Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Links

www.mil-hafre.blogspot.com

www.cortex-frontal.blogspot.com

www.duas-ou-tres.blogspot.com

www.novaaguia.blogspot.com

www.bichos-carpinteiros.blogspot.com

www.fjv-cronicas.blogspot.com

www.sorumbatico.blogspot.com

www.almocrevedaspetas.blogspot.com

www.ladroesdebicicletas.blogspot.com

Perfil Blogger Nuno Sotto Mayor Ferrão

www.centenario-republica.blogspot.com

Centenário da República

Ericeira

Origem das espécies de Francisco José Viegas

Almanaque Republicano

Fundação Calouste Gulbenkian

Centro Cultural de Belém

Blogue Biblioteca Escolar - Agrupamento Damiao de Góis

Biblioteca Nacional

Fundação Mário Soares

Arrastão

Centro Nacional de Cultura

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Academia das Ciências de Lisboa

Cinemateca de Lisboa

Ministério da Cultura

Restaurante - Lisboa

Turismo Rural

Museu da Presidência da República

Site Divulgar blog

Memória Histórica do Holocausto

Dados estatísticos nacionais

Blogue Helena Sacadura Cabral

Comunicação Social da Igreja Católica

Economia e História Económica

Blogue - Ana Paula Fitas

Sociedade Histórica da Independência de Portugal

Literatura - infantil e/ou poética

Biblioteca e Arquivo José Pacheco Pereira

José Saramago - Fundação

Escritora Teolinda Gersão

Escritor António Lobo Antunes

Comemoração do Centenário da República

Museu Nacional de Arte Antiga

Museu do Louvre - Paris

www.industrias-culturais.blogspot.com

Artes Plásticas e Poesia - blogue

Albergue Espanhol - blogue

Actualidades de História

Arte Contemporânea - Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva

Literatura - edições antigas

Carta a Garcia - blogue

Blogue da Biblioteca do ISCTE

Crónicas do Rochedo

Lusitaine - blogue

Leituras - livros e pinturas

História do século XX - site espanhol

Associação Cultural Coração em Malaca

Objectiva Editora

Lista de Prémios Nobéis

Perspectivas luso-brasileiras

Análise política - blogue

Arte e Cultura no Brasil

Exposição Viva a República

Revisitar Guerra Junqueiro

História da Guerra Colonial

Prémio Nobel da Literatura 2010

Sociedade de Geografia de Lisboa

Academia Portuguesa da História

Associação 25 de Abril - Centro de Documentação

Casa Fernando Pessoa - Lisboa

Associação Agostinho da Silva

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Aministia Internacional

UNESCO

Blogue de Estudos Lusófonos da U. Sorbonne

Entre as brumas da memória - blogue

Comunicação Social - Nacional e Estrangeira

Acordo Ortográfico - Portal da Língua Portuguesa

Países Lusófonos

Margens de erro - blogue

Museu do Oriente

Fotografias Estéticas de Monumentos do Mundo

Monumentos Classificados de Portugal

Mapas da História do Mundo

Informações sobre a União Europeia

Biblioteca Digital do Alentejo

Instituto Nacional de Estatística

Vidas Lusófonas da autoria de Fernando da Silva

Programa televisivo de Cultura

Quintus - Blogue

Fundo bibliográfico dos Palop

Instituto Camões

Museu do Fado

Livraria Histórica e Ultramarina - Lisboa

Reportório Português de Ciência Política - Adelino Maltez

Acordo português com a troika - Memorando de entendimento

Programa do XIX Governo Constitucional da República Portuguesa

Real Gabinete Português de Leitura (Rio de Janeiro)

