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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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20 ANOS DA EXPO 98 (1998-2018) E OS 78 ANOS DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS (1940-2018)

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A 23 de maio de 2018 assinalam-se os 20 anos sobre a realização da Expo 98, certame internacional no contexto inicial da globalização, em que se celebrava o V Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Este evento motivou o nome atribuído à segunda ponte sobre o Tejo da cidade de Lisboa, com o navegador responsável pelo feito – Vasco da Gama e que foi inspirado - e muito melhor planeado - na Expo Sevilha 92, que registou publicamente a descoberta das Antilhas por Cristovão Colombo.

 

A Expo 98 veio a modernizar uma zona ribeirinha de Lisboa marcada pela paisagem industrial, permitindo aos cidadãos uma maior proximidade vivencial com o rio Tejo. António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura idealizaram este certame internacional, que renovou a paisagem urbanística de Lisboa. De uma cidade de traçado e de perfil tradicional em termos urbanísticos e arquitectónicos, não obstante as erupções modernistas de Porfírio Pardal Monteiro, transformou-se numa cidade com um pólo muito modernista, que veio a designar-se de Parque das Nações.

 

O crescimento da cidade de Lisboa, em direção ao interior, desde o início do século XX, com o surgimento das Avenidas Novas durante o Estado Novo e com bairros novos no fim do regime da ditadura e no início do regime democrático levou os lisboetas, alfacinhas, a virarem as costas ao rio.

 

Contudo, Lisboa tem duas faces inequívocas: a zona litoral ligada ao Império Colonial Português e à expansão marítima e a zona interior, que confina com a “região saloia”, hoje transformada em área metropolitana da capital com cidades-satélite e localidades autênticos dormitórios, em que as casas se debruçam sobre os campos, aproveitando o facto para fazerem pequenos quintais de produtos hortícolas, como bem o frisou o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles na sua definição da identidade alfacinha da cidade de Lisboa.

 

Tal como a Expo 98 possibilitou a renovação da área urbana na zona oriental de Lisboa, também em 1940 a zona de Belém, que se encontrava bem degradada com um hediondo parque industrial, foi nobilitada pela realização de arranjos urbanísticos no seio da Exposição do Mundo Português.

 

A exposição internacional do fim do século XX foi o motivo para a renovação urbanística deste espaço da capital portuguesa, tendo tirado partido dos ensinamentos advindos da Expo de Sevilha de 1992, em que o recinto de exposições se volveu num espaço fantasma, abondonado ao vento e aos insectos. 

 

Na Expo 98 edificaram-se pavilhões efémeros de vários países, mas também foram construídos vários edifícios perduráveis como o antigamente denominado Pavilhão Atlântico, o Pavilhão de Portugal ou o Oceanário, entre outros.

 

Na Exposição do Mundo Português a maioria dos pavilhões, como são os casos do Pavilhão da Formação e Conquista, do Pavilhão da Independência e do Pavilhão dos Descobrimentos, foram construídos em materiais efémeros e apenas alguns persistem como o denominado Museu de Arte Popular e o Padrão dos Descobrimentos, este edificado de forma definitiva em 1960 para assinalar o V Centenário da morte do Infante D. Henrique e a própria Praça do Império.

 

A Exposição do Mundo Português, que foi inaugurada a 23 de junho de 1940, em pleno contexto da 2ª guerra mundial com a Europa sob o jugo nazi, decorreu no contexto nacionalista do regime de António de Oliveira Salazar, celebrando, concomitantemente, as datas de 1140 e de 1640 ligadas à independência portuguesa do reino e à restauração da soberania nacional após o domínio Filipino. O espaço industrial de Belém foi transformado em espaço urbano, que com o decorrer das décadas do século XX se assumiu como um espaço nobre de manifestações públicas e, igualmente, um lugar privilegiado do turismo cultural.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

LISBOA NOS SEUS ARRANJOS URBANÍSTICOS, DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS ÀS OBRAS DA AUTARQUIA (1940-2017)

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Em 1940, em celebração da fundação da nacionalidade portuguesa (1140) e da restauração da independência portuguesa (1640), ergueu-se a Exposição do Mundo Português, no sítio de Belém, que renovou urbanisticamente uma área desfeiada com infraestruturas industriais, como já o denunciava Ramalho Ortigão, no final do século XIX no livro O culto da arte em Portugal.

