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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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DA GUERRA DA COREIA (1950-1953) ÀS POLÍTICAS MILITARISTAS DE KIM JONG-UN (1953-2017)

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A Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, insere-se no contexto internacional da guerra fria, no momento em que a Correia do Norte de ideologia marxista invadiu a Coreia do Sul, a 25 de junho de 1950, mas os Estados Unidos, com a anuência das Nações Unidas, vieram em socorro da Coreia do Sul. Por sua vez, a China e a URSS posicionaram-se do lado da Coreia do Norte.

 

Desde 1945 que as tropas dos EUA ocuparam o sul da península coreana. E logo, em 1948, a Coreia, no contexto do conflito ideológico marxismo-capitalismo, separa-se em dois Estados rivais, um de influência norte-americano a sul e outro de influência soviética a norte. As fronteiras entre as duas Coreias eram encaradas como efémeras. Quando a Guerra da Coreia teve início, a ONU condenou a invasão do exército do Norte e considerou-a ilegal, pelo que enviou um contigente de capacetes azuis para restabelecerem a paz na região.

 

Apesar de no início a Coreia do Norte estar em vantagem militar, os aliados da Coreia do Sul impuseram, posteriormente, algumas derrotas às forças Norte-Coreanas. Os EUA e os seus aliados conseguiram empurrar as tropas Norte-Coreanas para trás das suas fronteiras iniciais, o que motivou a intervenção militar da China ao lado da Coreia do Norte, dando algum equilíbrio às forças no terreno.

 

Nos anos de 1951 e de 1952, manteve-se uma guerra de pequenos incidentes em terra mas com uma firme resistência na linha divisória do Paralelo 38. Por outro lado, a guerra aérea intensificou-se com os EUA a submeterem as cidades norte-coreanas a bombardeamentos constantes e a península a ser alvo de combates de caças a jato entre as forças beligerantes. Este foi um dos primeiros episódios da guerra fria, em que os pilotos estrangeiros do mundo comunista e do mundo capitalista vinham em auxílio dos seus aliados político-ideológicos. Nesta Guerra da Coreia destacaram-se várias batalhas aéreas na zona chamada Alameda dos Migs, onde muitos aviões foram abatidos e ceifadas inutilmente 4 milhões de vidas.

 

A Guerra terminou em 27 de julho de 1953, com a assinatura dum periclitante armísticio. Todavia, este acordo prévio não desencadeou nenhum tratado de paz, apenas se estabeleceu uma zona desmilitarizada de separação das duas Coreias, pelo que, por definição, ambas permanecem na atualidade em guerra, arrastando-se as hostilidades fronteiriças e das cúpulas políticas.

 

Em 2017, o mundo acordou assustado com a capacidade de hostilidade nuclear da Coreia do Norte, que criou uma poderosa bomba de hidrogénio, cuja experiência provocou abalos sísmicos nas zonas limítrofes. Kim Jong-un vem ameaçando que esta bomba nuclear pode ser colocada num míssil balístico intercontinental, podendo atingir grandes distâncias.

 

Com as recentes experiências, no verão deste ano, a Coreia do Norte tem assustado os seus vizinhos e a comunidade internacional. A tensão entre os EUA e a Coreia do Norte tem sido protagonizada pelos seus exuberantes e erráticos líderes, com atitudes provocatórias muito perigosas. Isto deu lugar à atribuição pela Academia Sueca do Prémio Nobel da Paz de 2017 à instituição ICAN.

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A tensão EUA-Coreia do Norte não é nova pois advém já do contexto da guerra fria, agudizando-se essa tensão desde a tomada de posse de Donald Trump. Algumas fricções têm percorrido a segunda metade do século XX, como aconteceu, em 1968, quando a Coreia do Norte capturou um navio norte-americano chamado USS Pueblo e, no ano seguinte, quando derrubou um avião de reconhecimento norte-americano. No fim de século, o líder Kim Jong-il, sucessor dinástico do regime setentrional coreano, prometeu desmantelar o seu programa nuclear, mas, na verdade, passado algum tempo o seu país experimenta um míssel balístico de longo alcance.