Bibliografia sobre a Filosofia Portuguesa

Fundação Serralves - Arte Contemporânea

Casa da Música

Portal da Língua Portuguesa

Canal do Movimento Internacional Lusófono

Escritas criativas

Círculo Cultural António Telmo

Revista BROTÉRIA

Desporto e qualidade de vida

Turismo Rural

Município de Ponte de Lima

+ Democracia

I Congresso da Cidadania Lusófona

Organização - I Congresso da Cidadania Lusófona 2,3 abril 2013

Grémio Literário - Lisboa

SP20 Advogados

Zéfiro

Divina Comédia Editores

Hemeroteca Digital de Lisboa

National Geographic

Sintra - Património Mundial da Humanidade

Sinais da Escrita

Classical Music Blog

Open Culture

António Telmo – Vida e Obra

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

British Museum

Université Sorbonne

Museu Guggenheim - Veneza

Universidade de Évora

Biblioteca Digital

Universidade Católica Portuguesa

Biblioteca do Congresso dos EUA

Biblioteca de Alexandria – Egito

Oração e Cristianismo

Notícias e opiniões

CENTENÁRIO DA CRIAÇÃO DO “DIÁRIO DE LISBOA” (1921-2021): O  PERIÓDICO LISBOETA COMO FAROL DA LIBERDADE DE IMPRENSA

Diário de Lisboa -1921.jpgDiário de Lisboa caricatura João Abel Manta.jpg

28-diario-de-lisboa-abel-manta-3-maio-1974.jpg

O Diário de Lisboa foi um jornal de referência da imprensa portuguesa do século XX. Colaboraram nele muitos jornalistas, que vieram a ter grande reconhecimento e ilustres figuras da cultura portuguesa, tendo perdurado de 7 de abril de 1921 a 30 de novembro de 1990.

 

Foi um jornal diário vespertino e o primeiro a ser criado em Portugal, ao tempo da 1ª República, pelo banqueiro António Vieira Pinto, que inicialmente foi dirigido por Joaquim Manso. Nos anos finais da 1ª República foi alvo de alguns mecanismos de censura, como aconteceu em alguns dias de abril de 1925 quando não lhe foi permitido vir a público.

 

O jornal assumiu uma resistência subliminar ao Estado Novo, com muitas mensagens simbólicas nas entrelinhas de textos ficcionais e de notícias, no tempo da censura prévia. Esta oposição sub-reptícia a este regime autoritário efectuou-se, sobretudo, a seguir à 2ª Guerra Mundial e no período do Marcelismo, na altura em que se ansiava mais pela democratização do país.

 

Viveu, por isso, vários ciclos no decurso da sua existência ao longo de 70 anos, de 1921 a 1990, evocando-se, neste ano de 2021, o Centenário da sua criação com a realização de um Colóquio “São Mesmo as Últimas”: Diário de Lisboa, 1921-1990 organizado pela FCSH-UNL, a Hemeroteca Municipal de Lisboa e a Fundação Mário Soares – Maria Barroso, no fim deste ano.  De meados dos anos 50 a 1990, foi dirigido por Norberto Lopes, António Ruella Ramos e Mário Mesquita. A redação do jornal esteve situada na Rua Luz Soriano, sendo propriedade da Renascença Gráfica.

 

Contaram-se, entre os seus colaboradores, eminentes jornalistas e intelectuais como Artur Portela, Carlos Ferrão, Artur Portela Filho, Fernando Pessoa, João de Barros, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, António Sérgio, José Régio, Fernanda de Castro, Ferreira de Castro, António Botto, Mário Dionísio, Alexandre O’Neill, Norberto Lopes, João César Monteiro, Fernando Assis Pacheco, António Lopes Ribeiro, José Carlos de Vasconcelos, Joaquim Letria, Vasco Pulido Valente, Marina Tavares Dias, Urbano Tavares Rodrigues, Luís Sttau Monteiro, José Saramago, José Cardoso Pires, José Jorge Letria, Orlando Dias Agudo, Mário Zambujal, Fernanda Mestrinho, Maria Judite de Carvalho, José Freire Antunes, Fernando Dacosta, Lauro António, Eduardo Prado Coelho, entre muitas outras personalidades de reconhecido mérito intelectual.

