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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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O FILME “O PÁTIO DAS CANTIGAS” (1942) COMO DOCUMENTO HISTÓRICO E CÍVICO-ALEGÓRICO DE GRANDE ATUALIDADE

Patio das Cantigas.pngDeus Pátria e Família.webp

No filme “O Pátio das Cantigas” (apresentado a 23 de janeiro de 1942, produção de António Lopes Ribeiro, Tobis Portuguesa), aparecem várias cenas de violência e de agressão, sendo possivelmente alegóricas à 2ª Guerra Mundial em curso, em 1942, para mais quando “Vasco Santana” na cena de desacato generalizado no final do filme dirige as crianças para uma “cave”, como os cidadãos das cidades bombardeadas se escondiam, na altura, em “bunkers”.

 

Sintomático é quando o personagem encarnado por “Vasco Santana” afirma às crianças “aqui podem ficar sossegadas” debaixo de uma tarja que tinha a inscrição Salazar, ironizando talvez o discurso do Estado Novo que dizia que Portugal era um paraíso, enquanto a Europa estava “a ferro e fogo”, numa carnificina sem precedentes em termos de escala global.

 

Neste momento, em que estamos com várias guerras em diversas partes do mundo, no fim deste primeiro quartel do século XXI, com risco para a Humanidade de se escalar o afrontamento bélico numa dimensão inusitada, de grande perigo para a sobrevivência coletiva, convém refletir sobre os temas éticos com base em obras de arte de grande significado simbólico.

 

Por esta razão, temos algumas lições a retirar do civismo e das atitudes éticas que nos são propostas neste filme clássico do cinema português, no género da comédia. É uma película com elevado valor de fonte histórica, de grande apreço para os tempos lúdicos e de valoroso documento com uma alegoria simbólica muito relevante.

 

O filme é muito rico em várias cenas e momentos de agressão:

- o insulto ao inventor “seu idiota perdeu o travão?”;

- os insultos recorrentes do Evaristo ao seu empregado, que detesta, dizendo “Ó seu camelo”;

- Evaristo tenta irritar emocionalmente os vizinhos, ouvindo música de ópera e fazendo troça e depreciando “os analfabetos” do bairro que ouvem fado no pátio;

- o rapaz a “troçar” com o Evaristo, como o faz, o personagem encarnado por “Vasco Santana” ao dizer “Ó Evaristo, tens cá disto ?” e a provocar a irritação exacerbado do mesmo;

- o personagem de “Vasco Santana” a destratar o rapaz manso que esteve a pedir dinheiro pelo Santo António para alguns doces, dizendo “seu caixa de óculos”;

- quando num ardil manipulador o personagem de “Vasco Santana” por “dor de cotovelo” retira o belo manjerico ao Evaristo, depois deste o ter destratado também com menosprezo diante de D. Rosa;

- quando Amália numa atitude verrinosa na dança abre o fecho do vestido da filha do Evaristo, que estava a dançar com o ex-namorado (“o Don Juan do pátio”);

- o desentendimento generalizado, cruzado, durante o baile da noite de Santo António com agressões físicas várias e confusão generalizada na festa de rua por causa dos namoricos, ou por outras palavras, desacato, simbolizando alegoricamente a 2ª guerra mundial que estava a decorrer;

- nesta alusão à guerra “Vasco Santana” (o protagonista) aparece com um balão aberto na cabeça, como se fosse um capacete, e outras figuras aparecem com pratos virados ao contrário simulando alegoricamente a guerra que estava a decorrer;

- a violência machista do vizinho a namorar a Amália e a irmã num “cliché” de engatatão, típico das sociedades conservadoras, que colocavam as mulheres em casa num estatuto de inferioridade como aparece num dos emblemáticos cartazes propagandistas designado “Lição de Salazar”;

- a situação do roubo e da agressão ao avô da Amália na Rua da Madalena, em Lisboa;

- quando Rufino, aparece ébrio ao pai, a dizer-lhe de forma simbólica e irónica (numa “afronta” aos censores da Inspeção Geral de Espetáculos) que “beber vinho é dar pão a um milhão de portugueses”.  

A chegada da filha de D. Rosa do Brasil é motivo de regozijo coletivo e de concórdia entre os protagonistas, permitindo a harmonia social no bairro do Pátio das Cantigas e a gratidão da D. Rosa a todo o bairro, fazendo lembrar a ânsia da Paz e da renovação de um organismo de tutela da paz internacional depois do descalabro da Sociedade das Nações e das duas guerras mundiais catastróficas.

É feito um apelo de D. Rosa a Narciso Pai para se regenerar, deixando o álcool, e colaborar na paz e na concórdia dos vizinhos e na harmonia do bairro, ultrapassando pequenas e insignificantes quezílias.

O namoro entre a brasileira e Rufino português pode ser visto como um apelo à concórdia entre os povos, num momento de conflito bélico da Humanidade – a 2ª guerra mundial (1939-1945).

A salvação de Carlos, o prisioneiro dos calabouços do “Torel”, pelo conluio de todos os habitantes do bairro que se protegem uns aos outros, como forma de se conseguir a paz e a concórdia que se almejava no mundo em guerra, neste caso no bairro do Pátio das Cantigas em pé de guerra. No fim do filme, estabelece-se a harmonia social no bairro com a Festa Popular de S. João, desejando-se que a paz e a concórdia no mundo chegassem rapidamente.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

BIBLIOGRAFIA DE NUNO SOTTO MAYOR FERRÃO (ATUALIZAÇÃO) E CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Nova Águia 032 - CAPA FRENTE.jpg

a) Bibliografia do autor:

* Nuno Sotto Mayor Ferrão, "Breve evocação do historiador José Mattoso" (1933-2023)", in Nova Águia, nº 32, 2º semestre de 2023, pp. 155-156.

 

Idem, "Evocação do historiador António Oliveira Marques, nos 90 anos do seu nascimento", Nova Águia, nº 32, 2º semestre de 2023, pp. 160-168.

 

* Idem, "No Centenário do Nascimento de José-Augusto França (1922-2022) - Esboço biográfico, produção cultural e obra historiográfica", in Nova Águia, nº 30, 2º semestre de 2022, pp. 137-144.

 

* Idem, "Uma reflexão sobre a pandemia: passado, presente e futuro", in AAVV, Pensar de novo, pensar o novo: tempos de pandemia, Org. Renato Epifânio, Campinas, Pontes Editores, Coleção Atlânticos, 2021.

 

* Idem, “Nos 80 anos da morte de Raul Proença (1941-2021) – a sua intervenção na revista A Águia", in Nova Águia, nº 28, 2º semestre de 2021, pp. 143-147.

 

*Idem, "O percurso vivencial e a obra historiográfica de Joaquim Veríssimo Serrão", in Mátria XXI - Número Especial Evocativo em memória do Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão - Herança Cultural e Património Científico, Santarém, Edição Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão e Academia Portuguesa da História, maio de 2021, pp. 141-166.

 

Idem, “O percurso vivencial e a obra historiográfica de Joaquim Veríssimo Serrão”, in Nova Águia, nº27, 1º semestre de 2021, pp. 180-188.

 

*Idem, "Uma reflexão sobre a pandemia: passado, presente e futuro", in Nova Águia, nº 26, 2º semestre de 2020, pp. 141-148.

 

*Idem, “José Hermano Saraiva: historiador e divulgador da cultura portuguesa - evocação no centenário do seu nascimento”, in Brotéria, vol. 189, nº 4 – outubro de 2019, pp.420-439.

 

*Idem, “José Hermano Saraiva: historiador e divulgador da cultura portuguesa”, in Nova Águia, nº 24, 2º semestre de 2019, pp. 151-159.

 

*Idem, “Breve evocação do Padre Manuel Antunes – No Centenário do seu nascimento (1918-2018)”, in Nova Águia, nº 22, 2º semestre de 2018, pp. 216-218.

 

*Idem, "A Nova Águia e cultura lusófona, das suas raízes identitárias a um futuro coletivo de esperança", in Nova Águia, nº 20, 2º semestre de 2017, pp. 235-240.

 

*Idem, "O Padre António Viera, um precursor do espírito e da convivência lusófona no Século XVII” in Nova Águia, nº 19, 1º semestre de 2017, pp. 103-111.

 

*Idem, “O Padre António Viera, um precursor do espírito da convivência lusófona no Século XVII”, in Brotéria, vol. 183, nº 5/6 – novembro/dezembro de 2016, pp 367-383.

 

* Idem, "A arte no pensamento de Vergílio Ferreira" in Nova Águia, nº 18, 2º semestre de 2016, pp. 61-66.

 

* Idem, "Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico - Nos 120 anos da obra 'O Culto da Arte em Portugal' (1896-2016)" in Nova Águia, nº 17, 1º semestre de 2016, pp. 115-120.

 

*Idem, “Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico – Nos 120 anos da obra ‘O Culto da Arte em Portugal’ (1896-2016)”, in Brotéria, vol. 182, fevereiro de 2016, pp. 133-144.

 

*Idem”, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na Revista Orpheu – Evocação no seu centenário”, in Brotéria, vol. 181, julho de 2015, pp. 41-50.

 

*Idem, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na revista Orpheu”,  in Nova Águia, nº 15, 1º semestre de 2015, pp. 18-24.

 

*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa – no centenário da Grande Guerra”, in Brotéria, vol. 180, nº 1 – janeiro de 2015, pp 33-44.

 

*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa e na revista A Águia”, in Nova Águia, nº 14, 2º semestre de 2014, pp. 231-238.

 

*Idem, “A atualidade internacional da Doutrina Social da Igreja no contexto da globalização”, in Brotéria vol. 178, nº 7/8 – julho/agosto de 2014, pp 33-44.

 

*Idem, “Balanço diacrónico (1974-2014) da Revolução de 25 de Abril”, in Nova Águia, nº 13, 1º semestre de 2014, pp. 57-63.

 

*Idem, “Nos 80 anos do historiador José Mattoso: a sua viva lição de sabedoria”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 162-163.

 

*Idem, “António José Saraiva como cidadão e historiador: nos 20 anos da sua morte”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 153-159.

 

*Idem, “A poesia portuguesa: o mar e a lusofonia”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 23-24.

 

*Idem, “As linhas de força do pensamento historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 130-135.

 

*Idem, “A Renascença Portuguesa e o percurso político e historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 9, 1º semestre de 2012, Sintra, Zéfiro Editora, 2012, pp. 138-144.

 

*Idem, “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, Janeiro de 2012, pp. 47-51.

 

*Idem, “A dinâmica histórica do conceito de Lusofonia (1653-2011)” in Nova Águia, nº 8, 2º semestre de 2011Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 204-208.

 

*Idem, "Fernando Pessoa: o sentimento lusófono na sua obra", in Nova Águia, nº7, 1º semestre de 2011, Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 34-38.

 

*Idem, "Alexandre Herculano, aspectos da vida e obra e sua ascendência ideológica sobre o Republicanismo", in Sintra, Zéfiro Editora, Nova Águia, nº 6 - 2º semestre de 2010, pp. 130-135.

 

*Idem, "Leonardo Coimbra, a revista 'A Águia' e o panorama cultural contemporâneo", in Nova Águia, nº 5 - 1º semestre de 2010, Sintra, Editora Zéfiro, pp. 34-36.

 

*Idem, Aspectos da vida e obra do Almirante Sarmento Rodrigues (1899-1979), Mirandela, Edição Câmara Municipal de Freixo de Espada-à-Cinta, 1999, 293 p.

 

*Idem, O pensamento colonial de Sarmento Rodrigues enquanto Ministro do Ultramar (1950-1955), Dissertação de Mestrado em História Contemporânea, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1997, 233 p.

 

 

b) Citações bibliográficas do autor:

» Clio: revista do Centro de História da Universidade de Lisboa, “Resumo das Teses de Mestrado em Letras (História)”, Lisboa, 1996, p. 168.

 

» Joaquim Veríssimo Serrão, “Do berço humilde em Freixo à imortalidade da História”, Almirante Sarmento Rodrigues, 1899-1979: testemunhos e inéditos no centenário do seu nascimento, Academia de Marinha e Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Lisboa, 1999, p. 163.

 

» Cadernos de Estudos Africanos – Memórias Coloniais, Lisboa, Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2006, p. 150.

 

» António E. Duarte Silva, “Sarmento Rodrigues, a Guiné e o lusotropicalismo”, in Cultura: Revista de História e da Teoria das Ideias, Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, vol. 25, 2008, p. 33 e 44. (António E. Duarte Silva, « Sarmento Rodrigues, a Guiné e o luso-tropicalismo », Cultura [Online], Vol. 25 | 2008, consultado a 29 julho 2014. URL :http://cultura.revues.org/586.

 

» Ana Reis e João Garrinhas, “2 anos sob tutela autárquica”, in Profforma (Revista do Centro de Formação de Professores do Nordeste Alentejano), nº 2, março de 2011, pp. 1-7.

 

» Victor Andrade de Melo, “O esporte na política colonial portuguesa: as iniciativas de Sarmento Rodrigues na Guiné (1945-1949)”, in Revista Brasileira de  História, vol.34, no. 68, São Paulo, July/Dec. 2014, pp. 179,180 e 189.

 

» Rui Jorge Martins, “Rui Chafes, René Girard, Ramalho Ortigão e José Luís Peixoto na Brotéria“, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultural (portal da internet).

Disponível em:

http://www.snpcultura.org/rui_chafes_rene_girard_ramalho_ortigao_jose_luis_peixoto_na_broteria.html - Acesso em 09.05.2016.

 

» Sérgio Neto, Do Minho ao Mandovi – Um estudo sobre o pensamento colonial de Norton de Matos, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, p. 317.

 

» Álvaro Henriques do Vale, Do Mapa Cor de Rosa à Europa do Estado Novo, Lisboa, Chiado Editora, 2015, nota 145.

 

» Isabel Maria Freitas Valente (Coord.), Europa, Mobilidades, crises, dinâmicas culturais, Pensar com Maria Manuela Tavares Ribeiro, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, p. 404.

 

» Marta Carolina Giménez Pereira (org.), Temas atuais de propriedade intelectual, Brasil, Editora Deviant. 2019, p. 52.

 

» Eugénia Abrantes, Vieira, místico da ação global, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2022, p. 189.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

O BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (1822-2022) E ALGUMAS DATAS HISTÓRICAS

bicentenario-independenciaBrasil.jpgBicentenario-da-Independencia do Brasil 1822-2022.

Em 7 de setembro de 2022 irá ser comemorado o bicentenário da independência do Brasil. Evocaremos, neste pequeno texto, as circunstâncias históricas que desembocaram no nascimento da nação brasileira, sem deixar de perceber que os laços sócioeconómicos e culturais entre Portugal e o Brasil não se quebraram ao longo destes 200 anos de separação política entre Portugal e o Brasil e que estes países se encontram unidos na esperança de que a comunidade lusófona, no plano dos afectos e das instituições como a CPLP[1], se possa consolidar cada vez mais, com base neste frutuoso exemplo.

 

No primeiro quartel do século XIX, havia um contexto externo favorável ao ambiente separatista com os movimentos emancipalistas da América Espanhola. Relativamente ao Brasil, existiram dois fatores que estiveram por detrás da independência brasileira. Verificou-se um antecedente, efémero, com uma curta instalação de uma República independentista em Pernambuco, em março de 1817. Contudo, o fator, profundo, que despoletou a revolta brasileira foram as desmesuradas exigências das Cortes de Lisboa de subordinação política à metrópole, que fizeram levantar um coro de apelos à independência brasileira no decorrer dos primeiros meses de 1822[2].

 

Designadamente, as Cortes portuguesas, a 15 de fevereiro de 1822, determinaram que as relações comerciais entre o Brasil e Portugal regressassem ao regime do exclusivo colonial devido ao peso económico do Brasil nas contas públicas lusas. A revolta separatista do Brasil resultou do forte descontentamento com as decisões das Cortes de Lisboa, que motivaram uma forte reação adversativa na imprensa local, nas associações e nas reuniões de colonos liberais nas cidades do Rio de Janeiro e de São Salvador da Baía.

 

A posição arrogante das Cortes de Lisboa de obrigar o domínio brasileiro a recuar ao estatuto de colónia, ao princípio de subordinação política, e o facto dos governantes metropolitanos, nomeadamente de Manuel Fernandes Tomás, se terem convencido de que o Brasil não conseguiria sobreviver sem Portugal foram os rastilhos da revolta política das elites de Vera Cruz. De facto, as Cortes de Lisboa pretenderam submeter o território brasileiro, para que este domínio não fosse predominante no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (estatuto adquirido em 1815, com a presença do rei D. João VI no Brasil).

 

A resistência brasileira às ordens das autoridades metropolitanas foi protagonizada pelo príncipe real D. Pedro, que ficou no Rio de Janeiro como regente português. A 7 de setembro de 1822, perfazem-se agora 200 anos (1822-2022), em São Paulo, o príncipe D. Pedro à beira do rio Ipiranga tomou o partido da independência brasileira e foi aclamado imperador. As Cortes de Lisboa mandaram as tropas portuguesas sediadas no território reagir militarmente, mas era demasiado tarde face ao desequílibrio de forças sociais e militares em presença, não obstante o apoio das províncias do Norte à continuação da vinculação política a Portugal.

 

A 7 de setembro de 1922 o Diário de Lisboa[3] (número 437, pág. 1) evocava o centenário da independência do Brasil, afirmando que este país-irmão, na Língua Portuguesa e no legado cultural, era uma potência económica em gradual ascensão à escala global, sendo as suas potencialidades agrícolas, industriais e comerciais incalculáveis e motivo de fortes fluxos migratórios, provenientes de Portugal. Sublinha que, ao contrário dos outros países da América Latina, no Brasil ao lado da procura da prosperidade material não se abandonou a preocupação com o progresso espiritual. 

 

No dia seguinte[4], o mesmo jornal polemiza a data da independência do Brasil. Afirma que o monarca D. João VI terá dito, no dia da partida do Brasil para a metrópole, a seu filho D. Pedro, príncipe regente, que o território estaria perdido para Portugal, mas que em face dos ventos da mudança colocasse ele a coroa ao invés de algum “aventureiro”. Os colonos do Brasil convenceram-se da necessidade de independência política, mas divergiram no regime político a adoptar: liberal, monárquico absoluto ou republicano. Sublinhe-se que D. Pedro, junto ao “ribeirão Ypiranga”, terá recebido correspondência do governo de Lisboa com ordens expressas de obediência e que terá reagido com veemente irritação, proclamando: “Pois bem! Independência ou Morte!”[5].

