Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Dedico este texto ao grande historiador José Mattoso, ontem falecido (08/07/2023).
“(…) Tenho pensado muito em José Medeiros Ferreira (1942-2014). A triste notícia chegou-me a meio do discurso de Vladimir Putin no Kremlin sobre a anexação militar da península ucraniana da Crimeia pelas forças de operações especiais russas. Um dia histórico, portanto. (…)”
Miguel Monjardino, “Um colunista na História”, in Por onde irá a História?, Lisboa, Edição Clube do Autor, março de 2023, p. 253.
Este texto inspira-se num título de uma brochura famosa de Antero de Quental intitulada As causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos[1], mas se, no fim do século XIX, eram os povos ibéricos que “estavam na berlinda” e alguns políticos e intelectuais ilustres falavam na necessidade de um federalismo ibérico para a revitalização da Ibéria, neste momento, na terceira década do século XXI, tornam-se exponenciais os sinais que evidenciam um inequívoco declínio da Civilização Ocidental.
Osvald Spengler, historiador e filósofo alemão, teve a premonição da decadência da Civilização Ocidental com a obra A decadência do ocidente[2], publicada, pela primeira vez, em 1918, que foi escrita em função da beligerância da 1ª guerra mundial, que destroçou as nações europeias e tendo gerado, neste continente exausto, uma enorme descrença e um tremendo pessimismo na capacidade dos países europeus se reerguerem e reafirmarem como grandes potências. Este contexto histórico permitiu, inclusivamente, que os EUA emergissem como grande potência (superpotência), no primeiro pós-guerra, passando a deter a hegemonia internacional até ao fim do século XX e início do século XXI.
A Civilização Ocidental começou o seu ocaso com os “ventos da mudança” do fenómeno descolonizador, que levou ao colapso vertiginoso dos impérios coloniais europeus, após a 2ª guerra mundial, e à hegemonia dos EUA. No entanto, os norte-americanos e os europeus ainda tentaram evitar o descalabro económico do “Velho Continente”, em meados do século XX, com o recurso ao Plano Marshall e com o projeto europeu do Tratado de Roma, de suscitar uma comunidade económica europeia. Estes recursos dilatórios ainda permitiram trinta anos de glorioso crescimento económico na Europa e nos EUA (1945-1973), que desembocaram nas crises petrolíferas dos anos 70, na implementação de políticas neoliberais e no fenómeno da globalização no último quartel do século XX.
A ilusão de um Mundo Novo, vindouro, democrático e liberal produziu-se com o colapso do bloco soviético, com a queda do muro de Berlim e com a reunificação da Alemanha, isto é, com o fim da guerra fria. As esperanças eufóricas traduziram-se nas teses optimistas e ingénuas de Francis Fukuyama[3], mas a desintegração do bloco de leste europeu também deu azo a algumas dúvidas. A Europa, sob o élan de alguns políticos carismáticos e com o plano de uma unificação monetária, ainda teve o seu último fôlego, na viragem do milénio, com a entrada em funcionamento da moeda europeia em 2002, o euro.
Contudo, a neurose provocada pela vulnerabilidade dos EUA, com o atentado de 11 de setembro de 2001, arrastou-se à Europa, com a globalização do terrorismo a atingir várias cidades europeias. O entusiasmo hegemónico europeu neste contexto desvaneceu-se e o peso do “Velho Continente” nas transações globais tornou-se cada vez mais reduzido.
A globalização e a deslocalização de muitas empresas multinacionais, com sedes ou sucursais na europa, conduziram a uma desindustrialização dos países do “Velho Continente”. Ora, esta circunstância tem feito os países europeus perderem dinamismo económico e relevância no conjunto da economia mundial.
Por seu turno, o dinamismo económico e a vitalidade demográfica das potências asiáticas como a Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura, Taiwan, Índia e, principalmente, a China, na actualidade, que passaram por uma rápida industrialização e mantiveram taxas de crescimento excepcionalmente altas, na segunda metade do século XX e, no caso desta última potência, já no início deste século, estão a provocar uma inusitada concorrência aos países europeus. Estas novas potências económicas asiáticas estão a fazer perder protagonismo aos principais países europeus (Alemanha, Grã-Bretanha e França).