 

Deste modo, com este evento ergueu-se a Praça do Império e as suas respetivas esculturas do artista António Duarte, que dignificaram o largo de acesso ao Mosteiro evocativo dos descobrimentos portugueses, bem como de docas recreativas que enobreceram o local.

 

Este evento nacional, de afirmação da ideologia nacionalista do Estado Novo, permitiu renovar a área envolvente ao Mosteiro de Santa Maria de Belém, vulgarmente designado, de forma errada, de Mosteiro dos Jerónimos. No “consulado cavaquista”, do primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva, ergueu-se o Centro Cultural de Belém, causador de acesa polémica na época pela sua proximidade ao monuento histórico quinhentista, que hoje constitui também um dos pólos inequívocos de atração turística desta zona.

 

Em 1998, assinalando o V Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia, realizou-se a Expo 98, que possibilitou renovar a área urbana hoje chamada de Parque das Nações, na zona oriental de Lisboa. Tal como em 1940, esta área encontrava-se, também, bem degradada com um feio parque industrial e a Exposição internacional foi o motivo para a renovação urbanística deste espaço da capital portuguesa, tendo tirado partido dos ensinamentos advindos da Expo de Sevilha de 1992, em que o recinto de exposições se tornou um espaço fantasma, abondonado ao vento e aos insectos.

 

Com estas duas exposições portuguesas, de 1940 e de 1998, Lisboa fez ressurgir duas zonas de enorme potencial turístico junto ao rio Tejo. Se a primeira exposição teve um carácter efémero pelas suas construções em materiais não duradoiros, apesar da construção definitiva do ex-libris da Exposição, em 1960, por altura do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, o Padrão dos Descobrimentos, o segundo certame teve um carácter perene com a projeção de um bairro de luxo que animou esta zona da capital portuguesa, marcada também pelas emblemáticas construções da Torre e da Ponte Vasco da Gama.

 

Os arranjos urbanísticos da cidade de Lisboa do atual Presidente da Câmara Municipal, Fernando Medina, previstos para decorrerem de maio de 2016 a fevereiro de 2017, que têm deixado muitos lisboetas com “os cabelos em pé” com o aumento dos congestionamentos rodoviários, poderão constituir outro salto qualitativo nos arranjos urbanísticos no centro da cidade, chamado, no projeto de arquitetura paisagística, de Eixo Central de Lisboa respeitante às avenidas Fontes Pereira de Melo e da República e às praças de Picoas e do Saldanha. Talvez a misericórdia opinativa, perante as obras deste Presidente da Autarquia, chegue por volta de 2034 ou de 2094, para os mais indignados “alfacinhas”.

 

De entre as finalidades desta renovação urbanística destacam-se a criação de condições para a atratividade turística; a garantia da sustentabilidade ambiental do centro de Lisboa, que se está a tornar pouco saudável; e o fomento da maior qualidade de vida aos seus habitantes com passeios mais largos, com ciclovias e com corredores verdejantes.

 

Neste exemplo, estas obras não estão ligadas a nenhum acontecimento evocativo da nossa memória coletiva, mas visam preparar o futuro da cidade.

 

Para alguns cidadãos, estas múltiplas obras de renovação dos espaços urbanos de Lisboa são fruto de uma finalidade eleitoralista mas, tal como os atletas e os futebolistas fazem um esforço suplementar no final das corridas ou dos seus jogos, os políticos fazem um esforço renovado no final dos seus mandatos, o que é absolutamente natural, mas logo as pessoas de outros quadrantes políticos propalam essa interpretação.

 

Nestes dias realiza-se também a “Web Summit” na cidade de Lisboa, tornando-a uma cidade apostada no empreendorismo tecnológico para o futuro.