 

Assinala-se que D. Pedro terá alinhado na propaganda da revolta do Brasil contra Portugal, mas que até dia 17 de setembro os atos governativos da regência terão sido praticados em nome do rei de Portugal e que, nessa medida, não estaria consumada ainda a independência do Brasil “de jure”. Salienta este artigo jornalístico: “(...) Até essa data, 17, os atos governativos da regência do Brasil foram praticados em nome do rei de Portugal. (...)”[6]. Terá sido a 17 de setembro que D. Pedro publicou os decretos de emancipação política do Brasil como Estado: com a amnistia para os presos políticos; com o convite aos portugueses para aderirem à nacionalidade brasileira ou de saírem do país num curto prazo de 4 meses; com a criação do escudo de armas e da bandeira nacional. Foi também, nessa data, que D. Pedro foi aclamado pela população do Rio de Janeiro como imperador.  

 

Portugal junta-se ao Brasil nas comemorações do bicentenário desta efeméride e numa amabilidade diplomática, do Presidente da Câmara Municipal do Porto, o coração de D. Pedro IV de Portugal/ D. Pedro I do Brasil será trasladado, a título de empréstimo, para o Brasil, na qualidade de figura fundadora da nação brasileira, dado que até aos nossos dias este órgão fisiológico tem sido guardado e preservado na Igreja da Lapa no Porto, com o autarca portuense como guardião supremo das 5 chaves que protegem o acesso ao simbólico coração de D. Pedro.

_______________________

[1] O Movimento Internacional Lusófono e a revista Nova Águia associam-se a esta efeméride, conscientes de que só mediante o estreitamento dos laços afectivos, culturais, sociais, políticos, diplomáticos e económicos entre os diferentes espaços da comunidade lusófona será possível concretizar os nobres objetivos da CPLP.

[2] Nuno Gonçalo Monteiro, “Ruptura Constitucional e Guerra Civil (1820-1834)”, in História de Portugal, Coord. Rui Ramos, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2010, pp. 470-472.

[3] 1922), "Diário de Lisboa", nº 437, Ano 2, Quinta, 7 de Setembro de 1922, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_32306 (2022-7-19).

[4] (1922), "Diário de Lisboa", nº 438, Ano 2, Sexta, 8 de Setembro de 1922, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_32310 (2022-7-19).

[5] “(...) No fixar do “7 de setembro” (...) a preferência desta data, marcando a independência política do Brasil cujo centenário justificado e brilhantemente se celebra nesta ocasião, é que se nos afigura demasiadamente arbitrário do ponto de vista histórico, porquanto não assinala acto algum da independência. Aquela data corresponde apenas a uma decisão individual, exteriorizada dessa vez, de modo incisivo, com uma maior vivacidade que a exaltação do momento explica.” in “O ‘7 de setembro’ é data convencional“, Diário de Lisboa, nº 437, Ano 2, quinta-feira, 7 de Setembro de 1922, p. 2.

[6] “A independência da República Brasileira – O ‘7 de setembro’ é data convencional“, Diário de Lisboa, nº 437, Ano 2, quinta-feira, 7 de Setembro de 1922, p. 2.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR, O REGIME DO ESTADO NOVO E ALGUNS DOCUMENTOS FUNDAMENTAIS PARA O SEU ESTUDO

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  1. Fontes históricas e estudos historiográficos

 

Como fonte histórica incontornável para o estudo do Estado Novo foram agora publicados, neste outono de 2021, em formato e-book os Diários de Salazar (1933-1968), pela Porto Editora, embora com uma pré-apresentação pelo jornal Público. Podemos, através destes escritos, acompanhar o quotidiano de Salazar ao nível da sua vida pública e privada, numa transcrição preciosa de uma arquivista persistente, que nos permite conhecer melhor aquilo que foram as suas rotinas diárias. Ficamos a perceber, por exemplo, que começava o dia a ler os jornais às 9 horas e terminava, geralmente, os seus dias com um passeio a pé, algumas leituras, alguns telefonemas ou um encontro com alguma personalidade do regime.

 

Franco Nogueira escreveu, também, uma colossal obra memorialística de Salazar, que convém sempre consultar, pois é um testemunho importante para quem queira estudar, pesquisar e compreender o âmago das relações políticas de Salazar.

 

A magistral biografia de Salazar escrita pelo historiador Filipe Ribeiro de Meneses, ao longo de vários anos para a sua tese de Doutoramento, constitui uma obra historiográfica de grande envergadura científica, porque retrata a sua vida política e, concomitantemente, carateriza o seu contexto histórico com muita precisão, dando-nos uma interpretação original do regime político do Estado Novo.

 

Do ponto de vista da sistematização historiográfica do regime é fundamental consultar o Dicionário do Estado Novo, em 2 volumes, com uma imensidão de investigadores, que colaboraram na sua realização, sob a cuidada supervisão de Fernando Rosas e de José Maria Brandão de Brito. 

 

  1. As bases do regime do Estado Novo, as opções ideológicas, os mecanismos de repressão e os meios de enquadramento das massas

 

Na década de 1930 ergueram-se as leis fundacionais do regime do Estado Novo, os preceitos ideológicos, as instituições políticas e os meios de repressão e de enquadramento das massas, inspirados no regime fascista italiano e no seu ódio ao regime da 1ª República Portuguesa. Após a 2ª guerra mundial, surgirá uma nova conjuntura histórica, anticolonialista, que obrigará o regime a uma ligeira inflexão político-ideológica de cosmética internacionalista. A propósito da criação do regime fizemos um vídeo didático, que nos mostra as opções ideológicas e as práticas políticas do anos 30 ao fim da 2ª guerra mundial, patente em baixo.

 

As bases legais do regime foram o Acto Colonial de 1930, a Constituição de 1933, plebiscitada, e o Estatuto do Trabalho Nacional de 1933.  Nesta década foram criadas, sob a inspiração do regime de Benito Mussolini, as principais instituições  como a União Nacional, a reorganização da censura prévia, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, o corpo jurídico da organização corporativa e o Secretariado de Propaganda Nacional.

 

O pensamento conservador de Oliveira Salazar marcou a ideologia do regime, com a valorização das tradições portuguesas, com a defesa intransigente das virtudes morais do mundo rural, com a defesa da religião católica e com a afirmação de uma “Política do Espírito” através do controlo da vida cultural por parte do Estado.

 

Este regime configura-se totalitário com menosprezo das liberdades individuais, com um nacionalismo corporativo, com um culto do chefe, com um Estado forte traduzido num poder executivo centralizado no presidente do conselho de ministros, com um imperialismo colonial advindo da Conferência de Berlim de 1884-1885, com uma forte intervenção económico-social do Estado na economia, com sentimentos antiliberais, antidemocráticos, antiparlamentares e anticomunistas, fazendo corporizar a essência do mal no regime nacional da 1ª República e na ameaça internacional bolchevique.  

 

Os organismos de repressão da liberdade expressão e de liberdade de ação eram a PVDE/PIDE, a censura prévia e os valores veiculados pelo Secretariado de Propaganda Nacional. Os meios de enquadramento das massas eram a União Nacional como partido único, a Legião Portuguesa como milícia de adultos para incutir o espírito anticomunista, a Mocidade Portuguesa como milícia juvenil para inculcar o sentido patriótico e as corporações para reunir os patrões e os trabalhadores, sob a supervisão estatal, de forma a evitar-se a conflitualidade social.

 

Em suma, estes documentos, históricos e historiograficos, assumem-se como peças inestimáveis para uma melhor compreensão do âmago do regime e do seu líder criador.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

BIBLIOGRAFIA DE NUNO SOTTO MAYOR FERRÃO (ATUALIZAÇÃO) E CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

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a) Bibliografia do autor:

* Nuno Sotto Mayor Ferrão, "No Centenário do Nascimento de José-Augusto França (1922-2022) - Esboço biográfico, produção cultural e obra historiográfica", in Nova Águia, nº 30, 2º semestre de 2022, pp. 137-144.

 

* Idem, "Uma reflexão sobre a pandemia: passado, presente e futuro", in AAVV, Pensar de novo, pensar o novo: tempos de pandemia, Org. Renato Epifânio, Campinas, Pontes Editores, Coleção Atlânticos, 2021.

 

* Idem, “Nos 80 anos da morte de Raul Proença (1941-2021) – a sua intervenção na revista A Águia", in Nova Águia, nº 28, 2º semestre de 2021, pp. 143-147.

 

*Idem, "O percurso vivencial e a obra historiográfica de Joaquim Veríssimo Serrão", in Mátria XXI - Número Especial Evocativo em memória do Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão - Herança Cultural e Património Científico, Santarém, Edição Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão e Academia Portuguesa da História, maio de 2021, pp. 141-166.

 

Idem, “O percurso vivencial e a obra historiográfica de Joaquim Veríssimo Serrão”, in Nova Águia, nº27, 1º semestre de 2021, pp. 180-188.

 

*Idem, "Uma reflexão sobre a pandemia: passado, presente e futuro", in Nova Águia, nº 26, 2º semestre de 2020, pp. 141-148.

 

*Idem, “José Hermano Saraiva: historiador e divulgador da cultura portuguesa - evocação no centenário do seu nascimento”, in Brotéria, vol. 189, nº 4 – outubro de 2019, pp.420-439.

 

*Idem, “José Hermano Saraiva: historiador e divulgador da cultura portuguesa”, in Nova Águia, nº 24, 2º semestre de 2019, pp. 151-159.

 

*Idem, “Breve evocação do Padre Manuel Antunes – No Centenário do seu nascimento (1918-2018)”, in Nova Águia, nº 22, 2º semestre de 2018, pp. 216-218.

 

*Idem, "A Nova Águia e cultura lusófona, das suas raízes identitárias a um futuro coletivo de esperança", in Nova Águia, nº 20, 2º semestre de 2017, pp. 235-240.

 

*Idem, "O Padre António Viera, um precursor do espírito e da convivência lusófona no Século XVII” in Nova Águia, nº 19, 1º semestre de 2017, pp. 103-111.

 

*Idem, “O Padre António Viera, um precursor do espírito da convivência lusófona no Século XVII”, in Brotéria, vol. 183, nº 5/6 – novembro/dezembro de 2016, pp 367-383.

 

* Idem, "A arte no pensamento de Vergílio Ferreira" in Nova Águia, nº 18, 2º semestre de 2016, pp. 61-66.

 

* Idem, "Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico - Nos 120 anos da obra 'O Culto da Arte em Portugal' (1896-2016)" in Nova Águia, nº 17, 1º semestre de 2016, pp. 115-120.

 

*Idem, “Ramalho Ortigão e a salvaguarda do património histórico-artístico – Nos 120 anos da obra ‘O Culto da Arte em Portugal’ (1896-2016)”, in Brotéria, vol. 182, fevereiro de 2016, pp. 133-144.

 

*Idem”, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na Revista Orpheu – Evocação no seu centenário”, in Brotéria, vol. 181, julho de 2015, pp. 41-50.

 

*Idem, “O cosmopolitismo modernista e lusófono na revista Orpheu”,  in Nova Águia, nº 15, 1º semestre de 2015, pp. 18-24.

 

*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa – no centenário da Grande Guerra”, in Brotéria, vol. 180, nº 1 – janeiro de 2015, pp 33-44.

 

*Idem, “A I Guerra Mundial na imprensa portuguesa e na revista A Águia”, in Nova Águia, nº 14, 2º semestre de 2014, pp. 231-238.

 

*Idem, “A atualidade internacional da Doutrina Social da Igreja no contexto da globalização”, in Brotéria vol. 178, nº 7/8 – julho/agosto de 2014, pp 33-44.

 

*Idem, “Balanço diacrónico (1974-2014) da Revolução de 25 de Abril”, in Nova Águia, nº 13, 1º semestre de 2014, pp. 57-63.

 

*Idem, “Nos 80 anos do historiador José Mattoso: a sua viva lição de sabedoria”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 162-163.

 

*Idem, “António José Saraiva como cidadão e historiador: nos 20 anos da sua morte”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 153-159.

 

*Idem, “A poesia portuguesa: o mar e a lusofonia”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 23-24.

 

*Idem, “As linhas de força do pensamento historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 130-135.

 

*Idem, “A Renascença Portuguesa e o percurso político e historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 9, 1º semestre de 2012, Sintra, Zéfiro Editora, 2012, pp. 138-144.

 

*Idem, “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, Janeiro de 2012, pp. 47-51.

 

*Idem, “A dinâmica histórica do conceito de Lusofonia (1653-2011)” in Nova Águia, nº 8, 2º semestre de 2011Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 204-208.

 

*Idem, "Fernando Pessoa: o sentimento lusófono na sua obra", in Nova Águia, nº7, 1º semestre de 2011, Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 34-38.

 

*Idem, "Alexandre Herculano, aspectos da vida e obra e sua ascendência ideológica sobre o Republicanismo", in Sintra, Zéfiro Editora, Nova Águia, nº 6 - 2º semestre de 2010, pp. 130-135.

 

*Idem, "Leonardo Coimbra, a revista 'A Águia' e o panorama cultural contemporâneo", in Nova Águia, nº 5 - 1º semestre de 2010, Sintra, Editora Zéfiro, pp. 34-36.

 

*Idem, Aspectos da vida e obra do Almirante Sarmento Rodrigues (1899-1979), Mirandela, Edição Câmara Municipal de Freixo de Espada-à-Cinta, 1999, 293 p.

 

*Idem, O pensamento colonial de Sarmento Rodrigues enquanto Ministro do Ultramar (1950-1955), Dissertação de Mestrado em História Contemporânea, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1997, 233 p.

 

 

b) Citações bibliográficas do autor:

» Clio: revista do Centro de História da Universidade de Lisboa, “Resumo das Teses de Mestrado em Letras (História)”, Lisboa, 1996, p. 168.

 

» Joaquim Veríssimo Serrão, “Do berço humilde em Freixo à imortalidade da História”, Almirante Sarmento Rodrigues, 1899-1979: testemunhos e inéditos no centenário do seu nascimento, Academia de Marinha e Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Lisboa, 1999, p. 163.

 

» Cadernos de Estudos Africanos – Memórias Coloniais, Lisboa, Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2006, p. 150.

 

» Cultura - Revista de História e Teoria das Ideias, vol. 25, 2008, Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, pp. 33 e 44.

 

» António E. Duarte Silva, “Sarmento Rodrigues, a Guiné e o lusotropicalismo”, in Cultura: Revista de História e da Teoria das Ideias Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, vol. 25, 2008, p. 44. (António E. Duarte Silva, « Sarmento Rodrigues, a Guiné e o luso-tropicalismo », Cultura [Online], Vol. 25 | 2008, consultado a 29 julho 2014. URL :http://cultura.revues.org/586.

 

» Ana Reis e João Garrinhas, “2 anos sob tutela autárquica”, inProfforma (Revista do Centro de Formação de Professores do Nordeste Alentejano), nº 2, março de 2011, pp. 1-7.

 

» Victor Andrade de Melo, “O esporte na política colonial portuguesa: as iniciativas de Sarmento Rodrigues na Guiné (1945-1949)”, in Revista Brasileira de  História, vol.34, no. 68, São Paulo, July/Dec. 2014, pp. 179,180 e 189.

 

» Rui Jorge Martins, “Rui Chafes, René Girard, Ramalho Ortigão e José Luís Peixoto na Brotéria“, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultural (portal da internet).

Disponível em:

http://www.snpcultura.org/rui_chafes_rene_girard_ramalho_ortigao_jose_luis_peixoto_na_broteria.html - Acesso em 09.05.2016.

 

» Sérgio Neto, Do Minho ao Mandovi – Um estudo sobre o pensamento colonial de Norton de Matos, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, p. 317.

 

» Álvaro Henriques do Vale, Do Mapa Cor de Rosa à Europa do Estado Novo, Lisboa, Chiado Editora, 2015, nota 145.

 

» Isabel Maria Freitas Valente (Coord.), Europa, Mobilidades, crises, dinâmicas culturais, Pensar com Maria Manuela Tavares Ribeiro, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, p. 404.

 

» Marta Carolina Giménez Pereira (org.), Temas atuais de propriedade intelectual, Brasil, Edotora Deviant. 2019, p. 52.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

CENTENÁRIO DA CRIAÇÃO DO “DIÁRIO DE LISBOA” (1921-2021): O  PERIÓDICO LISBOETA COMO FAROL DA LIBERDADE DE IMPRENSA

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O Diário de Lisboa foi um jornal de referência da imprensa portuguesa do século XX. Colaboraram nele muitos jornalistas, que vieram a ter grande reconhecimento e ilustres figuras da cultura portuguesa, tendo perdurado de 7 de abril de 1921 a 30 de novembro de 1990.

 

Foi um jornal diário vespertino e o primeiro a ser criado em Portugal, ao tempo da 1ª República, pelo banqueiro António Vieira Pinto, que inicialmente foi dirigido por Joaquim Manso. Nos anos finais da 1ª República foi alvo de alguns mecanismos de censura, como aconteceu em alguns dias de abril de 1925 quando não lhe foi permitido vir a público.

 

O jornal assumiu uma resistência subliminar ao Estado Novo, com muitas mensagens simbólicas nas entrelinhas de textos ficcionais e de notícias, no tempo da censura prévia. Esta oposição sub-reptícia a este regime autoritário efectuou-se, sobretudo, a seguir à 2ª Guerra Mundial e no período do Marcelismo, na altura em que se ansiava mais pela democratização do país.

 

Viveu, por isso, vários ciclos no decurso da sua existência ao longo de 70 anos, de 1921 a 1990, evocando-se, neste ano de 2021, o Centenário da sua criação com a realização de um Colóquio “São Mesmo as Últimas”: Diário de Lisboa, 1921-1990 organizado pela FCSH-UNL, a Hemeroteca Municipal de Lisboa e a Fundação Mário Soares – Maria Barroso, no fim deste ano.  De meados dos anos 50 a 1990, foi dirigido por Norberto Lopes, António Ruella Ramos e Mário Mesquita. A redação do jornal esteve situada na Rua Luz Soriano, sendo propriedade da Renascença Gráfica.

