Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
No blogue Almanaque Republicano José M. Martins recorda o memorável investigador e bibliófilo José Vitorino de Pina Martins em "In Memoriam de José Vitorino de Pina Martins"
No blogue A Nossa Candeia destaco o critério de Ana Paula Fitas que evidencia a profunda beleza do pensamento de Jean Paul Sartre intitulado "Breves...de um pensador"
No blogue A Carta a Garcia sublinho a pertinente evocação histórica de Osvaldo Castro da revolta estudantil da Associação Académica de Coimbra de 1969 que fizeram tremer o Marcelismo intitulado "A revolta estudantil de 17 de Abril em Coimbra, já lá vão 41 anos"
No blogue Crónicas do Rochedo Carlos Barbosa de Oliveira fez uma sagaz reflexão sobre o ingente papel das cidades na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos intitulado "Expo 2010 abriu hoje"
Alexandre Herculano de Carvalho Araújo ( 1810-1877 ), de seu nome completo, foi um dos mais importantes intelectuais do século XIX em Portugal. Teve um génio cultural plurifacetado que se manifestou nas variadíssimas funções públicas que exerceu como bibliotecário (da Biblioteca do Porto, das Bibliotecas Reais das Necessidades e da Ajuda), jornalista, romancista, contista, poeta, político e, fundamentalmente, como historiador.
A vivência e a ideologia que sustentou são marcadas pelo contexto revolucionário liberal em que cresceu. Foi um denodado partidário de D. Pedro IV e foi um dos militares que desembarcou na praia do Mindelo a 8 de Julho de 1832, ajudando o país a libertar-se do regime Miguelista.
As suas ideias políticas foram a génese intelectual de futuros movimentos doutrinários que se manifestaram na sociedade portuguesa no século XX. De facto, a sua concepção de um poder justo passava pelo reforço dos mecanismos decisórios dos Municípios, pois acreditava que estes garantiriam menos abusos dos poderosos por, eventualmente, serem melhor controlados pelas bases sociais[1]. Esta ideia de descentralização da administração pública defendida por Herculano, no jornal O Panorama, foi certamente o fundamento do estandarte ideológico dos Republicanos que defenderam este princípio, tal como terá sido o fundamento remoto da ideia da Regionalização que, por vezes, surge no actual regime democrático.
Alexandre Herculano pugnou por um liberalismo moderado, assumindo-se como um Cartista, que não alinhava nem nas ideias “socializantes”, nem nas ideias propulsoras dum capitalismo desenfreado[2]. Foi, neste contexto, de discussão do modelo de desenvolvimento socioeconómico para o país que se torna deputado Cartista às Cortes na legislatura 1840. Mais tarde, ainda exerceu a Presidência da Câmara de Belém em 1854-1855, mas terá percebido, então, que essa não era a sua verdadeira vocação.
No entanto, as suas ideias políticas, sociais, literárias e científicas exerceram sobre o país um magistério intelectual e moral que influenciaram várias gerações. Uma das suas ideias peregrinas evocava a necessidade de consolidar uma classe média forte e culta como forma de travar a nefasta corrupção que grassava no país. Algumas das suas polémicas, no contexto da implantação do Liberalismo, feriram a imagem da Igreja Católica ao contestar o “Milagre de Ourique”, na sua História de Portugal[3], e ao relembrar o papel do Tribunal do Santo Ofício na obra História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal. Por outro lado, já na conjuntura da “Regeneração”, no terceiro quartel do século XIX, foi um dos grandes críticos da política Fontista dos melhoramentos materiais[4].
A mentalidade do Romantismo perpassa toda a sua vida e obra, em particular na idealização da Idade Média como um idílico refúgio para a hedionda modernidade industrial numa típica manifestação da atitude deste movimento de conceder a primazia ao sentimento.
O jornalismo de Alexandre Herculano emerge, a partir de 1837, na redacção e na direcção da publicação periódica de intervenção cívica e cultural intitulada “O Panorama”, que tratava de temas artísticos, literários e científicos.
