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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TURISMO - O CASO PORTUGUÊS

 

Portugal é um país com imensas potencialidades turísticas, pela variadade das suas regiões continentais e insulares, pelo clima temperado, pelas suas populações hospitaleiras, pela grande riqueza gastronómica, pelo largo conjunto monumental, histórico e natural, classificado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO e pelas praias infindáveis do seu litoral meridional e ocidental.

 

Podemos invocar alguns locais feéricos para cheirar o ambiente poético que paira no ar. Não é, pois, casual a designação de “Portugal como país de poetas”, tais são os inúmeros locais inspiradores das musas poéticas como Sintra, a paisagem duriense, as cidades de Lisboa e do Funchal, as pitorescas localidades de Monsaraz, de Serpa, de Linhares da Beira, de Piodão, de Freixo de Espada-à-Cinta, as sublimes cidades de Tavira, de Aveiro, do Porto, as encantatórias vilas de Ponte de Lima, da Ericeira, da Nazaré, de Óbidos, a paisagem magistral da Lagoa das Sete Cidades e as doces planícies douradas do Alentejo e tantas outras.

 

Aliás, num desejável conceito estratégico nacional, deve incorporar-se como uma das prioridades da pátria portuguesa a exploração sustentável desta riqueza natural ímpar, moldada pela sensibilidade estética do português, que o Criador nos legou.

 

Se as condições naturais nos favoreceram com um habitat para uma vida saudável, como a presença de importantes vestígios arqueológicos milenares pré-históricos, do norte ao sul do país, bem testemunham, apesar de não termos sido bafejados com recursos minerais valiosos, devemos agradecer à Divina Providência esta casa comum onde conseguimos medrar como povo latino de consabida inteligência emocional.

 

Se nem sempre os investimentos em infraestruturas turísticas realizadas valorizaram a paisagem, como foi o caso evidente do descontrolado crescimento urbanístico no litoral algarvio no último quartel do século XX, que desfeiou a prodigiosa paisagem natural da frente meridional, tem havido mais recentemente políticas tardias, mas sensatas, de reordenamento do território.  

 

Portugal é um país privilegiado no turismo marítimo, uma vez que através de Lisboa, cidade maravilhosa e solarenga das sete colinas, passam hoje em dia muitos navios de cruzeiro que vislumbram a sublime zona ribeirinha, alfacinha, com os seus prédios bem coloridos, a fazer lembrar as prodigiosas pinturas de Carlos Botelho e de Maluda, o magistral livro A Cidade de Ulisses de Teolinda Gersão e a homenagem do arquiteto Tomás Taveira, nos anos 80 do século XX, num conjunto arquitectónico de muito discutível gosto.

 

Neste país, periférico da Europa, mas à beira mar plantado, há uma diversificada oferta de tipos de turismo, e a título de exemplos: de saúde nas termas de Monfortinho; religioso no Santuário de Nossa Senhora de Fátima; recreativo nas praias algarvias e na sua intensa vida nocturna ou na movida lisboeta; desportivo no evento Euro 2004; cultural na multiplicidade de monumentos históricos, que a mais velha nação da Europa, na sua configuração fronteiriça, tem sabido deixar ao mundo e de negócios com a realização de múltiplos convénios profissionais e científicos internacionais, etc.

 

Na evolução histórica do turismo constam, como precedentes dos séculos I a. C. ao XV d. C., as viagens de gregos e de romanos no Mar Mediterrâneo, as míticas peregrinações medievais onde se adoravam as relíquias de muitos santos e, por fim, no crepúsculo da Idade Média, as viagens de comércio de flamengos, de genevezes, de venezianos e de florentinos.

 

Num segundo período, que compreende os séculos XVI a XVIII, houve um aumento de viagens particulares da aristocracia e da burguesia, designadamente com o Grand Tour efectuado na Europa por diplomatas e por estudantes abastados. Na sequente conjuntura histórica, em oitocentos, desenvolveram-se ainda os centros termais que se constituíram como locais singulares de convívio dos grupos de elite. As grandes guerras mundiais fizeram retrair os fluxos turísticos no mundo e, em particular, na Europa.

 

De facto, Portugal é um país com muitas potencialidades turísticas pelas suas condições naturais, pelos investimentos realizados em infraestruturas e pela capacidade criativa que está no ADN deste distinto povo latino. No entanto, só na segunda metade do século XX e com a democratização do turismo se começaram a construir estruturas hoteleiras de grandes dimensões de acolhimento de turistas nacionais e estrangeiros.

