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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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8º ANIVERSÁRIO DO BLOGUE “CRÓNICAS DO PROFESSOR FERRÃO” (2009-2017)

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A idealização do blogue surgiu em fins de 2008, com o nome de Crónicas do Professor Ferrão associado a análises políticas, mesmo antes deste emergir de facto na blogosfera, mas apenas a 23 de julho de 2009 é que foi criado com um post sobre a figura de São Paulo de Tarso.

 

Muitas pessoas nos apoiaram neste projeto cultural, designadamente o meu amigo José Medeiros Ferreira - que infelizmente já não se encontra entre nós - pela valorização dos conteúdos dos meus textos e as estimadas colegas Elsa Nogueira e Paula Magalhães, respetivamente pela valorização estilística e pelas sugestões técnicas fornecidas. Devo, ainda, referir as pistas pertinentes lançadas pelo Professor Adriano Moreira, relativamente a um dos muitos posts de investigação histórica.

 

Celebramos, por isso, convosco e com grande alegria, caríssimos leitores portugueses, lusófonos e estrangeiros, o 8º aniversário deste blogue em 2017, resultado do interesse de muitos internautas que o continuam a seguir com curiosidade e, também, do apoio incondicional dos amigos e dos familiares mais próximos, que tornaram possível erguer este eloquente projeto cultural, que tanto gosto me tem dado construir, com a ajuda de todos vós.

 

O nosso blogue versa temáticas ligadas à atualidade cívica, à história, à literatura, à religião, à música, à arte, à política, à economia e à ética. Por este facto, assume-se como um blogue de natureza cultural, com interpretações e fundamentos humanistas deste autor, mas sempre baseado em investigações, mais ou menos aprofundadas, na bibliografia, na imprensa e/ou na documentação histórica.

 

Mais recentemente, e para associar o blogue ao meu nome de investigador e de ensaísta à denominação de Crónicas do Professor Ferrão sucedeu a de Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão.

 

O blogue, na atualidade, já ultrapassou as 208.000 visualizações, na sua maioria de países lusófonos, segundo os dados mais recentes, contabilizados por três contadores. Na verdade, os visitantes são, na sua maior parte, originários de países como Brasil, Portugal, Angola e Moçambique, abrangendo cerca de 88% das visitas, no entanto este tem uma abrangência internacional compaginável com o atual contexto da globalização, com visitas oriundas de mais de 100 países.

 

Já superámos os 260 posts, que normalmente andam ilustrados com imagens ou, mesmo, vídeos elucidativos. O acolhimento foi, aliás, bem visível inicialmente nos comentários que surgiram, mas com o desenvolvimento do Facebook muitas destas interações começaram a aparecer mais nesta rede social.

 

Last but not least, este blogue serviu de catapulta para escrever artigos de fundo, com mais exigência de investigação, que têm sido publicados nas revistas culturais, Nova Águia (orgão do Movimento Internacional Lusófono) e Brotéria (revista dos Jesuítas portugueses desde 1902).

 

Importa ainda mencionar o honroso convite que recebi para fazer uma fotobiografia de um político da 1ª República, surgido de um “post” histórico, que não pude aproveitar por indisponibilidade logística e laboral na altura. Também se têm manifestado repercussões deste nosso espaço, quer na blogosfera, com hiperlinks de ligação de outros blogues, quer na bibliografia histórica com citações de posts do nosso blogue, o que muito me apraz.

 

Quero, finalmente, saudar-vos cordialmente neste momento celebrativo, que devido à vossa paciência e interesse este se possa prolongar por uns bons anos mais. Bem hajam, caríssimos leitores, pela vossa atenção e tempo dispensado.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

O POLÉMICO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA (1990-2015) – RAZÕES DO DEBATE

 

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (designado em diante AO) é um tratado internacional estabelecido com o objetivo de unificar a ortografia da Língua Portuguesa no espaço da lusofonia. Este objetivo apenas foi alcançado neste documento em 98% das palavras. Existem exemplos favoráveis e desfavoráveis, no mundo à aplicação deste AO, sendo o primeiro caso a língua castelhana e, o segundo caso, a língua inglesa.

 

Deste modo, face à polémica que divide a sociedade portuguesa, um grupo de cidadãos no respeito pelos preceitos constitucionais propõe-se recolher as assinaturas necessárias para a realização de um referendo que irá incidir na seguinte questão, em conformidade com um projeto de lei já escrito: “Concorda que o Estado Português continue vinculado a aplicar o «Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa» de 1990, bem como o 1.º e o 2.º Protocolos Modificativos ao mesmo Tratado, na ordem jurídica interna?”. Este AO nas duas ortografias a unificar, nas matrizes portuguesa e brasileira, obriga a uma adaptação maior em termos do número de palavras na primeira matriz do que na segunda.