Herculano foi, também, devido ao seu génio criativo e à sua vasta erudição relativa à Idade Média nacional o introdutor da Literatura Histórica em Portugal ( romances e contos ) ao inspirar-se nas notáveis obras literárias de Walter Scott e de Vítor Hugo. Destas suas criações literárias merecem especial destaque o romance Eurico, o presbítero e Lendas e Narrativas. Um dos seus textos mais memoráveis é, para mim, a lenda “A Abóboda (1401)” em que o nosso literato nos conta com enlevado sentido poético o desabar da abóbada da Sala do Capítulo do Mosteiro de Santa Maria da Vitória ( Batalha ). Ouçamos as palavras de mestre Herculano:
“(…) As portas haviam estoirado nos seus grossíssimos gonzos e muito cimento solto e pedras quebradas tinham rolado pelo portal fora, (…) Olhando para o interior daquela imensa quadra (…) a Lua, que passava tranquila nos ceús, reflectia o seu clarão pálido sobre este montão de ruínas (…) e por cima daquele temeroso silêncio passava o frio leste da noite e vinha bater nas faces turbadas dos que, apinhados na sacristia, contemplavam este lastimoso espectáculo. (…)”[5]
Este pujante intelectual teve, ainda, um relevante papel na modernização da Historiografia Portuguesa no século XIX ao introduzir, como pioneiro, uma matriz institucionalista nos estudos históricos, dando, ao mesmo tempo, ênfase à sua predilecção pelo período medieval. Com efeito, as suas obras historiográficas, já supramencionadas, foram a génese da historiografia científica. Neste campo de trabalho, sobressaiu o seu labor na recolha de documentos dos cartórios conventuais que foram compilados na volumosa obra “Portugaliae Monumenta Histórica”, feita nos anos de 1853-1854, a pedido da Academia das Ciências de Lisboa.
Há uma frase sua do prefácio da 3ª edição da História de Portugal, em 1863, que o consagrou como intelectual, que nos ajuda a explicar o exílio rural a que se submeteu na sua Quinta de Vale de Lobos, no distrito de Santarém, quando se encontrava já profundamente desiludido com a vida pública portuguesa: “(…) Pobres homens práticos! Pobres estadistas!”[6]. Este exílio de mundanidade a que se submeteu na sua bucólica e romântica Quinta decorreu da força da sua autoridade moral que o fizeram permanecer fiel a valores e a ideais para não se deixar corromper nos meandros da vida pública. Num dos seus últimos textos, o escritor e jornalista Francisco José Viegas traça, numa bela síntese, o paralelismo entre esta sensação de Herculano e a que paira nos nossos prezados concidadãos ( www.fjv-cronicas.blogspot.com ).
Nuno Sotto Mayor Ferrão
[1] Foi, certamente, sugestiva a palestra intitulada “Alexandre Herculano, Patrono do Municipalismo e dos Centros Históricos Portugueses” proferida pelo Professor Doutor Pedro Gomes Barbosa (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Instituto Alexandre Herculano de Estudos Regionais e do Municipalismo), na Sala do Arquivo dos Paços do Concelho com que arrancou a 28 de Março de 2010 o Programa das Comemorações do Bicentenário do Nascimento de Alexandre Herculano (1810-2010).
[2] Maria de Lourdes Lima dos Santos, “Alexandre Herculano”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, Vol. 1, Coordenador José Costa Pereira, Lisboa, Publicações Alfa, 1990, p. 310.
[3] Há uma interessante edição mais recente desta obra de A. Herculano ( História de Portugal em 8 volumes, Lisboa, Edição Ulmeiro, 1980 ).
[4] “(…) Para Herculano, o Progresso só poderia ser concretizado se existissem governantes probos, capazes de não se deixarem enredar nas malhas da corrupção que os negócios inevitavelmente acarretam. (…)” in Maria Filomena Mónica, Fontes Pereira de Melo – uma biografia, Viseu, Alêtheia, 2009, p. 36.
[5] Alexandre Herculano, “A abóbada (1401), in Lendas e Narrativas, Lisboa, Publicações Europa-América, Colecção Livros de Bolso, s.d., p. 173.
[6] Alexandre Herculano, “Prefácio da Terceira Edição”, in História de Portugal, vol. 1, Lisboa, Edição Ulmeiro, 1980, p. 11.
Em tempo de balanço do ano de 2009 em termos de leituras estimulantes da Blogosfera começo por evocar cinco blogues que mais me entusiasmaram e mais chamaram a minha atenção. De seguida, faço uma segunda selecção dos blogues que, por razões diversas, despertaram a minha curiosidade em 2010. Já em finais de Agosto do ano passado escrevi uma crónica intitulada “A Literatura e a Blogosfera” em que dei a conhecer algumas das minhas preferências por determinados blogues.
Aqui fica a minha selecção de blogues de 2009:
·Duas ou três coisas ( www.duas-ou-tres.blogspot.com )- este blogue apresenta qualidade na forma e na substância, visto que a linguagem é literariamente apelativa e simultaneamente nos apresenta temas de relevante actualidade política e cultural e, por vezes, o Embaixador Francisco Seixas da Costa deixa-nos testemunhos pitorescos ou significativos da sua vida diplomática. Recomendo vivamente uma visita.