 

Com efeito, foi a partir dos anos de 1950 e de 1960, com a obtenção do direito de férias pagas e com o desenvolvimento dos transportes aéreos e terrestres, que aparecem unidades hoteleiras de dimensão considerável fora da capital, passando a proliferar as agências de viagem e as tipologias de viagens organizadas.

 

Em suma, Portugal, pelas suas caraterísticas climáticas, pela riqueza do património edificado e classificado pela UNESCO e pela diversidade das paisagens, como já o enunciava Fernando Pessoa a propósito da revista Orpheu, pela singularidade qualitativa da sua gastronomia, pelo primor dos seus vinhos e pela multiplicidade das suas tradições locais, constitue-se como país excecional para o desenvolvimento turístico. Esta deve ser, aliás, uma das prioridades estratégicas a ser tida em conta num futuro conceito estratégico nacional, que tanta falta faz ao nosso país, como o reconhece lucidamente o Professor Adriano Moreira.

 

Last but not least, não podemos olvidar-nos de uma sensibilidade humanista universalista, na aceção de Jaime Cortesão, que nos carateriza nas qualidades de acolhimento turístico bem como nas qualidades de um povo que, historicamente, soube dar novos mundos ao mundo num espírito de fraternidade, de convívio e de encontro pacífico e tolerante com outros povos desde a era dos Descobrimentos marítimos.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

A ATRIBULADA VIAGEM DE JOAQUIM ZEFERINO – UM CONTO (AUTORIA DE NUNO SOTTO MAYOR FERRÃO)

 

 Joseph Mallard William Turner, Naufrágio 1805

 

Joaquim Zeferino, pescador da Ericeira, com uma tez curtida pelo Sol e pela Vida aprestava-se a embarcar para uma nova viagem, de longo curso, no alto mar para a pesca do Bacalhau nas Águas Frias do Mar da Noruega. A sua ausência por longas semanas despertava na sua mulher, Ermelinda, e nos seus filhos, Paula e Fernando, um sentimento de profunda saudade. Joaquim para mitigar este sentimento costumava despedir-se com um forte e sentido amplexo a Ermelinda, a Paula e a Fernando. Desta vez, com uma sensação premonitória de algo a acontecer, que extravasou a expressão pura do afecto, sorriu e chorou, o que os deixou muito comovidos.

 

Ermelinda perguntou, então, a Joaquim:

- Homem, o que se passa contigo?

- Cheira-me que algo vai acontecer!

- Mas o quê, Homem?

- Alguma tragédia que o Mar trará…

- Deixa-te de tolices que assustas os miúdos!!

 

Passada esta curta troca de palavras e de afectos, Joaquim começou a fazer os preparativos para a sua longa jornada de labuta. Juntou os seus pertences, alguma roupa e alguns enlatados para a sua viagem aos Mares Nórdicos. Entretanto, Quim, como era conhecido no seu círculo íntimo, saiu para ir ao café, junto às Ribas, despedir-se dos amigos com quem se costumava encontrar, com frequência. De facto, o companheirismo, a solidariedade e a união fraterna eram traços bem característicos da comunidade piscatória. Antes de embarcar, Joaquim, cristão devoto, passou pela Capela de Santo António para rezar uma prece, rogando a Nossa Senhora da Boa Viagem uma jornada tranquila às águas do “Bacalhau”.

 

Ao início do dia seguinte, transcorria o ano de 2011, dirigiu-se com alguns companheiros ao Porto de Peniche, de onde iria sair o barco que os levaria à pescaria do “fiel amigo”. Joaquim, mal o barco entrou no Oceano Atlântico, benzeu-se pedindo a Deus uma viagem tranquila, pois, apesar da sua longa experiência, o respeito que as vagas marítimas lhe mereciam faziam-no ter recorrentemente este gesto simbólico. Nos primeiros dias a viagem correu sem sobressaltos, no entanto na segunda semana de viagem houve um dia em que tiveram de enfrentar uma violenta tempestade que provocou vagas alterosas. A união e a proficiência deste grupo de pescadores eram bem visíveis neste tipo de situações, além de que o barco era bem resistente. 

