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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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O FILME “O PÁTIO DAS CANTIGAS” (1942) COMO DOCUMENTO HISTÓRICO E CÍVICO-ALEGÓRICO DE GRANDE ATUALIDADE

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No filme “O Pátio das Cantigas” (apresentado a 23 de janeiro de 1942, produção de António Lopes Ribeiro, Tobis Portuguesa), aparecem várias cenas de violência e de agressão, sendo possivelmente alegóricas à 2ª Guerra Mundial em curso, em 1942, para mais quando “Vasco Santana” na cena de desacato generalizado no final do filme dirige as crianças para uma “cave”, como os cidadãos das cidades bombardeadas se escondiam, na altura, em “bunkers”.

 

Sintomático é quando o personagem encarnado por “Vasco Santana” afirma às crianças “aqui podem ficar sossegadas” debaixo de uma tarja que tinha a inscrição Salazar, ironizando talvez o discurso do Estado Novo que dizia que Portugal era um paraíso, enquanto a Europa estava “a ferro e fogo”, numa carnificina sem precedentes em termos de escala global.

 

Neste momento, em que estamos com várias guerras em diversas partes do mundo, no fim deste primeiro quartel do século XXI, com risco para a Humanidade de se escalar o afrontamento bélico numa dimensão inusitada, de grande perigo para a sobrevivência coletiva, convém refletir sobre os temas éticos com base em obras de arte de grande significado simbólico.

 

Por esta razão, temos algumas lições a retirar do civismo e das atitudes éticas que nos são propostas neste filme clássico do cinema português, no género da comédia. É uma película com elevado valor de fonte histórica, de grande apreço para os tempos lúdicos e de valoroso documento com uma alegoria simbólica muito relevante.

 

O filme é muito rico em várias cenas e momentos de agressão:

- o insulto ao inventor “seu idiota perdeu o travão?”;

- os insultos recorrentes do Evaristo ao seu empregado, que detesta, dizendo “Ó seu camelo”;

- Evaristo tenta irritar emocionalmente os vizinhos, ouvindo música de ópera e fazendo troça e depreciando “os analfabetos” do bairro que ouvem fado no pátio;

- o rapaz a “troçar” com o Evaristo, como o faz, o personagem encarnado por “Vasco Santana” ao dizer “Ó Evaristo, tens cá disto ?” e a provocar a irritação exacerbado do mesmo;

- o personagem de “Vasco Santana” a destratar o rapaz manso que esteve a pedir dinheiro pelo Santo António para alguns doces, dizendo “seu caixa de óculos”;

- quando num ardil manipulador o personagem de “Vasco Santana” por “dor de cotovelo” retira o belo manjerico ao Evaristo, depois deste o ter destratado também com menosprezo diante de D. Rosa;

- quando Amália numa atitude verrinosa na dança abre o fecho do vestido da filha do Evaristo, que estava a dançar com o ex-namorado (“o Don Juan do pátio”);

- o desentendimento generalizado, cruzado, durante o baile da noite de Santo António com agressões físicas várias e confusão generalizada na festa de rua por causa dos namoricos, ou por outras palavras, desacato, simbolizando alegoricamente a 2ª guerra mundial que estava a decorrer;

- nesta alusão à guerra “Vasco Santana” (o protagonista) aparece com um balão aberto na cabeça, como se fosse um capacete, e outras figuras aparecem com pratos virados ao contrário simulando alegoricamente a guerra que estava a decorrer;

- a violência machista do vizinho a namorar a Amália e a irmã num “cliché” de engatatão, típico das sociedades conservadoras, que colocavam as mulheres em casa num estatuto de inferioridade como aparece num dos emblemáticos cartazes propagandistas designado “Lição de Salazar”;

- a situação do roubo e da agressão ao avô da Amália na Rua da Madalena, em Lisboa;

- quando Rufino, aparece ébrio ao pai, a dizer-lhe de forma simbólica e irónica (numa “afronta” aos censores da Inspeção Geral de Espetáculos) que “beber vinho é dar pão a um milhão de portugueses”.  

A chegada da filha de D. Rosa do Brasil é motivo de regozijo coletivo e de concórdia entre os protagonistas, permitindo a harmonia social no bairro do Pátio das Cantigas e a gratidão da D. Rosa a todo o bairro, fazendo lembrar a ânsia da Paz e da renovação de um organismo de tutela da paz internacional depois do descalabro da Sociedade das Nações e das duas guerras mundiais catastróficas.

É feito um apelo de D. Rosa a Narciso Pai para se regenerar, deixando o álcool, e colaborar na paz e na concórdia dos vizinhos e na harmonia do bairro, ultrapassando pequenas e insignificantes quezílias.

O namoro entre a brasileira e Rufino português pode ser visto como um apelo à concórdia entre os povos, num momento de conflito bélico da Humanidade – a 2ª guerra mundial (1939-1945).

A salvação de Carlos, o prisioneiro dos calabouços do “Torel”, pelo conluio de todos os habitantes do bairro que se protegem uns aos outros, como forma de se conseguir a paz e a concórdia que se almejava no mundo em guerra, neste caso no bairro do Pátio das Cantigas em pé de guerra. No fim do filme, estabelece-se a harmonia social no bairro com a Festa Popular de S. João, desejando-se que a paz e a concórdia no mundo chegassem rapidamente.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

A CHINA E A NOVA GUERRA FRIA (2013-2020) – O ATUAL CONTEXTO GEOPOLÍTICO INTERNACIONAL

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A China afirma-se, em 2020, como uma superpotência mundial. Na última década do século XX, houve um equívoco na pretensa vitória dos EUA na guerra fria, pois os EUA venceram esta tensão internacional, mas sem perceberem que não tinham vencido o paradigma comunista.

 

Em 15 de abril de 1989, aconteceu, em território chinês, o simbólico protesto na Praça Tiananmen, em que os protestos estudantis foram violentamente reprimidos. Este acontecimento traduz a repressão dos Direitos Humanos, que se verifica na China até aos dias de hoje, o que aliás preocupa intensamente a comunidade internacional e os organismos dos defensores dos Direitos Humanos.

 

O comunismo chinês emerge, no século XXI, com uma vitalidade aparentemente incompreensível, pois este país conseguiu inventar aquilo a que Nuno Severiano Teixeira denomina de neocomunismo[1], dado que este país realizou uma síntese eclética entre o sistema comunista e a economia de mercado com a implantação de um Capitalismo de Estado, num regime de partido único comunista, conjugado com uma Ditadura Digital.

 

Este novo ciclo político, desta superpotência, iniciou-se com a subida ao poder de Xi Jinping em 2013. Este líder chinês investiu na estratégia internacional de afirmação geopolítica do país, com uma orientação de fundo, que passou pelo reforço do autoritarismo interno e a aposta numa nova projeção internacional do país.