 

A tensão internacional exacerba-se mesmo depois da guerra fria, quando George W. Bush, na era do terrorismo global, declara como trilogia demoníaca - o Iraque, o Irão e a Coreia do Norte - que rotula de “Eixo do Mal”, por suspeitas de encobrirem atividades terroristas. Este fator potenciou a intensificação do programa nuclear norte-coreano, como estratégia preventiva de defesa do país em face de um eventual ataque hostil dos EUA.

 

Em 2008, os EUA, e ainda durante a administração Bush, reconhecem que a Coreia do Norte não apoia fenómenos terroristas, mas continua a exigir o controlo dos equipamentos nucleares do país. Apesar de este facto amenizar a tensão, continuou a haver acontecimentos nefastos neste ambiente de crispação, designadamente com a detenção na Coreia do Norte de vários norte-americanos.

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Com King-Jong-un e a liderança de Donald Trump, a tensão internacional com os EUA voltou a reemergir no plano mundial. Há, assim, um pré-conflito que tem uma dimensão histórica e ideológica inegável, uma vez que o líder norte-coreano pretende exacerbar o ódio ao inimigo externo para poder unir o seu povo em volta da necessidade de construir armas nucleares.

 

Ao mesmo tempo, Trump tem ameaçado a Coreia do Norte, acentuando-se, em agosto e em setembro de 2017, este clima de hostilidade, em que a comunidade internacional chegou mesmo a temer o início de uma guerra nuclear, de efeitos previsivelmente catastróficos para a região e o mundo.

 

Desde 2006 que o regime norte-coreano tem feito testes nucleares e a ONU tem deliberado sanções, ao nível do embargo de armas e de natureza económicas, sobre o país, o que tem prejudicado bastante a economia do país e agravado ainda mais a miséria da população.

 

A Coreia do Norte intimida a comunidade internacional pelo seu programa nuclear e pelos seus testes nucleares provocatórios aos países vizinhos (Coreia do Sul e Japão) e o seu isolamento internacional também vem criando temores no mundo dos nossos dias, uma vez que pouco se conhece sobre o país e o seu singular líder, que detém um poder ditatorial individual.

 

Será que o início de um eventual conflito nuclear, entre a Coreia do Norte e os EUA e os seus aliados, configurará uma 3ª guerra mundial?

 

Este conflito não parece configurar uma guerra mundial, embora possa ter um impacto ambiental mundial pela irradiação dos gases tóxicos na atmosfera, dado que os especialistas julgam que não há condições para a formação de duas alianças militares rivais, como aconteceu na 1ª e na 2ª guerras mundiais. Seria, deste modo, um conflito de âmbito regional, possivelmente circunscrito à Ásia, mas que teria, obviamente, um impacto catastrófico sobre o nosso planeta.

 

Em suma, sair desta situação de tensão internacional é crucial. Para isso a mediação da UE ou da China num diálogo diplomático entre as partes hostis pode ser um caminho efetivamente recomendável e a recente passagem de Donald Trump pela China indica que esta estratégia estará em curso. Contudo, o afastamento total desta ameaça de guerra só será possível fazendo sair a Coreia do Norte do impasse em que se meteu, isto é, apesar de ter conseguido um progresso militar e nuclear bastante significativo, a sua população vive num estado económico deplorável e de grande opressão dos seus Direitos Humanos.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

DO ANTIAMERICANISMO AO ANTIGERMANISMO – UM PERCURSO DE MÁS LIDERANÇAS INTERNACIONAIS

 

 O Antiamericanismo emergiu como um sentimento que conquistou populações em várias partes do mundo, especialmente, no tempo da liderança belicista de George W. Bush. Senti isso quando estive no Egito em 2001, umas semanas antes do fatídico 11 de Setembro, mas mais tarde com a invasão polémica do Iraque sem o beneplácito do Conselho de Segurança das Nações Unidas muitos europeus de bom senso (estou a lembrar de Mário Soares, de Diogo Freitas do Amaral, de Dominique de Villepin e de muitos outros) se levantaram contra a prepotência que estava a ser cometida pela Administração Norte Americana, sob a doutrina securitária da “guerra preventiva”.

 

Jean-François Revel[1], ilustre intelectual francês, criticou em 2002 este antiamericanismo desconhecendo as consequências desastrosas da intervenção no Iraque e os falsos argumentos das armas de destruição massiva que se revelaram inexistentes. Em particular, as populações dos países árabes foram pródigas nos sinais de antiamericanismo queimando bandeiras Norte-Americanas.

