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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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RECENSÃO CRÍTICA DE TRÊS LIVROS RECENTES – O RESTO DO MEU NOME, SOLO À LUZ E HISTÓRIAS DE AMOR

O Resto do Meu Nome.pngSolo à luz.pngcapa-historias-de-amor.jpg

Estes três livros – O Resto do Meu Nome, Solo à Luz e Histórias de Amor - foram publicados em 2022 e 2023 com a autoria de três talentosas escritoras, diversas no modo de escrita, mas unidas na vastidão das suas bagagens culturais, das suas perspicácias e das suas infindas sensibilidades.

 

A primeira autora, Alexandra Barreiros, inspirada nas penas magistrais de Marcel Proust e de Fernando Pessoa. A segunda autora, Luísa Costa Macedo, inspirada em Rainer Maria Rilke e em Sophia de Mello Breyner Andersen. A terceira autora, Maria Joana Almeida, inspirada em Albert Camus e em José Saramago. As três autoras compaginando, assim, referências literárias nacionais e internacionais.

 

1. O romance de Alexandra Barreiros é de um estilo literário depurado pela cultura aprofundada e extensa da autora, que lhe foi publicamente reconhecido com o Prémio Imprensa Nacional/Ferreira de Castro de 2022. O fio condutor deste livro intitulado O Resto do Meu Nome (Lisboa, Editora Imprensa Nacional da INCM, 2022) é o imaginário infantil, que não se deve nunca perder de vista e enriquece a vida adulta. É um conjunto de crónicas que a autora escreveu a partir do seu imaginário vivido e ficcionado, baseando-se nas suas múltiplas viagens por cidades e locais, maioritariamente, do Ocidente.

 

Tem, pois, uma valia literária insuperável, só, talvez, se Ferreira de Castro ou Eça de Queiroz reencarnassem nos nossos dias conseguiria esta sua obra ser superada, tal a qualidade literária com que a autora nos brinda. Chegou, pois, ao topo do Evareste, onde os horizontes geográficos e espirituais são inultrapassáveis.

 

A mensagem deste livro, do meu ponto de vista, consiste numa redescoberta da Ítaca de Ulisses, dado que para conseguirmos renascer é necessário redescobrir a nossa infância, uma vez que esta coluna vertebral estrutura a nossa identidade. É, mesmo, como afirma o título, a redescoberta do resto do “meu” nome (de Alexandra Barreiros), o que se consegue descortinar no conteúdo do livro, isto é, a sua própria identidade pessoal, familiar e lusófona, ao redescobrir literária, filosófica e linguisticamente Fernando Pessoa e que, por isso, se sente pertencer, também, a esta pátria lusófona, apesar do seu trajeto de uma vivência internacionalista entre cidades e locais como Nova York, Bruxelas, Paris, Varsóvia, Viena, Helsínquia, Veneza, Guincho, Sintra, etc.

 

Começou uma licenciatura em História da Arte, em Lisboa, mas logo percebeu que estudar alçados e plantas de catedrais não era o que desejava, pelo que rumou a Viena com a família, onde tirou um mestrado em Relações Internacionais e foi lecionando línguas e literaturas em várias instituições e universidades europeias.

 

O público pode esperar deste livro muita qualidade literária, reflexões filosóficas intercaladas com histórias muito divertidas, umas vividas e outras ficcionadas a partir da realidade, numa narração intensamente autobiográfica.

 

2. O livro Solo à luz de Luísa Costa Macedo (Lisboa, Editora Gato Bravo, 2023) insere-se no estilo poético clássico, inspirado no gosto pela leitura dos poemas de autores consagrados. Com formação académica em comunicação empresarial, a autora iniciou as suas incursões literárias com um livro infantil, com a escrita de um conto de contexto pandémico, mas revela especial apetência pela escrita poética com poemas publicados nas revistas Nova Águia e Devir e, ainda, em plataformas digitais.

