Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
António de Sena Faria de Vasconcelos Azevedo foi um professor universitário e um prestigiado pedagogo internacional, ligado à corrente da “Escola Nova”. Nasceu em Castelo Branco, a 2 de março de 1880, filho de Luís Cândido Faria e Vasconcellos, juiz e de Maria Rita Sena Bello Vasconcellos, pianista. Frequentou um colégio Católico, em Braga, e, posteriormente, tornou-se bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, por pressão familiar. Um dos seus primeiros trabalhos académicos teve por temática «o materialismo histórico e a crise religiosa do século XVI», o que denota o seu afastamento precoce perante as questões jurídicas.
Não nos espanta, por isso, que tenha terminado o curso a 12 de junho de 1901 e, pouco depois, tenha partido em busca da sua vocação para a Bélgica, com o intuito de se doutorar em Ciências Sociais na Universidade Nova de Bruxelas.
Em 1902, num dos regressos ao país, publica um opúsculo intitulado O Pessimismo, em que critica a ética individualista e, neste mesmo ano, profere uma conferência que aponta para a necessidade de uma educação cívica das multidões, ao mesmo tempo que se mostra preocupado com o elevado analfabetismo que grassava em Portugal.
Obteve o grau de Doutor em Ciências Sociais, em 1904, com grande distinção e passou a leccionar a cadeira de Psicologia e de Pedagogia, no Instituto de Altos Estudos de 1904 a 1914, nessa universidade belga. Iniciou, então, a sua filiação doutrinária no movimento da Escola Nova, tornando-se um grande divulgador nacional e internacional das suas estratégias pedagógicas. Em 1909, e já com um enorme prestígio, proferiu um conjunto de lições sobre pedagogia na Sociedade de Geografia de Lisboa, com o patrocínio da Liga da Educação Nacional, que resultará na publicação de um livro.
Em 1912, fundou, perto de Bruxelas, uma Escola Nova, chamada Escola de Bierges-Lez-Wawre, seguindo o paradigma pedagógico proposto por Adolphe Ferrière. Esta experiência veio a ser publicada em livro escrito em francês, em 1915, com o título Uma escola nova na Bélgica, tendo sido traduzido em várias línguas (em inglês, em espanhol e, mais tarde, em português). Ferrière teceu um rasgado elogio ao trabalho pedagógico de Faria de Vasconcelos. Este livro irá dar-lhe um prestígio internacional inegável, que o transformará num “embaixador cultural” do paradigma da Educação Nova em parte da América Latina.
Com a 1ª guerra mundial, em 1914, viu-se obrigado a fugir da Bélgica pela invasão alemã, o que o levou a Genebra, na Suiça, para se juntar ao grupo dos adeptos da pedagogia da Escola Nova do Instituto Jean-Jacques Rousseau. Por indicação de Ferrière, dirigiu-se a Cuba e depois à Bolívia, onde difundiu a metodologia pedagógica desta corrente, ajudando-a a internacionalizar. De facto, a influência de Faria de Vasconcelos assumiu um grande impacto sobre parte da América Latina, com a difusão da Didáctica da Escola Nova.
Com efeito, Faria de Vasconcelos, enquanto professor e Diretor da Escola Normal de Sucre, na Bolívia, frisa que a pedagogia da Escola Nova concedia prioridade às aprendizagens com base na experiência dos alunos, valorizando os trabalhos manuais e as suas autonomias.
Em finais de 1920, regressa a Portugal, passando a exercer o cargo de Professor de Pedagogia na Escola Normal Superior e integra o grupo da Seara Nova, como fundador e colaborador da revista, ao mesmo tempo que se empenha na Universidade Popular Portuguesa e no jornal A Batalha. Em 1922, torna-se assistente da Faculdade de Letras de Lisboa.
Na Seara Nova publica um conjunto de artigos sobre possíveis soluções para os problemas da educação em Portugal, que irão inspirar a Lei de Bases da Educação Nacional apresentada oficialmente pelo Ministro João Camoesas, em 1923. Teve, também, nesses anos, algumas colaborações nas revistas Homens Livres e Lusitânia.