 

Aliás, a grande proximidade com o meio cultural erudito da capital do país tornou-o num dos jornais preferidos da classe média com estudos, levando-o a assumir tiragens de cinquenta mil exemplares diários na década de 1950[1]

 

Um dos aspectos mais chamativos deste periódico eram as caricaturas e os cartoons de um humor verrinoso de criadores como Jorge Barradas, Stuart Carvalhais, Almada Negreiros, Carlos Botelho e João Abel Manta. O jornal, que perpassou 7 décadas do século XX e 3 regimes políticos portugueses (a 1ª República, o Estado Novo e a Democracia Atual), constitui uma fonte inesgotável para a História Contemporânea, tanto mais que, na época coeva, a narrativa historiográfica tem de passar por um registo exaustivo de sequências cronológicas, e os periódicos como este servem este intuito na perfeição. Com um retrato vivo do golpe de estado de 25 de abril de 1974 expressou o entusiasmo popular, que se plasmou na população portuguesa.

 

Analisemos um exemplo de uma notícia relevante deste jornal. A seguir à revolução de outubro de 1917, houve na Rússia uma guerra civil (1918-1921) entre o “Exército Branco”, formado por elementos da burguesia e da nobreza apoiado pelos países ocidentais, e o “Exército Vermelho”, da parte dos apoiantes do regime comunista. A guerra civil levou à execução do czar e da sua família, à morte de milhares de russos e ao agravar da crise económica, tendo triunfado o regime bolchevique.

 

Lenine, irritado com a oposição durante a guerra civil, fortaleceu as medidas radicais: nacionalizou as empresas, a banca e o comércio externo; requisitou as colheitas agrícolas; criou o partido único – partido bolchevique; criou a polícia política (Tcheca) e a censura, perseguindo e matando milhares de opositores. A guerra civil e as medidas do comunismo de guerra pioraram a crise económica do país.

 

Perante este contexto externo, numa notícia do Diário de Lisboa publicada a 15 de abril de 1921 com o título “Quem diz a verdade? O que se passa na Rússia Sovietista”, presta-se o testemunho da precariedade do regime soviético. Assim, a propósito de uma intervenção de um político espanhol no Congresso Socialista para decidir da adesão do Partido Socialista Espanhol à 3ª Internacional, Fernando de los Rios procedeu a uma análise lúcida e acutilante do regime comunista russo.

 

De los Rios elencou os meios repressivos empregues no regime russo e a precária situação sócio-económica caraterizada por uma impossibilidade de liberdade de pensamento; uma dificuldade de se mudar de profissão; uma insuficiência de alimentos necessários à sobrevivência humana da população russa; uma inexistência de liberdade comercial, levando ao surgimento de mercados clandestinos; uma penúria sócioeconómica da burguesia e do proletariado; uma proibição do exercício da greve; uma possibilidade por superior ordem política dos horários laborais excederem as 8 horas diárias; uma distribuição de víveres básicos muito mal cozinhados junto das camadas populares. Pelo que este reputado ideólogo socialista espanhol considerou que a Rússia dos Sovietes, pelo seu totalitarismo, sufocava a liberdade humana.

 

Esta notícia do Diário de Lisboa, publicada no contexto subsequente à criação Partido Comunista Português, em março de 1921, realça a seguinte mensagem de Fernando de los Rios, que carateriza o tom repressivo do regime bolchevique, colocando de sobreaviso os portugueses recentemente convertidos ao ideário comunista: “(...) D. Fernando de los Rios, delegado socialista à Rússia, fez na primeira sessão desse congresso declarações que deviam fazer reflectir o operariado, ansioso de proclamar no mundo inteiro o estado em que se encontra a Rússia. (...) É Fernando de los Rios, o delegado socialista, que conta o que viu e define a situação da Rússia dizendo: “Viver na Rússia é viver n’um presídio.(...)[2].

_______________________________

[1] Álvaro Costa de Matos, “No centenário da fundação do Diário de Lisboa (1921-2021): história & memória”, in Público, 18 de abril de 2021.  (consultado a 11 de setembrode 2021).