 

Em conclusão, é importante que esta preocupação com a projeção do presente e do futuro não faça esquecer o nosso passado e, em particular, o nosso património, pois convém que a preocupação com a tecnologia seja colaborante com o respeito pela memória coletiva dos cidadãos portugueses, lusófonos, europeus e mundais, o que não foi o caso recente do turista que, no Museu Nacional de Arte Antiga, “afogado em tecnologia” querendo tirar uma fotografia, destruiu uma escultura sacra do século XVIII.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

A PERIODIZAÇÃO DO EMERGIR DAS DIFERENTES TESES COLONIAIS PORTUGUESAS ENTRE 1919 E 1945 - HISTÓRIA DE PORTUGAL

 

José Maria Norton de Matos

 

 

  Livro de Manuel de Brito Camacho (Lisboa 1923)                  -          Exposição Colonial Portuguesa (Porto 1934)

 

Analisando os quadros cronológicos verificamos que o grande debate das teses coloniais portuguesas decorreu entre 1919 e 1931 na época em que se fazia sentir uma profunda crise administrativa nas colónias de Angola e de Moçambique, em que se complexificavam as instituições administrativas coloniais e em que existia uma notória instabilidade política na 1ª República e mesmo na Ditadura Militar, o que tornou possível uma discussão muito ampla e uma grande multiplicidade de teses propostas para fazer funcionar a máquina administrativa colonial em construção. Podemos detetar nas cronologias quatro grandes fases do aparecimento das teses coloniais.

 

1ª Fase - De 1919 a 1923, quando se concretiza o regime dos Altos Comissários, manifestam-se sobretudo teses descentralizadoras moderadas na metrópole que visavam sugerir aperfeiçoamentos pontuais do sistema administrativo colonial e teses anticoloniais parciais ou totais que fervilharam, em particular, em Moçambique e em Angola. Estas teses anticoloniais foram defendidas por colonos empreendedores descontentes com as políticas laborais protecionistas das populações nativas promovidas por José Maria Norton de Matos e Manuel de Brito Camacho.

 

2ª Fase - No ano de 1924 tornou-se aguda a crise financeira em Angola e em Moçambique, o que deu lugar à destituição destes dois Altos Comissários, dando origem à prevalência conjuntural da tese heterodoxa centralizadora de fiscalização da estrutura administrativa colonial, pois os seus defensores pensavam que só assim se conseguiriam evitar novas situações de rutura financeira. Esta tese foi especialmente ventilada no II Congresso Colonial Nacional realizado na Sociedade de Geografia de Lisboa.


3ª Fase – De 1925 a 1930 foram predominantes as teses descentralizadoras radicais ou descentralizadoras técnicas, porque começou a haver descrença no princípio da descentralização moderada que levará à mudança oficial para o princípio centralizador com a política colonial do comandante João Belo durante o início da Ditadura Militar. Assim, aquelas teses extremistas visaram aprofundar a operacionalização do mecanismo descentralizador no sentido de salvar este princípio das críticas que sofrera desde a crise colonial Angolana. Também, neste período, foi prevalecente no sul de Moçambique a tese anticolonial pan-africanista devido à pressão das ambições hegemónicas geo-estratégicas sul-africanas do carismático general Smuts.

 

4ª Fase – De 1930 a 1945 foi dominante a tese ortodoxa imperial centralizadora proposta pelo Acto Colonial em 1930 e o debate doutrinário restringiu-se praticamente ao III Congresso Colonial Nacional e a uma ou outra tese que passaram à revelia do controlo do regime autoritário. Com a institucionalização do Estado Novo em 1932 as instituições repressivas do regime e a inculcação da doutrina do regime através de fortes meios propagandísticos obstaculizaram a fácil circulação de teses coloniais heterodoxas.


Em 1930-31 duas grandes figuras do regime Republicano atacaram o espírito centralizador daquele diploma. Com efeito, Bernardino Machado, ex-presidente da República,  escreveu em 1930 um opúsculo afirmando que se consagrava uma “inconstitucional escravização das colónias” e José Maria Norton de Matos escrevendo no Primeiro de janeiro propôs em 1931 a tese heterodoxa de uma descentralização federalista para o império colonial português que compatibilizasse a integridade da soberania portuguesa no ultramar com o princípio da transferência de competências para os orgãos coloniais.