 

O AO assinado em 1990 não criou um consenso nos meios culturais dos países de expressão oficial portuguesa e, em especial, em Portugal. De facto, gerou-se uma polémica que se tem arrastado ao longo dos últimos anos devido a erros etimológicos ou à introdução de facultatividades, ou seja, ao permitir mais do que uma grafia da mesma palavra. A contestação ao AO sustenta-se em argumentos filológicos, políticos, económicos e, mesmo, jurídicos.

 

O AO tem passado por uma longa história de pequenos avanços e recuos, sem que haja unanimidade nacional e internacional. Com efeito, em 1998 e, depois, em 2004 os países de expressão de língua portuguesa assinaram dois Protocolos Modificativos do AO, tendo o segundo facilitado o processo de ratificação para a sua entrada em vigor. Após a ratificação por 4 países (Brasil, Cabo Verde, São Tomé e Princípe e Portugal) do segundo Protocolo Modificativo do AO, a nação portuguesa em 2008 agilizou os processos para a sua implementação interna.

 

Os dirigentes políticos dos países da CPLP, reunidos no verão de 2008, manifestaram o interesse em promover os mecanismos para a sua aplicabilidade, que para algumas figuras iria tornar possível que a língua portuguesa se tornasse, futuramente, um instrumento de trabalho na ONU. Atualmente, nos diversos países da CPLP falta a ratificação de Angola, que se manifesta mais refratária à sua rápida aceitação.

 

Os antecedentes deste AO de 1990 estão no fracassado Acordo Ortográfico de 1945 e na tentativa de Acordo de 1986, que se revelaram inconsequentes por terem pretendido uma unificação ortográfica absoluta, o que desagradou primeiro aos brasileiros e depois aos portugueses, por isso surgiu este novo AO que estabeleceu compromissos para uma maior uniformidade, sem garantir uma coerência ortográfica, pois foi preferido o critério de uma ortografia sónica em vez de uma ortografia mista conciliadora dos critérios etimológico e fonético.

 

O aprofundamento da distância linguística entre a ortografia do português europeu e do português brasileiro iniciou-se com a Reforma Ortográfica Portuguesa de 1911, a que os linguistas brasileiros responderam com a ênfase colocada na oralidade.

 

Em função destas contradições filológicas, abriu-se um aceso debate que tem divido Portugal e os países da CPLP, havendo eminentes personalidades favoráveis ao AO e outras contra, o que tem criado uma clivagem que perpassa a sociedade portuguesa. Verifiquemos os principais argumentos a favor e contra a aplicação deste AO.

 

Consideram os seus defensores que uma ortografia comum aos países de expressão oficial portuguesa favorece internacionalmente a projeção da língua portuguesa e a sua adoção como língua de trabalho das Nações Unidas, que o custo económico da duplicação de edições de livros deve ser tomado em linha de conta, que num momento em que o mundo se globaliza é importante uma língua comum uniformizada nos processos de escrita, que a aplicação do AO será favorável ao aumento da circulação do livro no espaço lusófono, que a não aceitação do AO provocará uma diminuição da importância da ortografia portuguesa em benefício da ortografia brasileira pelo expansionismo cultural desta potência geo-política, que dada a morosidade do processo negocial será tarde para recuar face ao estabelecido pelos dirigentes lusófonos, que o AO será favorável à projeção das obras bibliográficas escritas em português.

 

Entre as personalidades favoráveis ao AO contam-se Vital Moreira, Edite Estrela, Celso Cunha, José Eduardo Agualusa, Rui Tavares, Clara Ferreira Alves, Lauro Moreira, Juca Ferreira, Adriano Moreira, etc..

 

Por seu turno, consideram os oponentes como argumentos fundamentais de contestação ao AO de 1990 que este tratado não é suficiente para atingir a uniformidade ortográfica entre a norma portuguesa e a brasileira, que a unificação ortográfica não permitirá uma maior projeção internacional da língua portuguesa, que o poder “neocolonial” do Brasil como potência geo-política não se deve vergar à vontade da pátria portuguesa (o que só se conseguirá saber através da realização de um referendo), que é possível vender livros escritos no português europeu no Brasil, que as facultatividades permitem grafias duplas e múltiplas rompendo um critério ortográfico equilibrado (dado que deixa de existir uma maneira correta de escrever em função de uma norma clara), que a língua faz-se pela dinâmica das populações e não por decreto dos governos.

 

Entre as personalidades contrárias ao AO contam-se João Ubaldo Ribeiro, Cláudio Moreno, Miguel Sousa Tavares, Vasco Graça Moura (entretanto já desaparecido), Isabel Pires de Lima, Carlos Heitor Cony, António Lobo Xavier, Eduardo Lourenço, José Pacheco Pereira, Teolinda Gersão, etc..