 

De 2010 a 2012 com o agravamento da crise da zona Euro e com as prepotências e arrogâncias políticas da Chanceler Ângela Merkel começa a emergir um sentimento antigermânico, pouco saudável, pela sua inabilidade em ajudar a União Europeia em gizar uma estratégia de fundo. A Europa tem visto agravar a sua crise de credibilidade financeira, com os consequentes riscos para a moeda única, em função da falta de uma liderança carismática e com sentido visionário, ao ponto do antigo Chanceler Helmet Kohl ter criticado as tibiezas da líder alemã que age de forma avulsa perante os problemas conjunturais que vão disseminando a crise por efeito de contágio a múltiplos países europeus.

 

Ângela Merkel quer impor o seu critério técnico de rigor orçamental sem ter uma visão comunitária da solidariedade implicada no projeto institucional europeu. Com estas delongas, a crise tem-se agravado e as intervenções limitam-se a fazer face às emergências, mas perante o egoísmo alemão de Ângela Merkel cresce o sentimento antigermânico por toda a Europa e já se vêem bandeiras alemãs a ser incendiadas por cidadãos gregos, o que é  um sinal muito preocupante de que os nacionalismos exacerbados começam a substituir a noção de pertença a uma cidadania verdadeiramente Europeia. O antigermanismo pode descambar numa nefasta mentalidade eurocética que eventualmente poderá levar ao fim do sonho de unidade institucional europeia. Isto é, a Chanceler Ângela Merkel não faz questão em acudir aos problemas Europeus com medidas conjunturais e estruturais e, por isso, socorre-se de paliativos para tentar minorar os problemas imediatos.

 

A Europa devia ter-se preparado para esta crise no tempo das “vacas gordas”, porque de momento as políticas de austeridade por muito que tenham a chancela do Fundo Monetário Internacional, nos países que foram alvo de intervenção externa (Grécia, Irlanda e Portugal) e em Itália que entrou para supervisionar as medidas de austeridade, os problemas sociais e económicos não se resolvem sem políticas de investimento e sem políticas macroeconómicas.

 

As críticas da imprensa à chanceler Ângela Merkel são recorrentes, ao ponto de apareceram muitas caricaturas suas nos jornais como apareciam de G.W. Bush quando as suas decisões extremistas eram tomadas. A mulher mais poderosa do planeta, segundo a revista Forbes, tem feito muitas críticas aos países latinos e, também, a Portugal rotulando-os de preguiçosos, o que levou o atual executivo de Pedro Passos Coelho, sob esta pressão externa, a reduzir o número de feriados. Só que a falta de solidariedade da Chanceler em relação a uma estratégia comum europeia tem gerado desconfianças mútuas levando os países europeus a dizerem que estão em melhor situação que o vizinho (Portugal está melhor que a Grécia, a Irlanda está melhor que Portugal, a Itália está melhor que a Irlanda, etc).

 

Por outro lado, convém lembrar que a Alemanha é tributária das indemnizações decorrentes do Tratado de Versalhes que foi assinado a seguir à 1ª Guerra Mundial, que a Alemanha é tributária da ajuda ocidental face à devastação da 2ª Guerra Mundial, que foi a arrogância niilista que pôs de “pantanas” a Europa com a barbárie Nazi, que foi a ajuda Europeia que permitiu a reunificação da Alemanha após o fim da queda do muro de Berlim. A Alemanha tem muitas dívidas de gratidão moral e material perante a Europa e é essa evocação histórica que convém trazer à tona.

 

A Europa e o mundo ocidental estão sedentos de boas lideranças internacionais sob o risco do Velho Continental definhar, efectivamente, como Civilização de paz, de prosperidade e de notáveis façanhas espirituais. A resposta à crise da Zona Euro que começou no início de 2010 não passa de um arremedo de estratégia para uma tentativa de disciplina financeira, esquecendo todas as questões colaterais como o desemprego, o crescimento económico e a toxidade sistémica da Globalização Financeira num mundo em crescente anomia Ética que torna os Homens prisioneiros das razões tecnocráticas na lúcida visão crítica do filosofo alemão Jurgen Habermas. Neste sentido, é preciso, como avisava Max Weber, que haja lideranças carismáticas e mobilizadoras que potenciem as sinergias sociais e políticas para se sair desta violenta crise que está a abalar o mundo Ocidental!