 

Para alcançar o pleno controlo da população, a China ergueu um sistema de crédito social[2], tal como nos diz Raquel Vaz-Pinto, e uma ditadura digital no sentido de implantar um sistema de gestão social autoritária.

 

Na verdade, a China adquiriu o estatuto de superpotência política e económica, entrando num clima de tensão com os EUA, a nível internacional, o que poderá configurar, sem dúvida, uma segunda guerra fria.

 

Tudo começou com a guerra comercial e tecnológica entre estas duas superpotências, que se apresentam ao mundo com dois modelos políticos antagónicos, isto é, um com o singular “sistema comunista de mercado” e o outro com “o liberal capitalista”. Estas duas superpotências disputam a liderança mundial em termos económicos e tecnológicos, mudando o caráter desta nova guerra fria (2013-2020).

 

Às contestações populares que se verificaram em Hong Kong, em 2019, a China respondeu, recentemente, com a Lei de Segurança e com prepotentes violências sobre os habitantes da região desta antiga colónia inglesa. Nesta estratégia internacionalista, da China, conta-se, também, a afirmação comercial da “Rota da Seda” e a tentativa hegemónica da HUAWEI na revolução digital 5G do mundo, que está a preocupar os norte-americanos e os europeus.

 

Em suma, perante esta “nova guerra fria”, abre-se novamente o problema ético da necessidade imperiosa de regulação do Capitalismo Global, no espírito das Nações Unidas.

_________________________

[1] Nuno Severiano Teixeira, “A segunda guerra fria”, Público, 29 de julho de 2020. p. 9.

[2] Raquel Vaz-Pinto, “A China e o sistema de Crédito Social”, Brotéria, nº 190 – 5/6, maio-junho 2020. pp. 535-541.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

A INTERCULTURALIDADE, A ACULTURAÇÃO E A ASSIMILAÇÃO EM DUAS OBRAS DE ARTE DO MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA – OS BIOMBOS NAMBAN E A PINTURA “O INFERNO”

Biombo Namban 20.PNG

Figura A

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Figura B

 

A INTERCULTURALIDADE DO PASSADO AO PRESENTE

Num mundo crescentemente marcado por conflitos e violências, neste momento de vivência e de convívio com a pandemia do COVID-19, muito temos a aprender com a experiência de aculturação e de interculturalidade com os portugueses dos séculos XV a XVII.

 

Neste mundo de aversão ou de desconfiança perante os estrangeiros que circulam neste mundo globalizado dos nossos dias, com as escolas a acolherem e a incluírem alunos estrangeiros de múltiplas nacionalidades é importante saber dialogar com outras culturas e tradições, pois apenas dessa forma se conseguirá a integração plena nas sociedades europeias de invíduos da Europa de Leste, do Oriente e, sobretudo, da América Latina.

 

O caso de violento racismo exercido sobre George Floyd nos EUA, no fim do mês de maio de 2020, que originou muitas revoltas e inúmeros tumultos urbanos nas cidades norte americanas, veio evidenciar a falta de diálogo intercultural em muitas das sociedades contemporâneas.

 

A morte de G. Floyd às mãos preconceituosas de 4 polícias mostra o racismo e a prepotência de algumas autoridades das forças de segurança internas deste país, que tem atravessado a história contemporânea dos EUA, apesar da luta sem tréguas de Martin Luther King. Pelo que, muitos países, terão bastante a aprender com as lições históricas dos portugueses no contacto mutuamente enriquecedor com outros povos durante a expansão dos europeus dos séculos XV a XVII. Dado que os portugueses conseguiram um diálogo muito enriquecedor com outros povos, como veremos, de seguida, em duas peças artísticas do Museu Nacional de Arte Antiga, demonstrativas do contacto dos portugueses com as populações naturais do Japão e do Brasil.

 

OS BIOMBOS NAMBAN

Através da observação atenta dos Biombos Namban (Figura A), verificamos as trocas interculturais entre os portugueses e os povos do mundo com que contactámos, entre os séculos XVI e XVII. A impressão que esta peça nos causa é um gosto requintado de uma peça de mobiliário, muito rica, com muita tendência para a representação figurativa dos pormenores. Esta peça de mobiliário foi produzida no Japão entre 1593 e 1601 por um autor chamado Kano Domi e representa a forma como os japoneses viam os portugueses que tinham chegado ao Japão para estabelecer relações comerciais e evangelizar a população através dos missionários jesuítas.

 

O suporte, que sustenta a pintura, é constituído por uma leve estrutura de madeira recoberta de várias camadas de papel de amoreira, sendo revestidas a folhas de ouro e pintadas com a técnica da têmpera. Os biombos formam um par. Cada deles tem 1 metro e quase 73 centímetros de altura, 2 centímetros de espessura e quase 3 metros e 31 centímetros de comprimento.

 

Na excelente apresentação descritiva do programa televisivo da “Visita Guiada”, que teremos oportunidade de visualizar no vídeo em baixo, em relação aos Biombos, referidos, vemos representados alguns elementos: o arcabuz transmitido pelos portugueses aos japoneses; os elefantes desconhecidos pelos japoneses; os óculos dos portugueses que causaram intensa estranheza aos nipónicos; as cadeiras chinesas utilizadas pelos portugueses em terras nipónicas; as igrejas cristãs de estilo japonês, fruto da evangelização dos missionários jesuítas; a admiração dos japoneses pela habilidade “trapezista” dos marinheiros lusos; os animais “exóticos” como os cães perdigueiros que os nipónicos desconheciam, etc.

 

Por outras palavras, fruto da globalização, encetada pela expansão marítima portuguesa, assistimos ao diálogo de culturas com: o capitão-mor português a transportar à cintura duas espadas de samurai, o transporte no cortejo de mercadorias pelos portugueses de objetos com influências formais de múltiplas regiões do mundo ou, ainda, o esforço de adaptação dos jesuítas portugueses aos costumes japoneses, conseguindo a conversão de muitos habitantes locais, como surge representado numa figura de um nipónico vestido de jesuíta.

 

A PINTURA “O INFERNO”

Esta pintura portuguesa do início do século XVI representa o tema do inferno. Deve ter sido pintada entre 1505 e 1530. É uma pintura a óleo, típica da arte Renascentista, que tem um suporte retangular de madeira de carvalho, com 1 metro e 19 centímetros de altura e 2 metros e quase 18 centímetros de largura.

 

Representa um lugar subterrâneo com uma abertura no canto superior direito, de onde caem as almas das pessoas condenadas ao inferno. Muito original é a representação do chefe dos demónios, que aparece sentado numa cadeira como um índio brasileiro, com penas na cabeça e uma trompa na mão, quando o território brasileiro tinha sido “achado” uns anos antes pela armada de Pedro Álvares Cabral. Alguns dos condenados surgem como indivíduos sofredores dentro de um caldeirão com água a ferver. Os condenados estão associados a diversos pecados. Os historiadores não têm a certeza da sua autoria, por falta de documentos históricos conclusivos.