 

Portugal foi o primeiro país a ratificar o AO logo em 1991, mas demorou mais tempo a ratificação do Segundo Protocolo Modificativo de 2004, tendo este sido ratificado em 2009 e agilizado o processo para a sua implementação em fase de transição entre 2009 e 2015. O Ministério da Educação determinou que a aplicação nas escolas, em fase de transição, se fizesse no ano letivo de 2010/2011 e que a sua efetiva aplicação se fizesse no ano letivo seguinte e para todo o Estado português desde o início de 2012.

 

Num inquérito feito, em 2005 sobre o AO, a organismos universitários e a editoras, a maioria das entidades mostrou-se contra a sua aplicação devido às fragilidades da base ortográfica estabelecida e numa sondagem do Correio da Manhã no início de 2009, a maioria dos inquiridos mostrou-se, também, contrária à sua entrada em vigor. A partir desta altura, começaram a circular petições, contra e a favor do AO, tendo alcançado notoriedade a petição "Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico", que também criticou os programas do ensino básico e secundário da disciplina de Português pelo reduzido peso dado à Literatura Portuguesa.

 

Este facto patenteia a polémica que tem rodeado o AO, pois esta petição entregue na Assembleia da República recolheu mais de 110 mil assinaturas, o que torna inequívoca a divisão da sociedade portuguesa em relação à sua implementação. Em 2010 surgiu, nas redes sociais, uma iniciativa legislativa de cidadãos destinada a suspender e a revogar a aplicação do AO em Portugal.

 

Na imprensa portuguesa a maioria dos periódicos adotou já a norma do AO, não obstante alguns meios de comunicação social escrita de grande projeção como os jornais Público e Sol e a revista Sábado serem renitentes à sua aplicação até à atualidade. A Sociedade Portuguesa de Autores, em 2013, decidiu continuar a aplicar a norma ortográfica antiga, visto que o Brasil adiou a sua eventual ratificação para 2016 e Angola ter tomado uma posição contrária à sua implementação.

 

Este AO tem por base uma filosofia pragmática favorável a uma convergência lusófona com base no critério sónico de aproximar a palavra escrita da sua utilização oral, no entanto a falta de consenso interno e internacional, no espaço lusófono, a par do desrespeito pelo critério etimológico tem levado muitas personalidades a serem refractrárias à sua aplicação, pois muitas delas consideram que as facultatividades darão origem a uma heterografia.

 

Por outro lado, não houve uma séria discussão pública do tema, pois os governantes tomaram a decisão de avançar com o processo sem ouvir a opinião dos governados e descurando a opinião negativa da maioria de especialistas consultados e, mesmo, uma petição que foi apresentada na Assembleia da República. Convém frisar que não foi apresentada nenhuma justificação linguística ou cultural a favor do AO.

 

Este AO, com os seus acrescentos, não garante a unificação da língua portuguesa, pois além da questão ortográfica teriam de se rever os outros aspetos da gramática. De acordo com o documento, contra o AO que enuncia as razões do referendo, manifesta-se nos documentos de apoio ao cidadão (dicionários, corretores e conversores) um verdadeiro caos ortográfico. Culturalmente, a aplicação do AO afasta a ortografia do Português da ortografia das línguas de matriz greco-latina. Considera, este documento, que o AO prejudica o Património Cultural Imaterial da Língua Portuguesa pela anarquia ortográfica.

 

Em suma, apesar de contestar o AO escrevo de acordo com este, pois como docente o sistema de ensino a isso nos impele. Na verdade, não devemos ser excessivamente pragmáticos nesta problemática, pois a Língua Portuguesa na sua matriz europeia é definidora de uma identidade coletiva do povo português, mesmo nas suas interconexões no espaço da lusofonia que transcende o espaço geográfico da CPLP, como é o caso evidente da Galiza, desta forma esta diversidade no espaço cultural lusófono é enriquecedora e não empobrecedora da nossa língua comum.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

FERNANDO PESSOA (1888-1935): A VIDA E A OBRA “MENSAGEM”

“(…) Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce (…)”

in Fernando Pessoa, Mensagem, Editora Império, 1934, p. 51.

 

Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935) nasceu em Lisboa, no fim do século XIX, no seio de uma família da pequena aristocracia. Desde cedo, manifestou uma imensa propensão humanista que se traduziu numa prolífera criação cultural, em múltiplos domínios da literatura e do pensamento. Revelou, precocemente, o seu imenso talento literário e uma grande capacidade criativa ao escrever o seu primeiro poema aos sete anos.

 

O amadurecimento dos seus dons literários aconteceu quando emigrou para a África do Sul, com os seus familiares, uma vez que o seu padrasto era cônsul de Portugal em Durban, destacando-se no seu percurso escolar pelos seus talentos de investigação e expressão ensaística.