A crise financeira de 2008-2009 indicou para uma crescente debilidade das estruturas financeiras ocidentais, que tiveram impacto económico em alguns países europeus mais vulneráveis tais como a Grécia, Portugal, a Itália, a Irlanda e a Espanha, devido aos endividamentos excessivos e ao grandes défices públicos, conhecido este fenómeno como “a crise da zona euro”. A UE ainda prossegue o seu alargamento geográfico com a integração da Croácia em 2013 e com várias candidaturas de novos países, na atualidade, no sentido do seu futuro alargamento superar os impasses da afirmação da UE neste primeiro quartel do século XXI e na primeira metade desta centúria. A crescente perda de importância internacional e económica da UE fez com que o Reino Unido, no início de 2020, tenha saído da UE com o designado Brexit, pois parte dos ingleses convenceu-se que conseguia reafirmar-se internacionalmente, através da “Commonwealth”, recuperando alguma da sua soberania.
Na segunda década do século XXI, o Brexit (2016-2020) e a eleição de Donald Trump nos EUA (em novembro de 2016) evidenciaram a decadência do Ocidente, que se refugiou, no caso destas duas nações, nas premissas nacionalistas, xenófobas e no proteccionismo para criarem a ilusão de que os EUA e a Grã-Bretanha, apesar de decaírem em termos económicos, conseguirão ressurgir das cinzas como a Fénix com estas receitas esgotadas[4]. Os grandes desafios da actualidade - a globalização e a revolução digital – inserem-nos numa nova Era histórica e não será através do proteccionismo comercial e social, que a perda de fulgor económico das grandes potências do Ocidente recuperarão o seu protagonismo internacional ou posições hegemónicas. O receio e o pessimismo dos povos das antigas grandes potências ocidentais levou os EUA e a Grã-Bretanha a recuarem, ao invés de apostarem numa fuga para a frente, daí que os fenómenos da eleição de Trump e do Brexit tenham marcado a segunda década do século XXI.
A globalização e a grande revolução digital tornaram possíveis às grandes nações do Ocidente (EUA e Grã-Bretanha) perder terreno em termos de poderio e de riqueza, de tal forma que do G7 se passou em concomitância para um contemporâneo G20, para outras nações asiáticas que emergiram pelos seus potenciais económicos e tecnológicos. O Ocidente da revolução industrial, das descobertas científicas, dos direitos humanos e das sociedades democráticas está a perder terreno para outras nações que se estão a alçar ao cume da economia e da geopolítica global.
O declínio demográfico, neste início do século XXI, com o envelhecimento da população europeia tem feito acolher muitas correntes migratórias, muitas comunidades de imigrantes, para tentar garantir o funcionamento e o dinamismo da sua economia. O “Velho Continente” também está a perder fulgor tecnológico com os avanços rápidos das potências asiáticas. Com a crise do Ocidente, os seus valores essenciais, como a democracia e os direitos humanos, estão a ser questionados no mundo, favorecendo a emergência de autoritarismos em várias partes do globo e os fenómenos de populismo, que está a varrer a europa, até pela crescente descrença nos sistemas democráticos. O declínio do Ocidente é bem patente na diminuição do seu poder económico e militar, com exceção a este nível dos EUA, que só desta forma conseguem influenciar o cenário internacional atual. Contudo, o “Velho Continente” perdeu o fulgor económico e desinvestiu na sua capacidade militar.
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[1] Antero de Quental, Causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos, Lisboa, Tinta-da-China, 2008, 118 p.
[2] Oswald Spengler, A decadência do ocidente: esboço de uma morfologia da história universal, 1918.
[3] Francis Fukuyama, O fim da História e o último Homem, Lisboa, Gradiva, 1999.