 

A pintura terá sido exposta num antigo convento, onde lembraria aos seus moradores o risco de terem comportamentos moralmente condenáveis. Trata-se de uma imagem satírica da crença católica no inferno, que alguns autores comparam ao poder expressivo da obra literária de Gil Vicente intitulada Auto da Barca do Inferno.

 

Paradoxalmente, o mestre de cerimónias, vestido de índio, é o único completamente vestido, em claro contraste com os restantes demónios e os indivíduos condenados que se encontram nus ou seminus. O aspeto risível da pintura sobressai das figuras estranhamente cómicas dos demónios, que se encarregam dos condenados. Confrontemos este imaginário do pintor com a descrição de Pero Vaz de Caminha quando avista índios no Brasil: “(...) Avistámos homens que andavam pela praia (...) nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. (...)”.(in Arquivo Nacional da Torre do Tombo)   

 

Questionário de análise das obras de arte:

  1. Identifica o tipo de arte (pintura, escultura, mobiliário, etc) de cada uma das figuras - A e B.
  2. Regista dois aspetos de cada uma das peças artísticas observadas (figuras A e B).
  3. Expressa as emoções que sentes na observação de cada uma das obras de arte (figuras A e B).
  4. Menciona o tema representado nas obras de arte das figuras - A e B.
  5. Refere a data e o local de produção das obras de arte das figuras - A e B.
  6. Indica as dimensões (altura, largura e comprimento) das obras de arte das figuras - A e B.
  7. Enuncia os suportes em que foram produzidas as obras de arte das figuras - A e B.
  8. Descreve os elementos representados nas obras de arte das figuras - A e B.
  9. Enuncia o(s) período(s) histórico(s) em que se produziram as obras de arte das figuras - A e B.
  10. Indica as caraterísticas mais importantes das obras de arte apresentadas nas figuras - A e B.
  11. Comenta a seguinte frase: “A aversão aos estrangeiros que se verifica nos nossos dias é contrária à defesa dos Direitos Humanos e ao diálogo intercultural”.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

Visita Guiada - Biombos Namban, episódio, 14 de dezembro de 2015 - vídeo

A CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL E A SUA DECADÊNCIA ESPIRITUAL NO SÉCULO XXI – PASSADO, PRESENTE E FUTURO

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A disrupção secularista, apartada das filosofias helénicas e da espiritualidade cristã, tem conduzido o Ocidente a procurar reencontrar a Alma perdida, em inúmeros fenómenos milenares trazidos do Oriente, uma vez que a separação, nestas paragens geográficas, da Alma e do Corpo não foi tão abrupta. A valorização do cienticismo, desde o Positivismo do século XIX, tem levado ao descrédito da filosofia, que passou a ser menosprezada.

 

Esta tendência levou a própria filosofia a desvirtuar-se com a desvalorização da metafísica, em correntes que dominaram no século XX, tais como o Existencialismo e o Pragmatismo e que tem reduzido o valor dos intelectuais em favor dos tecnocratas.

 

A descristianização da Europa, traduzida no sul do continente pelo elevado número de católicos não praticantes, tem potenciado a laicização das sociedades ocidentais. Os europeus, na busca de superarem o seu declínio material, mergulharam na ideologia tecnocrática, que os levou a sentirem-se desumanos e a procurarem formas espirituais orientais.

 

As culturas orientais sempre originaram no Ocidente sentimentos de atração e de repulsa. Desde os autores da Antiguidade Clássica, como Ésquilo e Eurípedes, as culturas do Oriente apareceram como estranhas e antagónicas à cultura do Ocidente. Apenas na época helenística, com as aventuras de Alexandre “O Grande”, as culturas orientais influenciaram o Ocidente.

 

Com o crescente afastamento dos ocidentais das filosofias, com a descristianização e com a laicização da Europa houve, desde os finais do século XX, uma aproximação das espiritualidades orientais.

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Desde os Descobrimentos marítimos ibéricos dos séculos XV e XVI, onde os portugueses foram pioneiros, houve um progressivo questionamento da mundividência eurocêntrica, com um interesse paulatino dos missionários pelas culturas chinesa, indiana e tibetana.

 

Desde o Iluminismo até à Revolução Francesa, a China e a Índia atraem as atenções dos europeus cultos, com o aparecimento de traduções de obras de autores orientais e sucedendo às primeiras traduções feitas pelos jesuítas portugueses.  O desenvolvimento da filologia sânscrita, na charneira do século XVIII para o XIX, irá originar o sentimento da indofilia de Schlegel e da indofobia de Hegel.

 

O Romantismo atraiu os intelectuais pelo exotismo da cultura indiana e do Oriente, mas, já no século XX, as universidades votaram ao abandono o interesse pelas culturas orientais, com algumas pequenas exceções traduzidas em Centro de Estudo ou Institutos dedicados a temas orientalistas.

 

Somente fruto da globalização do fim do século XX e da referência inspiradora de figuras incontornáveis da História Contemporânea como Mahatma Gandhi e o 14º Dalai Lama, devotados à meditação religiosa, ao culto da não violência e à defesa intrangente dos Direitos Humanos e de uma forma descomprometida, com a simultânea promoção do diálogo intercultural e interreligioso, estas personalidades históricas tornaram-se modelos éticos, virando as atenções internacionais para os diferentes paradigmas civilizacionais do oriente.

 

Este crescente interesse pelo orientalismo levou à proliferação de movimentos como os de Hare Krishna ou o grande surto budista, zen ou tibetano, que se espraia com figuras de budas a inundarem lojas, casas particulares e jardins.

 

Ao mesmo tempo, tem crescido o interesse por práticas e terapias como a meditação, o ioga, o tai chi chuan, o reiki, o chi kung, as artes marciais, a acupunctura, o shiatsu, a medicina tradicional chinesa, etc. Igualmente, as tendências do vegetarianismo e do veganismo mostram a proliferação das correntes culturais orientais no Ocidente, em evidente decadência espiritual.

 

A meditação está hoje comprovada, nos seus benéficos efeitos no funcionamento cerebral, pela ciência ocidental, no momento em que os paradigmas ocidentais da tecnocracia, do hedonismo e do materialismo colapsaram, fazendo declinar a Civilização Ocidental e o Velho Continente.

 

Num Ocidente desnorteado, com a Europa suspensa do Brexit e os EUA liderados por um exuberante empresário multimilionário, a meditação gera, em muitos concidadãos, apartados das formas tradicionais da espiritualidade cristã - mística ou franciscana –, a procura de instrumentos de reequílibrio pessoal, que o paradigma produtivista não possibilita, ou a busca de uma viragem maior para a vida interior, afastando-os da feira de vaidades da mundanidade exterior. Apenas esta afirmação do homem pleno nas suas dimensões poderá levá-lo a uma verdadeira felicidade, centrada na pessoa e não descentrada nas ambições materialistas.