 

Contudo, foi talvez em Moçambique de 1930 a 1945 que se manifestou a principal tese colonial heterodoxa, anticolonial pan-africanista que defendia a integração económica ou mesmo política de Moçambique na União Sul-Africana, acarinhada por alguns grupos de colonos que mantinham relações económico-comerciais com o país vizinho. De facto, o impacto que esta tese heterodoxa teve nesta colónia resultou da influência do projeto ambicioso de Smuts que pretendia que se formasse uma União Pan-Africana que ligasse economicamente os Estados livres do sul de Àfrica, daí o apoio que receberam as teses heterodoxas que pugnavam pela libertação de Moçambique da soberania portuguesa.


Por outro lado, um outro fator explica a vitalidade destas teses heterodoxas anticoloniais que circularam em Moçambique, pois o facto de existir uma mentalidade segregacionista na África do Sul[1] encorajou os colonos capitalistas a pretenderem associar-se ao país vizinho e a desvincular-se dos critérios humanistas seguidos pela metrópole portuguesa na relação laboral com os autóctones[2]

 


[1] Não nos podemos esquecer que este segregacionismo larvar perante os negros que existia na sociedade sul-africana veio a desembocar na criação do regime do “Apparthaid” em 1948.

[2] Convém também lembrar que o auge da circulação das teses anticoloniais ( emancipalista e pan-africanista ) sucederam entre 1922 e 1924 entre grupos de colonos com interesses económicos em Angola e em Moçambique, na altura em que os Altos Comissários Norton de Matos e Brito Camacho procuraram proteger os autóctones dos abusos laborais dos patrões brancos.  


Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

FRANCISCO JOSÉ VIEIRA MACHADO (1898-1972) E A ESTRATÉGIA ECONÓMICA, IMPERIAL PORTUGUESA, NA CONJUNTURA DA 2ª GUERRA MUNDIAL

 

 

Francisco José Vieira Machado (1898-1972), filho do general Francisco José Machado, licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa em 1919. Posteriormente, tirou em Paris um Curso de Ciências Económicas que lhe permitiu ser integrado nos quadros do Banco Nacional Ultramarino e alçar-se a banqueiro de instituições financeiras coloniais. Da sua carreira político-administrativa, durante o Estado Novo, salientou-se no cargo de Subsectretário de Estado das Colónias (1934-1936), de Ministro das Colónias (1936-1944) e de Governador do Banco Nacional Ultramarino (1951-1972).

 

De facto, foi ministro no período crítico da história universal em que se iria desenrolar a Segunda Grande Guerra (1939-1945). Na sua concepção ideológica, o reforço das relações económicas no espaço imperial foi decisivo no concretizar daquilo a que ficou conhecido pelos historiadores como “Pacto Colonial”, isto é, a interdependência económica dos produtos metropolitanos e coloniais. Pretendeu, no seu longo “consulado”, à frente da pasta das colónias que as matérias-primas das terras de "além-mar" fossem absorvidas pela metrópole e que os produtos manufacturados metropolitanos fossem consumidos nas colónias.

 

Em suma, procurar materializar o conceito de império na vertente económica da relação comercial entre a metrópole e as colónias. Deste modo, assume que as colónias estavam ao serviço dos interesses económicos metropolitanos. Foi neste sentido, que impôs limites ao crescimento industrial das colónias, que tornou obrigatórias algumas culturas agrícolas nas colónias, que reforçou o regime do trabalho forçado dos "indígenas", que procurou impulsionar a exploração dos produtos coloniais e garantir o mercado colonial como mercado privilegiado para o consumo dos produtos industriais metropolitanos através de um sistema aduaneiro filtrador do comércio externo[1].

 

 Estas medidas técnicas tomadas por Francisco José Vieira Machado enquadram-se numa resposta à pressão sofrida por Portugal em Junho de 1937 na qual diversos autores estrangeiros contestam a nossa capacidade económica e legitimidade histórica de administrar as próprias colónias. Foi neste contexto histórico antecedente ao grande conflito mundial que a imprensa nacional e estrangeira invoca a possibilidade de algumas potências europeias pretenderem ceder territórios das colónias portuguesas à Alemanha e à Itália como forma de apaziguar os impulsos de expansionismo bélico de Adolfo Hitler e de Benito Mussolini.