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 


[1] Jean-François Revel, Obsessão Antiamericana, Lisboa, Bertrand Editora, 2002.

 

A DÉCADA DE 2001-2010 DO NOSSO MUNDO: LINHAS DE FORÇA DE SOCIOLOGIA HISTÓRICA

 

 

A primeira década do século XXI, a nível internacional, foi marcada por uma crise global a múltiplos níveis (Ética, Política, Económica, Social, etc.) que resultou da acelerada Globalização que tornou o mundo mais complexo e suscitou uma perplexidade nas elites para lidarem com as estruturas internacionais em mudança. Na verdade, na transição do século XX para o XXI o mundo deixou de ser bipolar, com o fim da guerra fria, e passou a ser multipolar com o aparecimento do G7, do G8 e do G20. As ameaças naturais e humanas proliferaram, com as catástrofes naturais a pontuarem a primeira década do século XXI e as armas de destruição massiva a ameaçarem expandir-se a novos países.

 

Este período da História da Humanidade tornou-se uma Era da incerteza com o colapso das velhas estruturas, históricas do pós-guerra, e dos valores tradicionais que colocaram o Homem face a um paradoxal individualismo em virtude das ameaças globais que emergiram. Esta tendência, que se desencadeou em função de uma Globalização desregulada, gerou uma crise múltipla que desembocou numa mentalidade pessimista que varre a maioria das potências ocidentais, em visível declínio. Com efeito, verifica-se que a Globalização tem despoletado efeitos sociais bastante nocivos, não obstante as inegáveis vantagens que a mesma induziu.

 

O primeiro exemplo da crise global reside na mundialização da insegurança criada pelo terrorismo global, de que o primeiro acontecimento foi o atentado de Nova Yorque, em 11 de Setembro de 2001, ao edifício do World Trade Center e a edifícios da administração norte-americana em Washington D.C.. Surgiu como suspeito principal Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda, que ameaçou os interesses norte-americanos no mundo. O Presidente norte-americano G.W. Bush lançou de imediato uma guerra ao terrorismo.

 

A escalada internacional de terrorismo prosseguiu com o atentado à estação de comboios da Atocha, em Madrid a 11 de Março de 2004, o que tornou a insegurança um sentimento que se generalizou no mundo do início do século XXI. O alerta dos países face ao terrorismo reforçou as cautelas de segurança internacional sobretudo nos aeroportos e nos locais de embarque e desembarque de pessoas. Apesar destas prevenções ainda sucedeu no Metropolitano de Londres um novo atentado terrorista a 7 de Julho de 2005 que causou dezenas de mortos[1].

 

A Globalização, não regulada, tem feito sentir as suas desvantagens ao potenciar as várias crises que na primeira década do século XXI se manifestaram. À crise da segurança mundial esteve associada uma crise ética, que possibilitou a G. W. Bush e a Tony Blair mentirem sobre as armas de destruição massiva, que existiriam no Iraque, para justificar a guerra preventiva que se desencadeou à revelia da autorização do Conselho de Segurança da ONU[2], que foi muito contestada na Europa continental.

 

A Globalização do comércio e da informação tem permitido espaços clandestinos favoráveis à corrupção, à especulação financeira e ao contrabando de estupefacientes e de armas convencionais e não convencionais. Deste modo, a Globalização padece, actualmente, de uma entidade reguladora que poderia ser a ONU, se tivesse força económica e coerciva, o que não é o caso. Nesta conjuntura de uma Globalização desregulada verifica-se a impossibilidade de uma cabal defesa empírica dos Direitos Humanos, tanto mais que a ONU tem perdido poder e capacidade de acção.  

 

O contexto histórico da Globalização, sem contrapoderes efectivos, foi o terreno fértil para que, num mundo em que as economias de mercado se impuseram, triunfasse um Capitalismo Financeiro, despudorado e afastado da economia real, e uma concomitante ideologia neoliberal (perante a adesão da China e da Europa de Leste à “teologia de mercado”) que fizeram culminar a Humanidade numa violenta crise económica e financeira internacional desde 2008. Com efeito, em Setembro desse ano rebentou a crise financeira dos EUA com a falência do centenário banco Lehman Brothers e da Seguradora AIG[3]. No final de 2008 é preso Bernard Madoff acusado da maior fraude financeira da História devido às mentiras na questão do negócio do “subprime”.