 

Contaram-se, entre os seus colaboradores, eminentes jornalistas e intelectuais como Artur Portela, Carlos Ferrão, Artur Portela Filho, Fernando Pessoa, João de Barros, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, António Sérgio, José Régio, Fernanda de Castro, Ferreira de Castro, António Botto, Mário Dionísio, Alexandre O’Neill, Norberto Lopes, João César Monteiro, Fernando Assis Pacheco, António Lopes Ribeiro, José Carlos de Vasconcelos, Joaquim Letria, Vasco Pulido Valente, Marina Tavares Dias, Urbano Tavares Rodrigues, Luís Sttau Monteiro, José Saramago, José Cardoso Pires, José Jorge Letria, Orlando Dias Agudo, Mário Zambujal, Fernanda Mestrinho, Maria Judite de Carvalho, José Freire Antunes, Fernando Dacosta, Lauro António, Eduardo Prado Coelho, entre muitas outras personalidades de reconhecido mérito intelectual.

 

Aliás, a grande proximidade com o meio cultural erudito da capital do país tornou-o num dos jornais preferidos da classe média com estudos, levando-o a assumir tiragens de cinquenta mil exemplares diários na década de 1950[1]

 

Um dos aspectos mais chamativos deste periódico eram as caricaturas e os cartoons de um humor verrinoso de criadores como Jorge Barradas, Stuart Carvalhais, Almada Negreiros, Carlos Botelho e João Abel Manta. O jornal, que perpassou 7 décadas do século XX e 3 regimes políticos portugueses (a 1ª República, o Estado Novo e a Democracia Atual), constitui uma fonte inesgotável para a História Contemporânea, tanto mais que, na época coeva, a narrativa historiográfica tem de passar por um registo exaustivo de sequências cronológicas, e os periódicos como este servem este intuito na perfeição. Com um retrato vivo do golpe de estado de 25 de abril de 1974 expressou o entusiasmo popular, que se plasmou na população portuguesa.

 

Analisemos um exemplo de uma notícia relevante deste jornal. A seguir à revolução de outubro de 1917, houve na Rússia uma guerra civil (1918-1921) entre o “Exército Branco”, formado por elementos da burguesia e da nobreza apoiado pelos países ocidentais, e o “Exército Vermelho”, da parte dos apoiantes do regime comunista. A guerra civil levou à execução do czar e da sua família, à morte de milhares de russos e ao agravar da crise económica, tendo triunfado o regime bolchevique.

 

Lenine, irritado com a oposição durante a guerra civil, fortaleceu as medidas radicais: nacionalizou as empresas, a banca e o comércio externo; requisitou as colheitas agrícolas; criou o partido único – partido bolchevique; criou a polícia política (Tcheca) e a censura, perseguindo e matando milhares de opositores. A guerra civil e as medidas do comunismo de guerra pioraram a crise económica do país.

 

Perante este contexto externo, numa notícia do Diário de Lisboa publicada a 15 de abril de 1921 com o título “Quem diz a verdade? O que se passa na Rússia Sovietista”, presta-se o testemunho da precariedade do regime soviético. Assim, a propósito de uma intervenção de um político espanhol no Congresso Socialista para decidir da adesão do Partido Socialista Espanhol à 3ª Internacional, Fernando de los Rios procedeu a uma análise lúcida e acutilante do regime comunista russo.

 

De los Rios elencou os meios repressivos empregues no regime russo e a precária situação sócio-económica caraterizada por uma impossibilidade de liberdade de pensamento; uma dificuldade de se mudar de profissão; uma insuficiência de alimentos necessários à sobrevivência humana da população russa; uma inexistência de liberdade comercial, levando ao surgimento de mercados clandestinos; uma penúria sócioeconómica da burguesia e do proletariado; uma proibição do exercício da greve; uma possibilidade por superior ordem política dos horários laborais excederem as 8 horas diárias; uma distribuição de víveres básicos muito mal cozinhados junto das camadas populares. Pelo que este reputado ideólogo socialista espanhol considerou que a Rússia dos Sovietes, pelo seu totalitarismo, sufocava a liberdade humana.

 

Esta notícia do Diário de Lisboa, publicada no contexto subsequente à criação Partido Comunista Português, em março de 1921, realça a seguinte mensagem de Fernando de los Rios, que carateriza o tom repressivo do regime bolchevique, colocando de sobreaviso os portugueses recentemente convertidos ao ideário comunista: “(...) D. Fernando de los Rios, delegado socialista à Rússia, fez na primeira sessão desse congresso declarações que deviam fazer reflectir o operariado, ansioso de proclamar no mundo inteiro o estado em que se encontra a Rússia. (...) É Fernando de los Rios, o delegado socialista, que conta o que viu e define a situação da Rússia dizendo: “Viver na Rússia é viver n’um presídio.(...)[2].

_______________________________

[1] Álvaro Costa de Matos, “No centenário da fundação do Diário de Lisboa (1921-2021): história & memória”, in Público, 18 de abril de 2021.  (consultado a 11 de setembrode 2021).

[2] “Quem diz a verdade? O que se passa na Rússia Sovietista”,  in Diário de Lisboa, sexta-feira, 15 de abril de 1921, nº 8, p. 7 – disponível no fundo da Casa Comum. 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

ANTÓNIO FERNANDO PEDROSO QUARESMA (1897-1957) – NOTA BIOGRÁFICA DE UM OFICIAL DO EXÉRCITO 

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António Fernando Pedroso Quaresma nasceu, em Mafra, a 15 de março de 1897, e foi batizado, na mesma vila na basílica do Palácio-Convento, tendo por padrinho Fernando Maria de Almeida Pedroso, seu tio-avô, ilustre jornalista legitimista, ex-presidente e um dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa. Profissionalmente, foi capitão da aeronáutica, funcionário de empresa dos tabacos e lavrador. Aos vinte anos residia, em Lisboa, na Rua Andrade Corvo. Terminada a “grande conflagração internacional”[1], casou-se, a 20 de abril de 1919, em Xabregas, com Maria Madalena de Vasconcellos Hasse de Sotto-Mayor, com quem teve 12 filhos (José, Maria Fernanda, Maria das Mercês, Maria Antónia, Maria Teresa, Jaime, Maria Inês, Maria do Carmo, Maria Madalena, António e dois bebés que acabaram por falecer) formando uma família numerosa (*). Estudou no Colégio Militar, uma vez que o seu pai era coronel de infantaria.

 

Em seguida ao seu casamento, seu sogro, Jayme Arthur Freire de Sotto Mayor, desafiou-o para tarefas diretivas na Companhia de Tabacos de Portugal, tendo aceite o convite, passou a acumular estas funções com o serviço inerente à carreira militar (**). 

 

Era filho de José Virgolino Feyo Quaresma[2] e de Maria Engrácia de Almeida Pedroso[3] e tinha 3 irmãos: João Pedroso Quaresma, Maria Luísa Pedroso Quaresma e Maria José Pedroso Quaresma.

 

Seguiu a atividade agrícola do seu pai, ao tratar de uma propriedade rural, no “Carvalhal de Óbidos”[4], com grande potencialidade hortícola como forma de complemento ao sustento familiar, conhecida por “Horta de Ferro”, talvez devido à existência de minas de água, que tornavam este terreno particularmente fértil. 

 

Revelou algum talento artístico patente nos quadros que reproduziu em cópias da pintura naturalista portuguesa, embora em dimensões de pequeno formato em relação aos quadros originais, tal como se evidencia na reprodução miniatural que fez da obra “Os bêbados” do conceituado pintor José Malhoa[5]. Fez, também, pintura a partir de fotografias, como foi o caso de uma fotografia tirada pelo reputado médico Prof. Doutor Carlos Santos a um a lavrador idoso de um semblante expressivo de uma tranquila felicidade. Mostrou, também, algum gosto pela bricolage, com reparações de manutenção de automóveis, de motos e de um coche para o cavalo e, mesmo, revelando prazer por alguns trabalhos de marcenaria, construindo diversas peças de mobiliário.  

 

Era dado a algumas extravagâncias na sua vida familiar, reunindo, por exemplo, em casa diferentes animais de estimação exóticos como o macaco ou um casal de lobos e até em sítios inusitados da casa. Muitas vezes quando ia a banhos na praia do Baleal, com a família, levava alguns animais como o cavalo, que iam também ao banho, o que deixava os outros banhistas estupefactos. A título de curiosidade e como experiência, na sala de jantar de uma temporada de praia passada na Foz do Arelho e à hora das refeições, a família partilhou com pássaros este espaço, que sobrevoavam a mesa durante as refeições. Talvez esta alma excêntrica de artista explique o olhar embascado de outros cidadãos, que com ele se cruzavam.

 

Como caçador tinha, também, alguns cães de caça e possuía uma vaca leiteira, para a alimentação do filho mais novo.

 

Na sua carreira militar[6] destacam-se alguns factos relevantes. Aos dezoito anos, em 24 de novembro de 1915, alistou-se como voluntário no regimento de cavalaria nº 4, tendo aí prestado serviço até 27 de abril de 1917. A 28 de abril de 1917 é promovido a alferes miliciano do regimento de cavalaria nº 2.  

 

Em julho de 1917, seguiu para França, por via terrestre, e apresentou-se, na Legação Portuguesa em Paris, para participar no esforço português da 1ª guerra mundial. Em finais de 1917, recebeu formação em Londres para se tornar piloto-aviador, tendo obtido o diploma de piloto-observador, o que lhe permitiu juntar-se ao Corpo Expedicionário Português em França, integrando aviões de reconhecimento logístico das forças militares em combate na guerra das trincheiras. Como reconhecimento dos serviços prestados na Grande Guerra, recebeu uma medalha comemorativa do Corpo Expedicionário Português com a legenda “França 1917-1918”, de acordo com publicação oficial de 30 de abril de 1919.

 

No conturbado período “pós-sidonista”, após o assassinato do Presidente da República Sidónio Pais, ocorreu de 10 a 17 de janeiro de 1919 uma revolta, em Santarém, que exigia a demissão do governo de Tamagnini Barbosa e a dissolução do Congresso da República, que poderia ter dado oportunidade às forças monárquicas de se entrincheirarem na cidade. A sua intervenção destemida neste acontecimento levou-o a receber um louvor “pelos relevantes serviços que com risco de vida, prestou na defesa das instituições republicanas” durante este facto insurrecional. Salienta, ainda, este documento que “demonstrando a cada passo invulgar bravura e admirável dedicação e patriotismo pela causa da pátria e da República[7], sendo publicado a 6 de março de 1920. Por esta mesma intervenção recebeu, ainda, uma medalha de prata da classe de bons serviços.

 

Revelou-se um estrénuo defensor das instituições republicanas, daí que tenha sido condecorado com o grau honorífico de Cavaleiro da Ordem Militar de Avis, em publicação de 5 de outubro de 1925, tendo também assumido, mais tarde, uma posição de democrata crítico do regime autocrático do Estado Novo. Por despacho de 29 de outubro de 1938 foi colocado na situação de reserva. Nesta ocasião, deixou a Fábrica de Tabacos, o que lhe permitiu, nos últimos anos de vida, acumular duas pensões e ir residir para o Carvalhal (d' Óbidos) e dedicar-se às atividades da lavoura (**). 

 

Prestou serviço no Asilo de Inválidos Militares de Runa, desde os anos 50. Foi colocado na 3ª Repartição da 1ª Divisão do Subsecretário de Estado da Aeronáutica a partir de 1 de outubro de 1951.

 

Com o seu espírito agnóstico, nas derradeiras horas de vida, solicitou a uma das filhas que lhe trouxesse um sacerdote para lhe ministrar o sacramento da extrema-unção, pelo que se terá convertido ao catolicismo no final da vida. Terá ido, uma vez, ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, o que o terá aproximado da conversão à fé cristã e o fez selar o seu casamento à luz da Igreja Católica Apostólica Romana (*). Faleceu a 13 de outubro de 1957, na Amadora.

 

Em suma, António Quaresma revelou como virtudes fundamentais, que impressionaram quem o conheceu bem, a frontalidade, o sentido de família, o engenho prático, a sensibilidade artística e emocional, o instinto protector dos animais, a bravura militar e firmes convicções de patriotismo e de republicanismo. A sua índole republicana fê-lo, talvez, duvidar numa mentalidade quase positivista da fé católica, mas as circunstâncias de vida fizeram-no converter-se ao catolicismo.  

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[1] Expressão utilizada para a 1ª guerra mundial na imprensa portuguesa da época.

[2] Foi, também, combatente na 1ª guerra mundial no teatro de operações de Moçambique.

[3] Miguel Maria Telles Moniz Côrte-Real, Genealogia das Elites de Óbidos e Caldas: as famílias Silva Freire, Sotto-Mayor e Fialho de Mendonça, s.l., Separata da Revista Armas e Troféus, IX Série, Janeiro-Dezembro 2000-2001, p. 356.

[4] Atualmente, o Carvalhal pertence ao concelho do Bombarral.

[5] Aqui reproduzida e pertencente a um dos familiares.

[6] Arquivo Histórico Militar, Processo Individual do Oficial, António Fernando Pedroso Quaresma – caixa 3586  - documentos (Notas biográficas como oficial; Folha de matrícula do capitão António Fernando Pedroso Quaresma; Serviço de estatística – Boletim Individual de António Pedroso Quaresma) – código de referência PT/AHM/DIV/1/35A/1/06/1584.

[7] Notas biográficas como oficial, in Arquivo Histórico Militar, Processo Individual do Oficial, António Fernando Pedroso Quaresma – caixa 3586.

(*) Testemunho prestado por Gonçalo Andrade Santos, a 28 de abril de 2021.

(**) Testemunho prestado por Maria Madalena Sotto-Mayor Quaresma Mendes Ferrão, a 12 de julho de 2022.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

A revista cultural “Nova Águia”, número 26 – 2º semestre de 2020

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A revista cultural Nova Águia, no seu número 26 (2º semestre de 2020), abrange textos de ensaio e de poesia de assinalável qualidade.

 

Abordando como temas centrais: os 120 anos da escritora Fernanda de Castro, através de diversos textos e de testemunhos de múltiplos autores; o nosso tempo de pandemia visto através da reflexão de diversos colaboradores; a evocação do jurista Mário Bigotte Chorão no ano da sua morte e de diversos autores de Albano Martins a Pinharanda Gomes; alguns ensaios diversos de filosofia, de literatura, de educação e de cidadania; de notas inéditas de António Telmo; de recensões críticas de livros de cultura e um conjunto de poemas.

 

Entre as dezenas de colaboradores, deste número, destaco Adriano Moreira, António Braz Teixeira, Fernando Dacosta, José Eduardo Franco, Maria Leonor Xavier, Miguel Real, Renato Epifânio, Rita Ferro e Samuel Dimas, sem desmerecimentos dos outros autores, entre os quais tenha a honra de me contar.

 

A revista contém, ainda, algumas fotografias, fazendo memória de alguns eventos marcantes. Dos textos, muitos de grande profundidade doutrinária e filosófica, que serão para guardar nas bibliotecas da nossa identidade cultural, públicas e privadas, quero destacar os artigos “Sem bússola” de Adriano Moreira de uma meditação, sempre pertinente e inspirada em referências culturais, sobre a conjuntura atual, “A cultura, o mal e a esperança” de Miguel Real, “Perplexidades pandémicas” de Renato Epifânio, “Pinharanda Gomes” de Elísio Gala, “Breve reflexão sobre a tragédia” de António Braz Teixeira, “A leitura infinita: a leitura em voz alta, o que acrescenta aos textos?”, “Nove deambulações pró-lusófonas” de Renato Epifânio e nos poemas quero salientar “Arrábida” de Jesus Carlos e o excelente poema de Samuel Dimas, bem acomodado às circunstâncias sanitárias vivenciadas e de um fino recorte literário, intitulado “Pandemia: sacríficio; viver, evidência; invisível”. Parafraseando Vitorino Nemésio, quase seria tentado a salientar que muitos dos vultos literários evocados, neste e noutros números, quase os vemos viver.

 

A apresentação pública da revista Nova Águia, número 26, realizou-se no dia 22 de outubro de 2020 no salão nobre do Palácio da Independência, em Lisboa, com a presença na mesa de conferencista dos autores João Reis Gomes, de Renato Epifânio, de Francisco Ribeiro Soares e de Rodrigo Sobral Cunha, em pleno contexto pandémico.

 

A revista Nova Águia nasceu em 2008, pelo que conta doze anos de uma vida dinâmica, tendo aparecido no seio da crise profunda que abalou a Europa e Portugal no fim da primeira década do século XXI, tendo uma identidade lusófona ligada à corrente da filosofia portuguesa e à figura tutelar de Agostinho da Silva, pelo que tem uma difusão junto de leitores do espaço geográfico da lusofonia.

 

Na revista colaboram habitualmente dezenas de ensaístas em todos os números. Esta revista tem uma periodicidade semestral, contando habitualmente com cerca de 30 a 40 artigos, em média, e com diversos poemas.

 

Atualmente, fruto da conjuntura pandémica, tal como a maioria da atividades editoriais e económicas, esta nossa revista tem passado algumas dificuldades para sobreviver, mas sem ela a memória da nossa identidade cultural ficaria mais pobre, daí que a ajuda dos Amigos da Nova Águia esteja a ser fundamental.

 

A sua fonte de inspiração é a revista A Águia, uma importante revista cultural do início do século XX (1910-1932), em Portugal, que congregou muitas figuras de destaque das Humanidades, das Artes e das Ciências com distintas mundividências que veicularam visões plurais.

 

Sobressaíram na História Cultural Portuguesa, no conjunto dos inúmeros colaboradores desta revista inspiradora, intelectuais de grande envergadura como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, Raul Proença, Hernâni Cidade, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, António Sérgio, etc, que se notabilizaram pelas suas ideias ou pelas obras literárias, mas a que associaram uma dimensão de intervenção cívica invulgar, fundando, por isso, o movimento cultural da Renascença Portuguesa.

 

Por outras palavras, a revista nos seus 22 anos de vida comportou temas literários, artísticos, filosóficos e de crítica cívica, que tanto iluminam o espírito dos fundadores e dos colaboradores da Nova Águia.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

OS PENSADORES NONAGENÁRIOS PORTUGUESES – ADRIANO MOREIRA, EDUARDO LOURENÇO E JOAQUIM VERÍSSIMO SERRÃO

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Os 3 pensadores - Adriano Moreira, Eduardo Lourenço e Joaquim Veríssimo Serrão - contribuíram de formas diferentes e complementares para pensar a identidade portuguesa. Adriano Moreira pensou a identidade portuguesa através de uma reflexão cultural e histórica dos mutantes cenários internacionais. Eduardo Lourenço pensou a identidade portuguesa mediante a análise das grandes referências clássicas da literatura portuguesa. Joaquim Veríssimo Serrão pensou a identidade portuguesa mediante os fios entrelaçados da história e da cultura de Portugal na sua ligação a diferentes regiões da Europa e do mundo.