[2] “Quem diz a verdade? O que se passa na Rússia Sovietista”,  in Diário de Lisboa, sexta-feira, 15 de abril de 1921, nº 8, p. 7 – disponível no fundo da Casa Comum. 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

A CONSCIÊNCIA MORAL E O CULTO DAS VIRTUDES – DA “GAUDIUM ET SPES” À “FRATELLI TUTTI” (1965-2020)

Giotto7 virtudes.jpg

Gaudium Et Spes livro.pngFrateli tutti.jpg

A consciência moral, defendida pela Igreja Católica, implica o ajuizamento pessoal na vida quotidiana da prática do bem e do impedimento do mal. Para se evitar juízos erróneos é importante a educação cristã para o bem, a assimilação das mensagens evangélicas e dos ensinamentos da Igreja Católica, vulgarmente conhecida por catequese. Também auxiliam bastante a formação da consciência moral: a oração, o exame interno de consciência, a confiança na intercessão do Espírito Santo, o conselho de pessoas sábias e um coração compadecido com o sofrimento dos outros seres humanos e animais.

 

No documento pastoral Gaudium et Spes[1] do Concílio Vaticano II, de 7 de dezembro de 1965, valoriza-se uma consciência cristológica, que deve ser amadurecida para que o Homem possa moldar a sua vida e os seus comportamentos por essas “leis interiores” e não por “leis exteriores”[2]. A Igreja Católica deixou, desde os finais dos anos 60, de ser diretiva e passou a conceder autonomia ao Homem para descobrir o mundo e se descobrir como pessoa, no respeito pelos valores cristãos do Evangelho.

 

De facto, esta nova teologia moral, ajustada ao cidadão urbano, singrou na reunião conciliar, em função da rutura que os padres conseguiram operar na Igreja Católica, perante as grandes transformações do mundo contemporâneo – aggiornamento. Assim, o magistério da Igreja deixou de depender do padrão autoritário e passou a sustentar o magistério da persuasão, deixando espaço para o homem se descobrir como pessoa, no respeito pelos valores cristãos do Evangelho.

 

Uma investigadora portuguesa salienta-nos este aspeto: “(...) O número quarenta e seis da ‘Gaudiumet Spes’ afirma que a solução dos problemas morais deve ser procurado à luz do Evangelho e da experiência humana.(...) A moral do Vaticano II é a do homem sacramentalmente transformado em Cristo e inserido na Igreja. Isto leva a que se dê um espaço e um papel ativo a todos, à sua responsabilidade e à reciprocidade das consciências (...) Esta perspetiva é reforçada na ‘Gaudium et Spes’; é o Espírito Santo quem permite realizar a leitura da realidade, de modo a ser capaz de fazer emergir os sinais da presença de Deus na história, para se chegar a soluções plenamente humanas. (...)”[3].  

 

Aliás, Aristóteles, no século IV a. C., definiu um caminho ético para a vida dos seus concidadãos na sua obra Ética a Nicómaco[4]. Considerou o filósofo que a felicidade só podia ser alcançada através de uma vida virtuosa e não através da fruição dos prazeres, das riquezas e das honras. A prática da virtude seria atingida através do exercício continuado da prudência dos indivíduos. 

 

Para o Homem contemporâneo enfrentar a crise de valores necessita ancorar-se nas virtudes clássicas, quer tealogais, quer cardeais. Nas virtudes tealogais, destacam-se a Fé nos processos transcendentes de diálogo com Deus; a Esperança num futuro melhor terreno e celeste e a Caridade na propensão para a ajuda aos seres humanos mais próximos.

 

As virtudes cardeais como a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança são essenciais aos comportamentos cívicos. A prudência manifesta-se na razão para entender a forma cautelosa de atingir o bem; a fortaleza para se permanecer firme nas dificuldades, naquilo que hoje é conhecido por resiliência (particularmente importante nesta fase de enfrentamento da pandemia de COVID-19) e persistência; a justiça como vontade de dar aos outros homens o que lhes é devido; a temperança que modera os prazeres e os instintos para garantir a expressão da vontade moral.