 

Os seus poemas curtos expressam, muitas vezes, conexões emocionais, mas inspirando-se em poemas de autores consagrados como Sophia de Mello Breyner Andersen, Clarice Lispector, Jorge de Sena ou Carlos de Oliveira, afastando-se do encantamento pelo verbo fácil, situando-se assim numa simbólica modernidade poética. A valia literária destes poemas reside na palavra densamente trabalhada, partindo de poemas de autores conceituados de língua portuguesa. O livro tem o prefácio do poeta, professor e crítico literário António Carlos Cortez, estando esta obra dividida em três partes intituladas “Espiral”, “Solo à luz” e “Batimentos”.

 

O público pode esperar deste livro uma grande qualidade nos pequenos poemas, nem sempre fáceis de compreender pelo simbolismo que encerram e pelas referências ocultas a grandes poetas inspiradores, mas de enorme beleza.

 

3. O livro “Histórias de Amor” de Maria Joana Almeida (Espinho, Elefante Editores, 2023) insere-se num estilo de prosa poética, que tem como fio condutor 41 poemas de abordagens livres ao tema do amor. É um conjunto rico em reflexões existenciais com uma linguagem bastante acessível em torno de situações próximas ao tema do amor, mas de grande profundidade pela beleza emocional com que abordam as vivências humanas. A sua área profissional é a docência da Educação Especial e é, também, formadora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, sendo uma “blogger” conceituada ao nível da Educação e uma colaboradora do jornal Público, nesta área.

 

O público pode esperar deste livro diversas incursões introspetivas sobre este tema central da felicidade humana, pontuando alguns dos seus poemas com referências culturais a músicos e a escritores. A sua prosa poética, na cadência das suas pequenas histórias de amor, fazem-nos lembrar a linguagem literária e modernista de José Saramago, pelo tom coloquial e intimista de aproximação ao leitor.

 

O leitor pode ter a expectativa de um livro empolgante que se lê de um trago devido à cadência das pequenas histórias diversas de amor, que nos agarram a uma leitura contínua ou descontinuada, consoante o padrão comportamental de leitura.

 

Deixo, assim, estas ótimas sugestões para as vossas leituras de férias, com diferentes estilos literários em conformidade com as vossas apetências de leitores. Apresento, complementarmente, três vídeos de três autores portugueses e lusófonos, que de alguma forma inspiraram estas nossas autoras.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

O DIA MUNDIAL DA FELICIDADE (20 DE MARÇO) E A FELICIDADE NA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

International-Day-of-Happiness-Slogans.jpg

O que é a felicidade? A felicidade é um estado momentâneo ou duradouro? O que nos faz felizes? Por que motivo a Humanidade deve celebrar a felicidade?

 

“(...) Estado de plena satisfação íntima, de bem-estar, no qual se encontram satisfeitas todas as aspirações do ser humano; (...) acontecimento feliz ou venturoso.(...)”

       “Felicidade”, in Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de  Lisboa, vol I,                                        Lisboa, Editora Verbo,  2001, pp. 1720-1721.

 

"Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida.

Que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre as mãos de uma criança."

António Gedeão, Excertos do poema Pedra Filosofal

 

1. O Dia Mundial da Felicidade (20 de março)

A Assembleia Geral das Nações Unidas criou, a 28 de junho de 2012, a efeméride anual de 20 de março como o Dia Mundial da Felicidade. A efeméride existe desde 2012, a partir de uma proposta do Butão, para a ONU passar a medir um índice de bem-estar económico-social. Significa que pessoas felizes são, por natureza, mais produtivas e que os países não se podem preocupar apenas com as questões economicistas. Deste modo, o crescimento económico tem de ser visto de forma a garantir a plena inclusão social e a equilibrar diferentes valores complementares de prosperidade e de bem-estar das pessoas.

 

2. A felicidade na literatura

O amor como expressão da felicidade é um tema transversal a muitas obras da literatura portuguesa e universal. Tomemos, como exemplo, um poema de Fernando Pessoa no seu heterónimo Álvaro de Campos:

“Todas as cartas de amor…

Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.