 

A dada altura o timoneiro solta um brado aflito da ponte de comando:

- Há navio a naufragar a estibordo!

Diz a tripulação em uníssono:

- Vamos acudir!

- Temos que ter cuidado, mantendo a distância, para não chocarmos com o outro barco em apuros.

- Sim! Mas temos de agir!

- Lancemos os nossos botes e as bóias salva-vidas para os socorrer!

 

Joaquim Zeferino lançando, energicamente, mão destes instrumentos de socorro marítimo, mal o barco se aproximou, arremessou-os para junto dos náufragos. A tempestade rugia, assustadoramente ao mais experimentado pescador, e o mar agitado tornava o barco cambaleante, mas Joaquim habituado a estas lides deu consigo a meditar, instantaneamente, que era nos momentos de tormentas que a unidade do género humano se via, pois que da tripulação que estava a ser resgatada se desconhecia, inclusivamente, a nacionalidade.

 

Após grandes esforços para salvar a tripulação do barco naufragado, tendo sido, ainda, solicitada a ajuda de um navio que navegava nas proximidades, verificou-se que infelizmente tinham perdido a vida três náufragos. Foi, contudo, para Joaquim uma sensação de grande alívio saber que pôde, com os seus camaradas de bordo, salvar algumas dezenas de seres humanos que andavam na faina piscatória.

 

Perguntou-lhes Joaquim na sua inata curiosidade:

- Qual é a vossa nacionalidade? Quel es votre nacionalité? What is your nacionality?

- We are english, from Portsmouth.

Trocadas algumas outras impressões, os náufragos foram abrigados do temporal no interior do barco e procedeu-se ao socorro dos feridos. Foram agasalhados e deram-lhes alguns víveres para recuperarem forças do extenuante sacrifício que se viram obrigados a fazer para conseguirem sobreviver. Logo se combinou com o pessoal do outro navio inglês, alertado, que mal o temporal amainasse se faria o transbordo dos náufragos, uma vez que o barco que submergiu pertencia à mesma companhia do outro navio que respondeu ao pedido de socorro. 

 

Entretanto, a viagem do barco “Nau Catrineta”, assim se chama a embarcação em que Joaquim Zeferino seguia, pôde prosseguir em direcção às terras frias da Noruega, tendo contudo enfrentado, ainda, novas tempestades sem que se tenham verificado novos contratempos de permeio. Feitas as pescarias, ao longo de vários dias, do “fiel amigo”, como é popularmente conhecido o bacalhau pelas mil e uma maneiras de o cozinhar, teve a tripulação oportunidade de regressar à pátria com uma carga muito inferior à esperada. Infelizmente, para Joaquim Zeferino e seus camaradas de labuta, o preço do bacalhau tinha descido, a sua abundante pesca e a constante contaminação dos mares com escórias das explorações petrolíferas tinham tornado estas jornadas a bordo dos bacalhoeiros bastante menos rentáveis.

 

Na viagem, de regresso à pátria, Joaquim Zeferino sentiu uma sensação ambivalente de enormes saudades de Ermelinda, de Paula e de Fernando e, simultaneamente, uma constrangedora decepção por saber que a pescaria tinha sido pouco produtiva. Joaquim, apesar da sua fraca escolaridade, possuía uma lucidez e uma sensatez, invulgares, escoradas numa fé cristã inabalável que lhe apaziguava a alma com laivos de esperança. Por isso, resolveu pensar que esse contragosto se recomporia.

 

No meio deste turbilhão emocional, Joaquim e seus companheiros foram recebidos em apoteótica recepção, da parte da comunidade piscatória Ericeirense e das entidades locais, porque desta vez os pescadores da Ericeira desembarcaram na praia das Ribas e os restantes seguiram viagem até ao porto de Peniche. Assim, as pessoas que os recebiam manifestavam uma particular comoção pelo heroísmo e bravura com que estes humildes pescadores salvaram, no meio de uma violenta tempestade em pleno Oceano Atlântico, dezenas de náufragos estrangeiros. Joaquim, pela sua alma generosa, cheia de uma doce bondade, sempre foi acarinhado nesta terra de sãs convivências, mas o seu prestígio de homem de bem, de coragem e de boa vontade cresceu com a circulação desta notícia na Ericeira e nas suas imediações.