Na qualidade de professor da Faculdade de Letras de Lisboa, assumiu a leccionação da cadeira de Psicologia Geral e publicou, em livro no ano de 1924, o teor das lições ministradas.
Em 1925, funda em Lisboa o Instituto de Orientação Profissional, porque compreendeu, pela sua experiência pessoal, a importância de um correto encaminhamento vocacional, para evitar a intromissão dos pais no futuro profissional dos filhos. Em 1931, esteve na organização do Instituto Dr. Navarro de Paiva, para que rapazes delinquentes até aos 16 anos fossem reeducados, com vista à orientação para o exercício de um ofício. Esteve envolvido em inúmeros projetos de educação popular e, em 1925, passou a dirigir a revista Educação Escolar.
O seu pensamento pedagógico alicerçou-se nas suas convições da psicologia da aprendizagem[1]. Integrou a corrente da Escola Nova, pelo que sustentava que os alunos deviam ser ativos no processo de ensino/aprendizagem, ao contrário do que era comum no paradigma pedagógico tradicional em Portugal, na Europa e no mundo. Foi, então, influenciado, nas suas obras dos anos 30, por assumir um pressuposto psicológico behaviorista na sua concepção da aprendizagem humana, como se constata pela referência bibliográfica constante a Edward Lee Thorndike, figura axial desta corrente psicológica.
Neste sentido, concebe o professor como um orientador da aprendizagem ativa dos alunos. Mostrou, também, preocupação com a formação integral dos alunos, de forma que estes desenvolvessem capacidades intelectuais, físicas, sociais, morais, motoras e afetivas.
Outra trave-mestra do seu pensamento pedagógico consistiu na relevância dada a uma educação pragmática, na senda de John Dewey, pelo que considerava que os currículos deviam estar virados para a entrada dos alunos no mercado laboral. Daí ter pugnado, em Portugal nos anos 30, no contexto do regime do Estado Novo, pela integração de elementos profissionalizantes nos currículos escolares, na qualidade de Diretor do Instituto de Orientação Profissional “Maria Luísa Barbosa de Carvalho”. Frisou que alguma liberdade de escolha dos alunos, relativa às suas aprendizagens, era um importante meio de responsabilizá-los.
Em conclusão, reconheceu, na esteira da corrente psicológica behaviorista, que a aprendizagem humana dependia, sobretudo, dos estímulos objetivos do meio físico e social. Deste modo, acreditou, firmemente, na metodologia objetiva da psicologia comportamentalista, condicionando dessa forma os seus paradigmas pedagógicos. Em função desta crença educacional, reduziu o espaço criativo concedido à pedagogia individual dos docentes.
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[1] Nuno Sotto Mayor Ferrão, Interpretação do pensamento pedagógico de António de Sena de Faria de Vasconcelos, na coleção ”Biblioteca de Cultura Pedagógica” pela Livraria Clássica Editora, nos anos de 1933 e 1934, Trabalho da cadeira de História da Cultura Portuguesa Contemporânea no âmbito do Mestrado em História Contemporânea, Lisboa, FLUL, 1994, pp. 22-41.
Congratulo-me com os 100.000 acessos contabilizados pelo contador Sitemeter, desde 12 de fevereiro de 2010, deste blogue cultural e de cidadania, que pretende disponibilizar conteúdos de investigação e de reflexão com um espírito de liberdade e de intensa curiosidade cultural, imbuído de um humanismo construtivo, que o apoio continuado de amigos e cidadãos tem permitido alimentar de uma inspiração criadora.
Contam-se, também, já 200 post’s editados desde 23 de julho de 2009 com diversos temas abordados: História, Literatura, Música, Arte, Globalização, Crise de Valores, Crise Europeia, Cidadania, Política, Religião, Educação, Personalidades, etc. Deste modo, este blogue não seria possível sem o apoio permanente de muitos familiares e amigos que me têm encorajado nesta ciclópica missão de consciencialização dos leitores para problemáticas inéditas ou de candente atualidade.