 

1) Adriano Moreiro

Adriano José Alves Moreira, conhecido por Adriano Moreira, nasceu numa aldeia transmontana do concelho de Macedo de Cavaleiro a 6 de setembro de 1922. Em 1944 licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, tendo ingressado, nesse ano, como jurista no Arquivo Geral do Registo Criminal e Policial. Em 1947 realizará um estágio de advocacia, com Teófilo Carvalho dos Santos, advogado ligado aos setores oposicionistas ao salazarismo.

 

Nos anos 40, foi simpatizante da Oposição Democrática, tendo subscrito uma lista do Movimento de Unidade Democrática (MUD), em 1945. Como advogado apresentou uma queixa contra o ministro Fernando Santos Costa, por homicídio voluntário do general Marques Godinho, que padecia de problemas de saúde. Por este motivo, acaba por ser preso na cadeia do Aljube, onde se encontrava também Mário Soares.

 

Com o evoluir do tempo, acabará por se aproximar do regime salazarista ao estudar as teses luso-tropicalistas de Gilberto Freyre, embora mantendo relações de amizade com figuras oposicionistas como Fernando de Abranches Ferrão, Acácio de Gouveia e Carvalho dos Santos.

 

No início dos anos 50, como professor da Escola Superior Colonial da Universidade Técnica de Lisboa, escreveu a tese de doutoramento “O Problema Prisional do Ultramar”, que o fez receber o Prémio Abílio Lopes do Rego da Academia das Ciências de Lisboa e o levou a colaborar com o ministro do ultramar Sarmento Rodrigues. Teve uma carreira académica invejável, chegando ao cargo de Professor Catedrático da UTL e a ser Diretor desta instituição universitária e Professor da Escola Naval de Guerra, sempre em articulação com o almirante Sarmento Rodrigues. Adriano Moreira teve um papel de relevo na reforma do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas ao promover a introdução de ciências como a Sociologia, a Ciência Política e as Relações Internacionais nos currículos desta instituição universitária.

 

No início dos anos 60, quando começaram os movimentos nacionalistas na África portuguesa e estalou a guerra colonial portuguesa, foi chamado sucessivamente para os cargos de subsecretário da administração ultramarina (1960-1961) e de ministro do ultramar (1961-1963). Neste âmbito, destacou-se com a revogação do Estatuto do Indigenato, já considerado transitório sob o consulado ministerial de Sarmento Rodrigues. Só após a sua fulgurante carreira política e académica veio a casar, na Igreja das Mercês em Lisboa, com Isabel Mónica Maia de Lima Mayer a 2 de agosto de 1968, com quem teve 6 filhos.

 

As suas obras publicadas ligam-se às questões políticas, coloniais, jurídicas e às relações internacionais[1]. É um atualmente um colaborador sempre regular e tutelar da revista cultural Nova Águia

 

Dos seus cargos e reconhecimentos públicos destacamos ter sido presidente do CDS, vice-presidente da Assembleia da República, presidente honorário da Sociedade de Geografia de Lisboa, presidente da Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior, membro de inúmeras academias nacionais e estrangeiras e foi distinguido com inúmeros prémios e condecorações honoríficas. Tem sido um colunista semanal do jornal Diário de Notícias, desde tempos imemoriais, dando-nos reflexões estratégicas sobre o conceito de Defesa Nacional e as diferentes conjunturas internacionais, que se vão sucedendo desde o fim do século XX.

 

2) Eduardo Lourenço

Eduardo Lourenço de Faria nasceu a 23 de maio de 1923 numa aldeia do distrito da Guarda e irá ter um percurso académico invulgar, pensando a identidade portuguesa a partir do estrangeiro. Filho de um oficial do exército, começou os estudos secundários no Liceu da Guarda, mas acabará por terminá-los no Colégio Militar em Lisboa. Frequentou o curso superior de Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra a 23 de julho de 1946, o que lhe veio a marcar os estudos e os ensaios, interligando o pensamento com os rumos da história de Portugal e com as marcas literárias nacionais.

 

De 1946 a 1953 assumirá as funções de professor assistente na Universidade de Coimbra. De 1953 a 1958 irá exercer as funções de Leitor de Língua e Cultura Portuguesa em Universidades da Alemanha e da França. No fim dos anos 50, terá uma curta passagem pela Universidade Federal da Baía, no Brasil, como professor convidado de Filosofia. De seguida, ocupará o lugar de Leitor de Língua e de Cultura Portuguesa nas Universidades de Grenoble e de Nice. Nesta Universidade manter-se-à até à sua jubliação como mestre-assistente no ano letivo de 1988-1989.

 

Eduardo Lourenço publica em edição de autor a primeira obra intitulada Heterodoxia I em 1949[2]. Pouco tempo depois, em 1954, casa-se com Annie Salomon e na década de 60 nascerá o seu filho adoptivo. Nos anos 80, Portugal reconhecendo o seu trabalho ensaístico, atribui-lhe a condecoração honorífica da Ordem de Sant’ Iago da Espada, o Prémio de Ensaio Jacinto Prado Coelho e o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon.

 

A partir do final dos anos 80, passa a dirigir a revista Finisterra - Revista de Reflexão e Crítica, de tendência ideológica socialista.

 

Desde este período, com um reconhecimento nacional e internacional, vem recebendo inúmeros prémios e condecorações como sejam o Grande Oficialato da Ordem do Infante D. Henrique, o Prémio António Sérgio, o Prémio Camões em 1996, o título de Oficial da Ordem de Mérito pelo Governo francês, o Prémio Vergílio Ferreira, o título francês de Cavaleiro da Legião de Honra, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, o Prémio Pessoa em 2011, entre muitas outros reconhecimentos do seu prestígio intelectual. Foi, ainda, designado Doutor Honoris Causa por universidades de Portugal, Brasil e Itália. Desde 2002 tem sido administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Foi este ano galardoado com o Prémio Árvore da Vida Padre Manuel Antunes 2020[3].

 

3) Joaquim Veríssimo Serrão

Joaquim Veríssimo Serrão destacou-se como professor universitário e historiador, nascido em Santarém a 8 de julho de 1925. Foi um dos últimos historiadores a escrever, individualmente, uma História de Portugal, tendo esta sua obra alcançado uma envergadura colossal, quando nos anos mais recentes as obras mais abrangentes costumam reunir vários colaboradores.

 

Em 1948, no contexto do início da guerra fria, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Coimbra. De 1950 a 1960 foi leitor de Cultura Portuguesa na Universidade de Toulouse, tendo apresentado dissertação de Doutoramento em Ciências Históricas à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1956, com o tema O reinado de D. António Prior do Crato[4]. Em 1961, foi contratado como primeiro-assistente da Faculdade de Letras de Lisboa e, em 1965, ascende a professor extraordinário de História.

 

De 1967 a 1972, no tempo da guerra colonial, foi Diretor do Centro Cultural Português de Paris, reingressando neste último ano na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa para prestar provas para professor catedrático, tendo sido aprovado por unanimidade. No fim do período do Marcelismo, em 1973-1974 exerceu o cargo de reitor da Universidade de Lisboa. Já, em plena democracia, no período de 1980 a 1984, foi presidente da Comissão Instaladora do Instituto Politécnico de Santarém, o que revela bem o carinho que nutria pela sua terra natal.

 

Da sua autoria, contam-se centenas de trabalhos de investigação sobre temas históricos gerais da Idade Moderna, das relações culturais de Portugal com as Universidades de Espanha e de França, fruto da sua experiência de investigador em Toulouse, das figuras e correntes da historiografia nacional e do Brasil nos séculos XVI e XVII. O seu meritório trabalho de historiador foi reconhecido com diversos prémios e reconhecimentos nacionais e internacionais: em 1954, com o Prémio Alexandre Herculano; em 1965, com o Prémio D. João II; e, em 1992, com o Prémio Identidade Nacional; em 1995, com o Prémio Príncipe de Astúrias em Ciências Sociais, sendo-lhe atribuído o título de Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Montpellier em 1974, Complutense de Madrid em 1995 e de Professor Honoris Causa do Instituto Politécnico de Santarém em 2011.

 

É membro de diversas instituições científicas nacionais e estrangeiras como a Academia das Ciências de Lisboa, como sócio efectivo, da Academia Portuguesa da História, a que presidiu durante 30 anos de 1975 a 2005, da Academia de Marinha, da Associação Portuguesa dos Arqueólogos, da Académie du Monde Latin de Paris, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Brasileira de Letras, das Academias Nacionais de História da Venezuela, da Argentina, do Uruguai, da Bolívia, da Colômbia, do Chile, de Porto Rico, da República Dominicana, da Academia Europêa de Yuste e da Real Academia de la Historia de España.

 

Foi agraciado, em Portugal e no estrangeiro, com inúmeras condecorações. Tornou-se, em 1966, no Brasil, Comendador da Ordem do Cruzeiro do Sul. Em 1990 e em 2006, recebeu as condecorações honoríficas da Grã-Cruz das Ordens do Mérito Civil e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago de Espada. Em 1993 recebeu a Medalha de Prata da Galiza. Em 1994, foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Andrés Bello na Venezuela. Em 1995 recebeu, em Espanha, a Grã-Cruz de Afonso X o Sábio. Pelo valor extraordinário do seu percurso pessoal e académico recebeu a Medalha Honorífica da Universidade de Coimbra em 19 de Abril de 2007.

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[1] Adriano Moreira, Comentários, Lisboa, Instituto de Alta Cultura, 1989, 276 pp..

[2] Eduardo Lourenço, Heterodoxia, Lisboa, Assírio e Alvim, 1987, 222 p..

[3] Guilherme d' Oliveira Martins, Eduardo Lourenço – Prémio Árvore da Vida Padre Manuel Antunes 2020, in Brotéria, vol. 190- 5/6, maio/junho de 2020, pp. 515-520.

[4] Joaquim Veríssimo Serrão, O reinado de D. António Prior do Crato, Coimbra, Ed. Instituto de Alta Cultura, 1956, 2 vols.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

BICENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO LIBERAL PORTUGUESA (1820-2020) – A EFEMÉRIDE

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Neste ano de 2020, Portugal, a cidade do Porto, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e a Assembleia da República celebram os 200 anos da revolução liberal portuguesa de 24 de agosto de 1820, realizando no mês de outubro de 2020 um Congresso Internacional da Revolução de 1820. Fazemos, neste texto, uma breve evocação do contexto histórico e do acontecimento político, que o país e as suas instituições celebram.

 

1. Contexto histórico

Na transição do século XVIII para o XIX, o liberalismo começou a singrar em Portugal como doutrina, devido à excessiva importância social da nobreza, ao crescente protagonismo da colónia do Brasil e à monarquia absolutista.

 

Um conjunto de fatores, no início do século XIX, permitiu que o regime absolutista caísse em descrédito em Portugal, visto que a ideologia revolucionária francesa se propagou pela Europa, o Brasil começou a ganhar autonomia (1808-1822), a economia portuguesa passava por resultados ruinosos, fruto em parte das invasões francesas e o conservadorismo da estrutura social portuguesa deixava espaço ao descontentamento social das classes populares.

 

Assim, a revolução liberal portuguesa singrou em 1820, sobretudo no meio da burguesia urbana, num país fortemente ruralizado em termos sociais, mentais e económicos, alavancada por figuras carismáticas da burguesia como Manuel Fernandes Tomás, José da Silva Carvalho e José Ferreira Borges.

 

O triunfo titubeante do liberalismo, nos anos 20 do século XIX, foi possível devido ao fulgor intelectual iluminista, ao papel da Maçonaria e à relevância da burguesia de mentalidade aberta a novas ideias. Também não é de menosprezar a vontade de revolta contra o domínio inglês, que fez dizer, na segunda década do século XIX, a Alexandre Herculano que Portugal estava transformado numa colónia inglesa. Outro dos fatores, que impeliu os militares a 24 de agosto de 1820 a proclamarem a extinção do regime absolutista, na cidade do Porto, foi a necessidade de restruturação do tecido sócioeconómico português, rumo à modernidade, que levou o Padre José Agostinho de Macedo a evocar terem os liberais pretendido a regeneração da nação.

 

O projeto liberal defendido por Manuel Fernandes Tomás, em 1821, focava a necessidade de revitalizar o setor agrícola, em particular a exploração cerealífera, de terminar com os forais, de suprimir as ordens religiosas e de dinamizar a livre circulação comercial terrestre e fluvial no país.

 

A saída para este marasmo comercial passava, também, por investir no desenvolvimento das colónias africanas, o que seria feito já só no último quartel do século XIX, e por apostar na implementação de estradas e de caminhos de ferro, o que na verdade se começou a concretizar no cabralismo e no fontismo. Outro dos problemas económicos emergentes era o atraso industrial português, a que se somavam umas finanças exauridas.

 

Este projeto liberal consagrava já os seguintes princípios ideológicos: o direito à propriedade privada, as liberdades dos cidadãos e a nação portuguesa integrante dos territórios de aquém e de além mar. A experiência liberal portuguesa só se consubstanciou após a vitória liberal na guerra civil (1832-1834) e na legislação reformista da década de 30, que permitiu a afirmação de uma burguesia financeira interessada em títulos de nobreza. No entanto, a pequena burguesia e as classes populares cedo se desiludiram com o paradigma político liberal, tanto que muitos portugueses emigraram rumo ao Brasil.

 

Na realidade, no enraizamento da ideologia liberal, ao longo do século XIX, foram decisivos alguns intelectuais que, com uma mentalidade romântica em diferentes ramos literários e artísticos, difundiram os valores liberais, designadamente autores como Almeida Garrett e Alexandre Herculano, na literatura, ou António Domingues Sequeira, na pintura, ou João Domingos Bomtempo, na música[1]

 

2. O acontecimento – a efeméride da revolução liberal portuguesa (1820-2020)

Já em 1817 se congeminava na necessidade de promover uma revolução regeneredora da pátria portuguesa, porquanto a crise económica que afectava a agricultura, a indústria e o comércio no país, a indiferença da família real no Brasil e a dependência, quase colonial, da Inglaterra deixou os grupos ilustrados muito descontentes.

 

Dois magistrados, Manuel Fernandes Tomás e José da Silva Carvalho, e o advogado José Ferreira Borges protagonizaram no início dos anos 20, do século XIX, a tentativa de constitucionalizar a monarquia portuguesa. Eles tinham sido iniciados em lojas maçónicas. Pretendiam reformar o país como cidadãos ilustrados, dirigindo o Estado refundado.

 

Em Espanha, em janeiro de 1820, houve uma revolta militar em Cádis para restaurar a Constituição de 1812, o que veio a influenciar os liberais portugueses no pronunciamento militar do Porto. Os 3 amigos, já referidos, formaram em janeiro de 1818 o Sinédrio (sociedade secreta), procurando chefes militares para a intentona. Aderiram ao projeto insurrecional os coronéis António da Silveira Pinto da Fonseca, Sebastião Drago Valente de Brito Cabreira e Bernardo Correia de Castro Sepúlveda.

 

A 24 de agosto de 1820 na cidade do Porto, no Campo de Santo Ovídio, os líderes do Sinédrio, os militares e o povo, depois de uma missa, exigiram cortes constituintes e os militares propuseran uma Junta Provisional do Governo do Reino. A Regência em Lisboa resistiu e mandou avançar tropas para o Porto para repôr a “autoridade legítima”, mas estes soldados, contraproducentemente, juntaram-se à Junta do Porto.

 

A 15 de setembro os militares no Rossio, em Lisboa, com grupos populares nomearam uma nova Junta Provisional de Governo, agregando os membros da Junta do Porto, formando-se um governo nacional, com a revolta liberal a alastrar pelo país.

 

A notícia da sublevação liberal chegou ao Rio de Janeiro a 17 de outubro, deixando a família real perplexa. Em janeiro e fevereiro de 1821 o Pará e a Baía mostraram-se fiéis às Cortes de Lisboa. A tropa portuguesa do Rio de Janeiro obriga o rei D. João VI a reconhecer o governo Liberal de Lisboa e a regressar a Portugal, ficando o seu filho D. Pedro no Brasil. Deste modo, foi possível instaurar em Portugal uma Monarquia Constitucional com a separação dos poderes executivo, legislativo e judicial[2]

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[1] Nuno Sotto Mayor Ferrão, A desumanização do “Outro” no periódico A Tripa Virada (1823) de José Agostinho de Macedo, Trabalho realizado na Ação de Formação intitulada “Humor e política na transição do Antigo Regime para o Liberalismo”, Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, setembro de 2019, 6 p.

[2] Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, “Invasões francesas, tutela inglesa e monarquia brasileira (1807-1820) – A revolução”, in História de Portugal, Lisboa, Esfera dos Livros, 2010, pp. 453-456.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

JOSÉ AGOSTINHO DE MACEDO (1761-1831) – OS SEUS DESMANDOS E ESTROINICES

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“(...) Em quanto entre nós existirem Lojas de Pedreiros livres e Bosques Carbonários, teremos o fermento da rebellião, e o fóco de todas as desventuras; os alicerces da Religião serão solapados, abalado o edificio social, serão pisados os principios da eterna Justiça (...) Cáia o machado da Lei nas raizes desta arvore pestilente, cujos frutos são a destruição, e a morte. Aprendão os Reis, e aprendhão os Povos, reproduzão-se as nossas Leis primordiaes, que souberão organizar o estado civil (...) por isso fomos tão venturosos até á Epoca do Maçonismo. Não necessitamos de outra Legislação, que não seja a nossa, ella nos salvará (...) Temos restabelecida a Monarquia e com ella a nobreza que a rodea (...) Morra o Maçonismo. (...)”

                                                    José Agostinho de Macedo, A Tripa Virada, 1823, nº1, pp. 11-12.

 

O padre José Agostinho de Macedo nasceu, em Beja, no ano de 1761 e faleceu, em Lisboa, no ano de 1831, sendo sacerdote, escritor e político. Foi um autor de escritos multifacetados (poesias, peças de teatro, ensaios de filosofia, escritos políticos, críticas literárias, sermões, etc) com uma veia de polemista, que se excedeu inúmeras vezes pelo seu temperamento colérico, evidenciando uma aversão às revoluções liberais.

 

Tornou-se pregador régio e aproveitou as suas influências sociais, designadamente de Diogo Inácio de Pina Manique, para atacar os seus inimigos, designadamente Manuel Maria du Bocage e Almeida Garrett. Com o miguelismo, no final dos anos 20 do século XIX, pretendeu ser o ideólogo do absolutismo, tendo sido nomeado por D. Miguel ‘cronista régio’, evidenciando assim um pensamento tradicionalista e contrarrevolucio-nário[1].