 

No início do século XX, já em plena adolescência, tirou um curso numa Escola Profissional em Durban e, mais tarde, no exame à Universidade do Cabo ganhou o galardão literário intitulado “Prémio Rainha Vitória”, em 1903. Contudo, não concluiu os estudos universitários na África do Sul, mas aprofundou os conhecimentos literários e artísticos apercebendo-se dos seus dons para a escrita. Publicou na revista da Durban High School um ensaio sobre o intelectual inglês Thomas Macaulay em 1904. De regresso a Portugal, frequentou, fugazmente em 1906, o Curso Superior de Letras, mas cedo o abandonou.

 

A heteronomia de Pessoa, a par da genialidade da sua sensibilidade poética, concedeu à sua obra literária uma recetividade pública junto dos críticos e dos leitores que, postumamente, transcendeu fronteiras.

 

A infelicidade amorosa sentida por Fernando Pessoa parece que o terá levado a interessar-se por temas esotéricos e leituras astrológicas, que o induziram a encontrar-se com o grande ocultista Aleister Crowley, em Lisboa, em setembro de 1930. A sua exacerbada vivência introspectiva refletiu uma grande insegurança pessoal, na vida amorosa, e patenteou pouca ambição na vida social, levando-o, inclusivamente, a recusar um convite que recebera para lecionar a cadeira de Língua e Literatura Inglesa na Universidade de Coimbra.

 

O livro Mensagem, inicialmente pensado com o título Portugal, foi publicado em vida do poeta. Este poema que retrata as peripécias épicas dos grandes vultos do país, fazendo lembrar a consagrada obra de Luís Vaz de Camões, resulta de um patriotismo sonhador com um futuro promissor para a vida coletiva que se alicerça nestes fundamentos históricos.

 

No fundo, este cativante poema narra a gesta heroica da nação portuguesa desde os atos de bravura de Viriato até à sua época, nevoenta e triste (1934), em que António de Oliveira Salazar tinha assumido a direção dos destinos da nação. Pessoa assume a esperança da vinda de uma figura sebástica que viria instaurar o V Império. Esta confiança utópica num salvador, que depusesse o poder desse odiado ditador, faz-nos compreender melhor a sátira que está explícita no seu poema “Liberdade”. É com este sentido crítico que termina o seu celebérrimo poema dizendo-nos:

 

“(…) Este fulgor baço da terra

que é Portugal a entristecer -

Ninguém sabe que coisa quer.

Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem (…)

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro…

É a hora! (…)”[1]

 

Este poema que publicou em 1934 deu-lhe visibilidade literária na sociedade portuguesa, tendo sido escrito para apresentá-lo a um concurso de poesia, por sugestão de António Ferro, organizado pelo Secretariado de Propaganda Nacional com que venceu o “Prémio Antero de Quental”. Este primeiro impulso mediático prestigiou-o literariamente, mas pouco depois acaba por morrer com uma cirrose hepática. Desta forma, a sua plena consagração literária, nacional e internacional, só a obteve postumamente.

 

O seu nome marcou o Modernismo literário e filosófico português e a sua primeira afirmação como expoente máximo, deste movimento, surge com os seus poemas vanguardistas publicados na efémera revista Orpheu, em 1915. Não obstante a curta duração da revista, o seu espírito contagiou várias gerações de intelectuais e de vultos da cultura portuguesa.

 

Assim, embora Pessoa tenha publicado um único livro em português, em vida, a sua repercussão intelectual, na sociedade portuguesa, irá ser muito significativa, em parte, devido à colaboração que prestou em várias revistas e publicações periódicas. Em 1912 iniciou a sua atividade de ensaísmo e crítica literária na revista A Águia. Com efeito, foi a sua passagem por estas duas incontornáveis revistas culturais que o introduziram nos meandros da elite intelectual e artística portuguesa.

 

O patriotismo também sobressai de uma forma clara e cheia de lirismo na obra intitulada Mensagem em que retrata Portugal, com um presente sombrio, em 1934, onde pontuava o “ditador das Finanças”, sem carisma, que emergiu do caos sociopolítico anterior, mas pressagiando a possibilidade de concretização de um V Império para a regeneração da nação. A crítica política de Pessoa a Afonso Costa e aos políticos republicanos do Partido Democrático assumiu uma grande importância no seu pensamento.

 

Na verdade, a sua sátira, publicitada no jornal A Capital ao acidente de Afonso Costa, ocorrido a 3 de julho de 1915, no carro elétrico avariado que tomou como um atentado e dele saltou em andamento, ficando ferido, prejudicou a sua popularidade e a carreira literária em afirmação como poeta da revista Orpheu.

 

Pouco tempo depois deste incidente, julgou que Sidónio Pais poderia ser essa figura messiânica. Assim, o poeta pensou que este poderia ser a personalidade pública, com a capacidade carismática de libertar a pátria do caos político-social que a República instalara. Os seus projetos materiais e afetivos fracassaram, daí o persistente refúgio nas bebidas alcoólicas que lhe causou uma morte prematura aos 47 anos.