 

Este recentramento espiritual do Homem Ocidental é a alternativa aos antidepressivos, embora por intermédio do encontro cultural com técnicas e práticas espirituais do Oriente, quando a sabedoria ocidental já incorporava, desde há muitos séculos, nos exercícios espirituais de gregos e de cristãos, esta dimensão humana da Alma, que foi corrompida com o paradigma tecnocrático de reduzida visão produtivista.

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O Buddha Eden da Quinta dos Louridos, no concelho do Bombarral, é um bom exemplo deste paradoxo civilizacional, quando mesmo ao lado se encontra o tradicional Santuário do Bom Jesus do Carvalhal. Isto é, o laicismo, a descristianização da sociedade portuguesa e a obsessão tecnocrática têm conduzido à desumanização da vida dos ocidentais, e dos portugueses, orientados para um produtivismo vazio, conduzindo a uma busca de uma sabedoria noutras civilizações, designadamente orientais, quando a civilização ocidental encerra em si, mesmo, esse património espiritual.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

CRISTIANO RONALDO (CR7), UM HERÓI DA PÁTRIA LUSÓFONA – PASSADO, PRESENTE E FUTURO

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Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro é um futebolista de renome internacional, nascido a 5 de fevereiro de 1985 no Funchal, cujo nome homenageia o Presidente Norte-Americano Ronald Regan como ator de Hollywood. Afirmou-se no futebol internacional, no Sporting Clube de Portugal, num jogo contra a equipa do Manchester United para a inauguração do Estádio Alvalade XXI, que deixou o treinador Alex Ferguson muito impressionado, tendo-o levado então para Inglaterra.

 

Logo no Manchester United foi-se afirmando com os seus “dribles” magistrais e só depois, já no Real Madrid, a sua evolução desportiva o levou a transformar-se num avançado muito eficaz, um goleador nato temido pelos adversários e muito estimado pelos seus adeptos e companheiros. Uma das suas habilidades tem sido ao longo da sua carreira a marcação de livres, com a grande concentração e a encenação Olímipica de um atleta. Ronaldo fez do futebol um jogo espetáculo com habilidades artísticas inequívocas.

 

Tal como os atletas da Hélade eram considerados heróis, Cristiano Ronaldo deve ser evocado pela pátria lusófona como um herói, pois os vencedores nos jogos olímpicos na Antiga Grécia poderiam receber homenagens das suas pólis, alimentação gratuita, terem estátuas erguidas e serem exaltados pelos poetas. O movimento do pontapé de bicicleta de Ronaldo frente à Juventus merecia uma estátua parecida com a que representa o atleta grego a lançar o disco, conhecido como discóbolo, ou um poema como aquele que Manuel Alegre dedicou a Luís Figo.

 

No fim da temporada 2017/18 ameaçou sair do Real Madrid por falta de empatia com o presidente do clube e falta de apoio na questão das suas dívidas fiscais ao Estado Espanhol. Ao longo da sua carreira profissional de 2003 a 2018 tem batido muitos recordes desportivos, apesar da sua carreira desportiva ainda ter possivelmente alguns anos na montra do futebol mundial. Os números milionários que o rodeiam, primeiro na contratação nunca vista do Real Madrid ao Manchester United pelo preço de 94 milhões de euros deixou o mundo estupefacto.

 

Fez parte, como promessa do futebol, da Seleção Portuguesa, com Luís Figo e outras estrelas da “geração de ouro”, que chegou a finalista do Euro 2004. Desde este período cresceu muito como jogador e como homem, retivemos as lágrimas que soltou na Final do Euro 2004 e a atitude de fair-play com Edinson Cavani no jogo dos oitavos de final de Portugal contra o Uruguai no Campeonato do Mundo de 2018.

 

Desde 2008 a 2017 tem sido várias vezes premiado como o melhor jogador do mundo pela FIFA e ganhou várias bolas e botas de ouro, atríbuídas por periódicos da imprensa desportiva.

 

Em 8 de janeiro de 2009, Ronaldo teve um mediático acidente de carro com o seu Ferrari, 599 GTB Fiorano, num túnel perto de Manchester, tendo saído do incendente com ferimentos de pouca gravidade.

 

Neste início de julho de 2018, Ronaldo parece ter feito as malas para representar a Juventus, numa nova transferência astronómica de 100 milhões de euros, sendo este já o quarto clube de prestígio que irá defender, os outros foram o Sporting Clube de Portugal, o Manchester United, o Real Madrid e agora a Juventus, onde certamente acabará a sua carreira de futebolista. A transferência de Ronaldo para a Juventus está fazer subir em flecha o valor das ações do clube de futebol de Turim.

 

Por que razão é já um herói da Pátria lusófona ? As suas habilidades inatas e a condição física ímpar, fruto de treinos muito esmerados e grande profissionalismo, fizeram dele um jogador de exceção. Estes fatores fizeram-no um artista, criativo com a bola, que fez vibrar milhões de adeptos do futebol de todo o mundo. Quando CR7 marcou este ano de um atlético pontapé de bicicleta à Juventus a uma altura de 2,38 metros deixou os espetactadores da Juventus embasbacados e a ouvacionarem o atleta adversário de pé pelo seu feito invulgar. O jornalista desportivo Rui Santos considera que esta transferência não foi a mais benéfica para a projeção mundial de CR7.

 

Ronaldo levou, muitas vezes, às costas o Sporting, o Manchester United, o Real Madrid e a Seleção Portuguesa, catapultando os clubes da Inglaterra e da Espanha para estrelato máximo com a conquista de várias Ligas dos Campeões e permitindo a Portugal vencer o Euro 2016, num feito inédito do futebol luso.

 

De 2007 a 2018 tem estado na ribalta do futebol mundial, tendo feito o seu primeiro hat-trick a 12 de janeiro de 2008 pelo Manchester United contra o New Castle e o seu último hat-trick frente à Seleção Espanhola no Campeonato do Mundo de Futebol de 2018. Ronaldo passou a exercer uma força anímica indispensável no Real Madrid e na Seleção Portuguesa, nos últimos anos.

 

Ronaldo já tem um busto no aeroporto do Funchal e uma merecida condecoração honorífica de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique atribuída pela Presidência da República Portuguesa em 2014. Portugal continua a ser, como o reconhece Rui Proença Garcia[1], um país de Fátima, do Fado e do Futebol, como uma das marcas indeléveis da sua identidade coletiva. Por isso, não admira que CR7 terá um lugar reservado no Panteão Nacional, dado que espalhou o seu nome e o do país pelos 7 cantos do mundo. Nos últimos anos tem disputado com o argentino Lionel Messi o título de melhor jogador do mundo. Em 15 de dezembro de 2015, Ronaldo inaugurou o Museu CR7 no Funchal. Superou em prestígio internacional Eubésio da Silva Ferreira e Luís Figo, só podendo comparar-se na sua projeção mundial com Pelé.