A China afirma-se, em 2020, como uma superpotência mundial. Na última década do século XX, houve um equívoco na pretensa vitória dos EUA na guerra fria, pois os EUA venceram esta tensão internacional, mas sem perceberem que não tinham vencido o paradigma comunista.
Em 15 de abril de 1989, aconteceu, em território chinês, o simbólico protesto na Praça Tiananmen, em que os protestos estudantis foram violentamente reprimidos. Este acontecimento traduz a repressão dos Direitos Humanos, que se verifica na China até aos dias de hoje, o que aliás preocupa intensamente a comunidade internacional e os organismos dos defensores dos Direitos Humanos.
O comunismo chinês emerge, no século XXI, com uma vitalidade aparentemente incompreensível, pois este país conseguiu inventar aquilo a que Nuno Severiano Teixeira denomina de neocomunismo[1], dado que este país realizou uma síntese eclética entre o sistema comunista e a economia de mercado com a implantação de um Capitalismo de Estado, num regime de partido único comunista, conjugado com uma Ditadura Digital.
Este novo ciclo político, desta superpotência, iniciou-se com a subida ao poder de Xi Jinping em 2013. Este líder chinês investiu na estratégia internacional de afirmação geopolítica do país, com uma orientação de fundo, que passou pelo reforço do autoritarismo interno e a aposta numa nova projeção internacional do país.
Para alcançar o pleno controlo da população, a China ergueu um sistema de crédito social[2], tal como nos diz Raquel Vaz-Pinto, e uma ditadura digital no sentido de implantar um sistema de gestão social autoritária.
Na verdade, a China adquiriu o estatuto de superpotência política e económica, entrando num clima de tensão com os EUA, a nível internacional, o que poderá configurar, sem dúvida, uma segunda guerra fria.
Tudo começou com a guerra comercial e tecnológica entre estas duas superpotências, que se apresentam ao mundo com dois modelos políticos antagónicos, isto é, um com o singular “sistema comunista de mercado” e o outro com “o liberal capitalista”. Estas duas superpotências disputam a liderança mundial em termos económicos e tecnológicos, mudando o caráter desta nova guerra fria (2013-2020).
Às contestações populares que se verificaram em Hong Kong, em 2019, a China respondeu, recentemente, com a Lei de Segurança e com prepotentes violências sobre os habitantes da região desta antiga colónia inglesa. Nesta estratégia internacionalista, da China, conta-se, também, a afirmação comercial da “Rota da Seda” e a tentativa hegemónica da HUAWEI na revolução digital 5G do mundo, que está a preocupar os norte-americanos e os europeus.
Em suma, perante esta “nova guerra fria”, abre-se novamente o problema ético da necessidade imperiosa de regulação do Capitalismo Global, no espírito das Nações Unidas.
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[1] Nuno Severiano Teixeira, “A segunda guerra fria”, Público, 29 de julho de 2020. p. 9.
[2] Raquel Vaz-Pinto, “A China e o sistema de Crédito Social”, Brotéria, nº 190 – 5/6, maio-junho 2020. pp. 535-541.
As alterações climáticas caracaterizam-se pela mudança radical dos padrões metereológicos, num tempo longo. Ora, estas alterações têm-se verificado nas últimas décadas, designadamente com o aquecimento global do planeta. O clima define o padrão médio metereológico numa região, num período estenso.
Tomando como exemplo a cidade de Lisboa onde existia um clima temperado atlântico, será que, perante estas alterações, os climas identificados pelos geográfos ainda se mantêm válidos? Este fim da primavera e início de verão, em Portugal, tem sido atípico, pois verifica-se um tempo mais fresco do que é comum, tendo muitos dos portugueses, que usufruíram férias balneares em junho de 2019, sido prejudicados com as temperaturas mais baixas para esta época.