- - -

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,

Ridículas.

- - -

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser

Ridículas.

- - -

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram

Cartas de amor

É que são

Ridículas.

- - -

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor

Ridículas.

- - - 

A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que são

Ridículas.

- - -

 (Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

Álvaro de Campos (...)”[1]

Saliento, também, um livro importante, que reflete sobre a felicidade, da autoria do escritor e filósofo neopositivista inglês Bertrand Russell intitulado A conquista da felicidade[2], publicado em 1930, quando o mundo precisava de uma bússola de valores para enfrentar a crise das democracias liberais e a crise do capitalismo ocidental. Destaco este autor por ter sido Prémio Nobel da Literatura, em 1950, mas certamente muitos outros escritores escreveram sobre esta temática.

 

3. O índice económico da felicidade

Os economistas, na atualidade, compreenderam a importância da felicidade para a produtividade das empresas e das várias organizações sociais, pois trabalhadores felizes são mais muito mais produtivos. Por esta razão, os economistas introduziram um índice para avaliar a influência da felicidade nos fatores produtivos, isto é, na ciência económica esta problemática é estudada e investigada nas universidades, nos cursos superiores ligados às questões económicas e financeiras. Dizia, com muita assertividade, o Presidente da República Jorge Sampaio “há vida para além do défice”.

 

4. A felicidade na História

Evocamos alguns momentos de marcante felicidade da História recente, das últimas décadas da história contemporânea da Humanidade e da pátria portuguesa.

 

4.1. A travessia aérea do Atlântico Sul com Gago Coutinho e Sacadura Cabral (1922) e a ligação aérea entre Lisboa e Macau (1924)

A travessia do Atlântico Sul por Gago Coutinho e Sacadura Cabral foi uma proeza da aviação internacional dos anos 20 do século passado que, em 1922, assinalou o Centenário da Independência do Brasil, mas também a ligação umbilical destes dois povos irmãos lusófonos, ao mesmo tempo que contribuíram para a autoestima portuguesa que, no período da 1ª República, estava muito amarfanhada com a profunda crise, política e sócio-económica, que o país vivia. Por isso, estes dois protagonistas foram recebidos apoetaticamente, em Portugal, como heróis a fazer lembrar a gesta dos Descobrimentos Portugueses, deixando um lastro de júbilo e de orgulho nacional, num período em que o país e o mundo ocidental passavam por momentos de grande tensão sócio-emocional. Daí que os dois aviadores tenham sido recebidos no país de forma entusiástica, permitindo que ressurgisse um momento feliz, intensamente revitalizador do orgulho patriótico. Idêntica manifestação de grande regozijo coletivo passou-se com a homenagem governamental a Sarmento de Beires e a Brito Pais a propósito da grande viagem aérea Lisboa-Macau, com um cortejo popular a passar, na cidade de Lisboa, em frente ao Teatro D. Maria II.

       Fotografia de Joshua Benoliel de 1924 - homenagem a Sarmento de Beires e a Brito Pais

Fotografia Sarmento de Beires.jpg

4.1. O fim da 2ª guerra mundial (1945)

Após os traumas humanitários da 2ª guerra mundial (1939-1945), com o holocausto nazi, muitas cidades amplamente destruídas, milhões de vidas ceifadas e duas bombas atómicas lançadas no Japão, o mundo pôde celebrar a paz como garantia da construção de sociedades justas e de ideais equilibrados, tendo-se erguido a Organização das Nações Unidas e promovido uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, para procurar edificar um mundo mais seguro e mais feliz. O pessimismo da guerra instalou a neura coletiva nas sociedades ocidentais, depois de duas guerras mundiais intercaladas por um período de desmedida euforia, que se revelaria muito nocivo nos “loucos anos 20” e no seu apogeu que foi a grande Depressão de 1929. Surgiram, por isso, nos países aliados manifestações grandiosas de júbilo popular, em setembro de 1945, com o fim do traumático acontecimento coletivo que deixou a Europa e “o mundo de pantanas”.