 

Em suma, Ronaldo não se limita a ser um futebolista com habilidade, mas um atleta com um génio artístico, que soube fazer render os seus talentos e deixar a Humanidade estupefacta perante as suas proezas desportivas, fazendo lembrar os atletas herocizados da Grécia Antiga.

_________________

[1] Rui Proença Garcia, “Fátima, Futebol e Fado: uma leitura contemporânea”, in Brotéria –Cristianismo e Cultura, vol. 186, maio/junho de 2018, pp. 631-653.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

VI CENTENÁRIO DA DESCOBERTA DA MADEIRA (1418?-2018) - UMA BREVE EVOCAÇÃO HISTÓRICA

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As fontes históricas conhecidas não permitem datar, com exatidão, a chegada dos portugueses às ilhas de Porto Santo e da Madeira, havendo divergências na historiografia sobre a data deste acontecimento desde o século XIX. As autoridades madeirenses preferiram comemorar a descoberta oficial de Porto Santo, em 2018, com base numa versão historiográfica da datação, que não recolhe o consenso dos peritos.

 

João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo foram os navegadores responsáveis pelo achamento destas ilhas atlânticas, que se encarregaram também do seu povoamento inicial.

 

As ilhas da Madeira e de Porto Santo eram conhecidas desde o século XIV, como o provam documentos cartográficos, segundo os estudos de Armando Cortesão, mas foi, efectivamente, por volta dos anos de 1418-1420 que foram descobertas oficialmente. Assim, na cartografia estrangeira do século XIV aparece já a toponímia de origem portuguesa nestas ilhas atlânticas.

 

Sendo certo que, desde 1425, os seus territórios começaram a ser povoados, apenas nas décadas de 1440 e de 1450 se constituíram as capitanias-donatarias de Machico, do Funchal e de Porto Santo, atribuídas pelo Infante D. Henrique àqueles navegadores, com amplos poderes de administração civil, criminal e económica, configurando, no fim da Idade Média, um autêntico regime senhorial.

 

A ilha da Madeira constituiu-se ainda no século XV como uma importante plataforma comercial. Nesta atividade mercantil avultaram, como principais produtos de exploração silvícola e agrícola, a madeira, o pastel e a urzela como plantas tintureiras, o trigo, o vinho e o açúcar.

 

Nos primeiros anos do segundo quartel da centúria, afirmou-se o trigo como cereal escasso na metrópole e, a partir da década de 1470, o açúcar como o produto preponderante de comercialização.

 

Como é consabido, a Madeira era conhecida dos navegadores portugueses desde o século XIV, mas na realidade já se efectuavam contactos marítimos com os territórios desde a Antiguidade, ou seja, desde o século VII a. C..

 

As navegações iniciais de Trezentos à Madeira encontram-se descritas em fontes históricas como a Relação de Francisco Alcoforado, do primeiro quartel do século XV, o escrito de Gaspar Frutuoso As Saudades da Terra, do fim do século XVI, e a Crónica dos Feitos da Guiné de Gomes Eanes de Zurara.

 

É bastante provável que a descoberta oficial da Madeira tenha acontecido no contexto das navegações atlânticas, ao longo das costas do Norte de África, por ação de ventos e de correntes marítimas inusitadas.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

O VERTIGINOSO RITMO CONTEMPORÂNEO – CAUSAS, PROCESSOS E CONSEQUÊNCIAS (SÉCULOS XIX-XXI)

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Relembro, com saudade, uma excelente lição que recebi do Professor Jorge Borges de Macedo, em que frisou que um dos traços da contemporaneidade é a velocidade estonteante das sociedades contemporâneas. Esta velocidade frenética obriga os historiadores a recolher muito mais informação, para se conhecer uma realidade histórica mais recente.

 

Perguntamos se, eticamente, é benéfica esta velocidade frenética em que se desenrolam as nossas vidas. Procuraremos responder a esta questão e, concomitantemente, perceber as causas, as manifestações e as consequências deste fenómeno das sociedades contemporâneas.

 

É uma evidência que a evolução histórica da Humanidade tem conduzido a um ritmo, acelerado, das sociedades dos nossos dias e como causas, manifestas desta tendência, contam-se o crescente desenvolvimento técnico/tecnológico, a industrialização das sociedades ocidentais nos séculos XIX e XX e o crescimento urbano desmesurado das últimas décadas.

 

O predomínio da tecnologia na vida quotidiana, com a evolução dos transportes e das comunicações, com o surgimento da robótica e da informática, com a evolução das telecomunicações, entre outros factores, tem levado a uma inesperada velocidade na vida das pessoas e ao crescente sentimento de 'stress' no dia-a-dia dos cidadãos. Mas decerto, nos primórdios desta aceleração, esteve a invenção dos relógios públicos, cujo mais conhecido é o Big Ben.

 

Por outro lado, a mentalidade das indústrias e dos serviços, orientada pela lógica produtivista, tem alimentado a competitividade, dando origem à necessidade de “fazer depressa”. Contudo, é legítimo perguntar se é viável a todos os indivíduos fazer depressa e bem (no ditado popular português diz-se com sabedoria: “depressa e bem não há quem”) e, ao mesmo tempo em que se geram constantes mudanças políticas, sociais e económicas, aparecem novos meios de comunicação social que difundem as notícias em catadupa.

 

Esta dinâmica acelerada manifesta-se na velocidade dos transportes (dos comboios, dos barcos, dos automóveis e dos aviões) que, desde o século XVIII, tem aumentado exponencialmente, na velocidade com que circula a informação, que tanto cresceu com os novos meios de comunicação social, na primeira metade do século XX, mas que ganhou uma veemência inusitada com a proliferação da internet.

 

Estes fatores têm facilitado transações comerciais e financeiras à escala mundial, dando à economia globalizada, do início do século XXI, uma aceleração que impede aos economistas de fazerem previsões de longo prazo, tornando a realidade dos países, das sociedades e das pessoas muito instável. Ao que já alguém chamou de “Era da Incerteza” imitando a expressão assertiva de Eric Hobsbawm de “Era dos Extremos” para o século XX.

 

Os resultados, sendo aparentemente benéficos, são amplamente prejudiciais pelas suas múltiplas consequências sociais negativas, o que nos permite concluir que este mediático progresso, na verdade marca um retrocesso na qualidade de vida dos cidadãos do mundo globalizado. Esta dinâmica tem desembocado numa clara desumanização das sociedades contemporâneas, o que tem distanciado os cidadãos dos políticos, uma vez que estes se revelam incapazes de reestruturar os vícios das sociedades desenvolvidas dos séculos XX e XXI.