 

A revista Nova Águia, no número 14, evoca com diferentes perpectivas os 80 anos da Mensagem e, no próximo número, dedicará o tema central aos 100 anos da revista Orpheu.

____________

[1] Fernando Pessoa, Mensagem, Lisboa, Guimarães Editores, 2009, p. 96.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

Adaptado e extraído do artigo:

Nuno Sotto Mayor Ferrão, “Fernando Pessoa: o sentimento lusófono na sua obra”, in Nova Águia, nº 7 – 1º semestro de 2011, Sintra, Editora Zéfiro, 2011, pp. 34-38.

 

 

A REVISTA BROTÉRIA (1902-2013) COMO ESPAÇO HUMANÍSTICO E CIENTÍFICO E A PREMENTE BUSCA DE PILARES DE ESPIRITUALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE

  

A revista Brotéria foi fundada em 1902, no Colégio de S. Fiel, para abordar temas de Ciências Naturais por três jesuítas Joaquim Silva Tavares, Carlos Zimmerman e Cândido Mendes. Pouco depois, em 1907, subdivide-se em três séries (Botânica, Zoologia e Divulgação Científica). O nome da revista está ligado ao pendor inicial dado às Ciências Físicas, pois pretendeu-se homenagear o naturalista português Félix de Avelar Brotero.  

 

Com a expulsão dos jesuítas, na 1ª República, a revista esteve suspensa em Portugal nos primeiros anos deste regime, mas reaparece no Brasil e, depois, em Portugal com o nome de revista Luzo-Brasileira. Depois do fervor anticlerical, a revista Brotéria reaparece, ainda durante a 1ª República, com o seu nome original e a série de vulgarização científica transforma-se em revista de cultura geral em 1932, já no regime da Ditadura Militar, e as outras duas séries dedicadas à Natureza fundem-se na série designada Ciências Naturais.

 

De 1932 a 2002 mantiveram-se as duas séries da Brotéria – de Ciências Naturais e de Cultura Contemporânea – com prestigiados nomes entre os seus diretores, tais como  Silva Tavares, Afonso Luisier, Luís Archer, Serafim Leite, Domingos Maurício, António Leite, Manuel Antunes, entre muitos outros colaboradores.

 

Manuel Antunes, um professor jesuíta de feição humanista, anunciou em 1958 a necessidade da Igreja Católica contribuir para a unificação espiritual da Humanidade, dado os visíveis divisionismos materiais em que se encontrava[1]. Foi assim, uma voz percursora do espírito do Concílio Vaticano II, pois pouco depois o Papa João XXIII virá apresentá-lo. Considerou neste artigo da Brotéria que a Igreja Católica devia ser um meio social de equilíbrio perante a exagerada exteriorização das sociedades contemporâneas que tinham levado os seres humanos a perder o contacto com o Ser, em virtude da preponderância dada ao Ter.

 

Segundo Manuel Antunes, a modernidade desviou o Homem do pulsar humano deixando-o solitário no meio das grandes metrópoles cosmopolitas. Assim, o afastamento das sociedades europeias do Cristianismo tem decorrido do materialismo reinante. Do seu ponto de vista, só a intervenção da Igreja Católica poderia constituir-se como meio de equilíbrio face à exteriorização exagerada do ser humano e remeteu-nos para a necessidade de insuflar uma alma nova no mundo Contemporâneo.

 

Na realidade, a Igreja Católica, na sua percepção interventiva, que se vai plasmar no espírito conciliar, poucos anos depois, tem de contribuir com a sua arte teológica para cingir corpo e alma, que os platónicos e os pragmáticos quiseram cindir de maneira radical. Enfatiza-nos Manuel Antunes, neste artigo visionário, que a importância do laicado reside no seu papel de renovação do mundo, em declínio ético, devido à perda de valores perenes.


Com efeito, o seu entendimento sensível mostra que a salvação do mundo pelo humanismo cristão permitirá superar os impasses da crise de valores que se vinham avolumando desde o início do século XX.

 

A série de divulgação científica da revista Brotéria ainda hoje subsiste com o subtítulo “Cristianismo e Cultura”, mas virada, sobretudo, para temas humanos de atualidade, de educação, de literatura, de ética, de teologia, de história, de direito, de filosofia, de política, em suma, de uma cultura aprofundada numa dimensão cristã.


A Brotéria é orientada por um grupo de que fazem parte personalidades como o Padre António Vaz Pinto, seu atual diretor, António Júlio Trigueiros, Carlos Borrego, Daniel Serrão, Francisco Sarsfield Cabral, Manuel Braga da Cruz e muitos outros elementos da sua equipa diretiva, além de uma multiplicidade de colaboradores-investigadores. Atualmente, a Biblioteca da Revista reúne um rico espólio bibliográfico e de publicações periódicas que abarcam temas sobretudo de Teologia, de Filosofia, de Literatura e de História.