Habitantes de Oak Ridge (EUA) celebram o fim da guerra, setembro de 1945

EUA.png

4.2. A conquista da liberdade com a revolução dos cravos (25 de abril de 1974)

A conquista da liberdade e o colapso do regime do Estado Novo criaram, na população portuguesa, uma felicidade imensa, pois muitas pessoas nunca tinham vivido num regime democrático e houve um contentamento coletivo ímpar, por haver a possibilidade das pessoas se expressarem livremente, se manifestarem publicamente e terem a oportunidade de votarem em eleições livres, o que gerou uma massiva participação nos actos eleitorais e uma manifestação gigantesca de felicidade, no dia 1 de maio de 1974. Assim se exprimia uma das nossas poetisas, sobre este acontecimento genésico da democracia portuguesa:

“Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo”

25 de abril, Sophia de Mello de Breyner Andresen

 

A feliz expectativa social, no Largo do Carmo, em Lisboa, a 25 de abril de 1974, da deposição do poder de Marcello Caetano

25 de abril.jpg

4.3. A queda do muro de Berlim (1989)

A queda do muro de Berlim gerou uma onda de grande entusiasmo na Europa de Leste, com o desmoronamento do mundo comunista, marcando o fim da guerra fria. Uma imensa felicidade e uma grande expectativa, de um mundo futuramente mais democrático e mais justo, apareceu no horizonte dos europeus e dos ocidentais, ao ponto de um autor mais ingénuo sustentar que se teria chegado ao Fim da História (Francis Fukuyana, O Fim do Homem e o Último Homem, Lisboa, Gradiva Editores, 1992). Além de que este acto simbólico de destruição do muro de Berlim significou o reencontro de muitas famílias dividas entre os dois lados ideologicamente desavindos da Alemanha (a RFA e a RDA).

Queda do muro de Berlim a 9 de novembro de 1989

queda do muro de berlim.png

4.4. A vitória de Portugal no Euro 2016

O feito único no futebol português da conquista do Euro 2016, depois de desaires anteriores, como o Mundial de 2002, o Euro 2004 ou o Mundial de 2006, criaram um sentimento de enorme felicidade nacional e de orgulho no potencial desportivo dos futebolistas portugueses, que se traduziram em manifestações públicas de grande júbilo em Portugal e em alguns países lusófonos.

Remate do Éder na final do Euro 2016

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Em suma, a felicidade é o estado de bem-estar, coletivo ou individual, que dignifica a natureza humana e animal, que se manifesta a espaços na vida, mas que se almeja que possa perdurar o mais possível. No entanto o concreto da vida de tod@s é feita de imprevistos e de contrariedades, que temos de saber gerir com bom senso emocional. O que nos faz felizes varia de indivíduo para indivíduo, daí a importância da liberdade humana, para que cada ser humano possa escolher o seu próprio caminho. No entanto, um rumo comprometido com os outros que nos faça solidários e fraternos, para construirmos um mundo melhor e nos aparte, definitivamente, dos individualismos e dos divisionismos nocivos à harmonia da sociedade em que vivemos e da casa comum que habitamos (o nosso planeta, nas palavras avisadas do Papa Francisco). Por conseguinte, é fundamental celebrarmos tod@s o Dia Mundial da Felicidade, todos anos a 20 de março, com renovado vigor e inspiração. O ponto de partida para a busca da felicidade devem ser os nossos sonhos, embora sempre com o necessário realismo para olharmos para o mundo e as circunstâncias que nos rodeiam.

____________________________________________

[1] Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). – p. 84.