 

Verifica-se, assim, que, com o evoluir das sociedades industriais e pós-industriais, os valores éticos têm sido substituídos pelos valores de mercado, esvaziando a dignidade dos valores imateriais (espirituais), daí que a reconhecida crise de valores perpasse as sociedades contemporâneas desde o início do século XX, como já o sublinhei em artigo publicado[1].

 

O desenvolvimento industrial das sociedades ocidentais dos séculos XIX e XX provocou uma violenta crise ambiental, com o esgotamento de recursos naturais, que deram origem às preocupações ecológicas, desde os anos 70 do século passado, com o emergir de uma consciência ambientalista, que culminou com a atual encíclica Laudato Si do Papa Francisco.

 

Em suma, o vertiginoso ritmo contemporâneo, que se tem acelerado do século XX aos nossos dias, tem conduzido a uma alienação dos homens, fazendo-os perder a sua dignidade e desencadeando novas doenças mentais, que se tornam cada vez mais frequentes, tais como a depressão, a ansiedade, os traumas do 'stress' de guerra e potenciado a emergência de neuroses e de psicoses coletivas e o surgir do nefasto cidadão “workaholic”.

 

[1] “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, Janeiro de 2012, pp. 47-51.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

NELSON MANDELA (1918-2013), O FIM DO “APARTHEID” E O DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS DO HOMEM

 

“(...) Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. (...)”

                                                                                                                                                                                                                                                                                                               Nelson Mandela, 1964


A 10 de dezembro celebra-se o Dia Internacional dos Direitos Humanos, que normalmente coincide com a atribuição do Prémio Nobel da Paz. Perfaz-se, agora, vinte anos que este galardão foi concedido a Nelson Mandela (1993-2013), recentemente falecido. Importa lembrar que a intransigente defesa dos Direitos Humanos garante uma Cultura de Paz que tanta falta faz às nossas sociedades Contemporâneas.


Evocar e homengear Nelson Mandela constituem obrigações inapeláveis dos Homens de boa vontade, pois foi um líder carismático reconhecido pela História Contemporânea. Na realidade, afirmou-se como um advogado, um líder da rebelião contra o regime jurídico de Apartheid e Presidente eleito da África do Sul, tendo lutado contra a segregação racial juridicamente, politicamente e incitado à desobediência civil, o que o levou à prisão por um período ininterrupto de 27 anos (1962-1990).

 

Teve uma forte formação humanista (em áreas como as Artes e o Direito) e na Universidade de Fort Hare cruzou-se com individualidades que se transformariam em grandes líderes do Congresso Nacional Africano. Nos anos 40 apercebe-se do racismo subliminar que larvava na África do Sul. Em 1949 integrará a cúpula dirigente daquele orgão político, no momento em que o governo aprovava o regime jurídico de “Apartheid”.


Com a institucionalização do racismo segragacionista deste regime, Mandela incita à desobediência civil negra ao convidar a população negra a ocupar os locais reservados aos brancos e é, por isso, julgado.   

 

De 1952 a 1958 abre um escritório de advogados com Olivier Tambo para a defesa dos Direitos dos Negros. Contudo, após anos de luta não violenta contra a injustiça da segregação racial torna-se, talvez inspirado pelo comandante Ernesto Che Guevara, no ano de 1962 num guerrilheiro contra os opressores brancos que reforçaram as barreiras segregacionistas. Neste ano acaba por ser preso, conjuntamente, com Walter Sisulu. Em 1964 recebe uma pena de prisão perpétua e é encarcerado num cubículo desumano.

 

Depois de muito tempo de resistência na prisão, nos anos 80 apercebe-se da crispação social entre negros e brancos e receando uma dolorosa guerra civil trava negociações com o governo. Nesta época, recebe já homenagens internacionais desde os EUA à Grécia pela sua longa resistência contra a injustiça do racismo. Com efeito, Mandela, calejado pele seu interminável aprisionamento, negoceia nos anos 80 com o governo uma saída para essa crispação da sociedade sul-africana com um invulgar sentido de moderação.

 

Sob os auspícios de Pieter Botha as suas negociações arrastam-se, sem fim à vista, e só com o novo Presidente Frederik De Klerk se agilizam rumo a uma solução final. Por fim, em 1990, Mandela é libertado do cárcere e mantém um discurso político conciliador. No ano seguinte, é eleito Presidente do Congresso Nacional Africano com a intenção de apaziguar as hostilidades entre as populações oprimidas (negros) e as opressoras (brancos).


Em 1993, a comunidade internacional pela sua estratégia de diálogo pacífico dentro da África do Sul atribui-lhe, conjuntamente com De Klerk, o Prémio Nobel da Paz.

 

No ano de 1995 é eleito Presidente da África do Sul e cria a Comissão da Verdade e Reconciliação, presidida pelo Arcebispo Desmund Tutu que assegura a integração tranquila da minoria branca no país. Durante o seu mandato presidencial, o país foi refundado com uma nova Constituição de 1997, uma nova bandeira e um novo hino. A 5 de dezembro de 2013 a comunidade internacional assistiu consternada à declaração do primeiro-ministro sul-africano, Jacob Zuma, da morte do líder carismático, que nas suas palavras mediáticas traduziram o desaparecimento do pai do povo e do filho da nação sul-africana.

 

Em conclusão, o seu exemplo carismático ficará registado nos corações de milhões de pessoas, de todo o mundo, pelo invulgar exemplo cívico que travou a favor de valores como a justiça social, a verdade e a combatividade de causas coletivas.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

MO YAN, A DIVINA COMÉDIA EDITORES E A CHINA ATUAL

 

A Divina Comédia Editores é uma nova Editora em Portugal que iniciou a sua atividade, em novembro de 2012, com a publicação do livro de Mo Yan, escritor chinês que foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, intitulado Mudanças. Esta promissora Editora, liderada por Alexandre de Vasconcelos e Sá e pela sua sólida equipa de trabalho, pretende editar obras de ficção e de não ficção de qualidade, dando espaço à pluralidade de opiniões.

 

A sede desta Editora, adjacente à Avenida da Liberdade em Lisboa, associada ao grupo Editorial Babel de Paulo Teixeira Pinto, estará pronta em abril deste ano e começará em breve a sua atividade editorial de uma forma continuada. A imagem de marca desta Editora é uma cadeira esboçada por Alexandre Vasconcelos e Sá e um dos seus braços direitos sugeriu o nome Divina Comédia em homenagem à obra-prima, da Literatura Universal, de Dante Alighieri.  

 

O livro Mudanças de Mo Yan, pseudónimo de Guan Moye, retrata num género de romance autobiográfico as mudanças da China ao longo da segunda metade do século XX até ao início do século XXI, numa narrativa comparativa e não cronológica, embora situando os acontecimentos do protagonista no tempo. A sua prosa está recheada de uma fina ironia que tornam bastante cativante a leitura do livro.