 

Com efeito, só o cultivo das virtudes tealogais e cardeais permitirá ao Homem enfrentar a crise de valores marcada pelo relativismo, pelo individualismo, pelo egoísmo, pelo hedonismo, pelo materialismo, pelo secularismo, pelo indiferentismo, pela violência gratuita que se afiguram como vícios perniciosos da contemporaneidade, dado que estão, desde o século XIX, a corroer a coesão das sociedades ocidentais. Apenas pela prática destas virtudes tealogais e cardeais será possível vencer esses vícios ominosos, bem como pela abertura ao outro e ao seu bem mediante o amor fraterno, de que o Papa Francisco nos procura interpelar, através da sua última Carta Encíclica “Fratelli Tutti”[5].

 

Oiçamos as palavras avisadas do Papa Francisco nesta Encíclica: “(...) é buscar aquilo que vale mais, o melhor para os outros: o seu amadurecimento, o seu crescimento numa vida saudável, o cultivo dos valores e não só o bem-estar material. No latim, há um termo semelhante: bene-volentia, isto é, a atitude de querer o bem do outro. É um forte desejo do bem, uma inclinação para tudo o que seja bom e exímio, que impele a encher a vida dos outros com coisas belas, sublimes, edificantes. (…) volto a destacar que «vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses».[86] Voltemos a promover o bem, para nós mesmos e para toda a humanidade, e assim caminharemos juntos para um crescimento genuíno e integral. Cada sociedade precisa de garantir a transmissão dos valores (...)[6]

 

Estas orientações morais são extremamente importantes, para enfrentarmos os desafios deste mundo sem bússola ética[7], retomando o título de um artigo de Adriano Moreira. Na verdade, o mundo tem vivido um abismo ético, entre 1965 e 2020. Entre 1965 e 1991, manifestou-se uma fase da guerra ideológica conhecida por guerra fria, entre o bloco capitalista e o comunista, num enfrentamento que via o adversário como a figuração do mal.

 

A globalização capitalista, vitoriosa no fim do século XX, conduziu à separação entre a economia e as finanças, potenciando a corrupção com o mercado de capitais a recorrerem frequentemente aos paraísos fiscais, fugindo à tributação legal dos Estados, fazendo aumentar as desigualdades sociais entre países e no seio destes. O terrorismo global espraiou-se pela Civilização Ocidental, desde o atentado de 11 de setembro de 2001. Nos tempos mais recentes emergiu a malévola guerra comercial EUA-China, que o presidente Donald Trump acicatou.

 

A segunda década do século XXI tem sido caraterizada pela decadência das democracias ocidentais motivada pelos partidos populistas, como o Vox em Espanha ou o Chega em Portugal, e pelas fake news de que os EUA têm sido muito férteis nos últimos tempos. Estes movimentos contra os sistemas vigentes estão a crescer, devido à grande iletracia política e cívica dos cidadãos. Por outro lado, esta conjuntura sem norte ético está marcada pela emergência de novos nacionalismos, com as políticas proteccionistas de Donald Trump e de Boris Jonhson e pelas pretensões independentistas da Catalunha e da Escócia.

 

O desrespeito humano, mediante um processo de desenvolvimento não sustentável das sociedades urbanas e industrializadas, pela natureza-mãe tem originado um crescimento veloz das alterações climáticas e potenciado os fenómenos extremos de secas, de intempéries, de furacões, que assolam a nossa casa comum, planeta único em que vivemos. Concomitantemente, por falta de uma consciência moral generalizada tem-se verificado uma persistência na violação dos Direitos Humanos, em várias partes do mundo. Perante estas inúmeras dificuldades éticas do nosso mundo, importava reforçar o papel interventivo da Organização das Nações Unidas, mas infelizmente os egoísmos nacionalistas estão a barrar os esforços dos últimos Secretários-Gerais desta organização supranacional.