Com as atuais alterações climáticas estão a verificar-se, com mais frequência, fenómenos extremos em Portugal, no mundo lusófono e no planeta, designadamente com cheias terríveis, secas preocupantes, incêndios de grandes dimensões, quedas abruptas de granizo, manifestação de tornados e de furacões de efeitos catastróficos. Temos, ainda, bem presente os dramáticos ciclones de Moçambique, neste ano de 2019, em´particular o mais trágico intitulado “Idai”.
A caraterística básica das alterações climáticas traduz-se no aquecimento global do planeta, nas últimas décadas, manifestando-se vários efeitos indesejáveis como a subida do nível médio das águas do mar (recentemente o Secretário Geral das Nações Unidas apareceu simbolicamente, na capa da revista Time, com as pernas dentro de água); o aquecimento da atmosfera e dos oceanos; a diminuição das quantidades de neve, de gelo e reduções drásticas dos glaciares e a concentração de gases com efeito de estufa a aumentarem perigosamente na atmosfera.
Também, num recente relatório das Nações Unidas de Philip Alston apresentado ao Conselho dos Direitos Humanos, fala-se de um “apartheid climático”, pois com as alterações climáticas as populações mais pobres dos países ricos e as populações dos países mais pobres vão sofrer um impacto muito maior sobre as suas vidas em função destas alterações[1].
O efeito de estufa é imprescindível à sobrevivência da maioria das espécies pelo efeito amenizador das temperaturas, mas os gases em excesso produzidos pelo homem têm provocado um aumento inusitado dos gases da atmosfera, resultante da desmesurada utilização de combustíveis fósseis em veículos, nas fábricas e nas centrais elétricas.
Destes gases nocivos, destaca-se o incremento do dióxido de carbono, a par de outros gases e da grande desflorestação mundial, de que a Amazónia é um triste exemplo, pois com menos árvores no planeta a absorção de dióxido de carbono é bastante menor.
Desde meados do século XX com o incremento da industrialização e da vida urbana, o nosso ecossistema está a ficar mais desequilibrado, em função do aumento dos gases com efeito de estufa provenientes das atividades humanas. Esta problemática é de tal forma relevante que o Papa Francisco, em 2015, já dedicou uma encíclica ao tema ambiental, intitulada Laudato Si’[2].
Para estancar esta hemorragia vital do planeta, é fundamental reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, tornando os automóveis menos poluentes, com a opção pelos carros elétricos, e as fábricas menos emissoras de fumos. Se a humanidade, com a ajuda de alguns líderes mundiais como António Guterres, tem alertado o mundo e não conseguir estancar esta hemorragia ambiental, poderão manifestar-se consequências catastróficas de elevado calibre para a vida humana, animal e vegetal do planeta. Infelizmente, alguns líderes como Donald Trump e Jair Bolsonaro estão a menorizar estas problemáticas das alterações climáticas.
Além das manifestações já antes assinaladas, serão consequências prováveis que alguns rios e lagos acabem por secar; que o número de secas aumente, prejudicando, mormente, a Europa Mediterrânica; que as reservas de água potável diminuam, prejudicando o consumo, a higiene e a produção agrícola; que muitas espécias animais e vegetais se extingam, lesando a harmonia dos ecossistemas.
Ao longo do século XX e nos anos iniciais do XXI, o ritmo das alterações climáticas cresceu fortemente. São cada vez mais frequentes as ondas de calor e os fenómenos de seca, que afectam, sobretudo, o sul de Portugal. A temperatura, no século passado no mundo, aumentou quase 1 grau celsius, enquanto que a previsão para este século é de um crescimento entre 2 e 4 a 6 graus celsius, tornando a vida, em muitos climas temperados ou quentes, menos aprazível ou, mesmo, quase insuportável.
Importa que os políticos possam agir e que os cidadãos actuem no seu quotidiano, optando por eliminar, progressivamente, o uso de combustíveis fósseis, por preferir energias renováveis e por procurar poupar energia e programar formas de garantir a eficiência energética. As manifestações juvenis de luta contra as alterações climáticas estão na ordem do dia, de forma que o Secretário Geral da ONU disse, em junho de 2019, que, face à falência das lideranças mundiais, os jovens vão passar a liderar os programas de combate às alterações climáticas.