A atual situação da China, em crescente ascensão geoestratégica mundial, redobra o interesse deste livro, porque o “Socialismo de mercado” que Deng Xiaoping burilou e se concretizou no contexto da Globalização desregulada permitiu a irrupção fulgurante da economia chinesa em tempos de estagnação da economia mundial, neste início do século XXI.

 

Transparece da vida de Mo Yan que pretendeu criticar, de forma subliminar, o próprio sistema Chinês, uma vez que na sua escrita descreve a realidade do seu país insinuando ironicamente os paradoxos da sociedade chinesa em que à eficácia e ao pragmatismo do sistema político-económico subjaz uma desumanidade profunda para com as pessoas.

 

Não nos podemos esquecer que o preço da prosperidade económica e da modernização da China foi o cerceamento da liberdade política, pois aquando de uma celebérrima manifestação juvenil, na esteira dos ventos da "Perestroika", no outono de 1989, na Praça de Tian’anmen em Pequim, houve um brutal massacre dos cidadãos chineses que criticavam e exigiam mudanças no regime.


Em síntese, este regime reformado por Deng Xiaoping deu lugar a uma conciliação da ditadura comunista com a crescente aceitação da economia de mercado, o que proporcionou a prosperidade da economia chinesa atual em detrimento do respeito pelos Direitos Humanos e pela Liberdade Política e Cívica dos cidadãos chineses, como a Amnistia Internacional bem tem denunciado.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

A DÉCADA DE 2001-2010 DO NOSSO MUNDO: LINHAS DE FORÇA DE SOCIOLOGIA HISTÓRICA

 

 

A primeira década do século XXI, a nível internacional, foi marcada por uma crise global a múltiplos níveis (Ética, Política, Económica, Social, etc.) que resultou da acelerada Globalização que tornou o mundo mais complexo e suscitou uma perplexidade nas elites para lidarem com as estruturas internacionais em mudança. Na verdade, na transição do século XX para o XXI o mundo deixou de ser bipolar, com o fim da guerra fria, e passou a ser multipolar com o aparecimento do G7, do G8 e do G20. As ameaças naturais e humanas proliferaram, com as catástrofes naturais a pontuarem a primeira década do século XXI e as armas de destruição massiva a ameaçarem expandir-se a novos países.

 

Este período da História da Humanidade tornou-se uma Era da incerteza com o colapso das velhas estruturas, históricas do pós-guerra, e dos valores tradicionais que colocaram o Homem face a um paradoxal individualismo em virtude das ameaças globais que emergiram. Esta tendência, que se desencadeou em função de uma Globalização desregulada, gerou uma crise múltipla que desembocou numa mentalidade pessimista que varre a maioria das potências ocidentais, em visível declínio. Com efeito, verifica-se que a Globalização tem despoletado efeitos sociais bastante nocivos, não obstante as inegáveis vantagens que a mesma induziu.

 

O primeiro exemplo da crise global reside na mundialização da insegurança criada pelo terrorismo global, de que o primeiro acontecimento foi o atentado de Nova Yorque, em 11 de Setembro de 2001, ao edifício do World Trade Center e a edifícios da administração norte-americana em Washington D.C.. Surgiu como suspeito principal Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda, que ameaçou os interesses norte-americanos no mundo. O Presidente norte-americano G.W. Bush lançou de imediato uma guerra ao terrorismo.

 

A escalada internacional de terrorismo prosseguiu com o atentado à estação de comboios da Atocha, em Madrid a 11 de Março de 2004, o que tornou a insegurança um sentimento que se generalizou no mundo do início do século XXI. O alerta dos países face ao terrorismo reforçou as cautelas de segurança internacional sobretudo nos aeroportos e nos locais de embarque e desembarque de pessoas. Apesar destas prevenções ainda sucedeu no Metropolitano de Londres um novo atentado terrorista a 7 de Julho de 2005 que causou dezenas de mortos[1].

 

A Globalização, não regulada, tem feito sentir as suas desvantagens ao potenciar as várias crises que na primeira década do século XXI se manifestaram. À crise da segurança mundial esteve associada uma crise ética, que possibilitou a G. W. Bush e a Tony Blair mentirem sobre as armas de destruição massiva, que existiriam no Iraque, para justificar a guerra preventiva que se desencadeou à revelia da autorização do Conselho de Segurança da ONU[2], que foi muito contestada na Europa continental.

 

A Globalização do comércio e da informação tem permitido espaços clandestinos favoráveis à corrupção, à especulação financeira e ao contrabando de estupefacientes e de armas convencionais e não convencionais. Deste modo, a Globalização padece, actualmente, de uma entidade reguladora que poderia ser a ONU, se tivesse força económica e coerciva, o que não é o caso. Nesta conjuntura de uma Globalização desregulada verifica-se a impossibilidade de uma cabal defesa empírica dos Direitos Humanos, tanto mais que a ONU tem perdido poder e capacidade de acção.  

 

O contexto histórico da Globalização, sem contrapoderes efectivos, foi o terreno fértil para que, num mundo em que as economias de mercado se impuseram, triunfasse um Capitalismo Financeiro, despudorado e afastado da economia real, e uma concomitante ideologia neoliberal (perante a adesão da China e da Europa de Leste à “teologia de mercado”) que fizeram culminar a Humanidade numa violenta crise económica e financeira internacional desde 2008. Com efeito, em Setembro desse ano rebentou a crise financeira dos EUA com a falência do centenário banco Lehman Brothers e da Seguradora AIG[3]. No final de 2008 é preso Bernard Madoff acusado da maior fraude financeira da História devido às mentiras na questão do negócio do “subprime”.

 

De 2008 a 2010 a crise financeira expandiu-se pelo mundo e gerou uma crise económica global, que afectou, primeiro, as velhas potências históricas (EUA e a União Europeia). Em 2010 começou a crise das dívidas soberanas, com a Grécia a dar o alerta, em Abril, pedindo ajuda ao Fundo Monetário Internacional, em que os países do Ocidente começaram a dar sinais de abrandamento económico em virtude de endividamentos excessivos. Na verdade, o ano de 2010 marcou o culminar da crise do Estado-Providência na Europa (do Modelo Social Europeu) que resultou da disparidade entre o exagerado crescimento das despesas públicas e o insuficiente crescimento económico, agravados pelo decréscimo demográfico Europeu[4], potenciado pela iníqua competitividade dum sistema internacional em que países respeitadores dos Direitos Humanos competiam em igualdade de circunstâncias com países que os menosprezavam.