 

Em suma, em 2020, o mundo confrontou-se com uma grave pandemia – designada COVID-19 -, em que não se conhecem ainda as verdadeiras razões do seu início e a autêntica responsabilidade humana, mas a destruição de muitos ecossistemas e a extinção de muitas espécies animais e vegetais constituem um mau prenúncio para as próximas décadas, caso não se arrepie caminho para evitar a catastrófe global sem retorno. Daí a necessidade de educar para comportamentos cívicos, mediante a formação de consciências morais, que acautelem a prática de uma cidadania das virtudes para o bem-estar de todos, a harmonia geral, a paz social e para a derrota dos populismos, dos negacionismos e dos egoísmos atrozes.

__________________________

[1]http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html

[2] Maria das Dores de Brito Rodrigues, “A teologia moral no Concílio Vaticano II”, in Justa Autonomia – A modernidade da Constituição pastoral 'Gaudium et Spes”, Dissertação para a obtenção do grau de Mestre, Lisboa, Faculdade de Teologia da Universidade Católica, 2003, pp. 104-112.

[3] Ibidem, pp.106-108.

[4]Aristóteles, Ética a Nicómaco, Lisboa, Quetzal Editores, 2004, 283 p.

[5]http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html

[6]Ibidem, pontos 112 e 113.

[7] Adriano Moreira,”Sem bússola”, Nova Águia, nº26, 2º semestre de 2020, pp. 93-94.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E A VIDA NO PLANETA TERRA – URGÊNCIAS AMBIENTAIS

Guterres Time.jpgalterações climáticas.jpg

Mocambique idai.jpg

As alterações climáticas caracaterizam-se pela mudança radical dos padrões metereológicos, num tempo longo. Ora, estas alterações têm-se verificado nas últimas décadas, designadamente com o aquecimento global do planeta. O clima define o padrão médio metereológico numa região, num período estenso.

 

Tomando como exemplo a cidade de Lisboa onde existia um clima temperado atlântico, será que, perante estas alterações, os climas identificados pelos geográfos ainda se mantêm válidos? Este fim da primavera e início de verão, em Portugal, tem sido atípico, pois  verifica-se um tempo mais fresco do que é comum, tendo muitos dos portugueses, que usufruíram férias balneares em junho de 2019, sido prejudicados com as temperaturas mais baixas para esta época.

 

Com as atuais alterações climáticas estão a verificar-se, com mais frequência, fenómenos extremos em Portugal, no mundo lusófono e no planeta, designadamente com cheias terríveis, secas preocupantes, incêndios de grandes dimensões, quedas abruptas de granizo, manifestação de tornados e de furacões de efeitos catastróficos. Temos, ainda, bem presente os dramáticos ciclones de Moçambique, neste ano de 2019, em´particular o mais trágico intitulado “Idai”.

 

A caraterística básica das alterações climáticas traduz-se no aquecimento global do planeta, nas últimas décadas, manifestando-se vários efeitos indesejáveis como a subida do nível médio das águas do mar (recentemente o Secretário Geral das Nações Unidas apareceu simbolicamente, na capa da revista Time, com as pernas dentro de água); o aquecimento da atmosfera e dos oceanos; a diminuição das quantidades de neve, de gelo e reduções drásticas dos glaciares e a concentração de gases com efeito de estufa a aumentarem perigosamente na atmosfera.

 

Também, num recente relatório das Nações Unidas de Philip Alston apresentado ao Conselho dos Direitos Humanos, fala-se de um “apartheid climático”, pois com as alterações climáticas as populações mais pobres dos países ricos e as populações dos países mais pobres vão sofrer um impacto muito maior sobre as suas vidas em função destas alterações[1].

 

O efeito de estufa é imprescindível à sobrevivência da maioria das espécies pelo efeito amenizador das temperaturas, mas os gases em excesso produzidos pelo homem têm provocado um aumento inusitado dos gases da atmosfera, resultante da desmesurada utilização de combustíveis fósseis em veículos, nas fábricas e nas centrais elétricas.