 

De 2008 a 2010 a crise financeira expandiu-se pelo mundo e gerou uma crise económica global, que afectou, primeiro, as velhas potências históricas (EUA e a União Europeia). Em 2010 começou a crise das dívidas soberanas, com a Grécia a dar o alerta, em Abril, pedindo ajuda ao Fundo Monetário Internacional, em que os países do Ocidente começaram a dar sinais de abrandamento económico em virtude de endividamentos excessivos. Na verdade, o ano de 2010 marcou o culminar da crise do Estado-Providência na Europa (do Modelo Social Europeu) que resultou da disparidade entre o exagerado crescimento das despesas públicas e o insuficiente crescimento económico, agravados pelo decréscimo demográfico Europeu[4], potenciado pela iníqua competitividade dum sistema internacional em que países respeitadores dos Direitos Humanos competiam em igualdade de circunstâncias com países que os menosprezavam.

 

Ora esta conjuntura dos países ocidentais com elevadas despesas públicas, à custa de endividamentos externos, criou dificuldades de sustentabilidade financeira nos Estados-Providência da Europa, o que levou os partidos de Esquerda no poder a adoptarem políticas neoliberais. Face a esta indesmentível realidade houve uma crise da ideologia social-democrata/socialista democrática[5] que não se soube adaptar em plena coerência com a conjuntura especulativa que perpassou a primeira década do século XXI.

 

A agressiva administração norte-americana de G.W. Bush imprimiu ao sistema internacional, durante os seus mandatos de Janeiro de 2001 a Janeiro de 2009, uma marca de anomia ética e legal que começou, em Março de 2001, com a retirada dos EUA do Protocolo de Kyoto de 1997 que obrigava os países signatários a reduzirem a emissão de gases de efeito de estufa.

 

Esta anomia ética continuou com a invasão do Iraque, em 20 de Março de 2003, que foi justificada pelo argumento da posse ilegal de armas de destruição massiva da parte do regime de Saddam Hussein, que se revelou um descarado embuste da administração Bush. Assim, dentro desta lógica da acção preventiva se pôde violar os normativos éticos em vigor na comunidade internacional, em conformidade com a ideologia neoconservadora sustentada por Paul Wolfovitz, que facilitou o ambiente radical que tornou possíveis as torturas nas prisões de Abu Ghraib e de Guantánamo. Na realidade, a Presidência de G.W. Bush (2001-2009) favoreceu políticas atentatórias dos Direitos Humanos do ponto de vista ambiental e militar, à revelia do Acordo de Kyoto e das Convenções de Genebra.

 

Esta década da História da Humanidade (2001-2010) foi caracterizada por importantes alterações climáticas decorrentes, sobretudo, da crescente poluição industrial do nosso mundo. As alterações climáticas têm consistido no aquecimento global e na instabilidade atmosférica que tornam as estações do ano muito atípicas. A par dos fenómenos da exponencial imprevisibilidade climatérica surgem catástrofes naturais, como cheias e secas, mais frequentes, que assolam várias regiões do planeta.

 

Estes factores são reveladores da vulnerabilidade humana, não obstante todo o progresso tecnológico galopante que o mundo tem vivido nos últimos anos, daí o peso que as crenças religiosas continuam a ter num mundo de crescentes incertezas. Por exemplo, em 28 de Agosto de 2005, nos EUA, o furacão “Katrina” devastou grande parte da região de Nova Orleães. No entanto, a imprevisibilidade do nosso mundo está, também, patente na instabilidade tectónica que “prega partidas” ruinosas em muitas partes do mundo. Assim, recordemos que o Tsunami do Oceano Pacífico de 26 de Dezembro de 2004 chamado pelos técnicos de terramoto de Sumatra-Andaman provocou ondas gigantescas, na região, que afectaram o litoral de 14 países e mataram 230 mil pessoas.

 

Se houve épocas na História da Humanidade em que os Homens, ou alguns povos, se julgaram “deuses”, depreciando o valor da transcendentalidade metafísica das religiões, podemos afirmar que face aos ingentes desafios da Globalização e à crescente frequência das catástrofes naturais urge cultivar os sentimentos de solidariedade colectiva, em prol da defesa efectiva dos Direitos Humanos, e da humildade generosa perante um mundo em crescente complexificação.