Desde essa data que se contabilizam 2270 entradas mensais, embora tenham aumentado nos últimos tempos, pois contam-se atualmente cerca de 3400 acessos mensais no decurso deste ano de 2012/2013, embora se mantenham, naturalmente, variações sazonais. Tem mais de 300 comentários, evidenciando, assim, saudável interactividade. A média diária neste último mês (setembro/outubro) oscilou entre os 61 acessos e os 170, de acordo com as atualizações e com as habituais variações periódicas.
É bastante interessante notar que os acessos provêem de diferentes países que, por ordem de frequência, registamos: Portugal, Brasil, Estados Unidos da América, Moçambique, França, Espanha, Angola, Cabo Verde, Kuwait, etc., o que traduz uma certa internacionalização do blogue e manifestamente da cultura portuguesa e lusófona abordada em diversos conteúdos.
Espero que estes textos de reflexão e/ou de investigação, as imagens e os vídeos ilustrativos continuem a merecer a vossa melhor atenção e apreço pelos conteúdos tratados e pela criatividade, aqui, imprimida. Tenho procurado, sempre, cuidar da apresentação estética do blogue com um profundo gosto clássico, herdado de uma matriz helénica.
Pensei mudar a configuração visual do blogue, mas como não encontrei um padrão estético que galvanize o meu interesse prefiro, por enquanto, deixá-lo como está, porque como diz o provérbio popular, de grande sabedoria “pior a emenda do que o soneto”, mais vale deixar estar alguma coisa do que mudá-la para pior.
Deixo, aqui, alguns dos últimos “post’s”, deste último ano, mais significativos para que possam ter uma noção da amplitude temática abordada:
As áreas da educação, da política e do futebol confrontam-se, sempre, com a análise dos processos e dos resultados da parte de leigos e de especialistas. Muitas vezes acontece que os analistas e os decisores tomam partido por uma perspectiva de análise que valoriza os resultados em detrimento dos processos devido à predominância da mentalidade pragmática[1]. Segundo este pensamento, o critério da verdade é a utilidade prática das técnicas educativas, das medidas políticas ou das tácticas de jogo.
Num mundo crescentemente tecnocrático, com parâmetros econométricos que submergem os outros critérios de avaliação, não admira a importância excessiva que é dada aos resultados educativos, políticos e futebolísticos. Nas leituras apressadas, desta Era da Globalização, sempre que os resultados são frustrantes abrem-se crises. No entanto, como é sabido, a verdadeira crise actual reside no esquecimento de valores morais que devem reger as condutas humanas.
Na verdade, tem de se encontrar um meio-termo, dificilmente quantificável, de análise que pondere os processos e os resultados, pois irei dar dois exemplos relativos à desvalorização deste princípio basilar. Nem sempre é fácil atingir em educação este meio-termo, daí que o Professor Nuno Crato[2] tenha andado a criticar, aquilo que o Professor Marçal Grilo chamou de “eduquês”, as modernas pedagogias românticas de darem demasiado destaque aos processos educativos construtivos baseados nos sujeitos das aprendizagens. Com efeito, só através de uma dose de Humanismo e de Pragmatismo se pode alcançar este meio-termo nas práticas pedagógicas, porque nos devemos recordar que a pedagogia exige arte, ciência e técnica. Se centramos a pedagogia na ciência visamos, mormente, os resultados de aprendizagem, mas se centramos a pedagogia na arte visamos, sobretudo, os processos de aprendizagem. De forma que, o grande desafio que se abre à Educação Internacional, à revelia desta Era Tecnocrática, é a de conseguir um equilíbrio entre os processos e os resultados educativos.
A hegemonia da corrente pragmática nesta era da Globalização tem favorecido o ataque especulativo aos países criativos de matriz Latina, ou de influência católica, em 2010-2011 (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália e Bélgica). De facto, mais uma vez, é a pressão dos resultados e a depreciação da capacidade criativa destes povos e da sua rica herança cultural que está em questão. Ora o destino da moeda única Europeia (o Euro), e da própria União Europeia, não pode depender da adopção de um padrão cultural comum que garanta a concretização de resultados financeiros, porque a riqueza da Europa é, precisamente, a sua diversidade de costumes, de tradições e de culturas. Este é, pois, o desafio incontornável que se abre à Europa neste momento de crise financeira.