 

Com as leituras de autores franceses foi influenciado, no início da sua vida pública, pelo Iluminismo, mas aquando das invasões francesas exercitou o seu dom de polemista sobre os filósofos do movimento das Luzes, os maçons e os jacobinos. Aderiu às ideias do progresso científico e do valor da monarquia absolutista de pendor anglófila.

 

As suas contradições internas levaram-no a aderir à Revolução Liberal Portuguesa, tendo sido até deputado pelo círculo de Portalegre às Cortes de 1822, pelo que ficou com a reputação de “viracasacas”. Na linguagem desbragada das suas sátiras de verve contrarrevolucinária atacou os liberais, em periódicos como A Tripa Virada (1823), A Besta Esfolada (1828-1829) e o Desengano (1830-1831).

 

Na sua vida conventual, em 1792, e após um furto, aos seus superiores, de umas “lampreias” preparadas para o banquete comemorativo do dia de Santo Agostinho, foi expulso da Ordem Religiosa dos Agostinhos do Convento da Graça, em Lisboa, tendo-lhe sido retirado o hábito perante toda a comunidade conventual, mas conseguiu tornar-se presbítero secular a 20 de março de 1794, alcançando grande prestígio devido aos seus sermões.

 

Tornou-se proverbial o seu furto de livros em várias ocasiões. Nestes seus desmandos e estroinices de delinquente foi submetido a vários processos e sujeito diversas vezes ao cárcere. Tomou o nome de José Agostinho de Macedo e recusou o nome de família, “Teiguera”, como Hipólito José da Costa frisou em tom odioso. Tornou-se, pelas suas influências sociais, membro da Real Mesa Censória (1824-1829) com a função de eliminar obras ou passagens de livros hostis ao absolutismo régio.

 

Macedo mostrou uma grande instabilidade opinativa, decorrente da sua faceta de “viracasacas”, que se manifestava no seu caráter colérico e rebelde, marcado por um contexto social de viragens políticas e literárias, do absolutismo ao liberalismo e do classicismo arcádico ao romantismo.

 

Por este seu feitio iracundo, ficou conhecido, por se mamifestar frequenteente irritado e entrar constantemente em conflito, com a alcunha de ‘Padre Lagosta’. Notabilizou-se como introdutor da poesia naturalista e científica em Portugal, tornando-a rival da poesia épica clássica e evidenciando uma hostilidade ao uso da mitologia clássica e aos efeitos estilísticos dos poetas arcádicos.

 

Não obstante, tenha colaborado na Nova Arcádia, tomando o nome de Elmiro Tagídeo e convivendo literariamente com Bocage. Escreveu o poema épico “O Oriente”, com o qual se julgou o novo Luís Vaz de Camões de Oitocentos. Manteve uma grande amizade inicial com Manuel Maria Barbosa l’ Hedois du Bocage, mas a rivalidade poética acabou por levá-los a uma grande desavença pública numa polémica, que a História registou.

 

Bocage, após ter sido fustigado pelos desmandos poéticos de José Agostinho, respondeu com um clamor e um sentido airoso com o seu poema Pena de Talião. No fim da vida de Bocage, ainda José Agostinho o acompanhou, mas este atacou-o postumamente, em 1814, alguns anos após a sua morte[2], talvez pela vontade de se afirmar como o primeiro dos poetas da pátria.

 

Escrevia para publicações periódicas, visando chegar rapidamente ao público com uma linguagem clara, muitas vezes satírica e outras vezes com um cunho violento. O seu periódico designado A Tripa Virada foi publicado durante o golpe da Vilafrancada, relativa à noite de 5 de junho de 1823, depois dos miguelistas fazerem um golpe para tomar o poder. O golpe da Vilafrancada é o nome atribuído a este acontecimento insurrecional liderado pelo infante D. Miguel, por inspiração da rainha D. Carlota Joaquina, ocorrido em Vila Franca de Xira, a 27 de maio de 1823, para restaurar o regime político absolutista. Existe, neste periódico, uma diabolização dos liberais e uma crítica à moderação do rei D. João VI.

 

Este periódico evidencia a sua tendência para o extremismo contrarrevolucionário, pois nele se descrevem sessões da Maçonaria de forma caluniosa. Há, pois, uma diabolização do “Outro”, isto é, dos indivíduos aderentes ao ideário liberal[3].

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[1] António Ventura, “José Agostinho de Macedo”, in História de Portugal, vol. VIII, dir. João Medina, Amadora, Ediclube Editora,1993, pp. 196-198.

[2] António Mega Ferreira, “Os vates desavindos”, in Macedo – Uma biografia da infâmia, Porto, Sextante Editora, 2011, pp. 91-99.

[3] Ferreira, João Pedro Rosa, “ ‘Alimpem a mão à parede’ – A Tripa Virada” in Castigar a rir. O humor na imprensa periódica portuguesa, Tese de Doutoramento em História e Teoria das Ideias, especialidade Pensamento, Cultura e Política, FCSH – UNL, vol. I, 2018, pp. 109-113.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

CRISTIANO RONALDO (CR7), UM HERÓI DA PÁTRIA LUSÓFONA – PASSADO, PRESENTE E FUTURO

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Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro é um futebolista de renome internacional, nascido a 5 de fevereiro de 1985 no Funchal, cujo nome homenageia o Presidente Norte-Americano Ronald Regan como ator de Hollywood. Afirmou-se no futebol internacional, no Sporting Clube de Portugal, num jogo contra a equipa do Manchester United para a inauguração do Estádio Alvalade XXI, que deixou o treinador Alex Ferguson muito impressionado, tendo-o levado então para Inglaterra.

 

Logo no Manchester United foi-se afirmando com os seus “dribles” magistrais e só depois, já no Real Madrid, a sua evolução desportiva o levou a transformar-se num avançado muito eficaz, um goleador nato temido pelos adversários e muito estimado pelos seus adeptos e companheiros. Uma das suas habilidades tem sido ao longo da sua carreira a marcação de livres, com a grande concentração e a encenação Olímipica de um atleta. Ronaldo fez do futebol um jogo espetáculo com habilidades artísticas inequívocas.

 

Tal como os atletas da Hélade eram considerados heróis, Cristiano Ronaldo deve ser evocado pela pátria lusófona como um herói, pois os vencedores nos jogos olímpicos na Antiga Grécia poderiam receber homenagens das suas pólis, alimentação gratuita, terem estátuas erguidas e serem exaltados pelos poetas. O movimento do pontapé de bicicleta de Ronaldo frente à Juventus merecia uma estátua parecida com a que representa o atleta grego a lançar o disco, conhecido como discóbolo, ou um poema como aquele que Manuel Alegre dedicou a Luís Figo.

 

No fim da temporada 2017/18 ameaçou sair do Real Madrid por falta de empatia com o presidente do clube e falta de apoio na questão das suas dívidas fiscais ao Estado Espanhol. Ao longo da sua carreira profissional de 2003 a 2018 tem batido muitos recordes desportivos, apesar da sua carreira desportiva ainda ter possivelmente alguns anos na montra do futebol mundial. Os números milionários que o rodeiam, primeiro na contratação nunca vista do Real Madrid ao Manchester United pelo preço de 94 milhões de euros deixou o mundo estupefacto.

 

Fez parte, como promessa do futebol, da Seleção Portuguesa, com Luís Figo e outras estrelas da “geração de ouro”, que chegou a finalista do Euro 2004. Desde este período cresceu muito como jogador e como homem, retivemos as lágrimas que soltou na Final do Euro 2004 e a atitude de fair-play com Edinson Cavani no jogo dos oitavos de final de Portugal contra o Uruguai no Campeonato do Mundo de 2018.

 

Desde 2008 a 2017 tem sido várias vezes premiado como o melhor jogador do mundo pela FIFA e ganhou várias bolas e botas de ouro, atríbuídas por periódicos da imprensa desportiva.

 

Em 8 de janeiro de 2009, Ronaldo teve um mediático acidente de carro com o seu Ferrari, 599 GTB Fiorano, num túnel perto de Manchester, tendo saído do incendente com ferimentos de pouca gravidade.

 

Neste início de julho de 2018, Ronaldo parece ter feito as malas para representar a Juventus, numa nova transferência astronómica de 100 milhões de euros, sendo este já o quarto clube de prestígio que irá defender, os outros foram o Sporting Clube de Portugal, o Manchester United, o Real Madrid e agora a Juventus, onde certamente acabará a sua carreira de futebolista. A transferência de Ronaldo para a Juventus está fazer subir em flecha o valor das ações do clube de futebol de Turim.

 

Por que razão é já um herói da Pátria lusófona ? As suas habilidades inatas e a condição física ímpar, fruto de treinos muito esmerados e grande profissionalismo, fizeram dele um jogador de exceção. Estes fatores fizeram-no um artista, criativo com a bola, que fez vibrar milhões de adeptos do futebol de todo o mundo. Quando CR7 marcou este ano de um atlético pontapé de bicicleta à Juventus a uma altura de 2,38 metros deixou os espetactadores da Juventus embasbacados e a ouvacionarem o atleta adversário de pé pelo seu feito invulgar. O jornalista desportivo Rui Santos considera que esta transferência não foi a mais benéfica para a projeção mundial de CR7.

 

Ronaldo levou, muitas vezes, às costas o Sporting, o Manchester United, o Real Madrid e a Seleção Portuguesa, catapultando os clubes da Inglaterra e da Espanha para estrelato máximo com a conquista de várias Ligas dos Campeões e permitindo a Portugal vencer o Euro 2016, num feito inédito do futebol luso.

 

De 2007 a 2018 tem estado na ribalta do futebol mundial, tendo feito o seu primeiro hat-trick a 12 de janeiro de 2008 pelo Manchester United contra o New Castle e o seu último hat-trick frente à Seleção Espanhola no Campeonato do Mundo de Futebol de 2018. Ronaldo passou a exercer uma força anímica indispensável no Real Madrid e na Seleção Portuguesa, nos últimos anos.

 

Ronaldo já tem um busto no aeroporto do Funchal e uma merecida condecoração honorífica de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique atribuída pela Presidência da República Portuguesa em 2014. Portugal continua a ser, como o reconhece Rui Proença Garcia[1], um país de Fátima, do Fado e do Futebol, como uma das marcas indeléveis da sua identidade coletiva. Por isso, não admira que CR7 terá um lugar reservado no Panteão Nacional, dado que espalhou o seu nome e o do país pelos 7 cantos do mundo. Nos últimos anos tem disputado com o argentino Lionel Messi o título de melhor jogador do mundo. Em 15 de dezembro de 2015, Ronaldo inaugurou o Museu CR7 no Funchal. Superou em prestígio internacional Eubésio da Silva Ferreira e Luís Figo, só podendo comparar-se na sua projeção mundial com Pelé.

 

Em suma, Ronaldo não se limita a ser um futebolista com habilidade, mas um atleta com um génio artístico, que soube fazer render os seus talentos e deixar a Humanidade estupefacta perante as suas proezas desportivas, fazendo lembrar os atletas herocizados da Grécia Antiga.

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[1] Rui Proença Garcia, “Fátima, Futebol e Fado: uma leitura contemporânea”, in Brotéria –Cristianismo e Cultura, vol. 186, maio/junho de 2018, pp. 631-653.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

20 ANOS DA EXPO 98 (1998-2018) E OS 78 ANOS DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS (1940-2018)

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A 23 de maio de 2018 assinalam-se os 20 anos sobre a realização da Expo 98, certame internacional no contexto inicial da globalização, em que se celebrava o V Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Este evento motivou o nome atribuído à segunda ponte sobre o Tejo da cidade de Lisboa, com o navegador responsável pelo feito – Vasco da Gama e que foi inspirado - e muito melhor planeado - na Expo Sevilha 92, que registou publicamente a descoberta das Antilhas por Cristovão Colombo.

 

A Expo 98 veio a modernizar uma zona ribeirinha de Lisboa marcada pela paisagem industrial, permitindo aos cidadãos uma maior proximidade vivencial com o rio Tejo. António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura idealizaram este certame internacional, que renovou a paisagem urbanística de Lisboa. De uma cidade de traçado e de perfil tradicional em termos urbanísticos e arquitectónicos, não obstante as erupções modernistas de Porfírio Pardal Monteiro, transformou-se numa cidade com um pólo muito modernista, que veio a designar-se de Parque das Nações.

 

O crescimento da cidade de Lisboa, em direção ao interior, desde o início do século XX, com o surgimento das Avenidas Novas durante o Estado Novo e com bairros novos no fim do regime da ditadura e no início do regime democrático levou os lisboetas, alfacinhas, a virarem as costas ao rio.

 

Contudo, Lisboa tem duas faces inequívocas: a zona litoral ligada ao Império Colonial Português e à expansão marítima e a zona interior, que confina com a “região saloia”, hoje transformada em área metropolitana da capital com cidades-satélite e localidades autênticos dormitórios, em que as casas se debruçam sobre os campos, aproveitando o facto para fazerem pequenos quintais de produtos hortícolas, como bem o frisou o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles na sua definição da identidade alfacinha da cidade de Lisboa.

 

Tal como a Expo 98 possibilitou a renovação da área urbana na zona oriental de Lisboa, também em 1940 a zona de Belém, que se encontrava bem degradada com um hediondo parque industrial, foi nobilitada pela realização de arranjos urbanísticos no seio da Exposição do Mundo Português.

 

A exposição internacional do fim do século XX foi o motivo para a renovação urbanística deste espaço da capital portuguesa, tendo tirado partido dos ensinamentos advindos da Expo de Sevilha de 1992, em que o recinto de exposições se volveu num espaço fantasma, abondonado ao vento e aos insectos. 

 

Na Expo 98 edificaram-se pavilhões efémeros de vários países, mas também foram construídos vários edifícios perduráveis como o antigamente denominado Pavilhão Atlântico, o Pavilhão de Portugal ou o Oceanário, entre outros.

 

Na Exposição do Mundo Português a maioria dos pavilhões, como são os casos do Pavilhão da Formação e Conquista, do Pavilhão da Independência e do Pavilhão dos Descobrimentos, foram construídos em materiais efémeros e apenas alguns persistem como o denominado Museu de Arte Popular e o Padrão dos Descobrimentos, este edificado de forma definitiva em 1960 para assinalar o V Centenário da morte do Infante D. Henrique e a própria Praça do Império.

 

A Exposição do Mundo Português, que foi inaugurada a 23 de junho de 1940, em pleno contexto da 2ª guerra mundial com a Europa sob o jugo nazi, decorreu no contexto nacionalista do regime de António de Oliveira Salazar, celebrando, concomitantemente, as datas de 1140 e de 1640 ligadas à independência portuguesa do reino e à restauração da soberania nacional após o domínio Filipino. O espaço industrial de Belém foi transformado em espaço urbano, que com o decorrer das décadas do século XX se assumiu como um espaço nobre de manifestações públicas e, igualmente, um lugar privilegiado do turismo cultural.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

VI CENTENÁRIO DA DESCOBERTA DA MADEIRA (1418?-2018) - UMA BREVE EVOCAÇÃO HISTÓRICA

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As fontes históricas conhecidas não permitem datar, com exatidão, a chegada dos portugueses às ilhas de Porto Santo e da Madeira, havendo divergências na historiografia sobre a data deste acontecimento desde o século XIX. As autoridades madeirenses preferiram comemorar a descoberta oficial de Porto Santo, em 2018, com base numa versão historiográfica da datação, que não recolhe o consenso dos peritos.

 

João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo foram os navegadores responsáveis pelo achamento destas ilhas atlânticas, que se encarregaram também do seu povoamento inicial.

 

As ilhas da Madeira e de Porto Santo eram conhecidas desde o século XIV, como o provam documentos cartográficos, segundo os estudos de Armando Cortesão, mas foi, efectivamente, por volta dos anos de 1418-1420 que foram descobertas oficialmente. Assim, na cartografia estrangeira do século XIV aparece já a toponímia de origem portuguesa nestas ilhas atlânticas.

 

Sendo certo que, desde 1425, os seus territórios começaram a ser povoados, apenas nas décadas de 1440 e de 1450 se constituíram as capitanias-donatarias de Machico, do Funchal e de Porto Santo, atribuídas pelo Infante D. Henrique àqueles navegadores, com amplos poderes de administração civil, criminal e económica, configurando, no fim da Idade Média, um autêntico regime senhorial.

 

A ilha da Madeira constituiu-se ainda no século XV como uma importante plataforma comercial. Nesta atividade mercantil avultaram, como principais produtos de exploração silvícola e agrícola, a madeira, o pastel e a urzela como plantas tintureiras, o trigo, o vinho e o açúcar.

 

Nos primeiros anos do segundo quartel da centúria, afirmou-se o trigo como cereal escasso na metrópole e, a partir da década de 1470, o açúcar como o produto preponderante de comercialização.

 

Como é consabido, a Madeira era conhecida dos navegadores portugueses desde o século XIV, mas na realidade já se efectuavam contactos marítimos com os territórios desde a Antiguidade, ou seja, desde o século VII a. C..

 

As navegações iniciais de Trezentos à Madeira encontram-se descritas em fontes históricas como a Relação de Francisco Alcoforado, do primeiro quartel do século XV, o escrito de Gaspar Frutuoso As Saudades da Terra, do fim do século XVI, e a Crónica dos Feitos da Guiné de Gomes Eanes de Zurara.

 

É bastante provável que a descoberta oficial da Madeira tenha acontecido no contexto das navegações atlânticas, ao longo das costas do Norte de África, por ação de ventos e de correntes marítimas inusitadas.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

EGAS MONIZ (1874-1955), DA POLÍTICA AO PRESTIGIADO GALARDÃO DE PRÉMIO NOBEL DA MEDICINA EM 1949

 

 

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“(...) Psicologicamente notável é a deslocação da ‘paixão’ política para a pesquisa médico-científica – uma decisão consciente de descobrir novas rotas no mar ignoto dos meios de diagnóstico e de tratamento. (...)”.
Barahona Fernandes, Egas Moniz, pioneiro de descobrimentos médicos, Amadora, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1983, p. 133.

 

António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz foi uma personalidade polifacetada como académico, médico, escritor e político, tendo vivido no contexto do fim da monarquia constitucional a meados do regime salazarista. Com as suas descobertas neurológicas tornou-se o nome mais importante das ciências médicas portuguesas do século XX.