O objetivo, nos acordos climáticos de Paris, é de limitar o aumento da temperatura do planeta em 2º celsius, mas para isso será necessário diminuir globalmente 45% das emissões de dióxido de carbono até 2030, o que não será fácil sem uma cidadania e uma governança globais.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
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[1] Susana Peralta, “Apartheid climático: os pobres que paguem a crise (climática)”, Público, nº10658, 28 de junho de 2019, p.8.
O bom senso é um conceito ligado à percepção intuitiva de razoabilidade, que faz as pessoas prever as consequências das suas ações, instigando-as a bons julgamentos e a boas escolhas.
Segundo o filósofo grego Aristóteles, o bom senso era a condição indispensável para uma conduta ética e esta passaria por achar o meio termo entre hipóteses eventualmente antagónicas. Deste modo, o bom senso é a capacidade humana espontânea de fazer o que é mais correto, mas dentro de certos procedimentos considerados normais pela maioria das pessoas. Será que Donald Trump, Kim Jong-un, Pedro Pablo Kuczynski, Mariano Rajoy e Jimmy Morales estão a revelar atitudes sensatas, patenteando bom senso?
O Presidente Donald Trump decidiu, sem qualquer bom senso, transferir a embaixada dos EUA para Jerusálem e reconhecer, unilateralmente e à revelia da comunidade internacional e das Nações Unidas, esta cidade como capital de Israel para grande júbilo de Benjamin Netanyahu. Para Israel, Jerusalém tem sido a capital do Estado judaico, mas sem que tenha havido um reconhecimento internacional desta situação. Os EUA e a Guatemala transformaram-se, até ao momento, nos únicos países do mundo a fazer este reconhecimento.
O conflito israelo-palestiniano parece entroncar na fundação de Israel, em 1948, arrastando-se in illo tempore, pelo que lançar mais achas para a fogueira não parece ser de bom senso... Isto porque Israel considera Jerusalém, cidade santa, a sua capital, mas também os palestinianos, que aspiram à criação do seu próprio Estado, sustentam que Jerusalém-leste deverá ser a capital deste eventual futuro Estado Palestiniano. A falta de razoabilidade desta decisão de Donald Trump está no facto do estatuto de Jerusalém dever ser definido em negociações entre os israelitas e os palestinianos, como o consagram diferentes resoluções da ONU.
No absurdo discurso do início de dezembro de 2017, Donald Trump defendeu o direito de Israel e da Palestina de coexistirem, futuramente, como dois Estados soberanos e que tudo fará para ajudar a implementar uma solução pacífica. No entanto, as consequências previsíveis dum agravamento da tensão entre israelitas e palestinianos fizeram-se sentir, de forma bem visível, na comunicação social, logo após o insensato anúncio do Presidente dos EUA.
Porém, após a sua declaração formal é que apelou à calma e enviou o seu vice-presidente em viagem ao Médio Oriente. Este parece ser um exemplo significativo do que é a falta de bom senso nas relações internacionais.
Historicamente, a comunidade internacional nunca reconheceu Jerusalém como capital de Israel, porque Jerusalém oriental foi ocupada militarmente em 1967 pelo Estado Judaico, mas continua a ser reclamada pela Autoridade Nacional Palestiniana e mantém-se, por isso, como motivo de controvérsia o seu estatuto e constitui um dos principais impedimentos ao processo de paz no Médio Oriente.
Em 2017, também o mundo acordou assustado com a capacidade de hostilidade nuclear da Coreia do Norte, que criou uma poderosa bomba de hidrogénio, cuja experiência provocou abalos sísmicos nas zonas limítrofes. Kim Jong-un vem ameaçando que esta bomba nuclear pode ser colocada num míssil balístico intercontinental, podendo atingir grandes distâncias. Com as recentes experiências, no verão deste ano, a Coreia do Norte tem assustado os seus vizinhos e a comunidade internacional.
