MO YAN, A DIVINA COMÉDIA EDITORES E A CHINA ATUAL
A Divina Comédia Editores é uma nova Editora em Portugal que iniciou a sua atividade, em novembro de 2012, com a publicação do livro de Mo Yan, escritor chinês que foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, intitulado Mudanças. Esta promissora Editora, liderada por Alexandre de Vasconcelos e Sá e pela sua sólida equipa de trabalho, pretende editar obras de ficção e de não ficção de qualidade, dando espaço à pluralidade de opiniões.
A sede desta Editora, adjacente à Avenida da Liberdade em Lisboa, associada ao grupo Editorial Babel de Paulo Teixeira Pinto, estará pronta em abril deste ano e começará em breve a sua atividade editorial de uma forma continuada. A imagem de marca desta Editora é uma cadeira esboçada por Alexandre Vasconcelos e Sá e um dos seus braços direitos sugeriu o nome Divina Comédia em homenagem à obra-prima, da Literatura Universal, de Dante Alighieri.
O livro Mudanças de Mo Yan, pseudónimo de Guan Moye, retrata num género de romance autobiográfico as mudanças da China ao longo da segunda metade do século XX até ao início do século XXI, numa narrativa comparativa e não cronológica, embora situando os acontecimentos do protagonista no tempo. A sua prosa está recheada de uma fina ironia que tornam bastante cativante a leitura do livro.
A atual situação da China, em crescente ascensão geoestratégica mundial, redobra o interesse deste livro, porque o “Socialismo de mercado” que Deng Xiaoping burilou e se concretizou no contexto da Globalização desregulada permitiu a irrupção fulgurante da economia chinesa em tempos de estagnação da economia mundial, neste início do século XXI.
Transparece da vida de Mo Yan que pretendeu criticar, de forma subliminar, o próprio sistema Chinês, uma vez que na sua escrita descreve a realidade do seu país insinuando ironicamente os paradoxos da sociedade chinesa em que à eficácia e ao pragmatismo do sistema político-económico subjaz uma desumanidade profunda para com as pessoas.
Não nos podemos esquecer que o preço da prosperidade económica e da modernização da China foi o cerceamento da liberdade política, pois aquando de uma celebérrima manifestação juvenil, na esteira dos ventos da "Perestroika", no outono de 1989, na Praça de Tian’anmen em Pequim, houve um brutal massacre dos cidadãos chineses que criticavam e exigiam mudanças no regime.
Em síntese, este regime reformado por Deng Xiaoping deu lugar a uma conciliação da ditadura comunista com a crescente aceitação da economia de mercado, o que proporcionou a prosperidade da economia chinesa atual em detrimento do respeito pelos Direitos Humanos e pela Liberdade Política e Cívica dos cidadãos chineses, como a Amnistia Internacional bem tem denunciado.
Nuno Sotto Mayor Ferrão