 

No final do século XIX, formou-se no Colégio Jesuíta de S. Fiel mas acabou por se afastar da prática da religião católica, sem se deixar contaminar pelo vírus anticlerical das hostes republicanas, que veio a enfileirar. Socialmente descendeu de uma família da nobreza provinciana da Beira Litoral. Apesar desses pergaminhos nobiliárquicos, foi educado no culto do trabalho, como era tradicional na época, o que se vincou na sua vivência com a emigração dos familiares mais próximos.

 

Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, em 1898, com média final de 16 valores. Entretanto, em 1901, prestou provas de doutoramento na mesma instituição com uma dissertação que versou as vivências sexuais, num contexto sócio-histórico de repressão dos impulsos libidinosos, onde foi aprovado com 17 valores, tornando-se lente nesta Universidade e, dez anos mais tarde, transferindo-se para a Universidade de Lisboa. Nesta altura, foi promovido a professor catedrático de Neurologia, após uma intensa formação com o seu Mestre Augusto Rocha e de um estágio em Paris. 

 

Na conjuntura finissecular, foi-se impregnando de espírito liberal no contacto com a juventude da época. Descontente com os rumos políticos do país, que colocaram Portugal à beira da bancarrota e do desespero patriótico, aproximou-se dos críticos do rotativismo parlamentar, dado que os partidos do statu quo colocavam os homens à frente das ideias políticas.

 

Neste sentido, iniciou a sua atividade política como deputado, em 1903, na Monarquia Constitucional, como seguidor da disssidência Progressista de José Alpoim. Nesta conjuntura, foi várias vezes deputado e assumiu-se contra o radicalismo da ditadura de João Franco, tendo-se transformado num indefectível do regime republicano, com o aprofundar da crise do regime monárquico. 

 

Com a instauração da República, tornou-se deputado na Assembleia Constituinte em 1911, destacando-se pelas suas qualidades oratórias. Foi, ainda, várias vezes deputado na 1ª República. Em 1916, foi preso no conturbado contexto político-social, salientando-se pelo seu antagonismo a Afonso Costa.  Ideologicamente, foi um liberal moderado, que sustentou o reatamento das relações diplomáticas com a Santa Sé, uma vez que tinha ficado bastante incomodado com o anticlericalismo primário de Afonso Costa.

 

Em 1917, tornou-se o principal dirigente do Partido Centrista, logo integrado no Partido Nacional Republicano como suporte da afirmação política de Sidónio Pais. Nesta época, foi líder parlamentar do grupo sidonista no Governo, embora se tenha afastado das prepotências cesaristas de Sidónio Pais, fazendo-nos lembrar da atitude do atual dirigente turco Recep Erdogan com as suas ambições presidencialistas. Mas, no âmbito do consulado sidonista, foi ainda Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e veio a desempenhar o cargo de Presidente da Delegação Portuguesa à Conferência de Paz de Paris em 1918-1919.

 

Desgostoso com o rumo político português, resolve apostar na investigação científica. Nesta sua caminhada, obteve um inegável sucesso com as suas pesquisas médicas pioneiras nos campos da neurologia e da psiquiatria com as técnicas da angiografia cerebral (arteriografia), em 1927, e a leucotomia pré-frontal, em 1935, que permitiram respetivamente diagnosticar tumores cerebrais e aplicar a neurocirurgia à cura de certas psicoses. Depois destes retumbantes êxitos técnico-científicos, foi distinguido com o Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina em 1949.

 

Escreveu vasta obra ligada à ciência médica e muitos ensaios ligados à arte, patenteando o seu pendor humanista tão típico nestas gerações de médicos.

 

As suas técnicas cirúrgicas inovadoras foram ensaiadas no Hospital Júlio de Matos e no Hospital de Santa Maria. A técnica da leucotomia foi alvo de grande polémica pública, mas facultou a compreensão aprofundada das bases cerebrais da vida psíquica normal e patológica.

 

Contudo, o seu prestígio começou em 1927 como inventor da técnica da arteriografia cerebral, já com 53 anos, que permitiu diagnosticar com precisão doenças e tumores cerebrais. Foi - segundo o reputado psiquiatra Barahona Fernandes -  um dos primeiros neuropsiquiatras a divulgar, em Portugal, a doutrina psicanalítica de Sigmund Freud e as suas virtudes terapêuticas. Egas Moniz, com as suas descobertas técnico-científicas, concedeu um notável impulso à neurocirurgia.

 

Este médico, professor, investigador morou em Lisboa num palacete estilo D. João V, na Avenida Luís Bivar, repleto de uma rica biblioteca e recheado de requintadas obras de arte. Foi uma personalidade multifacetada que tanto resolvia os problemas triviais do quotidiano como se extasiava com os aspetos sublimes da arte e da natureza, sabendo manter um espírito estóico ante as dificuldades vivenciais e uma energia singular no seu percurso de investigador científico.

 

Possuidor de uma vasta cultura humanista, tão distante das visões tecnocráticas preponderantes nos dias de hoje, debruçou-se nos seus ensaios sobre figuras históricas carismáticas como Camilo Castelo Branco, o Papa João XXI, José Malhoa ou Maurício de Almeida. De facto, escreveu muito, além dos temas médicos, tendo abordado escritores e artistas, alguns por especial interesse no tema da loucura humana, mas muitos outros por mera motivação estética, evidenciando a sua mentalidade de investigador em trabalhos como Júlio Dinis e a sua obra.

 

Aos 74 anos escreveu as suas memórias de investigador no incontornável livro (essencial para compreender as suas invenções técnico-científicas) intitulado Confidências de um investigador científico. Trabalhou até à derradeira hora, então com 81 anos, na clínica particular e no hospital, além de ter presidido durante vários anos à Academia das Ciências de Lisboa.

 

Em conclusão, Egas Moniz desconstruiu o complexo de inferoridade dos portugueses em termos científicos com as suas descobertas médicas. Afirmou-se como um médico humanista preocupado com o bem-estar psíquico dos seus semelhantes, que eram muitas vezes remetidos para manicómios. No tempo da Ditadura Salazarista, opôs-se a este regime autocrático pelo facto deste oprimir as liberdades individuais, embora sem grande ativismo político nestas décadas finais da sua vida.

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Barahona Fernandes, Egas Moniz, pioneiro de descobrimentos médicos, Amadora, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1983, 169 p..

Sérgio Campos Matos, “António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, s.l., Publicações Alfa, 1990, pp. 201-202.  

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA PORTUGUESA DE 1 DE DEZEMBRO DE 1640 E A RESTAURAÇÃO DO FERIADO NACIONAL

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As promessas de Filipe I de Portugal nas Cortes de Tomar e a riqueza do reino espanhol favoreceram a instauração da União Ibérica (1581-1640). Todavia, algo mudou no início do século XVII com a crise económica e social que afectou a Espanha e com a guerra em que se envolveu (Guerra dos Trinta Anos), que levaram à mobilização dos exércitos portugueses e ao lançamento de novos impostos em território nacional.

 

Este desrespeito pelas promessas das Cortes de Tomar levou ao descontentamento português, com vários levantamentos populares e várias revoltas em diversas regiões do país. Foi assim que, em 1637, se levantou uma revolta em Évora, dirigida por um senhor chamado Manuel (Revolta do Manuelinho, que dá nome a um largo nesta cidade alentejana), que se espalhou por outros pontos do país, mas que foi abafada pelo poder militar espanhol.

 

A restauração da independência portuguesa de 1 de dezembro de 1640 foi desencadeada para superar a crise política, decorrente da prepotente governação do conde-duque de Olivares, que tomou medidas à revelia das promessas autonómicas feitas nas Cortes de Tomar de 1581 por Filipe I de Portugal.

 

O golpe de Estado palaciano que lhe deu origem envolveu cerca de uma centena de aristocratas portugueses, que estavam afastados das benesses do domínio filipino. Este acontecimento foi acompanhado de assassínios políticos, designadamente de Miguel de Vasconcelos, dado este representar a administração espanhola de Filipe IV (Filipe III de Portugal). Esta insurreição palaciana teve uma adesão generalizada em Portugal continental nas semanas seguintes.

 

Se os motivos de descontentamento nacional se somavam contra as prepotências espanholas, a assumida liderança do movimento da parte do duque de Bragança, D. João, aquando dos apoios externos franceses e internos, da nobreza e do povo, garantiram a durabilidade do movimento da restauração da independência de Portugal face à Coroa Espanhola.

 

Com efeito, não obstante a restauração de facto ocorrer em 1640, só houve uma restauração de jure ou de nível constitucional nas Cortes de Lisboa de 1641, pois foi aí que se reconheceu a legitimidade dinástica da Casa de Bragança e a evidente usurpação do estatuto autonómico por parte de D. Filipe IV de Espanha (Filipe III de Portugal). Nos anos subsequentes, tanto a Igreja Católica como o imaginário popular corroboraram a validade do golpe de Estado restauracionista[1].

 

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Por outras palavras, a 1 de dezembro de 1640, em Lisboa, revoltosos populares e da nobreza tomaram o poder e restauraram a independência portuguesa. D. João, duque de Bragança, foi aclamado rei de Portugal, junto ao Largo de S. Domingos no palácio hoje designado Palácio da Independência. Todavia, foi necessário reforçar o exército, fabricar armas e fortalezas nas zonas fronteiriças para garantir a independência, através das guerras da restauração, que duraram de 1640 a 1668, pois só então, com o tratado de paz em Lisboa, os espanhóis reconheceram a independência portuguesa.

 

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No ano passado, em 2015, o governo português decidiu, com legitimidade histórica e bom senso patriótico, restaurar o feriado nacional, num momento em que a globalização desregulada está a passar por uma evidente crise, que o anterior governo português, sob a pressão germânica, tinha decidido “congelar” por algum tempo.

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[1] Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, “A Restauração (1640-1668)”, in História de Portugal, A Esfera dos Livros, 2010, pp. 295-302.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

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REVISTAS DE CULTURA PORTUGUESA – BROTÉRIA E NOVA ÁGUIA

 

As revistas Brotéria e Nova Águia ocupam atualmente um espaço significativo nas publicações periódicas de cultura portuguesa. A revista Brotéria existe como revista dirigida pelos Jesuítas portugueses desde 1902, tendo uma identidade assumidamente cristã. Nesta publicação, nos seus artigos de investigação, abordam-se temas diversificados como a arte, a educação, a espiritualidade, a história, a literatura, a política, a religião, a sociedade, entre outros.

 

De facto, ambas se assumem como revistas culturais de coleção, que pelos artigos de investigação merecem ser colocadas em estantes de bibliotecas públicas e particulares.

 

Na Brotéria colaboram, nos dias de hoje, dezenas de ensaístas, entre os quais destaco Carlos Borrego, Manuel Braga da Cruz, José Eduardo Franco, Guilherme d’ Oliveira Martins, Miguel Côrrea Monteiro, Francisco Sarsfield Cabral, Henrique Leitão e António Vaz-Pinto, S.J., que atualmente a dirige. Tem uma periodicidade mensal e conta normalmente com 6 a 10 artigos tal como um conjunto de recensões críticas, no final.

 

Esta é uma revista centenária, que passou por vários regimes políticos (monarquia liberal, 1ª república, ditadura militar, estado novo e democracia atual), tendo começado como uma revista científica ligada às Ciências Naturais.

 

Por sua vez, a revista Nova Águia nasceu em 2008, no seio da crise profunda que abalou a Europa e Portugal no fim desta primeira década do século XXI, tendo uma identidade lusófona ligada à corrente da filosofia portuguesa e à figura tutelar de Agostinho da Silva, pelo que tem uma difusão no espaço geográfico da lusofonia.

 

Esta revista centra-se, sempre, num núcleo temático central, variável consoante os números, sendo neste último número sobre a Importância das diásporas para a lusofonia (nº 17, 1º semestre de 2016), mas evocam-se também historicamente grandes figuras da cultura portuguesa e lusófona, abordam-se temas ligados à filosofia, à política, à literatura e apresentam-se textos inéditos de autores consagrados e ainda poemas muito interessantes.

 

Na Nova Águia colaboram também dezenas de ensaístas, entre os quais saliento Adriano Moreira, António Braz Teixeira, Fernando Dacosta, João Bigotte Chorão, Miguel Real, Pinharanda Gomes, Samuel Dimas e Renato Epifânio, que atualmente a dirige. Tem uma periodicidade semestral com cerca de 30 a 40 artigos e um conjunto de recensões críticas, no final.

 

A Nova Águia, sendo uma revista ligada ao Movimento Internacional Lusófono, é uma homenagem a uma revista de cultura que surgiu na 1ª república, da necessidade de reerguer o valor da pátria portuguesa, intitulada A Águia, na qual colaboraram figuras eminentes como Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, António Sérgio, Teixeira de Pascoaes, Raul Proença, Fernando Pessoa, etc. ligadas ao movimento cultural e cívico Renascença Portuguesa.

 

Finalmente, convém referir que ambas se salientam pela evidente ausência de publicidade comercial, apenas ligada às atividades editoriais, ao contrário da maioria das outras revistas culturais portuguesas e do espaço lusófono. As tiragens das duas revistas são bastante idênticas, sendo respetivamente de 1100 exemplares na Brotéria e de 1000 exemplares na Nova Águia. A primeira tem uma capa menor, mais flexível e cerca de 100 páginas, enquanto a segunda tem uma capa maior, mais resistente e habitualmente tem cerca de 270 páginas. As duas revistas têm páginas de divulgação na internet (Brotéria e Nova Águia).

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

O POLÉMICO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA (1990-2015) – RAZÕES DO DEBATE

 

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (designado em diante AO) é um tratado internacional estabelecido com o objetivo de unificar a ortografia da Língua Portuguesa no espaço da lusofonia. Este objetivo apenas foi alcançado neste documento em 98% das palavras. Existem exemplos favoráveis e desfavoráveis, no mundo à aplicação deste AO, sendo o primeiro caso a língua castelhana e, o segundo caso, a língua inglesa.

 

Deste modo, face à polémica que divide a sociedade portuguesa, um grupo de cidadãos no respeito pelos preceitos constitucionais propõe-se recolher as assinaturas necessárias para a realização de um referendo que irá incidir na seguinte questão, em conformidade com um projeto de lei já escrito: “Concorda que o Estado Português continue vinculado a aplicar o «Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa» de 1990, bem como o 1.º e o 2.º Protocolos Modificativos ao mesmo Tratado, na ordem jurídica interna?”. Este AO nas duas ortografias a unificar, nas matrizes portuguesa e brasileira, obriga a uma adaptação maior em termos do número de palavras na primeira matriz do que na segunda.

 

O AO assinado em 1990 não criou um consenso nos meios culturais dos países de expressão oficial portuguesa e, em especial, em Portugal. De facto, gerou-se uma polémica que se tem arrastado ao longo dos últimos anos devido a erros etimológicos ou à introdução de facultatividades, ou seja, ao permitir mais do que uma grafia da mesma palavra. A contestação ao AO sustenta-se em argumentos filológicos, políticos, económicos e, mesmo, jurídicos.

 

O AO tem passado por uma longa história de pequenos avanços e recuos, sem que haja unanimidade nacional e internacional. Com efeito, em 1998 e, depois, em 2004 os países de expressão de língua portuguesa assinaram dois Protocolos Modificativos do AO, tendo o segundo facilitado o processo de ratificação para a sua entrada em vigor. Após a ratificação por 4 países (Brasil, Cabo Verde, São Tomé e Princípe e Portugal) do segundo Protocolo Modificativo do AO, a nação portuguesa em 2008 agilizou os processos para a sua implementação interna.

 

Os dirigentes políticos dos países da CPLP, reunidos no verão de 2008, manifestaram o interesse em promover os mecanismos para a sua aplicabilidade, que para algumas figuras iria tornar possível que a língua portuguesa se tornasse, futuramente, um instrumento de trabalho na ONU. Atualmente, nos diversos países da CPLP falta a ratificação de Angola, que se manifesta mais refratária à sua rápida aceitação.

 

Os antecedentes deste AO de 1990 estão no fracassado Acordo Ortográfico de 1945 e na tentativa de Acordo de 1986, que se revelaram inconsequentes por terem pretendido uma unificação ortográfica absoluta, o que desagradou primeiro aos brasileiros e depois aos portugueses, por isso surgiu este novo AO que estabeleceu compromissos para uma maior uniformidade, sem garantir uma coerência ortográfica, pois foi preferido o critério de uma ortografia sónica em vez de uma ortografia mista conciliadora dos critérios etimológico e fonético.

 

O aprofundamento da distância linguística entre a ortografia do português europeu e do português brasileiro iniciou-se com a Reforma Ortográfica Portuguesa de 1911, a que os linguistas brasileiros responderam com a ênfase colocada na oralidade.

 

Em função destas contradições filológicas, abriu-se um aceso debate que tem divido Portugal e os países da CPLP, havendo eminentes personalidades favoráveis ao AO e outras contra, o que tem criado uma clivagem que perpassa a sociedade portuguesa. Verifiquemos os principais argumentos a favor e contra a aplicação deste AO.

 

Consideram os seus defensores que uma ortografia comum aos países de expressão oficial portuguesa favorece internacionalmente a projeção da língua portuguesa e a sua adoção como língua de trabalho das Nações Unidas, que o custo económico da duplicação de edições de livros deve ser tomado em linha de conta, que num momento em que o mundo se globaliza é importante uma língua comum uniformizada nos processos de escrita, que a aplicação do AO será favorável ao aumento da circulação do livro no espaço lusófono, que a não aceitação do AO provocará uma diminuição da importância da ortografia portuguesa em benefício da ortografia brasileira pelo expansionismo cultural desta potência geo-política, que dada a morosidade do processo negocial será tarde para recuar face ao estabelecido pelos dirigentes lusófonos, que o AO será favorável à projeção das obras bibliográficas escritas em português.

 

Entre as personalidades favoráveis ao AO contam-se Vital Moreira, Edite Estrela, Celso Cunha, José Eduardo Agualusa, Rui Tavares, Clara Ferreira Alves, Lauro Moreira, Juca Ferreira, Adriano Moreira, etc..

 

Por seu turno, consideram os oponentes como argumentos fundamentais de contestação ao AO de 1990 que este tratado não é suficiente para atingir a uniformidade ortográfica entre a norma portuguesa e a brasileira, que a unificação ortográfica não permitirá uma maior projeção internacional da língua portuguesa, que o poder “neocolonial” do Brasil como potência geo-política não se deve vergar à vontade da pátria portuguesa (o que só se conseguirá saber através da realização de um referendo), que é possível vender livros escritos no português europeu no Brasil, que as facultatividades permitem grafias duplas e múltiplas rompendo um critério ortográfico equilibrado (dado que deixa de existir uma maneira correta de escrever em função de uma norma clara), que a língua faz-se pela dinâmica das populações e não por decreto dos governos.