 

Outra linha de força, desta primeira década do século XXI, é a Globalização da informação através dos meios de comunicação social e da Internet e os actos de “pirataria” informática para efeitos de espionagem industrial ou de denúncia de escândalos públicos de actos com coberturas oficiais de determinados Estados.

 

O surgimento do site “Wikileaks”, de Julian Assange, em Dezembro de 2006, é um exemplo dos movimentos de cidadania global que começaram a emergir nesta década da História da Humanidade. Aliás, antes da guerra do Iraque, na Primavera de 2003, salientaram-se na Europa grandes manifestações cívicas de carácter pacifista. Por detrás destes fenómenos esteve o emergir de sociedades da informação que atravessaram todos os países livres nesta Era da Globalização.

 

Em 20 de Janeiro de 2009 com o começo da Presidência norte-americana de Barack Obama iniciou-se uma nova fase, mais desanuviada, do cenário internacional que foi plasmada na sua frase de propaganda que contagiou a opinião pública mundial: “Yes, we can!”[6]. Com efeito, a sua eleição foi promissora pelo sentido intercultural de ter sido o primeiro mulato a ser Presidente dos EUA, o que galvanizou a comunidade internacional e levou a que lhe atribuíssem, no final do ano, como Património Imaterial de uma Esperança que se abriu ao mundo, o Prémio Nobel da Paz. Aliás, a tensão internacional que existia entre o Irão[7] e os EUA, vinda do mandato da Administração Bush, a propósito da suspeita da corrida iraniana ao armamento nuclear foi reduzida sob os auspícios do Presidente Barack Obama, não obstante tenha havido alguns recuos nesta aproximação diplomática.

 

Em suma, as linhas de força que atravessaram a primeira década do século XXI (2001-2010) apontam para uma série de grandes desafios que a Humanidade tem de enfrentar, nesta conjuntura da Globalização desregulada, para se salvaguardar uma intransigente defesa dos Direitos Humanos a nível planetário. Só com um Espírito Humanista, moldado por líderes como Barack Obama, será possível ultrapassar os vícios tecnocráticos em que as sociedades oligárquicas do início deste século se deixaram enredar. Assim, urge um Espírito Universalista que infunda um cunho Ético às relações da comunidade internacional transformando o cerne da Globalização[8].   

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão   



[1] Em Bombaim, na Índia, a 26 de Novembro de 2008 houve, também, um ataque terrorista de larga escala em que morreram quase duzentas pessoas e várias centenas de pessoas ficaram feridas.

[2] Mohamed ElBaradei, A Era da Mentira, Lisboa, Matéria-Prima Editores, 2011, pp. 65-110.

[3] Vince Cable, “A grande contracção do crédito”, in A Tempestade – A crise económica mundial e seu significado, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2009, pp. 41-72.

[4] Henrique de Medina Carreira, O fim da ilusão, Carnaxide, Editora Objectiva, 2011, pp. 32-37.

[5] Alguns autores, partindo de pressupostos ideológicos conservadores, não falam de crise da social-democracia, mas de falência desse modelo político: Cf. Vasco Pulido Valente, “A evidência – As sociedades da social-democracia não voltam” in Público, nº 7812, 27 de Agosto de 2011, p. 40.

[6] Mário Soares, Um Mundo em Mudança, Lisboa, Círculo de Leitores – Temas e Debates, 2009, pp. 143-146.

[7] Não nos esqueçamos que G.W. Bush considerou num discurso político célebre, a 22 de Janeiro de 2002, o Irão, o Iraque e a Coreia do Norte como países que constituíam um “Eixo do Mal”.

[8] O modelo da Globalização alternativa proposto pelas várias edições do Fórum Social Mundial, de 2001 a 2010, tem questionado o pensamento único imposto pelo Capitalismo Financeiro e delineado caminhos alternativos para uma Humanidade preocupada com os Direitos Humanos e o bem-estar global das populações. Vide Boaventura Sousa Santos, “Outro mundo é possível”, in Portugal – Ensaio contra a autoflagelação, Coimbra, Edições Almedina, 2011, pp. 137-150.

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