A tensão entre os EUA e a Coreia do Norte tem sido protagonizada pelos seus exuberantes e erráticos líderes, com atitudes provocatórias muito perigosas, as quais revelam a falta de sensatez destes dois protagonistas políticos da História da Humanidade.
Na Catalunha, o referendo de 1 de outubro de 2017, relativo a uma eventual independência do território, mostrou uma vontade inequívoca dos cidadãos catalães, que se deslocaram às urnas, de se emanciparem de Espanha. Mariano Rajoy reagiu com mecanismos opressivos, decidindo ilegalizar o referendo e depois destituir o Governo da Catalunha, no sentido de impedir a fragmentação do Estado Espanhol, uma vez que sabemos que a Espanha é formada por um conglomerado de nações.
No entanto, a tensão entre a Catalunha e Madrid revelou uma clara falta de lucidez, de bom senso se quiserem, uma vez que em democracia as questões políticas devem ser resolvidas pela via do diálogo e da auscultação das populações. Com as eleições de 21 de dezembro de 2017, este problema, amplificado pela insensatez de Mariano Rajoy, encontra-se longe de estar resolvido.
O Presidente do Peru, Pedro Kuczynski, evidenciou, também, grande falta de bom senso na sua atuação recente, porque indultou o antigo presidente Alberto Fujimori, sob o pretexto de uma saúde debilitada, quando pelo meio se suspeita que tenha havido negociações políticas para a manutenção do atual Presidente. Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão por violação dos Direitos Humanos e por corrupção financeira como Presidente do Peru. Este indulto desencadeou manifestações públicas de milhares de pessoas e mesmo confrontos físicos dos contestatários com a polícia.
Em suma, verificamos que sem o bom senso dos protagonistas políticos e económicos internacionais a paz e a justiça no mundo continuarão a ser miragens, apenas acessíveis aos discursos da ONU, das igrejas e dos filósofos. O Papa Francisco colocou, no centro da sua mensagem Natalícia neste dezembro de 2017, o sofrimento dos povos que estão sujeitos a crises, a guerras e a conflitos, e as crianças e os inocentes que arrastados por estes problemas se tornam, infelizmente, suas vítimas.
Contudo, o bom senso tem de emanar dos cidadãos para que possa chegar a contaminar positivamente a consciência errática dos líderes mundiais. E um exemplo disso foi o caso flagrante de mau senso, que colocou em causa a justiça social na cidade de Lisboa com uma loja da Padaria Portuguesa, da freguesia da Graça, a deitar no lixo um conjunto de bolos-reis, que podiam ser dados a pessoas mais carenciadas, o que justamente indignou a consciência de muitos concidadãos nas redes sociais.
A Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, insere-se no contexto internacional da guerra fria, no momento em que a Correia do Norte de ideologia marxista invadiu a Coreia do Sul, a 25 de junho de 1950, mas os Estados Unidos, com a anuência das Nações Unidas, vieram em socorro da Coreia do Sul. Por sua vez, a China e a URSS posicionaram-se do lado da Coreia do Norte.
Desde 1945 que as tropas dos EUA ocuparam o sul da península coreana. E logo, em 1948, a Coreia, no contexto do conflito ideológico marxismo-capitalismo, separa-se em dois Estados rivais, um de influência norte-americano a sul e outro de influência soviética a norte. As fronteiras entre as duas Coreias eram encaradas como efémeras. Quando a Guerra da Coreia teve início, a ONU condenou a invasão do exército do Norte e considerou-a ilegal, pelo que enviou um contigente de capacetes azuis para restabelecerem a paz na região.
Apesar de no início a Coreia do Norte estar em vantagem militar, os aliados da Coreia do Sul impuseram, posteriormente, algumas derrotas às forças Norte-Coreanas. Os EUA e os seus aliados conseguiram empurrar as tropas Norte-Coreanas para trás das suas fronteiras iniciais, o que motivou a intervenção militar da China ao lado da Coreia do Norte, dando algum equilíbrio às forças no terreno.
