TOMÁS ALCAIDE (1901-1967), BREVES CONSIDERAÇÕES BIOGRÁFICAS SOBRE ESTE MAGISTRAL TENOR PORTUGUÊS
Estátua de Tomás Alcaide
(Estremoz, autoria Domingos Soares Branco)
Tomás de Aquino Carmelo Alcaide foi um extraordinário cantor lírico português de renome internacional, nascido em Estremoz a 16 de Fevereiro de 1901 e falecido em Lisboa a 9 de Novembro de 1967. Nesta fotografia observa-se a sua estátua da autoria do escultor Domingos Soares Branco[1], inaugurada por Mário Alberto Nobre Lopes Soares como Presidente da República em 1987. Nesta obra escultórica aparece-nos representado com um traje Renascentista pela mão deste mestre da escultura portuguesa, num cânone de figuração clássica.
Nos seus primeiros passos de madura aprendizagem frequentou o curso de Medicina da Universidade de Coimbra[2], mas tendo descoberto a sua expressiva voz nas serenatas académicas decide, por influência do seu círculo de convívio, desistir destes estudos para seguir uma carreira musical. Entretanto, recebeu lições de importantes professores de canto[3] e cedo começou a granjear um imenso prestígio ao interpretar o “Rigoletto” de Giuseppe Verdi, no Teatro Nacional de S. Carlos, em Lisboa, no início dos anos 20.
Em 1925 deslocou-se para Itália onde inicia uma fulgurante carreira lírica que lhe irá proporcionar actuar no Teatro Scala de Milão e brilhar sob as luzes da ribalta de outros palcos famosos do Teatro de Ópera. Foi, assim, que de 1925 a 1948 actuou nos principais palcos líricos internacionais da Europa e da América (Roma, Nápoles, Veneza, Paris, Viena, Zurique, Helsínquia, Boston, Chicago, Nova Iorque, Buenos Aires, Rio de Janeiro, etc). No transcorrer da 2ª guerra mundial foi impelido a actuar no Brasil e na Argentina.
Em Portugal irá cantar em programas da emissora nacional e ter uma aparição marcante no filme “Bocage” em 1936 numa realização do cineasta José Leitão de Barros. Em 1943 foi operado a uma hérnia do hiato que lhe diminuiu, substancialmente, a sua capacidade acústica. Esta razão explica, em parte, a sua ligeira inflexão profissional, pois nos anos de 1948 a 1961 irá dirigir a Escola de Canto do Teatro da Trindade e ainda exercer os cargos de mestre de canto e encenador da Companhia Portuguesa de Ópera. No fim da sua vida escreveu as suas memórias autobiográficas[4].
A cidade de Estremoz soube homenagear, condignamente este seu filho pródigo, ao colocar uma placa evocativa no Teatro Bernardim Ribeiro, ao atribuir o seu nome ao Orfeão, a uma Avenida, ao erigir a referida estátua em sua memória no centro da cidade e ao atribuir-lhe postumamente o título de cidadão honorário e a medalha de ouro do município. Em 2001, a culminar este longo tributo de homenagem, esta cidade Alentejana celebrou o 1º Centenário do seu Nascimento (1901-2001).
Nuno Sotto Mayor Ferrão
Disco italiano de colectânea de músicas de Tomás Alcaide
[1] Domingos Soares Branco (nascido em 1925) é um escultor que muito aprendeu com o escultor Leopoldo de Almeida na edificação definitiva das esculturas do Padrão dos Descobrimentos em 1960. Das suas principais obras escultóricas destacam-se: a águia do S. L. Benfica, em Lisboa; o Busto de Francisco Sá Carneiro, no Largo do Areeiro, em Lisboa; a estátua de Pio XII, em Fátima, etc.
[2] João Pães, “Tomás de Aquino Carmelo Alcaide”, in Dicionário de História de Portugal, vol. VII, Coordenadores António Barreto e Maria Filomena Mónica, Porto, Editora Livraria Figueirinhas, 1999, pp. 84-85.
[3] Foram seus professores de canto, em Lisboa, António Sarti e Eugenia Mantelli e, em Milão, Fernando Ferrara.
[4] Tomás de Aquino Carmelo Alcaide, Um Cantor no Palco e na Vida, Lisboa, Publicações Europa-América, 1961.
Vale a pena escutar este excerto G. Verdi do "Rigoleto" na interpretação de Tomás Alcaide