[1] Manuel Antunes, “A Igreja e o mundo de hoje”, in Brotéria – Revista Contemporânea de Cultura, Lisboa, abril de 1958. 

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

AS MEMÓRIAS DE GIACOMO CASANOVA – UMA OBRA-PRIMA DA LITERATURA UNIVERSAL PUBLICADA PELA DIVINA COMÉDIA EDITORES (HISTÓRIA DA MINHA VIDA - 2013)

 

As notáveis Memórias autobiográficas de Giacomo Casanova (1725-1798) foram, agora, publicadas numa cuidada edição da, recente Editora, Divina Comédia com o título História da Minha Vida – I, numa versão antológica dos textos mais marcantes. Com este livro, a promissora Editora, faz jus ao seu lema “Grandes livros para grandes leitores”, não só em termos quantitativos como qualitativos.


É o primeiro volume desta obra traduzida, para português do francês, pelo consagrado poeta e tradutor Pedro Tamen e comentada pelo especialista Miguel Viqueira, a que se acrescenta uma valiosa cronologia da vida desta figura, incontornável do Século das Luzes, que foi um aventureiro, um intelectual, um diplomata, um viajante que conheceu como ninguém as elites de vários Estados europeus. Assim, foi, também, um trabalhador polivalente que teve inúmeros ofícios.  

 

Giacomo Casanova viveu num contexto marcado por regimes absolutistas, por clamorosas desigualdades sociais e por uma economia de forte pendor agrário. Foi protegido por vários poderosos da aristocracia que o fez defender os interesses estabelecidos do Antigo Regime. Não obstante, tenha lutado contra alguns preconceitos da sua época, no espírito do Iluminismo, tendo prezado a sabedoria filosófica como um valor supremo, independentemente dos pressupostos que preconizou.

 

A sua fama de aventureiro libertino, que compaginou uma mentalidade racionalista com um pensamento epicurista, surgiu das centenas de edições e das adulterações, daí provenientes, que espalharam e celebrizaram as peripécias deste “galã” sedutor que o projetaram no imaginário colectivo da Europa. No entanto, só em 1993 apareceu a primeira edição integral e crítica desta obra de Casanova que se reúne em milhares de páginas e em vários volumes.

 

O forte substrato cultural de Casanova procedente das suas significativas leituras clássicas, patenteado numa excelente formação humanística resultante da sua preparação para a carreira eclesiástica e das permanentes leituras que fez ao longo da vida e nos seus 5 anos de prisioneiro nos calabouços da República Veneziana.


A posição de racionalista epicurista que assumiu levou-o a criticar as convicções espirituais mais contemplativas ou intolerantes. Atente-se na seguinte passagem elucidativa: “(…) Aquele livro imprimira-se com permissão da Inquisição. E eu não caía em mim de pasmo. Aquela obra, bem longe de aumentar ou de acender fervor no meu espírito, ou zelo religioso, deixou-me tentado a considerar fabuloso tudo o que consideramos místico e também dogmático.”(…)”[1]

 

As Memórias, escritas no fim da vida, destacam-se pela qualidade descritiva que nos relatam a vida, a mentalidade e os costumes aristocráticos do século XVIII. Esta capacidade intelectual emerge nestes escritos, na faceta de literato, na habilidade de discutir fundos argumentos filosóficos no contacto com pensadores como Rousseau ou Voltaire, esgrimindo ideias com eles.


Pretendeu, no fim da vida, tornar-se um Académico reconhecido pelos intelectuais, da altura, com estudos de Matemática e de Geometria, mas não o conseguiu concretizar. Deste modo, percebe-se, “avant la lettre”, a sua perspicácia ao aflorar, implicitamente, temas como a inteligência emocional ou a diversa natureza da mulher e do homem.

 

Em múltiplos episódios da sua vida descreve-nos, com sageza, aventuras eróticas, a fuga da prisão ducal de Veneza, as missões diplomáticas, as conversas filosóficas que manteve que lhe aprofundaram a capacidade de ação e a acutilância crítica do seu pensamento contra-revolucionário, moldado pelos pressupostos políticos do Antigo Regime quando se afirma de forma inequívoca contra os princípios democráticos: “(…) O povo, enfim, não passa de um animal de enorme tamanho que não raciocina. (…)”[2].  

 

Em síntese, este livro de Memórias de Giacomo Casanova é uma inestimável obra-prima literária que vale bem a pena ler, nesta grande antologia que a Editora Divina Comédia com muita felicidade nos apresenta, neste ano de 2013, em língua portuguesa. A mentalidade racionalista e epicurista sobressai nos ideais Iluministas, expressos nos diversos filósofos que cita (Voltaire, Rousseau, Montaigne, etc) e nas aventuras libertinas que protagoniza, que está bem patente na discussão mantida com Voltaire, a propósito do modelo de governação e da liberdade dos cidadãos, que nos descreve no final deste primeiro volume. Aguardamos, pois, com infinda curiosidade a saída do segundo volume desta magnífica antologia das Memórias de Casanova.   