Nos anos de 1951 e de 1952, manteve-se uma guerra de pequenos incidentes em terra mas com uma firme resistência na linha divisória do Paralelo 38. Por outro lado, a guerra aérea intensificou-se com os EUA a submeterem as cidades norte-coreanas a bombardeamentos constantes e a península a ser alvo de combates de caças a jato entre as forças beligerantes. Este foi um dos primeiros episódios da guerra fria, em que os pilotos estrangeiros do mundo comunista e do mundo capitalista vinham em auxílio dos seus aliados político-ideológicos. Nesta Guerra da Coreia destacaram-se várias batalhas aéreas na zona chamada Alameda dos Migs, onde muitos aviões foram abatidos e ceifadas inutilmente 4 milhões de vidas.
A Guerra terminou em 27 de julho de 1953, com a assinatura dum periclitante armísticio. Todavia, este acordo prévio não desencadeou nenhum tratado de paz, apenas se estabeleceu uma zona desmilitarizada de separação das duas Coreias, pelo que, por definição, ambas permanecem na atualidade em guerra, arrastando-se as hostilidades fronteiriças e das cúpulas políticas.
Em 2017, o mundo acordou assustado com a capacidade de hostilidade nuclear da Coreia do Norte, que criou uma poderosa bomba de hidrogénio, cuja experiência provocou abalos sísmicos nas zonas limítrofes. Kim Jong-un vem ameaçando que esta bomba nuclear pode ser colocada num míssil balístico intercontinental, podendo atingir grandes distâncias.
Com as recentes experiências, no verão deste ano, a Coreia do Norte tem assustado os seus vizinhos e a comunidade internacional. A tensão entre os EUA e a Coreia do Norte tem sido protagonizada pelos seus exuberantes e erráticos líderes, com atitudes provocatórias muito perigosas. Isto deu lugar à atribuição pela Academia Sueca do Prémio Nobel da Paz de 2017 à instituição ICAN.
A tensão EUA-Coreia do Norte não é nova pois advém já do contexto da guerra fria, agudizando-se essa tensão desde a tomada de posse de Donald Trump. Algumas fricções têm percorrido a segunda metade do século XX, como aconteceu, em 1968, quando a Coreia do Norte capturou um navio norte-americano chamado USS Pueblo e, no ano seguinte, quando derrubou um avião de reconhecimento norte-americano. No fim de século, o líder Kim Jong-il, sucessor dinástico do regime setentrional coreano, prometeu desmantelar o seu programa nuclear, mas, na verdade, passado algum tempo o seu país experimenta um míssel balístico de longo alcance.
A tensão internacional exacerba-se mesmo depois da guerra fria, quando George W. Bush, na era do terrorismo global, declara como trilogia demoníaca - o Iraque, o Irão e a Coreia do Norte - que rotula de “Eixo do Mal”, por suspeitas de encobrirem atividades terroristas. Este fator potenciou a intensificação do programa nuclear norte-coreano, como estratégia preventiva de defesa do país em face de um eventual ataque hostil dos EUA.
Em 2008, os EUA, e ainda durante a administração Bush, reconhecem que a Coreia do Norte não apoia fenómenos terroristas, mas continua a exigir o controlo dos equipamentos nucleares do país. Apesar de este facto amenizar a tensão, continuou a haver acontecimentos nefastos neste ambiente de crispação, designadamente com a detenção na Coreia do Norte de vários norte-americanos.
Com King-Jong-un e a liderança de Donald Trump, a tensão internacional com os EUA voltou a reemergir no plano mundial. Há, assim, um pré-conflito que tem uma dimensão histórica e ideológica inegável, uma vez que o líder norte-coreano pretende exacerbar o ódio ao inimigo externo para poder unir o seu povo em volta da necessidade de construir armas nucleares.