·Bicho Carpinteiro ( www.bichos-carpinteiros.blogspot.com ) – este blogue revelou-se uma referência pela qualidade dos colaboradores, em particular o Professor José Medeiros Ferreira e a Professora Joana Amaral Dias mais interventivos, associada à capacidade de síntese manifestada no tratamento dos temas de natureza essencialmente política e social. Destacou-se, ainda, pela originalidade dos pontos de vista apresentados e pelas sentenças ou juízos de valor enunciados, restaurando uma crítica de sentido moral que fazia falta à vida portuguesa, quase a fazer lembrar o espírito acutilante de José Ramalho Ortigão nas “Farpas”.
·Crónicas de Francisco José Viegas ( www.fjv-cronicas.blogspot.com ) – este blogue deste consagrado jornalista e escritor afirma-se pela, qualidade da sua prosa, pelas interpretações originais com que nos presenteia em temas literários, sociais ou futebolísticos. Por outro lado, dá-nos indicações de livros com juízos de valor que nos podem sugerir cativantes leituras e no fim brinda-nos, quase sempre, com citações caricatas de outros blogues.
·Sorumbático ( www.sorumbatico.blogspot.com ) – este blogue reúne uma panóplia de eminentes intelectuais e cientistas, de que em particular gosto de ler os textos de António Barreto e de Maria Filomena Mónica, que tratam de temas culturais e de actualidade bem pertinentes. Também se destaca pelas imagens de sensibilização cívica, pelas fotos artísticas de António Barreto e pela divulgação de cartoons antigos.
·Almocreve das Petas ( www.almocrevedaspetas.blogspot.com ) – este blogue afirma-se pelo corrosivo sentido de Humor de grande inspiração, a fazer lembrar a veia sarcástica de Rafael Bordalo Pinheiro, que retrata com muita sagacidade a classe política. É, igualmente, muito interessante pelas indicações de apaixonado bibliófilo que nos deixa ao nível de temas de História e de exemplares para coleccionadores. Recomendo vivamente uma visita.
Aqui fica a selecção das agradáveis surpresas que tive oportunidade de conhecer em 2010:
·Córtex Frontal ( www.cortex-frontal.blogspot.com ) – saúdo com muita satisfação o aparecimento deste blogue que conta com a presença de dois eminentes cronistas e comentadores, da nossa sociedade, de espírito independente ( Professor José Medeiros Ferreira e Professora Joana Amaral Dias ), a fazer lembrar os livres-pensadores, capazes de visões críticas da política nacional e internacional associadas a invulgares capacidades de síntese e de comunicação firmadas em apuradas sensibilidades. Recomendo vivamente uma visita.
·Nova Águia ( www.novaaguia.blogspot.com ) – este blogue é o prolongamento cívico e mental da pertinente revista “Nova Águia”, que procura homenagear a reconhecida revista “A Águia” e a brilhante geração intelectual que nela colaborou, num tempo presente de crescente apagamento cultural das nossas sociedades. Este espaço da blogosfera desenvolve temas de relevante interesse para a cultura lusófona e atribui espaço à estética, à filosofia, à poesia, à história e a outros temas afins.
·Milhafre ( www.mil-hafre.blogspot.com ) – este blogue emergiu pelo dinamismo dos seus promotores que percepcionaram a importância de uma intervenção cívica e cultural que realçasse as actividades e as reflexões ligadas à identidade lusófona, no sentido de ajudar a aprofundar a estratégia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Recomendo vivamente uma visita.
No seguimento do texto intitulado “A Literatura e a Blogosfera” quero deixar os links de alguns blogues, bastante interessantes, que citei. Agradeço, também, com bastante apreço a menção muito aprazível que o Excelentíssimo Senhor Professor Doutor José Medeiros Ferreira faz no incontornável blogue “Bichos-carpinteiros” a este meu blogue. Aliás, alguns dos blogues, sobre os quais teço considerações, fiquei a conhecê-los por clarividente indicação deste meu estimado amigo e antigo Professor.
Aqui deixo, pois, registados os endereços electrónicos destes meritórios blogues, que vivamente os recomendo à leitura, dos internautas interessados, devido à qualidade dos diversos conteúdos que nos apresentam:
Ericeira, 3 de Agosto de 2009 “Dissertações literárias e escritos marcantes da blogosfera nacional”(13)
O imaginário literário, ficcionado e ideológico, molda a mundividência de todo o indivíduo humanista. Pretendo, pois, com esta crónica dar-vos a conhecer as obras literárias e os textos da blogosfera que mais me fascinam por variadas razões.