 

 


[1] Giacomo Casanova, História da minha vida, vol. I, Lisboa, Divina Comédia Editores, 2013, p. 373.

[2] Ibidem, p. 246.


Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

A ÁGUIA (REVISTA 1910-1932) COMO FONTE DE INSPIRAÇÃO DA NOVA ÁGUIA (REVISTA 2008-2013) – Nº 11, 1º SEMESTRE DE 2013

 

 

 A revista A Águia foi uma importante revista cultural do início do século XX (1910-1932), em Portugal, que congregou muitas figuras de destaque das Humanidades, das Artes e das Ciências com distintas mundividências que veicularam visões plurais. Sobressaíram na História Cultural Portuguesa, no conjunto dos seus inúmeros colaboradores, intelectuais como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Hernâni Cidade, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, António Sérgio, etc. A revista nos seus 22 anos de vida comportou temas literários, artísticos, filosóficos e de crítica cívica, que tanto inspirou os fundadores da Nova Águia.

 

A Águia alicerçou-se numa matriz nacionalista e neorromântica, no combate sem tréguas contra a tese da decadência nacional[1] que pairava na mentalidade da sociedade portuguesa desde o fim do século XIX. Com efeito, aos mentores da revista, em pleno contexto de instauração do novo regime Republicano, moveu-os o espírito de promoção da autoestima nacional que os mobilizou contra a tese de declínio da nação portuguesa deixada pairar pelo poeta Antero de Quental desde as Conferências do Casino de 1871 e contra a mentalidade positivista de Auguste Comte que contaminava a intelectualidade europeia[2].

 

A revista Nova Águia, tendo por base esta magistral fonte espiritual de inspiração, pretende ser uma homenagem às várias gerações de personalidades que souberam dar corpo à revista A Águia. Os pontos de partida dos diversos números têm sido núcleos temáticos e no número 11 um dos seus elementos aglutinadores é “O Mar e a Lusofonia” partindo da emblemática frase do escritor Virgílio Ferreira “Da minha língua vê-se o mar”.


Esta revista privilegia artigos ensaísticos literários, filosóficos, históricos e científicos de uma pluralidade de colaboradores, de onde se destacam pessoas como Adriano Moreira, Miguel Real, Pinharanda Gomes, Manuel Gandra, António Cândido Franco, António Braz Teixeira, José Eduardo Franco, João Bigotte Chorão, etc.

 

Os diversos números da revista, de que este é já o número 11, repartem-se por várias secções, designadamente pela temática central, por evocações de obras ou de vidas de homens de espírito, ensaios variados, críticas literárias e poemas, muitos deles, de jovens autores de grande valia estética.


Cumpre-se, assim, com a revista Nova Águia um projeto ideológico Humanista, que pretende revalorizar as tradições culturais portuguesas, para revigorar o espírito do país numa conjuntura de desânimo coletivo, com um sentido eclético que se desenha nas novas pontes que se pretendem construir para um futuro coletivo mais auspicioso que contemple o sentimento Lusófono que pulsa na nossa Alma. Deste modo, surgiu como um imperativo Ético combater o dogmatismo da cultura tecnocrática que tem aniquilado a liberdade de opinião, de expressão e de ação que constituem elementos fundamentais de um ambiente democrático.

 

Já foram temas centrais dos diversos números da Nova Águia desde 2008[3]: António Veira e o futuro da Lusofonia; O legado de Agostinho da Silva, 15 anos após a sua morte; Pascoaes, Portugal e a Europa: 20 anos após a queda do Muro de Berlim; Os 100 anos da A Águia e a situação cultural de hoje; A República, 100 anos depois; Fernando Pessoa: “Minha pátria é a Língua Portuguesa” (nos 15 anos da CPLP); O Pensamento da Cultura de Língua Portuguesa: nos 30 anos da morte de Álvaro Ribeiro; Nos 100 anos da Renascença Portuguesa: como será Portugal daqui a 100 anos?; Leonardo Coimbra, Dalila Pereira da Costa, Manuel Laranjeira e João de Deus: Razão e Espiritualidade; e “Da minha língua vê-se o mar”: o Mar e a Lusofonia.

 

Em suma, o objetivo supremo da Nova Águia é alimentar o ego nacional de uma forma realista baseada numa rica tradição Humanista, escorados os colaboradores na inspiração criadora da revista mãe que lhe deu ânimo para que pudesse voar, mas plenamente convictos da importância para o nosso futuro comum do projeto e do sentimento de identidade Lusófona no seio de uma Humanidade a necessitar urgentemente de se transfigurar Eticamente.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 


[1] Hoje, em plena segunda década do século XXI, esta tese da decadência nacional está tão em voga devido a critérios de pura econometria financeira como estava no início da 1ª República, embora por razões contextuais distintas.  