Ao mesmo tempo, Trump tem ameaçado a Coreia do Norte, acentuando-se, em agosto e em setembro de 2017, este clima de hostilidade, em que a comunidade internacional chegou mesmo a temer o início de uma guerra nuclear, de efeitos previsivelmente catastróficos para a região e o mundo.
Desde 2006 que o regime norte-coreano tem feito testes nucleares e a ONU tem deliberado sanções, ao nível do embargo de armas e de natureza económicas, sobre o país, o que tem prejudicado bastante a economia do país e agravado ainda mais a miséria da população.
A Coreia do Norte intimida a comunidade internacional pelo seu programa nuclear e pelos seus testes nucleares provocatórios aos países vizinhos (Coreia do Sul e Japão) e o seu isolamento internacional também vem criando temores no mundo dos nossos dias, uma vez que pouco se conhece sobre o país e o seu singular líder, que detém um poder ditatorial individual.
Será que o início de um eventual conflito nuclear, entre a Coreia do Norte e os EUA e os seus aliados, configurará uma 3ª guerra mundial?
Este conflito não parece configurar uma guerra mundial, embora possa ter um impacto ambiental mundial pela irradiação dos gases tóxicos na atmosfera, dado que os especialistas julgam que não há condições para a formação de duas alianças militares rivais, como aconteceu na 1ª e na 2ª guerras mundiais. Seria, deste modo, um conflito de âmbito regional, possivelmente circunscrito à Ásia, mas que teria, obviamente, um impacto catastrófico sobre o nosso planeta.
Em suma, sair desta situação de tensão internacional é crucial. Para isso a mediação da UE ou da China num diálogo diplomático entre as partes hostis pode ser um caminho efetivamente recomendável e a recente passagem de Donald Trump pela China indica que esta estratégia estará em curso. Contudo, o afastamento total desta ameaça de guerra só será possível fazendo sair a Coreia do Norte do impasse em que se meteu, isto é, apesar de ter conseguido um progresso militar e nuclear bastante significativo, a sua população vive num estado económico deplorável e de grande opressão dos seus Direitos Humanos.
Parece-me que o populismo é um conceito grato à linguagem do politicamente correto, mas urge reformar profundamente o sistema internacional dominado pela globalização, sem partirmos de uma vontade radical de rebentarmos com o sistema. A moeda Euro no sistema financeiro internacional atual não funciona de forma escorreita, mas acabar com este sistema monetário poderá ser excessivamente revolucionário.
Convém pensar numa transição para um sistema misto de vários Euros ou, eventualmente, num regresso paulatino às soberanias monetárias, todavia isto exige muita ponderação e discussão na opinião pública nacional e internacional.
Por outro lado, da única superpotência sobrante assusta pensar que foi eleito um Presidente, Donald Trump, que promete ser tão parecido com G. W. Bush na sua impetuosidade arrogante. Depois dos anos da esperança do "Yes we can" de B. Obama, ressurge a promessa de um EUA interessado no seu umbigo, o que nos deixa grandes incertezas depois da afirmação mundial de protagonistas promissores como o Papa Francisco ou António Guterres como futuro Secretário-Geral das Nações Unidas que nos abriram, ao mundo, uma janela de esperança.
Certamente virão, de novo, tempos difíceis porque a estratégia de fechamento ao exterior, como foi o caso recente do Reino Unido com o "Brexit", não trás nenhum bom augúrio.
Esperamos que as forças moderadas dos EUA e dos seus aliados externos possam limar o Presidente Trump nas suas arestas mais cortantes do seu radicalismo... Importa impedi-lo de um dia carregar no botão das bombas atómicas, porque o mundo não comportaria uma guerra nuclear, ou seja, uma terceira guerra mundial, pois as bombas nucleares que hoje existem são bem diferentes das de 1945 e a sua dispersão geográfica implicaria uma catástrofe para a toda Humanidade e para todo o nosso planeta ou “casa comum”, como nos recorda o Papa Francisco na sua linguagem ecológica e teológica.