 

A sua acção promotora da propaganda da ideologia colonial fomentou Congressos, Comemorações e Exposições Coloniais, das quais se destacou, nesta fase, a Exposição do Mundo Português de 1940, comemorativa do duplo centenário da nacionalidade (1140 e 1640) que permitiu a revalorização urbanística do sítio de Belém, à frente do Mosteiro dos Jerónimos, uma vez que essa zona estava ocupada por uma importante aglomeração industrial. Esta Exposição procurou patentear o mundo português, que se espraiava no tempo e no espaço, através dos diversos Pavilhões que rodeavam a Praça do Império, requalificando esteticamente essa área urbana de Lisboa.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão



[1] João Carlos Paulo, “Franscisco José Vieira Machado”, in Dicionário de História do Estado Novo, vol. II, Lisboa, Editora Bertrand, 1996, pp. 535-536.

 

 

 

LISBOA ANTIGA E MODERNA - RECONHECIMENTOS URBANÍSTICOS NA CIDADE DAS SETE COLINAS, APROXIMAÇÕES EMPÍRICAS À OLISIPOGRAFIA

Lisboa é uma cidade cheia de encantos que se espraia por uma área irregular alcandorando-se sobre o rio Tejo, donde partiram as naus e as caravelas para “abrir novos mundos ao mundo” nos séculos XV e XVI. As luzes, as sombras e as cores magníficas que sobressaem dos recantos pitorescos e das paisagens dos inúmeros miradouros enfeitiçam os turistas, mas, por vezes, na azáfama das nossas rotinas e das nossas angústias, que a crise financeira de rosto nacional e global e a crise de sustentabilidade ambiental, esquecemo-nos de observar e contemplar esta tão maravilhosa cidade.

 

Para a opinião pública internacional Lisboa é a cidade de Fernando Pessoa que cá se entrincheirou na sua vida boémia e poética, mas muitos outros poetas cá nasceram e viveram. Nos bairros antigos (Alfama, Castelo, Graça, Lapa, Madalena, Mercês, Penha de França, Santa Catarina, Santa Engrácia, Santa Maria de Belém, Santos-o-Velho, São Sebastião da Pedreira, São Vicente de Fora, etc) apetece passear e desfrutar da beleza criativa que os portugueses conseguiram erguer nos seus bairros mais castiços da capital. Já nos bairros novos paira uma amarga tristeza nos insípidos bairros de prédios modernos onde a identidade urbanística se dilui.

 

Para se conhecer bem a riqueza patrimonial (histórico-cultural) e social desta cidade nada melhor que calcorreá-la em passeio pedestre de ritmo calmo, em passo antigo de cidadão Oitocentista em revivalismo romântico, para lhe sentirmos e tomarmos pulso à sua alma. Talvez, os filmes que melhor retrataram esta urbe tenham sido “Lisboa Story”, de Wim Wenders, realizado em 1994 ou “O Pai Tirano”, de António Lopes Ribeiro, de 1941 ou outra destas comédias da época de ouro do cinema português.

 

A Olisipografia[1], como conjunto de estudos históricos, culturais e sociais sobre a cidade de Lisboa, foi criada por Júlio de Castilho e desenvolvida por Gustavo de Matos Sequeira, cuja edilidade lhes reconheceu o supremo contributo para o maior conhecimento urbanístico atribuindo-lhes os seus nomes, respectivamente, a uma praça junto à rua do Limoeiro e uma rua junto à rua da Escola Politécnica. Estes iniciadores deste ramo do conhecimento urbanístico da cidade têm ainda como cultores afamados destes estudos, como pares distintos, Norberto Araújo e Marina Tavares Dias. Esta autora, nossa contemporânea, tem publicado as suas obras em ricas edições de papel lustroso.