[2] Vide Nuno Sotto Mayor Ferrão, “Leonardo Coimbra, a Revista A Águia e o panorama cultural contemporâneo”, in Nova Águia, Sintra, Edições Zéfiro, 1º semestre de 2010, pp. 34-36.

[3] Uma vez que a Nova Águia é uma revista cultural com uma periodicidade semestral.

PORTUGAL, PÁTRIA DE POETAS? A MATRIZ IDENTITÁRIA LATINA EM REFLEXÃO

 

                       Luís Vaz de Camões                                                                                 Teixeira de Pascoaes

 

                       Fernando Pessoa                                                                                     Miguel Torga

 

 

Sophia de Mello Breyner Andersen


MAR PORTUGUÊS

"Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!


Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.


Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu"

FERNANDO PESSOA

 

Portugal é um país de grandes poetas devido à sua matriz identitária latina, pejada de uma sensibilidade lírica, de fino recorte criativo. Possivelmente, por esta razão, os países do Norte da Europa tenham muito a aprender connosco, na medida em que o Homem é um ser multidimensional que se deve desenvolver nas suas múltiplas facetas (materiais e espirituais). A inspiração e a capacidade criativa dos portugueses, transposta para a poesia por muitos escritores, foram sublimadas pelo poder imaginativo de Fernando Pessoa, que soube dar “novos mundos ao mundo” poético, tendo-se tornado uma figura de valor universal indiscutível.

 

A matriz de arrebatamento emocional dos latinos tem possibilitado uma invulgar veia artística e estética aos povos latinos. Aliás, num estudo recente este temperamento mais arrebatado dos povos latinos foi valorizado, pois dizia-se que as pessoas que exteriorizavam mais as emoções, sendo os povos latinos pouco fleumáticos, ao contrário das pessoas do Norte da Europa, tinham uma predisposição para terem uma vida mais longa.  

 

Em Portugal germinaram grandes poetas como Luís Vaz de Camões, Almeida Garrett, Teixeira de Pascoaes, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, António Gedeão, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andersen, Eugénio de Andrade, David Mourão-Ferreira, entre muitos outros que expressaram a alma pátria através desta arte literária. O temperamento latino está timbrado por esta colossal riqueza emotiva, que na paleta semântica da poesia soube ser imensamente prolífera. A localização geográfica desta pátria no sudoeste Europeu, com um clima ameno, e uma paisagem de grande variedade e beleza incitaram a inspiração criativa. Aliás, foi esta tocante natureza de tons paradisíacos que inspirou o grande poeta britânico Lord Byron a qualificar Sintra como a “mais bela vila do mundo”, num êxtase de inspiração que o ambiente pitoresco do local potenciou.


Não é, também, de menosprezar a intensa vivência lusófona, ao longo da História de Portugal, que constituiu uma fonte de vivências abertas que entusiasmaram o poder de criação poética de alguns escritores portugueses, onde avulta o nome de Luís Vaz de Camões.

 

Em face destas fosforescentes estruturais mentais, do povo português, não admira as capacidades extraordinárias que tem revelado para cantar o Amor na versão poética. Esta alma poética dos portugueses fez surgir um grande realizador de cinema de projeção internacional, Manuel de Oliveira, que nos seus filmes nos manifesta esta alma lusíada.

 

De facto, esta valorização do património poético que é um traço de identidade dos portugueses pode servir de lição para que o mundo e a Civilização Ocidental, em particular (numa permuta culturalmente enriquecedora entre o Sul e o Norte da Europa), encontrem novos pontos de equilíbrio para compaginarem o desenvolvimento material e o desenvolvimento espiritual do Homem. Mais do que nunca, nesta presente fase histórica, perante a crise multipolar que a Humanidade vive, este dom espiritual dos portugueses, de serem poetas nos momentos de adversidade, pode despertar a Esperança, para que se procurem as alternativas necessárias, de forma que o desânimo não catapulte a nossa Civilização para uma depressão coletiva.

 

A intervenção cívica da poesia em Portugal teve em Miguel Torga e em Sophia de Mello Breyner Andersen bons expoentes. A inteligência emocional, de que nos falam os modernos cientistas, não se coaduna com a mentalidade materialista e tecnocrática que reina impunemente nas nossas sociedades e abafa as virtualidades do espírito Humanista.


Em suma, a saúde das democracias, a saúde mental dos cidadãos, a saúde das sociedades desta Globalização desregulada exigem a revitalização do património poético para o bem-estar comum da Humanidade. Neste pressuposto, a riqueza cultural de Portugal e de toda a Comunidade Lusófona podem ser uma mais-valia importante para superar este impasse gerado por uma ideologia totalitária que tem inquinado as relações internacionais neste início do século XXI.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

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