[2] Bertrand Russel, A conquista da felicidade, Lisboa, Guimarães Editores, 1997.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

NÚMERO 30 DA NOVA ÁGUIA (2º SEMESTRE DE 2022) – REVISTA DE CULTURA DO SÉCULO XXI

NA 30.jpgRevista A Águia.htm

 

  1. Os 15 anos da revista Nova Águia

A revista Nova Águia perfaz 15 anos de existência, com 30 números semestrais enriquecidos com artigos, ensaios e poemas de autores consagrados, de novas revelações literárias e de uma panóplia variada de investigadores. Renato Epifânio, fundador e seu diretor principal desde 2010, coajuvado por outros diretores e agora por vários vice-diretores, entre os quais tenho a honra de fazer parte, orientam os conjuntos temáticos dos diversos números. Este número 30 reúne mais de 60 colaboradores, onde se contam autores como Adriano Moreira, Álvaro Costa de Matos, Ana Leal de Faria, António Braz Teixeira, Ernesto Castro Leal, Francisco Ribeiro Telles, José Carlos Pereira, Nuno Sotto Mayor Ferrão, Renato Epifânio, Samuel Dimas, entre muitos outros.

 

  1. A fonte de inspiração da revista

A revista A Águia foi uma importante revista cultural, literária e científica, do início do século XX (1910-1932), em Portugal, que congregou muitas figuras de destaque das humanidades, das artes e das ciências com distintas mundividências que veicularam visões plurais, num universo de valores ligados ao republicanismo, ao socialismo e ao anarquismo. Sobressaíram na História Cultural Portuguesa, no conjunto dos seus inúmeros colaboradores, intelectuais como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Hernâni Cidade, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, António Sérgio, entre muitos outros. A revista, nos seus 22 anos de vida, abordou temas literários, artísticos, filosóficos e de crítica cívica, que tanto inspirou os fundadores e colaboradores da Nova Águia.

 

Em diversos números da revista A Águia, foram publicados textos inéditos de Alexandre Herculano, de Antero de Quental e de Camilo Castelo-Branco. O ímpeto cultural da revista A Águia e do movimento da Renascença Portuguesa surgiu da ambição de expansão social da cultura humanista junto da população portuguesa, que se traduziu em edições, na criação de universidades populares, na prossecução de cursos e de colóquios, na constituição de bibliotecas, entre outras ações, permitindo, concomitantemente, reflexões sobre alguns dos grandes problemas do país (por exempo, o ensino, a agricultura e as instituições).

 

A Direção da revista A Águia, no espírito saudosista de Teixeira de Pascoais, dará azo à afirmação profética e pessoana, que estará na origem da dissidência de António Sérgio e de Raul Proença, que a criticaram de passadista e de idealista, ao contrário do sergianismo que se afirmou pelo realismo futurista na revista Seara Nova.

 

A Águia alicerçou-se numa matriz nacionalista e neorromântica, no combate sem tréguas contra a tese da decadência nacional, que pairava na mentalidade da sociedade portuguesa, desde o fim do século XIX. Com efeito, aos mentores da revista, em pleno contexto de instauração do novo regime Republicano, moveu-os o espírito de promoção da autoestima nacional, mobilizando-os contra a tese de declínio da nação portuguesa, deixada pairar pelo poeta Antero de Quental desde as Conferências do Casino de 1871 e contra a mentalidade positivista de Auguste Comte, que contaminava a intelectualidade europeia. Esta revista A Águia era o órgão da associação cívico-cultural intitulada Renascença Portuguesa, que procurou estimular a cultura no país, quando grassava o flagelo do analfabetismo, com mais de 70% da população portuguesa a padecer deste mal, pelo que atualmente a Nova Águia pugna novamente contra uma cultura tecnocrática, que tem desvalorizado a cultura humanista no ensino, na sociedade e no mercado de trabalho, impedindo uma visão crítica e holística da complexa realidade atual.