 

Da cidade antiga faziam parte como elementos bem castiços os românticos quiosques de estilos variados, os bebedouros e os fontanários, além de que o perímetro urbano era bem mais acanhado. Basta lembrar que freguesias como Benfica ou o Lumiar eram, nos séculos XVIII e XIX, zonas de repouso das famílias aristocráticas que lá possuíam as suas quintas, ainda hoje apesar da proliferação coexistem zonas de prédios com quintas antigas como seja a Quinta da Granja, em Benfica, bem ao lado do Centro Comercial Colombo, que no fim do século XX foi tenazmente defendida a sua preservação e o seu espaço envolvente pelo arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles e recebeu uma visita de José Sousa Veloso que aí rodou um dos seus celebérrimos programas da TV Rural.    

 

Ao longo do século XX o aspecto urbanístico da cidade de Lisboa mudou radicalmente com a integração da arquitectura funcionalista. Em particular teve grande significado a tentativa de viragem da cidade para a sua zona ribeirinha, uma vez que a sua expansão geográfica a fez crescer para o interior. Com efeito, houve dois momentos históricos que procuraram reabilitar a face ribeirinha da capital: a Exposição do Mundo Português de 1940[2] que levou à intervenção no sítio de Belém e no final do século XX à edificação da nova zona urbanística reabilitada para a realização da Expo em 1998. Assim, estes antigos espaços portuários, ou antigas zonas de instalações fabris, foram requalificados para que se tornassem “salas nobres” para a vivência dos alfacinhas e a recepção dos turistas e Chefes de Estado, no caso da zona de Belém.

 

Ao mesmo tempo, pretendeu-se nestes espaços nobres da zona de Belém, intervenção recebida no tempo de António de Oliveira Salazar, e da zona Expo, intervenção recebida no “consulado” de António Guterres, criar um simbolismo histórico que fosse marcante para a identidade nacional. Este aspecto justifica que se tenham construído como marcos arquitectónicos semelhantes: o Padrão dos Descobrimentos[3] em frente à Praça do Império durante o Estado Novo e a Torre de Vasco da Gama a flanquear a zona oriental da Expo 98. Por um lado, a Exposição do Mundo Português visando comemorar a fundação do Estado Português em 1140 devido às proezas bélicas de D. Afonso Henriques e a restauração da independência em 1640 com a libertação do jugo Filipino e, por outro, a Expo 98 pretendendo comemorar os 500 anos da chegada de Portugal à Índia realçou o espírito português em contexto de Globalização.

 

Em suma, a cidade de Lisboa merece em tempo de estio e de férias, uns bons passeios a pé, porque muitas vezes quem nos visita acaba por conhecer melhor a capital do que “os alfacinhas” que se querem ausentar dela para irem para a Costa da Caparica, para o “reino dos Algarves” ou para o estrangeiro. Fica a sugestão de um passeio de reconhecimento urbanístico num dia soalheiro nesta muita bela cidade.  


[1] Fernando Castelo Branco, Breve História da Olisipografia, Lisboa, Edição Instituto da Cultura Portuguesa, 1979, 108 p.

[2] Nuno de Sotto-Mayor Quaresma Mendes Ferrão, A Praça do Império e o Padrão dos Descobrimentos à luz da mentalidade e da ideologia que os edificaram, Lisboa, Trabalho no âmbito da cadeira de História da Arte Contemporânea, Edição policopiada, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1992.

[3] O Padrão dos Descobrimentos e a Praça do Império com desenho arquitectónico de José Ângelo Cottinelli Telmo e o trabalho de importantes escultores como Leopoldo de Almeida, António Duarte Domingos Soares Branco, etc., foram erguidos em 1940 para a realização da Exposição do Mundo Português. Contudo, o Padrão dos Descobrimentos e alguns dos pavilhões foram construídos em materiais efémeros e a edificação deste “ex-libris” de Lisboa só foi erguido em materiais duradoiros em 1960 na comemoração dos 500 anos da morte do Infante D. Henrique.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

Lisboa na época das Descobertas

 

 

Vista sobre Lisboa

 

 

Liboa à noite

 

 

 

 

Expo Lisboa

 

 

 

 

 

Lisboa vista pelo pintor Carlos Botelho

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