 

Destes gases nocivos, destaca-se o incremento do dióxido de carbono, a par de outros gases e da grande desflorestação mundial, de que a Amazónia é um triste exemplo, pois com menos árvores no planeta a absorção de dióxido de carbono é bastante menor.

 

Desde meados do século XX com o incremento da industrialização e da vida urbana, o nosso ecossistema está a ficar mais desequilibrado, em função do aumento dos gases com efeito de estufa provenientes das atividades humanas. Esta problemática é de tal forma relevante que o Papa Francisco, em 2015, já dedicou uma encíclica ao tema ambiental, intitulada Laudato Si’[2].

 

Para estancar esta hemorragia vital do planeta, é fundamental reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, tornando os automóveis menos poluentes, com a opção pelos carros elétricos, e as fábricas menos emissoras de fumos. Se a humanidade, com a ajuda de alguns líderes mundiais como António Guterres, tem alertado o mundo e não conseguir estancar esta hemorragia ambiental, poderão manifestar-se consequências catastróficas de elevado calibre para a vida humana, animal e vegetal do planeta. Infelizmente, alguns líderes como Donald Trump e Jair Bolsonaro estão a menorizar estas problemáticas das alterações climáticas.

 

Além das manifestações já antes assinaladas, serão consequências prováveis que alguns rios e lagos acabem por secar; que o número de secas aumente, prejudicando, mormente, a Europa Mediterrânica; que as reservas de água potável diminuam, prejudicando o consumo, a higiene e a produção agrícola; que muitas espécias animais e vegetais se extingam, lesando a harmonia dos ecossistemas.

 

Ao longo do século XX e nos anos iniciais do XXI, o ritmo das alterações climáticas cresceu fortemente. São cada vez mais frequentes as ondas de calor e os fenómenos de seca, que afectam, sobretudo, o sul de Portugal. A temperatura, no século passado no mundo, aumentou quase 1 grau celsius, enquanto que a previsão para este século é de um crescimento entre 2 e 4 a 6 graus celsius, tornando a vida, em muitos climas temperados ou quentes, menos aprazível ou, mesmo, quase insuportável.

 

Importa que os políticos possam agir e que os cidadãos actuem no seu quotidiano, optando por eliminar, progressivamente, o uso de combustíveis fósseis, por preferir energias renováveis e por procurar poupar energia e programar formas de garantir a eficiência energética. As manifestações juvenis de luta contra as alterações climáticas estão na ordem do dia, de forma que o Secretário Geral da ONU disse, em junho de 2019, que, face à falência das lideranças mundiais, os jovens vão passar a liderar os programas de combate às alterações climáticas.

 

O objetivo, nos acordos climáticos de Paris, é de limitar o aumento da temperatura do planeta em 2º celsius, mas para isso será necessário diminuir globalmente 45% das emissões de dióxido de carbono até 2030, o que não será fácil sem uma cidadania e uma governança globais.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

__________________

[1] Susana Peralta, “Apartheid climático: os pobres que paguem a crise (climática)”, Público, nº10658, 28 de junho de 2019, p.8.

[2] Encíclica Laudato Si

 

 

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Links

www.mil-hafre.blogspot.com

www.cortex-frontal.blogspot.com

www.duas-ou-tres.blogspot.com

www.novaaguia.blogspot.com

www.bichos-carpinteiros.blogspot.com

www.fjv-cronicas.blogspot.com

www.sorumbatico.blogspot.com

www.almocrevedaspetas.blogspot.com

www.ladroesdebicicletas.blogspot.com

Perfil Blogger Nuno Sotto Mayor Ferrão

www.centenario-republica.blogspot.com

Centenário da República

Ericeira

Origem das espécies de Francisco José Viegas

Almanaque Republicano

Fundação Calouste Gulbenkian

Centro Cultural de Belém

Blogue Biblioteca Escolar - Agrupamento Damiao de Góis

Biblioteca Nacional

Fundação Mário Soares

Arrastão

Centro Nacional de Cultura

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Academia das Ciências de Lisboa