Em verdade, na minha juventude fui atraído pela literatura de aventuras, como era bem comum nos jovens da minha geração, que incitava a nossa imaginação com o heroísmo de alguns carismáticos protagonistas. Nesta minha fase, de crescimento pessoal, assumiram particular relevo no meu espírito a leitura de histórias misteriosas, como Os Cinco ou Os Sete de Enid Blyton, ou de enredos épicos com um fundo de justiça social, como Sandokan, o Tigre da Malásia de Emílio Salgari em que o herói defende, de forma altruísta, os mais fracos ou como Raízes de Alex Haley, em que Kunta Kinte capturado em África como escravo foi levado para os Estados Unidos da América, onde se desenrola a sua vida e a dos seus descendentes até à libertação final com o sistema abolicionista.
Já na idade adulta, com uma paixão pela escrita a fervilhar em mim, comecei a admirar a fluência estilística dos textos de Fialho de Almeida n’ Os Gatos e de José Ramalho Ortigão n’ As Farpas em que ao valor estético da elegante linguagem utilizada se soma a análise realista de situações e de acontecimentos seus contemporâneos. Importa destacar, também, que exerceu influência sobre este meu fascínio literário a minha vontade, frustrada, de vir a ser jornalista e de, eventualmente, moldar o cariz da minha escrita pelo estilo cativante destes autores portugueses de nomeada.
Num período mais amadurecido do meu desenvolvimento intelectual descobri dois escritores que marcaram, por identificação idiossincrática ou por afinidade com a forma e o conteúdo literário, o imaginário simbólico das minhas referências literárias. Estes autores emblemáticos, por quem nutro uma significativa predilecção, são os escritores internacionais, de sensibilidade latina, Ítalo Calvino e Mário Vargas Llosa.
Ítalo Calvino, de que possuo a obra literária quase completa, encantou-me com os seus romances irónicos, fantasiosos, de situações “surreais”[1] fruto de uma prolífica imaginação que propicia, de forma ambivalente, o exercício do sentido crítico mediante as alegorias presentes nas suas histórias ou, nos antípodas, mediante a abstracção em relação às contingências da própria realidade. Dos seus livros que mais me entusiasmaram devo destacar Marcovaldo, um romance de sátira ao Homem contemporâneo, e o Barão Trepador que, constituí uma peça de uma trilogia literária[2], sendo um livro muito elogioso das virtudes utópicas dos ideais Iluministas.
Por sua vez, o substrato cultural clássico subjacente nos romances de Mário Vargas Llosa, um escritor muito autodisciplinado de feição estóica como se anunciou em mediática entrevista na televisão portuguesa à tempos atrás, bem como a sua fluente linguagem de sabor gramatical clássico cativam os leitores intelectualmente mais exigentes. Destaco como livros da sua lavra que mais me inspiraram pela abordagem da temática “liberdade versus felicidade”: O falador, Os cadernos de Dom Rigoberto, O elogio da Madrasta e O Paraíso na outra esquina.
Tem interesse saber que estes autores ideologicamente se situam nos antípodas em termos de posicionamento no quadrante político, porque Ítalo Calvino foi um comunista com uma forte militância antifascista de luta contra o regime totalitário de Benito Mussolini, enquanto Mário Vargas Llosa teve, também, uma posição política vincada ao concorrer como candidato presidencial, por um partido conservador de Direita, derrotado, no Peru em 1990. Não obstante, esta clivagem política entre estes autores une-os uma idêntica sensibilidade latina atenta ao quadro emotivo dos seres humanos.
Gostava, agora, de vos dar a conhecer as minhas actuais preferências, da blogosfera nacional, pelos Blogues que mais aprecio. Vou proceder a uma selecção de alguns Blogues portugueses, a que costumo estar atento pela qualidade dos seus conteúdos culturais ou políticos. O denominador comum destes diversos Blogues é o requinte da elegância da forma literária empregue ou a profundidade e originalidade dos seus conteúdos interpretativos.
Começo por evocar, com prazer, o Blogue chamado Bicho Carpinteiro, que tenho seguido desde 2007, acompanhando, sobretudo, as sentenças políticas, os aforismos e as observações históricas de textos curtos do Professor Doutor José Medeiros Ferreira. De natureza bastante similar tenho seguido o Blogue do, jornalista e político, Miguel Portas, intitulado Entre Muros que nos tem dado a conhecer, com transparência, episódios da sua vida de eurodeputado ou de jornalista internacional de intervenção social.