 

No entanto, as marés da vida de Joaquim estavam longe de ser amenas, quase parecendo as marés vivas oceânicas que tanto conhecia e respeitava. Os fracos resultados da venda do bacalhau levaram o Mestre e dono da embarcação “Nau Catrineta” a confessar a Joaquim que teria, com grande probabilidade, de diminuir os salários da sua tripulação.

 

O nosso personagem, oprimido com a notícia, propôs-lhe com grande angústia que pagasse os salários combinados, mas que, no limite, se fosse preciso vendesse a sua embarcação, dado que o negócio da pesca e a salga do bacalhau estava pelos “mares da amargura”. Este prudente conselho, de Joaquim a Mestre André, convenceu-o. Assim, poucos dias após esta conversa franca, Mestre André vende o seu barco e num gesto inusitado paga aos seus assalariados um montante bastante inferior ao acordado, o que deixa Joaquim e os seus companheiros muito indignados e revoltados com esta injusta atitude. Joaquim, homem de bom coração e de redobrada reputação devido ao seu heroísmo, incita os seus companheiros, com o apoio do sindicato dos pescadores, a iniciarem uma judicialização da contenda.

 

Nesta altura, Joaquim Zeferino, com 52 anos de idade, tem de enfrentar uma ingrata situação de desemprego, mas graças ao seu prestígio ético e aos biscates que faz consegue ir sobrevivendo sem desesperar. Vale-lhe ainda, neste tempo de penúria, a mão amiga dos seus familiares, dos seus irmãos, que lhe dão o apoio financeiro para se amanhar no sustento do seu “doce lar”.

 

O nosso protagonista, cheio das suas férreas convicções, apesar do abatimento moral resultante do desemprego e da necessidade de aceitar as ajudas familiares, não abdica da reivindicação dos legítimos Direitos, seus e dos respectivos companheiros, de ser ressarcido das trafulhices do seu patrão e incita-os à resolução judicial da injustiça cometida. Esta sua fibra moral é muito admirada pelos seus amigos, pela Ermelinda, pela Paula e pelo Fernando que o acarinham pela sua abnegação cívica a favor dos legítimos Direitos dos pescadores lesados.

 

Este momento de crise laboral foi para Joaquim Zeferino bastante reconstrutivo, pois pelo seu bom coração tornou-se rendeiro de um proprietário rural com terras em Mafra, dedicou-se à realização de biscates e pôde empenhar-se como voluntário em obras de beneficência social promovidas pela Igreja de São Pedro, da Ericeira. Esta situação apaziguou o seu espírito generoso por poder, num tempo de uma violenta crise económica, nacional e internacional, garantir uma subsistência digna e, ao mesmo tempo, poder concretizar uma obra social a favor dos seus semelhantes mais próximos. Todavia, foi do seu íntimo que lhe brotou essa satisfação e não tanto das formas exteriores de reconhecimento, uma vez que o fez por convicção e por um sentimento de profunda compaixão para com os seus conterrâneos.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

Monumento ao bacalhoeiro – Freguesia de Lavos (Figueira da Foz)

A ERICEIRA, AS FESTAS DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM E A SUA POLÍTICA TURÍSTICA - PASSADO, PRESENTE E FUTURO

 

 

 

A nobre e bela vila da Ericeira, que acolhe de forma hospitaleira os turistas nacionais e estrangeiros (estes atraídos, em grande parte, pelo marketing do “surf”), realizou este ano, nos dias 19, 20, 21, 22 de Agosto, as Festas em homenagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira dos pescadores que se recolhe na capela altaneira à praia de onde partem as embarcações. Estas Festas populares têm como máximo expoente a procissão marítima, singular, em honra da sua padroeira que promete proteger os seus afoitos navegadores contra as vagas atlânticas que, saindo do porto da Ericeira, atravessam.

 

Numa crónica anterior, intitulada “Ericeira, uma vila pitoresca de sublime beleza”, já enfatizei alguns aspectos que singularizam e tipificam esta bonita vila da região Oeste de Portugal. Convém lembrar que esta localidade piscatória se tornou uma importante estância balnear desde a 1ª República, que viu instalarem-se aqui para veraneio várias famílias das elites da sociedade portuguesa.