Cinemateca de Lisboa

Ministério da Cultura

Restaurante - Lisboa

Turismo Rural

Museu da Presidência da República

Site Divulgar blog

Memória Histórica do Holocausto

Dados estatísticos nacionais

Blogue Helena Sacadura Cabral

Comunicação Social da Igreja Católica

Economia e História Económica

Blogue - Ana Paula Fitas

Sociedade Histórica da Independência de Portugal

Literatura - infantil e/ou poética

Biblioteca e Arquivo José Pacheco Pereira

José Saramago - Fundação

Escritora Teolinda Gersão

Escritor António Lobo Antunes

Comemoração do Centenário da República

Museu Nacional de Arte Antiga

Museu do Louvre - Paris

www.industrias-culturais.blogspot.com

Artes Plásticas e Poesia - blogue

Albergue Espanhol - blogue

Actualidades de História

Arte Contemporânea - Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva

Literatura - edições antigas

Carta a Garcia - blogue

Blogue da Biblioteca do ISCTE

Crónicas do Rochedo

Lusitaine - blogue

Leituras - livros e pinturas

História do século XX - site espanhol

Associação Cultural Coração em Malaca

Objectiva Editora

Lista de Prémios Nobéis

Perspectivas luso-brasileiras

Análise política - blogue

Arte e Cultura no Brasil

Exposição Viva a República

Revisitar Guerra Junqueiro

História da Guerra Colonial

Prémio Nobel da Literatura 2010

Sociedade de Geografia de Lisboa

Academia Portuguesa da História

Associação 25 de Abril - Centro de Documentação

Casa Fernando Pessoa - Lisboa

Associação Agostinho da Silva

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Aministia Internacional

UNESCO

Blogue de Estudos Lusófonos da U. Sorbonne

Entre as brumas da memória - blogue

Comunicação Social - Nacional e Estrangeira

Acordo Ortográfico - Portal da Língua Portuguesa

Países Lusófonos

Margens de erro - blogue

Museu do Oriente

Fotografias Estéticas de Monumentos do Mundo

Monumentos Classificados de Portugal

Mapas da História do Mundo

Informações sobre a União Europeia

Biblioteca Digital do Alentejo

Instituto Nacional de Estatística

Vidas Lusófonas da autoria de Fernando da Silva

Programa televisivo de Cultura

Quintus - Blogue

Fundo bibliográfico dos Palop

Instituto Camões

Museu do Fado

Livraria Histórica e Ultramarina - Lisboa

Reportório Português de Ciência Política - Adelino Maltez

Acordo português com a troika - Memorando de entendimento

Programa do XIX Governo Constitucional da República Portuguesa

Real Gabinete Português de Leitura (Rio de Janeiro)

Bibliografia sobre a Filosofia Portuguesa

Fundação Serralves - Arte Contemporânea

Casa da Música

Portal da Língua Portuguesa

Canal do Movimento Internacional Lusófono

Escritas criativas

Círculo Cultural António Telmo

Revista BROTÉRIA

Desporto e qualidade de vida

Turismo Rural

Município de Ponte de Lima

+ Democracia

I Congresso da Cidadania Lusófona

Organização - I Congresso da Cidadania Lusófona 2,3 abril 2013

Grémio Literário - Lisboa

SP20 Advogados

Zéfiro

Divina Comédia Editores

Hemeroteca Digital de Lisboa

National Geographic

Sintra - Património Mundial da Humanidade

Sinais da Escrita

Classical Music Blog

Open Culture

António Telmo – Vida e Obra

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

British Museum

Université Sorbonne

Museu Guggenheim - Veneza

Universidade de Évora

Biblioteca Digital

Universidade Católica Portuguesa

Biblioteca do Congresso dos EUA

Biblioteca de Alexandria – Egito

Oração e Cristianismo

Notícias e opiniões