Um bom exemplo desta dicotomia ideológica foi o Campeonato da Europa 2004, realizado em Portugal, em que a selecção portuguesa dirigida por um brasileiro, Luiz Felipe Scolari, foi vencida na Final pela selecção grega dirigida por um alemão, Otto Rehhagel, que conquistou o título de selecção campeã Europeia de Futebol nesse ano. Enfrentaram-se dois estilos de futebol: o grego, germanizado, que adoptou um estilo pragmático à procura de resultados e o português que adoptou um estilo artístico, baseado na “posse de bola”, que buscou os processos que encantaram milhões de espectadores em todo o mundo, mas que claudicou frente ao Hércules grego possuidor de um estilo de jogo “sem arte, mas com engenho”.
O Futebol Clube de Barcelona, na Europa em 2010-2011, é o modelo de futebol síntese que conseguiu conciliar os resultados desportivos com os processos futebolísticos, que deram um grandioso espectáculo ao mundo, comandados pelo catalão Josep Guardiola i Sala. Este edificante exemplo deve servir de inspiração, na Educação e na Política, para que se pense, concomitantemente, nos processos e nos resultados, no sentido de se superarem estes estrangulamentos da crise destes sectores da vida colectiva global, que mais não são do que um reflexo da crise de valores que atravessa a História da Humanidade no início do século XXI. Em suma, o Futebol Clube de Barcelona por se ter alavancado nos três pilares interdependentes (a arte, a ciência e a técnica) proporcionou ao mundo um futebol magistral que obteve resultados estratosféricos com processos artísticos moldados na consabida criatividade catalã.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
[1] O pragmatismo como corrente filosófica nasceu nos EUA com o pensamento do filósofo William James (1842-1910).
Sir Ken Robinson é um consagrado autor britânico, nascido em Liverpool em 1950, que se tem destacado, no mundo anglófono, como um especialista nas questões da Educação. Esta pequena apresentação audiovisual fala-nos da necessidade de mudar o paradigma da Educação que está assente em pressupostos arcaicos. Na verdade, todos os países do mundo estão, na actualidade, a tentar fazer reformas nos seus sistemas de ensino e em traços muito sintéticos o autor aborda-nos algumas linhas da evolução histórica deste sistema na Civilização Ocidental. A problemática que nos levanta reside nos paradoxos com que está confrontado o actual sistema, que herdado dos séculos anteriores, não se compagina com o conceito, universalmente aceite, da inteligência emocional investigado por Daniel Goleman e António Damásio e com as desigualdades sociais potenciados pelo vigente sistema em vigor na maioria dos países.
Os vícios criados pelo ambiente social contemporâneo geram, também, falta de atenção e de concentração nas responsabilidades escolares dos alunos (medicação exagerada, estímulos tecnológicos excessivos e os constantes apelos ao consumismo) e têm gerado cidadãos muito individualistas pouco adaptados às exigências da Globalização.
As Artes e as Humanidades tem sido neste nocivo processo secundarizadas, como já o dizia Leonardo Coimbra – ministro da Instrução da I República, pela lógica do linear economicismo que não é compatível com os interesses do desenvolvimento humano e com a necessidade de potenciar as inteligências emocionais dos indivíduos. Ken Robinson faz-nos uma interessante comparação das escolas actuais com as fábricas, o que tem levado à exacerbada avaliação quantitativa através do desenho de perfis educativos dos alunos e dos nefastos rankings de escolas concebidos de acordo com parâmetros essencialmente cognitivos. A pertinente sugestão do autor é alicerçar os sistemas educativos na estratégia pedagógica do pensamento divergente como caminho imprescindível para se atingir a criatividade nas escolas e na necessidade de encontrar um novo paradigma global para se superarem estes paradoxos e constrangimentos. Este interessante documento audiovisual, que apresento, tive dele conhecimento através do blogue Córtex Frontal numa pertinente iniciativa de divulgação de Joana Amaral Dias.