 

  1. Os conteúdos culturais da revista

O número 30 da revista Nova Águia contém vários dossiês ricos em contributos intelectuais. Fazem parte do corpo da revista nove secções compostas por textos do VII Congresso da Cidadania Lusófona; por textos relativos a Gilberto Freyre e à lusofonia; por textos do Centenário do nascimento do historiador Jorge Borges de Macedo; por artigos referentes a “Outros Vultos”, entre os quais destaco como figuras abordadas Adriano Moreira, Gastão Cruz, Guerra Junqueiro, Paula Rego e José-Augusto França. Em “Outros Voos” temos textos sobre a educação intercultural, sobre o significado de ser português, sobre as invasões francesas e a localidade de Paços de Arcos, sobre o Direito como força normativa, sobre reflexões introspectivas de Samuel Dimas; por alguns textos em “Extravoo”; por uma secção nova sobre “Periódicos Eternos”, como foi o caso emblemático do jornal oitocentista Correio Brasiliense. No “Biblioáguio” apresentam-se recensões críticas de diversos livros e no “Poemáguia” constam poemas de autores como Renato Epifânio, António José Borges, Luísa Costa Macedo e Delmar Maia Gonçalves, entre outros.

 

  1. Objetivos da mundividência cultural da revista

Em suma, o objetivo supremo da Nova Águia é alimentar o ego nacional de uma forma realista, baseado numa rica tradição humanista, escorados os seus colaboradores na inspiração criadora da “revista mãe”, que lhe deu ânimo para que pudesse voar, mas plenamente convictos da importância para o nosso futuro comum do projeto e do sentimento de identidade lusófona, no seio de uma Humanidade a necessitar urgentemente de se transfigurar eticamente.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

BIBLIOGRAFIA DE NUNO SOTTO MAYOR FERRÃO (ATUALIZAÇÃO) E CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Nova Águia 19.jpgBrotéria 2016 dez.jpg

*Nuno Sotto Mayor Ferrão, "O Padre António Viera, um precursor do espírito e da convivência lusófona no Século XVII” in Nova Águia, nº 19, 1º semestre de 2017, pp. 103-111.

 

*Idem, “O Padre António Viera, um precursor do espírito da convivência lusófona no Século XVII”, in Brotéria, vol. 183, nº 5/6 – novembro/dezembro de 2016, pp 367-383.

 

* Idem, "A arte no pensamento de Vergílio Ferreira" in Nova Águia, nº 18, 2º semestre de 2016, pp. 61-66.

 

* Idem, "Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico - Nos 120 anos da obra 'O Culto da Arte em Portugal' (1896-2016)" in Nova Águia, nº 17, 1º semestre de 2016, pp. 115-120.

 

*Idem, “Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico – Nos 120 anos da obra ‘O Culto da Arte em Portugal’ (1896-2016)”, in Brotéria, vol. 182, fevereiro de 2016, pp. 133-144.

 

*Idem”, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na Revista Orpheu – Evocação no seu centenário”, in Brotéria, vol. 181, julho de 2015, pp. 41-50.  

 

*Idem, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na revista Orpheu”,  in Nova Águia, nº 15, 1º semestre de 2015, pp. 18-24.

 

*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa – no centenário da Grande Guerra”, in Brotéria, vol. 180, nº 1 – janeiro de 2015, pp 33-44.

 

*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa e na revista A Águia”, in Nova Águia, nº 14, 2º semestre de 2014, pp. 231-238. 

 

*Idem, “A atualidade internacional da Doutrina Social da Igreja no contexto da globalização”, in Brotéria, vol. 178, nº 7/8 – julho/agosto de 2014, pp 33-44.

 

*Idem, “Balanço diacrónico (1974-2014) da Revolução de 25 de Abril”, in Nova Águia, nº 13, 1º semestre de 2014, pp. 57-63.

 

*Idem, “Nos 80 anos do historiador José Mattoso: a sua viva lição de sabedoria”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 162-163.

 

*Idem, “António José Saraiva como cidadão e historiador: nos 20 anos da sua morte”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 153-159.

 

*Idem, “A poesia portuguesa: o mar e a lusofonia”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 23-24.