 

Entre as personalidades contrárias ao AO contam-se João Ubaldo Ribeiro, Cláudio Moreno, Miguel Sousa Tavares, Vasco Graça Moura (entretanto já desaparecido), Isabel Pires de Lima, Carlos Heitor Cony, António Lobo Xavier, Eduardo Lourenço, José Pacheco Pereira, Teolinda Gersão, etc..

 

Portugal foi o primeiro país a ratificar o AO logo em 1991, mas demorou mais tempo a ratificação do Segundo Protocolo Modificativo de 2004, tendo este sido ratificado em 2009 e agilizado o processo para a sua implementação em fase de transição entre 2009 e 2015. O Ministério da Educação determinou que a aplicação nas escolas, em fase de transição, se fizesse no ano letivo de 2010/2011 e que a sua efetiva aplicação se fizesse no ano letivo seguinte e para todo o Estado português desde o início de 2012.

 

Num inquérito feito, em 2005 sobre o AO, a organismos universitários e a editoras, a maioria das entidades mostrou-se contra a sua aplicação devido às fragilidades da base ortográfica estabelecida e numa sondagem do Correio da Manhã no início de 2009, a maioria dos inquiridos mostrou-se, também, contrária à sua entrada em vigor. A partir desta altura, começaram a circular petições, contra e a favor do AO, tendo alcançado notoriedade a petição "Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico", que também criticou os programas do ensino básico e secundário da disciplina de Português pelo reduzido peso dado à Literatura Portuguesa.

 

Este facto patenteia a polémica que tem rodeado o AO, pois esta petição entregue na Assembleia da República recolheu mais de 110 mil assinaturas, o que torna inequívoca a divisão da sociedade portuguesa em relação à sua implementação. Em 2010 surgiu, nas redes sociais, uma iniciativa legislativa de cidadãos destinada a suspender e a revogar a aplicação do AO em Portugal.

 

Na imprensa portuguesa a maioria dos periódicos adotou já a norma do AO, não obstante alguns meios de comunicação social escrita de grande projeção como os jornais Público e Sol e a revista Sábado serem renitentes à sua aplicação até à atualidade. A Sociedade Portuguesa de Autores, em 2013, decidiu continuar a aplicar a norma ortográfica antiga, visto que o Brasil adiou a sua eventual ratificação para 2016 e Angola ter tomado uma posição contrária à sua implementação.

 

Este AO tem por base uma filosofia pragmática favorável a uma convergência lusófona com base no critério sónico de aproximar a palavra escrita da sua utilização oral, no entanto a falta de consenso interno e internacional, no espaço lusófono, a par do desrespeito pelo critério etimológico tem levado muitas personalidades a serem refractrárias à sua aplicação, pois muitas delas consideram que as facultatividades darão origem a uma heterografia.

 

Por outro lado, não houve uma séria discussão pública do tema, pois os governantes tomaram a decisão de avançar com o processo sem ouvir a opinião dos governados e descurando a opinião negativa da maioria de especialistas consultados e, mesmo, uma petição que foi apresentada na Assembleia da República. Convém frisar que não foi apresentada nenhuma justificação linguística ou cultural a favor do AO.

 

Este AO, com os seus acrescentos, não garante a unificação da língua portuguesa, pois além da questão ortográfica teriam de se rever os outros aspetos da gramática. De acordo com o documento, contra o AO que enuncia as razões do referendo, manifesta-se nos documentos de apoio ao cidadão (dicionários, corretores e conversores) um verdadeiro caos ortográfico. Culturalmente, a aplicação do AO afasta a ortografia do Português da ortografia das línguas de matriz greco-latina. Considera, este documento, que o AO prejudica o Património Cultural Imaterial da Língua Portuguesa pela anarquia ortográfica.

 

Em suma, apesar de contestar o AO escrevo de acordo com este, pois como docente o sistema de ensino a isso nos impele. Na verdade, não devemos ser excessivamente pragmáticos nesta problemática, pois a Língua Portuguesa na sua matriz europeia é definidora de uma identidade coletiva do povo português, mesmo nas suas interconexões no espaço da lusofonia que transcende o espaço geográfico da CPLP, como é o caso evidente da Galiza, desta forma esta diversidade no espaço cultural lusófono é enriquecedora e não empobrecedora da nossa língua comum.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

SANTO ANTÓNIO (1191-1231) DE LISBOA OU DE PÁDUA ?

 

A questão com que iniciámos esta crónica é irrelevante, embora paire em boa parte da mentalidade dos portugueses e dos italianos, pois foi um pregador de uma amplitude universalista, como se constata da argumentação que vos apresentamos.

 

É, com efeito, o santo português, de nascimento, com maior relevo, que pertenceu à ordem franciscana, embora tenha estudado em Lisboa e em Coimbra, sendo a sua festa comemorada no período do solistício de verão a 13 de junho em Portugal com festas populares que a cidade de Lisboa celebra com grande júbilo. Nascido em Lisboa em 1191 com o nome de Fernando Martins de Bulhão, só recebe o nome de António quando ingressa na ordem religiosa franciscana.

                                                        

Convém recordar, por isso, que viveu em pleno contexto da reconquista cristã de Portugal. Deste modo, o ambiente de crescimento económico e urbano, que se fazia sentir na Europa, a par das grandes desigualdades sócio-políticas e da atmosfera marcial das Cruzadas fê-lo, certamente, aproximar-se dos ideais de humildade, de pobreza e de evangelização da ordem mendicante franciscana. 

 

A forte formação intelectual, iniciada com os cónegos regrantes de Santo Agostinho, permitiu-lhe profundos conhecimentos de teologia, que o veio a transformar no ano de 1946 em Doutor da Igreja.

 

Assim, a sua Santidade foi-lhe publicamente reconhecida, pois soube compaginar um imenso prestígio popular com base nos seus milagres com uma aprofundada base teológica. Em Roma existe a Igreja de Santo António dos Portugueses, de estilo Barroco (como se observa na terceira fotografia), com dependência eclesiástica do cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

 

Deixou-se inspirar pelos santos mártires de Marrocos e ingressa na ordem franciscana, motivado pelos seus exemplos, numa viagem a este território é apanhado por uma doença súbita que o conduz de novo à Europa, em particular à Itália, tendo-se posteriormente tornado um grande pregador e teólogo.

 

Nesta altura, fazendo um grande périplo de pregação pela Itália e França torna-se um evangelizador de espírito universalista que transcende as fronteiras nacionais. Conta-se que, em Rimini, impedido, de momentaneamente, de pregar se virou para os peixes e é, este episódio, que é recriado pelo Padre António Vieira. Durante a vida teve oportunidade, pelo prestígio alcançado, de publicar os seus sermões, no fim da década de 20 do século XIII, e de continuar a pregar na Europa do Sul contra os hereges, ao mesmo tempo em que ensinava nas escolas conventuais franciscanas de algumas cidades.

 

Dos seus sermões irradia um pensamento eclético, compaginando as bases clássicas gregas com as cristãs com um recurso formal às alegorias que enfatizam os valores éticos da observação da Natureza.  

 

Em 1232, um ano após a sua morte, pelo número de milagres que lhe foram reconhecidos, foi logo canonizado. A cidade de Pádua, onde falece, organiza-lhe imediatamente um solene funeral, erguendo-lhe rapidamente uma basílica para onde vão as suas relíquias.

 

Verificamos que, não obstante, o seu nascimento e crescimento intelectual em Portugal, acaba por falecer em Pádua onde é homenageado, mas a sua ação espiritual-religiosa transcende as fronteiras destas pátrias e a questão com que iniciámos este texto não tem pois qualquer sentido.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

A LUCIDEZ DOS OLIVEIRA MARTINS – DE JOAQUIM PEDRO (1845-1894) A SEU SOBRINHO-BISNETO GUILHERME

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A mundividência de Guilherme d’ Oliveira Martins é tributária do legado cívico-intelectual do seu tio-bisavó, Joaquim Pedro de Oliveira Martins, sobre o qual tem escrito várias obras.  Sobre esta, iniludível, influência haverá oportunidade, neste texto, de nos debruçarmos melhor.

 

Joaquim Pedro de Oliveira Martins, nascido no fim da primeira metade do século XIX, cedo abandonou os estudos por ter ficado órfão de pai, mas porfiou a estudar como autodidacta e adquiriu, nesta sua independência de espírito, forte sentido crítico sobre o ambiente político-social da Regeneração.

 

Afeiçoou-se, concomitantemente, ao ideal de justiça social que indagou nas tendências do republicanismo e do socialismo, o que o fez exacerbar o seu pendor crítico. Formou-se, também, no convívio com outros intelectuais (Antero de Quental, José Fontana, Eça de Queirós, etc), sem deixar de exercer vários ofícios e escrevendo importantes obras humanísticas[1].

 

Designadamente, escreveu obras que se tornaram clássicas, no âmbito da História, como História da Civilização Ibérica, História de Portugal, Os filhos de D. João I, etc, mas foi, essencialmente, como um pensador de sentido cívico, meditando sobre a contemporaneidade, que ganhou prestígio. Não obstante o seu incomensurável espírito criativo, é inegável que foi influenciado no seu pensamento político pelo liberalismo de Alexandre Herculano e pelo socialismo de Proudhon.

 

Joaquim Pedro, nos anos 80 e 90 do século XIX, procurou intervir na vida política, exercendo cargos políticos, mas para a posteridade tornou-se, mormente, um ensaísta de fôlego que viu com grande lucidez a idiossincrasia portuguesa.

 

Por sua vez, Guilherme d’ Oliveira Martins tem exercido vários cargos da administração pública, de docência universitária e políticos, tendo-se revelado independente no seu percurso político por ter sabido mudar de orientação ideológica sempre que tal não correspondia aos seus ideais.

 

Tal como Joaquim Pedro de Oliveira Martins, este seu descendente tem sabido exercer um notável papel de intervenção cultural à frente do Centro Nacional de Cultura e, também, ao patrocinar importantes atividades culturais, além de escrever no Jornal de Letras, na revista Brotéria e noutros periódicos e ter escrito obras fundamentais de atualidade e de cultura histórica numa perspetiva de pensador, aliás como o seu tio-bisavó.

 

Ambos os escritores, de apelido Oliveira Martins, intervieram em períodos de crise (1886-1892 e 1999-2015), mas com propostas de sólida reflexão sabendo ultrapassar os pensamentos imediatistas.

 

Atualmente, Guilherme d’ Oliveira Martins, Presidente do Tribunal de Contas, medita neste ano de 2015 sobre a crise institucional que a União Europeia vive em face da instabilidade do Euro[2]. Diz-nos, com sapiência, que há que encontrar com bom senso um compromisso entre os devedores (gregos) e os credores.

 

Considera que a fragmentação da zona Euro seria globalmente nefasta e que perante esta, presente, conjuntura de insegurança geopolítica do Mediterrâneo e do Médio Oriente a estabilidade da União Europeia é um fator relevante. Na realidade, o próprio Reino Unido, apesar da sua independência monetária, tem o seu mercado financeiro dependente do Euro.

 

Face à problemática europeia, de instabilidade da zona Euro, salienta o autor a necessidade de encontrar novos equilíbrios imprescindíveis para se assumirem soberanias partilhadas e solidárias, havendo necessidade de cumprir prazos e encargos financeiros, desde que sejam realistas e não sufocantes. No lúcido entendimento de Guilherme d’ Oliveira Martins são precisos compromissos para fazer compaginar a coesão e a segurança europeias com uma avaliação rigorosa dos compromissos assumidos.

 

Chama a atenção para a ideia, cada vez mais entranhada nas populações europeias, isto é, de que se torna imperioso conciliar a austeridade com a recuperação económica e o combate às crescentes desigualdades sociais. Na acepção do autor, é fundamental que do ideal da austeridade se passe ao ideal da sobriedade dos recursos. Assim, a mentalidade dos europeus tem de assumir uma atitude de temperança, ao invés de se deixar contaminar pela atitude irracional de idolatria do mercado.

 

Guilherme d’ Oliveira Martins, na senda da Doutrina Social da Igreja, sustenta que o bem comum implica uma gestão eficiente das despesas públicas, mas salvaguardando que os recursos financeiros sejam postos ao serviço da dignidade humana. Deste modo, o almejado desenvolvimento humano só é possível coordenando políticas públicas, redes de serviço público e infraestruturas supranacionais que sejam fatores da renovação económica e financeira. De facto, reconhece que a conjuntura atual precisa de objetivos comuns que contribuam para a justa competitividade internacional e para lutar contra a especulação e a nocividade dos paraísos fiscais.

 

Sublinha que o Papa Francisco fala de uma globalização da indiferença[3] como resultado da ideologia neoliberal, levando muitos cidadãos a acreditarem ingenuamente que os mercados e os poderes económicos se autoregulam. Ao mesmo tempo, a cultura consumista reforçou esta convicção mental dos indivíduos. Alerta para o facto do governo económico da União Europeia e da União Bancária requererem partilha de riscos.

 

Na sua acutilante perceção, a Europa, como instituição supranacional, tem de caminhar para um Estado Federal que assegure competitividade económica e harmonização fiscal. Com efeito, a necessidade de encontrar equilíbrios exige que os devedores (gregos) não fiquem sem saída e, concomitantemente, a justiça impõe uma economia de face mais humana.

 

Em suma, tal como, no século XIX, Joaquim Pedro de Oliveira Martins também Guilherme d’ Oliveira Martins tem sabido meditar, baseado em estudos humanísticos, nas realidades desafiantes do tempo presente, que se afastam dos ideais de justiça social, revelando perceções lúcidas, que fazem falta ser ouvidas nestes frenéticos tempos, que correm em torno das flutuações dos juros e das notícias sencionalistas, fazendo as delícias dos mercados, sedentos da intranquilidade dos cidadãos. Só estas profundas reflexões poderão ancorar os cidadãos em certezas que se firmam em valores perenes e em perspetivar horizontes longínquos para a pátria, a Europa e o mundo.

 

[1] António Pinto Ravara, “Joaquim Pedro de Oliveira Martins”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, vol. 2, Lisboa, Publicações Alfa, 1990, p. 56.

[2] Guilherme d’ Oliveira Martins, “Europa – Mercadores com Veneza em fundo...”, in Brotéria – Cristianismo e Cultura, nº 2, fevereiro de 2015, Lisboa, Brotéria – Ação Cultural e Científica, pp. 113-119.

[3] Papa Francisco, Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2015, pp. 1-3 (edição portuguesa).

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

RECENSÃO CRÍTICA DO LIVRO “MATARAM O SIDÓNIO!” DE FRANCISCO MOITA FLORES

“(...) Contava-se que o encarregado geral do cemitério da Ajuda sepultou, sozinho, mais de cem corpos com as almas devoradas pela epidemia. Os seus subordinados deitados à terra, e os cadáveres cada vez mais pútridos, cada vez mais exangues, esqueletizados, mirrados, amontoavam-se, provocando o regresso da velha vala comum que os cemitérios municipais tinham jurado extinguir em  nome da individualidade e da dignidade de todos os homens. A vala comum regressara ungida pelos demónios que Mouzinho da Silveira e Rodrigo da Fonseca Magalhães julgaram ter vencido setenta anos antes, quando libertaram os mortos das cercas eclesiais. (...)”.

                                                                  Francisco Moita Flores, Mataram o Sidónio!, Alfragide, Ed. Casa das Letras, 2010, p. 14.

 

Mataram o Sidónio! é um extraordinário romance histórico de Francisco Moita Flores, que parte de uma interessante base documental (o Relatório da Autópsia de Sidónio Pais elaborado por Asdrúbal d’ Aguiar, os Arquivos do Instituto de Medicina Legal e as notícias dos jornais da época) para uma original recriação ficcionada, inovadora, do que foi o assassinato do Presidente da República Sidónio Pais, a 14 de dezembro de 1918.

 

Além de nos trazer uma constante dúvida metódica sobre o assassínio de Sidónio Pais, contrariando a versão oficial e aquela que primeiro foi acolhida pela historiografia, consegue transmitir-nos um notável retrato do aflitivo ambiente social e político vivido em Portugal, na transição de 1918 para 1919.

 

De facto, o autor questiona o atual saber historiográfico, contrariando a tese que Sidónio Pais tenha sido morto por José Júlio da Costa, que foi considerado pelos peritos da altura como louco.

 

Na mestria da sua pena de romancista, descreve-nos, com muito realismo, o flagelo público que foi a pandemia gripal “influenza pneumómica”, que em Portugal terá ceifado mais de cem mil pessoas, conseguindo tecer um enredo com bastante suspense policial imbrincado num desenlace amoroso entre o médico legal Asdrúbal d’ Aguiar, o protagonista, e a jovem Ana Rosa.

 

Nesta prosa fluente, o enredo policial e o sentimental cruzam-se, prendendo o leitor pelo “suspense”, pelo elevado sentido de humor e pelos vivos diálogos que se prestam nos livros de Francisco Moita Flores à dramatização na tela cinematográfica.

 

Neste fascisnante romance, durante o desenlace do mistério que rodeou o homicídio de Sidónio Pais, brilhante matemático e controverso político, que o médico legal Asdrúbal d’ Aguiar seguiu de perto, acompanhou-o, concomitantemente, profissional e intimamente o flagelo público conhecido por gripe pneumónica, que dizimou milhares de vidas na cidade de Lisboa e a sua própria esposa, no livro. Também no estrangeiro a sua ação foi fatídica, mas na trama do romance acabou por ceifar a vida de alguns entes queridos do protagonista.

 

Assim, é um romance histórico lindíssimo na tradição de Alexandre Herculano, de quem Francisco Moita Flores esteve bem próximo, simbolicamente, até por ter sido Presidente da Câmara Municipal de Santarém.

 

Esta obra de ficção, alicerçada num aprofundado conhecimento histórico - e não nos esqueçamos da formação humanista do autor -, evidencia-nos que os assassínios políticos até ao “consulado” Sidonista, comuns no conturbado período da 1ª República, eram desvendados através de falsos testemunhos obtidos sob a ação da tortura, e que foi, precisamente e de forma paradoxal, sob a alçada política do Rei-Presidente, como o evocou Fernando Pessoa, que se criaram os Institutos de Medicina Legal de Lisboa, Porto e Coimbra e a Polícia de Investigação Criminal destinada a produzir prova científica dos homicídios.