 

José Ministro dos Santos, Presidente da Câmara Municipal de Mafra, tem investido numa política turística que projectou a Ericeira como um dos pólos mundiais de “surf”. Esta estratégia turística tem passado por especiais cuidados urbanísticos que tornam muito cómoda a estadia dos visitantes. Assim, as entidades locais, desde longa data[1], têm criado e impulsionado recintos pitorescos (miradouros, bancos públicos, recintos recreativos, etc.) que dão aos turistas uma sensação de paradisíaco acolhimento. Na Ericeira as preocupações ecológicas têm estado na ordem do dia, por esta razão existem inúmeros “ecopontos” e recipientes de lixo com múltiplas versatilidades em termos de reciclagem de diversíssimos materiais (pastilhas, cigarros, roupas, etc).

 

É, também, de destacar o empenho autárquico no saneamento da costa marítima perto da Ericeira, que a fez ganhar espaço entre as praias com bandeira azul, em particular a praia do Sul que pela sua importância histórica tem recebido nos últimos anos vários melhoramentos. Aliás, ainda me recordo de ver o caminho pedonal, de acesso à praia do Sul, parcialmente destruído pela força das vagas marítimas durante os Invernos mais rigorosos do fim do século XX. Foi, igualmente, uma excelente iniciativa a restrição da circulação automóvel no centro da Ericeira (Praça da República e suas imediações), uma vez que permitiu alargar as zonas pedonais para que os turistas e os peões pudessem desfrutar da beleza das casas típicas portuguesas e os recantos emblemáticos que lá se podem encontrar.

 

Na verdade, a vila merece ser conhecida nos seus mil e um lugares paradisíacos, através de passeios a pé, com pequenas histórias para contar e ricos elementos do património edificado para contemplar[2]. A envolvente regional, paisagística e arquitectónica[3], também não é de menosprezar.

 

Para apreciar o recorte costeiro, observando a disposição anímica do mar, as névoas oníricas lembrando a lenda de D. Sebastião ou um encantador pôr-do-sol, digno dum ensaio pictórico ou fotográfico, vale a pena percorrer a pé os lindos passeios turísticos que partem da Ericeira, como se esta tivesse os braços abertos ao mar, em sinal do seu destino, em direcção ao Sul rumo à praia da Foz do Lisandro ou em direcção ao Norte rumo à praia dos “surfistas”, denominada Ribeira de Ilhas. Além desta extraordinária beleza poética, que a Ericeira pode desvendar aos visitantes, há outra dimensão que pode atrair os turistas.

 

Com efeito, a intensa vida social, marcada por um espaço circunscrito e por gerações que veraneiam nesta terra de “pergaminhos históricos”, pode ser outro pólo de atracção. Em Agosto, como salientámos, as Festas Populares em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem fazem confluir gentes da região e do país em romaria ou em passeio lúdico. No entanto, em boa parte do ano, nos fins-de-semana ou nos períodos de férias, nos inúmeros cafés do seu centro histórico, em particular perto do “Jogo da Bola” (Praça da República) reúnem-se famílias e amigos de longa data em amenas cavaqueiras, num espaço privilegiado de convivência e de comércio. A par dos cafés, como locais paradigmáticos de convívio, importa realçar a qualidade dos espaços de restauração que se dedicam ao pescado e ao marisco de grande abundância nesta vila de tradições pesqueiras.

 

Em síntese, a Ericeira pela sua privilegiada localização geográfica é um memorável “bilhete-postal” para o turista percepcionar a missão de Portugal no mundo: a abertura ao mar como espaço de vastos recursos naturais, de união entre povos, de destino histórico da pátria e de evasão poética que pode insuflar de inspiração lírica a alma dos turistas em fuga da pequenez materialista desta Globalização claustrofóbica! Vale bem a pena respirar os ares salubres da Ericeira num passeio turístico que tem condições para ser memorável. Fica a sugestão.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão



[1] Por exemplo, a Comissão de Iniciativa de Turismo da Ericeira nos anos 20 do século passado procurou embelezar com vários recantos pitorescos a vila.

[2] Tem-se desenvolvido uma interessante bibliografia sobre a Ericeira promovida pela Editora Mar de Letras, em grande parte com o apoio documental existente no Arquivo da Santa Casa da Misericórdia da Ericeira.

[3]A serra de Sintra, o Cabo da Roca, a Tapada de Mafra e o seu respectivo Palácio Nacional contam-se entre os sítios notáveis que se situam na vizinhança desta insigne vila da Ericeira. 

                        

 

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