negros e brancos e receando uma dolorosa guerra civil trava negociações com o governo. Nesta época, recebe já homenagens internacionais desde os EUA à Grécia pela sua longa resistência contra a injustiça do racismo. Com efeito, Mandela, calejado pele seu interminável aprisionamento, negoceia nos anos 80 com o governo uma saída para essa crispação da sociedade sul-africana com um invulgar sentido de moderação.
Sob os auspícios de Pieter Botha as suas negociações arrastam-se, sem fim à vista, e só com o novo Presidente Frederik De Klerk se agilizam rumo a uma solução final. Por fim, em 1990, Mandela é libertado do cárcere e mantém um discurso político conciliador. No ano seguinte, é eleito Presidente do Congresso Nacional Africano com a intenção de apaziguar as hostilidades entre as populações oprimidas (negros) e as opressoras (brancos).
Em 1993, a comunidade internacional pela sua estratégia de diálogo pacífico dentro da África do Sul atribui-lhe, conjuntamente com De Klerk, o Prémio Nobel da Paz.
No ano de 1995 é eleito Presidente da África do Sul e cria a Comissão da Verdade e Reconciliação, presidida pelo Arcebispo Desmund Tutu que assegura a integração tranquila da minoria branca no país. Durante o seu mandato presidencial, o país foi refundado com uma nova Constituição de 1997, uma nova bandeira e um novo hino. A 5 de dezembro de 2013 a comunidade internacional assistiu consternada à declaração do primeiro-ministro sul-africano, Jacob Zuma, da morte do líder carismático, que nas suas palavras mediáticas traduziram o desaparecimento do pai do povo e do filho da nação sul-africana.
Em conclusão, o seu exemplo carismático ficará registado nos corações de milhões de pessoas, de todo o mundo, pelo invulgar exemplo cívico que travou a favor de valores como a justiça social, a verdade e a combatividade de causas coletivas.
Nuno Sotto Mayor Ferrão