 

O autor tem já o seu trabalho literário amplamente reconhecido com a tradução de livros em várias línguas, com prémios ganhos e com a conquista do galardão de Grande Oficial da Ordem do Infante, que lhe foi atribuído pela República Portuguesa.

 

Não obstante, este romance constitui uma obra-prima da literatura portuguesa contemporânea do século XXI, apesar do tom excessivamente laicista tão típico de um maçon, como é reconhecidamente Francisco Moita Flores.  

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

O PADRE ANTÓNIO VIEIRA UM PRECURSOR DO ESPÍRITO LUSÓFONO NO SÉCULO XVII

O Padre António Vieira (1608-1697) foi, talvez, o mais remoto fundador do espírito lusófono[1]. Nos seus Sermões, do Maranhão, condenou a escravização dos índios do Brasil, desde 1653, o que contribuiu para potenciar o intercâmbio cultural e social lusófono. Esta denúncia pública, que teve eco nas suas obras publicadas, das discriminações sociais abriu caminho na mentalidade portuguesa para a paulatina aceitação do fenómeno da miscigenação.

 

Convém reter alguns dados biográficos que nos ajudam a compreender o seu espírito lusófono. Nascendo em Lisboa no seio de uma família humilde, teve entre os seus antecedentes uma avó materna mulata e cedo se dirigiu ao Brasil com os seus pais. Na região da Baía formou-se no Colégio dos Jesuítas, sendo ordenado sacerdote em 1635 e passando a exercer o cargo de professor de teologia desde 1638.

 

O momento decisivo da sua vida foi, contudo, a integração na Comitiva oficial que recebeu D. João IV, em 1641, no Brasil. Desde cedo se tornou valido do rei, tendo sido nomeado pregador e confessor régio, ministro sem pasta e diplomata, o que lhe permitiu alcançar a partir desses anos a fama.

 

Quando sucede a mudança de reinado de D. João IV para o seu filho, Afonso VI, após o período de regência de D. Luísa de Gusmão, a sua situação altera-se profundamente. Desta forma, a partir desta altura torna-se perseguido pelo Tribunal do Santo Ofício por proteger os cristãos-novos e os índios das atitudes desprezivas dos católicos e dos colonos[2].

 

Em vida alcança as luzes da ribalta ao publicar os seus Sermões em Portugal e em Roma, tornando-se um expoente da prosa barroca ao estimular a autoestima nacional, bastante rarefeita com o domínio filipino, mediante a energia e o misticismo profético da sua verve galvanizadora. Deste modo, procurou, também, nos seus textos levantar a moral nacional, precisamente no momento em que a incerteza da salvaguarda da independência nacional ainda se mantinha.

 

O Padre António Vieira valendo-se da sua acuidade crítica, além de denunciar os maus tratos que os colonos davam aos índios, soube também fazer eco junto das autoridades das ameaças externas, a que o Brasil esteve sujeito no seu tempo, designadamente do expansionismo holandês que neste século foi capaz de estender as malhas tentaculares do seu império colonial à América do Sul. 

 

Neste contexto de ameaças externas, a que esteve especialmente atento com a sua sensibilidade diplomática, Vieira fundou um pensamento utópico colonial, sendo nesta medida um precursor da utopia lusófona.

 

De facto, pretendeu defender uma vivência colonial que se estribasse na dignidade da pessoa humana, decorrente da sua percepção de uma antropologia cristã, que deveria respeitar os direitos dos índios. De modo que esta percepção evidencia um sentido de alteridade social, que aponta para a faceta universalista do português.

 

Este autor concebe um V Império que será deixado pelos portugueses à Humanidade num futuro moldado pelos parâmetros da cultura portuguesa, pela capacidade lusa de assumir um desígnio universalista e pelo anseio cristão de um mundo onde seja possível compaginar a felicidade pessoal e a harmonia social.

 

Na verdade, esta espiritualidade de Vieira aberta a um universalismo da relação com o outro ser humano de diversos padrões culturais antecipa o sentimento lusófono que se consubstancia nos nossos dias. 

 

Contudo, após o falecimento do rei D. João IV, o Tribunal do Santo Ofício condenou-o ao silêncio devido à aparente heresia das suas visões proféticas carregadas de um sebastianismo, de um futuro V Império e de uma ética refundadora das relações laborais entre colonos e ameríndios brasileiros.

 

Com efeito, o Padre António Vieira transmitiu nos seus textos, como político e pregador, aos seus contemporâneos a vivência brasileira numa refinada prosa de sabor barroco, nomeadamente censurando, como ardente missionário, a forma cruel como os índios eram tratados pelos colonos. Assim, chama a atenção para dois milhões de índios que estavam em péssimas condições laborais, tendo difundido os seus textos impressos em Portugal, que mais tarde chegarão também ao Brasil.

 

[1] Miguel Real retrata a figura do Padre António Vieira num romance fascinante (Miguel Real, O sal da terra, Matosinhos, QuidNovi, 2008, 331 p.).

[2] António Dias Miguel, “Padre António Vieira”, Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, Lisboa, Edições Alfa, 1990, p. 329.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

 

RAMALHO ORTIGÃO E A SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO HISTÓRICO-ARTÍSTICO PORTUGUÊS, NO FIM DO SÉCULO XIX

 

 

“(...) Levaria muito tempo e seria excessivamente triste enumerar todos os atentados de que têm sido e continuam a ser objecto, perante a mais desastrosa indiferença dos poderes constituídos, os monumentos arquitectónicos da nação, os quais assinalam e comemoram os mais grandes feitos da nossa raça, sendo assim por duplo título, já como documento histórico, já como documento artístico, quanto há, sobre a terra em que nascemos, mais delicado e precioso para a honra, para a dignidade, para a glória da nossa pátria. (...)”

                                           José Duarte Ramalho Ortigão, “O culto da arte em Portugal”, in Arte Portuguesa, tomo I,

                                           Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1943, p. 25.

 

José Duarte Ramalho Ortigão (1836-1915) foi professor, funcionário da secretaria da Academia das Ciências de Lisboa, jornalista e escritor português de grande prestígio, tendo-se destacado meritoriamente pela qualidade da sua elaborada prosa satírica de cunho social.

 

Pertenceu ao grupo de intelectuais da Geração de 70 de Oitocentos, no qual assumiu uma intervenção moderada e de bom senso na Questão Coimbrã, pois reagindo à crítica despudorada de Antero de Quental à poesia convencional de António Feliciano de Castilho soube condenar o excesso de agravos do primeiro, embora, ao mesmo tempo, tenha defendido a necessidade da mudança de mentalidade estética dos artistas.

 

A sua póstuma notoriedade anda associada ao facto de ter colaborado com o prodigioso escritor Eça de Queirós, seu antigo aluno, em obras como o folhetim O Mistério da Estrada de Sintra e nas crónicas verrinosas apropriadamente intituladas As Farpas. No entanto, devido à nomeação diplomática do seu amigo continuará sozinho, por bons anos, com este projecto, tendo nesta obra revelado o seu imenso talento de crítica social[i].

 

A sensibilidade humanista foi bastante relevante num dos seus últimos livros intitulado O culto da arte em Portugal (1896) ao manifestar um repúdio público pelo abandono ou a destruição a que estava votada a maioria do conjunto patrimonial histórico-artístico português, sendo esta obra percursora da sensibilidade política de preservação do património histórico-artístico nacional e dos estudos de História da Arte pelas pertinentes pistas de interpretação que semeou.

 

Ele, instigado por um forte sentimento patriótico, procurou chamar a atenção, neste livro, para a escola portuguesa de pintura dos séculos XV e XVI e para a originalidade do estilo arquitectónico Manuelino. Aliás, muitos historiadores da arte, dos nossos dias, receberam ricos ensinamentos das preciosas informações que divulgou, designadamente de autores estrangeiros que cita como James Murphy, Atanásio Raczynski e Karl Albrecht Haupt, atentos estudiosos da arte portuguesa.

 

Ramalho Ortigão salienta que as operações de restauro artístico surgiram como critério revivalista, no século XIX, associadas à reparação ou à reconstrução purista das grandes catedrais góticas da Europa, sendo que o contexto histórico do Romantismo incitou a encontrar as raízes históricas das identidades nacionais e a assegurar a proteção dos grandes monumentos pátrios.

 

No seu arguto espírito crítico, realça-nos escandalizado alguns desses atentados perpetrados pelas autoridades portuguesas ao nosso património histórico-artístico, como no exemplo da seguinte passagem:

 

“(...) Na Madre de Deus, onde aliás o primitivo portal da rainha Leonor foi discretamente reconstituído na moderna fachada do edifício, temos o infortúnio de ir encontrar no consecutivo restauro de uma fábrica do tempo de D. João III novos capitéis de colunas, nos quais em vez da ornamentação vegetal do nosso século XVI se vê reinar nos entablamentos a figuração, absolutamente imprevista e inopinada, de uma locomotiva de caminho de ferro, arrastando fumegante o respectivo comboio, tudo lavrado mui laboriosamente em pedra, e demandando um túnel. Este assombroso fenómeno de patologia arqueológica estou convencido de que dispensa ainda mais do que o caso dos Jerónimos a investigação da autópsia. (...)”.[ii]

 

Deste modo, este autor além de criticar o abandono de alguns monumentos nacionais também censurou alguns restauros anacrónicos, que alguns sofreram. Como foi o caso da Igreja da Madre de Deus em Lisboa, no sobrecitado capitel, ou o caso da Igreja do Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha) em que um restauro absolutamente inepto prejudicou a harmonia estética da escala original da Idade Média.

 

Em exemplo de desleixo, que o nosso acutilante escritor denuncia, aparece precisamente neste último monumento, quando nos diz:

 

“(...) As capelas imperfeitas, incomparável jóia de arquitectura portuguesa mais caracteristicamente regional, acham-se no mesmo abandono em que ficaram em 1843, depois que ele as desinfestou dos parasitas arbustivos e das herbáceas, cujas radículas  se tinham por tal modo multiplicado nos interstícios das cantarias que em muitos pontos houve que desmontar as lájeas para extirpar as ervas e refazer os massames substituídos pelo íntimo vegetal, que inchando por todas as juntas da pedra, ameaçava desarticular e destruir tudo por uma derrocada geral. (...)”[iii].

 

Em conclusão, Ramalho Ortigão considerou que a maioria dos restauros, do património histórico-artístico português, realizados se efectuaram sem planeamento técnico, sem escrutínio crítico e sem orientação política, o que impulsionou a manifestação de atitudes aberrantes por parte das autoridades públicas ou de particulares.

 

Nomeadamente, regista com elevado senso jocoso, mas entristecido, as muitas destruições de monumentos históricos por mera obediência a simples caprichos de poderosos ou dos detentores do poder. Vejamos um exemplo do critério aleatório de  restauro que denuncia:

 

“(...) Em Ponte-do-Lima havia uma ponte, que dava o nome à vila. Esta ponte, em parte romana, em parte gótica, era revestida de ameias e entestada por dois castelos ogivais. A vereação, com o motivo de desafogar a vista sobre as duas margens do rio, manda demolir os castelos e serrar as ameias da aludida ponte. (...)”[iv].

 


[i] Ana Maria Martins, “José Duarte Ramalho Ortigão”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, vol. 2, Lisboa, Publicações Alfa, 1990, pp. 138-139. 

[ii] José Duarte Ramalho Ortigão, “O culto da arte em Portugal”, in Arte Portuguesa, tomo I, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1943, pp. 28-29.

[iii] Ibidem, pp. 57-58.

[iv] Ibidem, p. 67.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

QUADRAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 – EVOCAÇÃO HISTÓRICA

 

No quadragésimo aniversário deste acontecimento capital da História de Portugal e do mundo, do século XX, importa fazer um primeiro balanço reflexivo.

 

Foi o que fiz no estudo histórico “Balanço diacrónico (1974-2014) da revolução de 25 de Abril” na revista Nova Águia[1], em que investiguei o impacto público que o acontecimento teve na sociedade portuguesa ao longo destes quarenta anos. Fui impulsionado por uma perspectiva inédita, a que associei uma interpretação da simbologia revolucionária que paira na mentalidade portuguesa.

 

Para além do que afirmei, nesse estudo, vou agora sintetizar algumas linhas gerais do golpe militar que fundou o regime democrático em que vivemos. É certo que, ainda, existe muita emotividade, na forma de ver este acontecimento, na dialéctica quase de amor-ódio, mas o historiador tem de transpor estas barreiras de vivência e propor reflexões serenas e fundamentadas.

 

A importância deste acontecimento tem tal magnitude, nacional e internacional, que o atual Governo neoliberal que gere o país não teve coragem de terminar com este feriado e criou, mesmo, um site para assinalar esta efeméride. Pois se o fizesse “cairia o Carmo e a Trindade”… Para quem tiver curiosidade, aqui fica a sugestão desse e de outros balanços feitos nessa significativa revista cultural (Nova Águia).

 

O derrube do Estado Novo foi concretizado pelo Movimento das Forças Armadas, constituído maioritariamente por capitães, sob a direção do Posto de Comando do Regimento de Engenharia nº 1, localizado na Pontinha. O início das operações foi sinalizado por duas canções que se tornaram emblemáticas “E depois do Adeus” e “Grândola Vila Morena”.

 

A coluna militar de Salgueiro Maia, saída da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, chegou a Lisboa na madrugada de 25 de Abril de 1974 e ocupou o Terreiro do Paço e cercou vários ministérios, aí instalados, e mais tarde cercou o Quartel do Carmo onde se tinha refugiado Marcello Caetano e alguns outros membros do Governo da ditadura do Estado Novo.

 

No Terreiro do Paço viveram-se alguns momentos de grande tensão emocional com episódios de grande crispação entre as forças fiéis ao regime e as forças revoltosas, designadamente na Rua Ribeira das Naus e na Rua do Arsenal. Na primeira rua viveu-se um momento de êxtase heróico de Salgueiro Maia, tão bem reconstituído historicamente pelo filme “A hora da Liberdade”, realizado por Joana Fontes, resultado de um aprofundado trabalho de pesquisa dos factos históricos.

 

A coluna militar de Salgueiro Maia foi entusiasticamente saudada pela população que acompanhou as movimentações militares. Foi junto da sede da PIDE/DGS que se registaram os maiores desaires quando por duas vezes os funcionários da antiga polícia política dispararam sobre a multidão provocando cinco mortos e dezenas de feridos.

 

Aliás, este trágico acontecimento dentro do aguardado golpe de estado, neste caso de feição militar, esteve assinalado durante anos numa placa evocativa destas vítimas, mas infelizmente alguém atentou contra a memória colectiva retirando essa placa evocativa colocada na Rua António Maria Cardoso.

 

Da parte da tarde, do dia 25 de Abril de 1974, o capitão Salgueiro Maia mandou atirar com a artilharia sobre a frontaria do Quartel do Carmo, o que fez compreender a Marcello Caetano que já não tinha apoios suficientes e aceitou, então, entregar-se ao general António de Spínola.

 

Este golpe militar assumiu uma repercussão internacional pela forma não violenta como foram conduzidas as operações militares e pela influência internacional que teve no “dominó político” que pôs fim a alguns autoritarismos no mundo, a saber na Grécia, em Espanha, na Rodésia e na África do Sul.

 


[1] Nuno Sotto Mayor Ferrão, “Balanço diacrónico (1974-2014) da revolução de 25 de Abril”, in Nova Águia, nº 13, 1º semestre de 2014, Sintra, Editora Zéfiro, pp. 57-63.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

BIBLIOGRAFIA ATUALIZADA DE NUNO SOTTO MAYOR FERRÃO – CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS DO AUTOR

 


Bibliografia de Nuno Sotto Mayor Ferrão

*Nuno Sotto Mayor Ferrão, O pensamento colonial de Sarmento Rodrigues enquanto Ministro do Ultramar (1950-1955), Dissertação de Mestrado em História Contemporânea, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1997, 233 p.

 

*Idem, Aspectos da vida e obra do Almirante Sarmento Rodrigues (1899-1979)", Mirandela, Edição Câmara Municipal de Freixo de Espada-à-Cinta, 1999, 293 p.

 

*Idem, "Leonardo Coimbra, a revista 'A Águia' e o panorama cultural contemporâneo", in Nova Águia - Revista de Cultura para o Século XXI, nº 5 - 1º semestre de 2010, Sintra, Editora Zéfiro, pp. 34-36.

 

*Idem, "Alexandre Herculano, aspectos da vida e obra e sua ascendência ideológica sobre o Republicanismo", in Sintra, Zéfiro Editora, Nova Águia - Revista de Cultura para o Século XXI , nº 6 - 2º semestre de 2010, pp. 130-135.

 

*Idem, "Fernando Pessoa: o sentimento lusófono na sua obra", inNova Águia - Revista de Cultura para o Século XXI, nº7, 1º semestre de 2011, Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 34-38.

 

*Idem, “A dinâmica histórica do conceito de Lusofonia (1653-2011)” in Nova Águia - Revista de Cultura para o Século XXI, nº 8, 2º semestre de 2011Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 204-208.

 

*Idem, “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, Janeiro de 2012, pp. 47-51.

 

*Idem, “A Renascença Portuguesa e o percurso político e historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 9, 1º semestre de 2012, Sintra, Zéfiro Editora, 2012, pp. 138-144.

 

*Idem, “A poesia portuguesa: o mar e a lusofonia”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 23-24.

 

*Idem, “As linhas de força do pensamento historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 130-135.

 

*Idem, “António José Saraiva como cidadão e historiador: nos 20 anos da sua morte”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 153-159 (no prelo).

 

*Idem, “Nos 80 anos do historiador José Mattoso: a sua viva lição de sabedoria”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 162-163 (no prelo).

 

Citações bibliográficas do autor

 

» Clio: revista do Centro de História da Universidade de Lisboa, “Resumo das Teses de Mestrado em Letras (História)”, Lisboa, 1996, p. 168

 

» Joaquim Veríssimo Serrão, “Do berço humilde em Freixo à imortalidade da História”, Almirante Sarmento Rodrigues, 1899-1979: testemunhos e inéditos no centenário do seu nascimento, Academia de Marinha e Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Lisboa, 1999, p. 163.

 

» Cadernos de Estudos Africanos – Memórias Coloniais, Lisboa, Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2006, p. 150.

 

» Cultura: Revista de História e da Teoria das Ideias, Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, vol. 25, 2008, p. 44.

 

» Ana Reis e João Garrinhas, “2 anos sob tutela autárquica”, in Profforma (Revista do Centro de Formação de Professores do Nordeste Alentejano), nº 2, março de 2011, pp. 1-7.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

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