 

*Idem, “As linhas de força do pensamento historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 130-135.

 

*Idem, “A Renascença Portuguesa e o percurso político e historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 9, 1º semestre de 2012, Sintra, Zéfiro Editora, 2012, pp. 138-144.

 

*Idem, “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, Janeiro de 2012, pp. 47-51.

 

*Idem, “A dinâmica histórica do conceito de Lusofonia (1653-2011)” in Nova Águia, nº 8, 2º semestre de 2011Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 204-208.

 

*Idem, "Fernando Pessoa: o sentimento lusófono na sua obra", in Nova Águia, nº7, 1º semestre de 2011, Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 34-38.

 

*Idem, "Alexandre Herculano, aspectos da vida e obra e sua ascendência ideológica sobre o Republicanismo", in Sintra, Zéfiro Editora, Nova Águia, nº 6 - 2º semestre de 2010, pp. 130-135.

 

*Idem, "Leonardo Coimbra, a revista 'A Águia' e o panorama cultural contemporâneo", in Nova Águia, nº 5 - 1º semestre de 2010, Sintra, Editora Zéfiro, pp. 34-36.

 

*Idem, Aspectos da vida e obra do Almirante Sarmento Rodrigues (1899-1979), Mirandela, Edição Câmara Municipal de Freixo de Espada-à-Cinta, 1999, 293 p.

 

*Idem, O pensamento colonial de Sarmento Rodrigues enquanto Ministro do Ultramar (1950-1955), Dissertação de Mestrado em História Contemporânea, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1997, 233 p.

 

Citações bibliográficas do autor:

 

» Clio: revista do Centro de História da Universidade de Lisboa, “Resumo das Teses de Mestrado em Letras (História)”, Lisboa, 1996, p. 168.

 

» Joaquim Veríssimo Serrão, “Do berço humilde em Freixo à imortalidade da História”, Almirante Sarmento Rodrigues, 1899-1979: testemunhos e inéditos no centenário do seu nascimento, Academia de Marinha e Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Lisboa, 1999, p. 163.

 

» Cadernos de Estudos Africanos – Memórias Coloniais, Lisboa, Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2006, p. 150.

 

» Cultura - Revista de História e Teoria das Ideias, vol. 25, 2008, Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, pp. 33 e 44. 

 

» António E. Duarte Silva, “Sarmento Rodrigues, a Guiné e o lusotropicalismo”, in Cultura: Revista de História e da Teoria das Ideias Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, vol. 25, 2008, p. 44. (António E. Duarte Silva, « Sarmento Rodrigues, a Guiné e o luso-tropicalismo », Cultura [Online], Vol. 25 | 2008, consultado a 29 julho 2014. URL :http://cultura.revues.org/586.

 

» Ana Reis e João Garrinhas, “2 anos sob tutela autárquica”, inProfforma (Revista do Centro de Formação de Professores do Nordeste Alentejano), nº 2, março de 2011, pp. 1-7.

 

» Victor Andrade de Melo, “O esporte na política colonial portuguesa: as iniciativas de Sarmento Rodrigues na Guiné (1945-1949)”, in Revista Brasileira de  História, vol.34, no. 68, São Paulo, July/Dec. 2014, pp. 179,180 e 189.

 

» Rui Jorge Martins, “Rui Chafes, René Girard, Ramalho Ortigão e José Luís Peixoto na Brotéria“, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultural (portal da internet).

Disponível em:

http://www.snpcultura.org/rui_chafes_rene_girard_ramalho_ortigao_jose_luis_peixoto_na_broteria.html

Acesso em 09.05.2016.

 

» Sérgio Neto, Do Minho ao Mandovi – Um estudo sobre o pensamento colonial de Norton de Matos, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, p. 317.

 

» Álvaro Henriques do Vale, Do Mapa Cor de Rosa à Europa do Estado Novo, Lisboa, Chiado Editora, 2015, nota 145.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

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