Ainda no mesmo comprimento de onda, no âmbito da análise política, sigo com grande curiosidade, de leigo na matéria, o Blogue Ladrões de Bicicletas que normalmente nos brindam com estimulantes artigos sobre economia ou política económica subscritos por reputados economistas com convicções próximas da esquerda anti-neoliberal, com análises mordazes da governação de José Sócrates, assinados por jovens com percepções, autenticamente, socialistas como João Rodrigues, Ricardo Pais Mamede, Nuno Teles, Jorge Bateira, etc.
Por idêntico diapasão político afina o historiador e eurodeputado do Bloco de Esquerda, Rui Tavares, no seu Blogue pessoal, que premeia a nossa curiosidade, pelo reino da blogosfera de qualidade, com interessantes textos de reflexão política sobre ideias, de fundo, perspectivadas com imensa criatividade intelectual.
No terreno da divulgação da cultura internacional e nacional quero mencionar dois notáveis Blogues que me entusiasmaram pela sua qualidade literária e pela pertinência da análise de conteúdos. Designadamente, o primeiro intitula-se Crónicas de Francisco José Viegas[3], da autoria deste reconhecido jornalista e escritor, recentemente galardoado no dia de Portugal com uma ordem honorífica pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que bem merece uma visita dos internautas de formação humanista devido ao seu estilo gracioso de linguagem que nos vai desvendando relevantes referências culturais, mal conhecidas do grande público.
O segundo Blogue, do mesmo teor, que recomendo vivamente, aos interessados leitores, uma incursão exploradora chama-se Sorumbático, pois tem um conteúdo muito diversificado com colaborações de prestigiados colunistas, mediáticos, como sejam António Barreto, Maria Filomena Mónica, Saldanha Sanches, Baptista Bastos, Alfredo Barroso, Joaquim Letria, Alice Vieira, etc. Concomitantemente, neste fascinante Blogue aparecem conteúdos bem originais, dado que além dos artigos de opinião, sempre cativantes, são também apresentados “cartoons” antigos, fotografias artísticas de António Barreto, imagens de denúncia cívica “de barbaridades” praticadas na cidade de Lisboa, concursos de âmbito cultural, etc. Vale, mesmo, a pena uma atenta viagem a este Blogue.
No patamar dos Blogues de temática híbrida quero realçar aquele que é escrito numa linguagem escorreita pelo Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa, com o nome de Duas ou Três Coisas, em que se conjugam pequenos relatos memorialísticos da sua vida diplomática, em que nos apresenta factos anedóticos ou factos significativos que bem podem futuramente vir a ilustrar os anais da História Diplomática Portuguesa Contemporânea, com outros textos em que nos mostra as suas meritórias iniciativas em prol da divulgação da Cultura Portuguesa em França.
Finalmente, pretendo destacar um Blogue de um autor incógnito, cujo sugestivo título é O Almocreve das Petas, que oferece, às almas capazes de entenderem as subtilezas da arte irónica, notáveis discursos de sátira política que desmistificam os actores da vida política nacional com muita graça e engenho[4]. Por último, a juntar a estes dons comunicativos o autor parece ter uma “costela alentejana”, na divertida linguagem coloquial que emprega, que me faz invejá-lo por esse apuradíssimo sentido de humor, não obstante use misteriosamente a alcunha de “Masson”[5]…
Em resumo, é lícito asseverar que o imaginário literário, formal e substantivo, e o actual universo da blogosfera nacional, de conteúdos ideológicos e ideográficos, moldam a minha mundividência humanista descrente das exageradas convicções tecnocráticas que infestaram a mentalidade das sociedades desenvolvidas dos nossos dias[6].
Nuno Sotto Mayor Ferrão
[1] Enquadra-se, alias, nesta corrente artística designada por Surrealismo que teve maior expressão sobretudo na pintura e no cinema. [2] As outras peças dessa trilogia literária de Ítalo Calvino, passíveis de serem lidas em conjunto ou em separado, são O visconde cortado ao meio e O cavaleiro inexistente. [3] Sem saber o quadrante político de Francisco José Viegas nota – se no seu pensamento um cunho conservador de Direita. [4] O tom humorístico deste Blogue, salvaguardando as devidas distâncias contextuais, fazem lembrar a veia cómica e verrinosa do imortal escritor Miguel Cervantes na celebérrima obra-prima D. Quixote de la Mancha. [5] É óbvio que o seu autor é uma pessoa bem informada e muito culta, mas será algum membro maçónico a ocultar-se por detrás desta misteriosa designação? [6] Cf. “O desenvolvimento dos povos e a técnica”, in Bento XVI, Caridade na verdade – Carta enciclíca de Bento XVI, Prior Velho, Paulinas Editora, 2009, pp. 109-120.