 

Ora esta conjuntura dos países ocidentais com elevadas despesas públicas, à custa de endividamentos externos, criou dificuldades de sustentabilidade financeira nos Estados-Providência da Europa, o que levou os partidos de Esquerda no poder a adoptarem políticas neoliberais. Face a esta indesmentível realidade houve uma crise da ideologia social-democrata/socialista democrática[5] que não se soube adaptar em plena coerência com a conjuntura especulativa que perpassou a primeira década do século XXI.

 

A agressiva administração norte-americana de G.W. Bush imprimiu ao sistema internacional, durante os seus mandatos de Janeiro de 2001 a Janeiro de 2009, uma marca de anomia ética e legal que começou, em Março de 2001, com a retirada dos EUA do Protocolo de Kyoto de 1997 que obrigava os países signatários a reduzirem a emissão de gases de efeito de estufa.

 

Esta anomia ética continuou com a invasão do Iraque, em 20 de Março de 2003, que foi justificada pelo argumento da posse ilegal de armas de destruição massiva da parte do regime de Saddam Hussein, que se revelou um descarado embuste da administração Bush. Assim, dentro desta lógica da acção preventiva se pôde violar os normativos éticos em vigor na comunidade internacional, em conformidade com a ideologia neoconservadora sustentada por Paul Wolfovitz, que facilitou o ambiente radical que tornou possíveis as torturas nas prisões de Abu Ghraib e de Guantánamo. Na realidade, a Presidência de G.W. Bush (2001-2009) favoreceu políticas atentatórias dos Direitos Humanos do ponto de vista ambiental e militar, à revelia do Acordo de Kyoto e das Convenções de Genebra.

 

Esta década da História da Humanidade (2001-2010) foi caracterizada por importantes alterações climáticas decorrentes, sobretudo, da crescente poluição industrial do nosso mundo. As alterações climáticas têm consistido no aquecimento global e na instabilidade atmosférica que tornam as estações do ano muito atípicas. A par dos fenómenos da exponencial imprevisibilidade climatérica surgem catástrofes naturais, como cheias e secas, mais frequentes, que assolam várias regiões do planeta.

 

Estes factores são reveladores da vulnerabilidade humana, não obstante todo o progresso tecnológico galopante que o mundo tem vivido nos últimos anos, daí o peso que as crenças religiosas continuam a ter num mundo de crescentes incertezas. Por exemplo, em 28 de Agosto de 2005, nos EUA, o furacão “Katrina” devastou grande parte da região de Nova Orleães. No entanto, a imprevisibilidade do nosso mundo está, também, patente na instabilidade tectónica que “prega partidas” ruinosas em muitas partes do mundo. Assim, recordemos que o Tsunami do Oceano Pacífico de 26 de Dezembro de 2004 chamado pelos técnicos de terramoto de Sumatra-Andaman provocou ondas gigantescas, na região, que afectaram o litoral de 14 países e mataram 230 mil pessoas.

 

Se houve épocas na História da Humanidade em que os Homens, ou alguns povos, se julgaram “deuses”, depreciando o valor da transcendentalidade metafísica das religiões, podemos afirmar que face aos ingentes desafios da Globalização e à crescente frequência das catástrofes naturais urge cultivar os sentimentos de solidariedade colectiva, em prol da defesa efectiva dos Direitos Humanos, e da humildade generosa perante um mundo em crescente complexificação.

 

Outra linha de força, desta primeira década do século XXI, é a Globalização da informação através dos meios de comunicação social e da Internet e os actos de “pirataria” informática para efeitos de espionagem industrial ou de denúncia de escândalos públicos de actos com coberturas oficiais de determinados Estados.

 

O surgimento do site “Wikileaks”, de Julian Assange, em Dezembro de 2006, é um exemplo dos movimentos de cidadania global que começaram a emergir nesta década da História da Humanidade. Aliás, antes da guerra do Iraque, na Primavera de 2003, salientaram-se na Europa grandes manifestações cívicas de carácter pacifista. Por detrás destes fenómenos esteve o emergir de sociedades da informação que atravessaram todos os países livres nesta Era da Globalização.

 

Em 20 de Janeiro de 2009 com o começo da Presidência norte-americana de Barack Obama iniciou-se uma nova fase, mais desanuviada, do cenário internacional que foi plasmada na sua frase de propaganda que contagiou a opinião pública mundial: “Yes, we can!”[6]. Com efeito, a sua eleição foi promissora pelo sentido intercultural de ter sido o primeiro mulato a ser Presidente dos EUA, o que galvanizou a comunidade internacional e levou a que lhe atribuíssem, no final do ano, como Património Imaterial de uma Esperança que se abriu ao mundo, o Prémio Nobel da Paz. Aliás, a tensão internacional que existia entre o Irão[7] e os EUA, vinda do mandato da Administração Bush, a propósito da suspeita da corrida iraniana ao armamento nuclear foi reduzida sob os auspícios do Presidente Barack Obama, não obstante tenha havido alguns recuos nesta aproximação diplomática.

 

Em suma, as linhas de força que atravessaram a primeira década do século XXI (2001-2010) apontam para uma série de grandes desafios que a Humanidade tem de enfrentar, nesta conjuntura da Globalização desregulada, para se salvaguardar uma intransigente defesa dos Direitos Humanos a nível planetário. Só com um Espírito Humanista, moldado por líderes como Barack Obama, será possível ultrapassar os vícios tecnocráticos em que as sociedades oligárquicas do início deste século se deixaram enredar. Assim, urge um Espírito Universalista que infunda um cunho Ético às relações da comunidade internacional transformando o cerne da Globalização[8].   

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão   



[1] Em Bombaim, na Índia, a 26 de Novembro de 2008 houve, também, um ataque terrorista de larga escala em que morreram quase duzentas pessoas e várias centenas de pessoas ficaram feridas.

[2] Mohamed ElBaradei, A Era da Mentira, Lisboa, Matéria-Prima Editores, 2011, pp. 65-110.

[3] Vince Cable, “A grande contracção do crédito”, in A Tempestade – A crise económica mundial e seu significado, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2009, pp. 41-72.

[4] Henrique de Medina Carreira, O fim da ilusão, Carnaxide, Editora Objectiva, 2011, pp. 32-37.

[5] Alguns autores, partindo de pressupostos ideológicos conservadores, não falam de crise da social-democracia, mas de falência desse modelo político: Cf. Vasco Pulido Valente, “A evidência – As sociedades da social-democracia não voltam” in Público, nº 7812, 27 de Agosto de 2011, p. 40.

[6] Mário Soares, Um Mundo em Mudança, Lisboa, Círculo de Leitores – Temas e Debates, 2009, pp. 143-146.

[7] Não nos esqueçamos que G.W. Bush considerou num discurso político célebre, a 22 de Janeiro de 2002, o Irão, o Iraque e a Coreia do Norte como países que constituíam um “Eixo do Mal”.

[8] O modelo da Globalização alternativa proposto pelas várias edições do Fórum Social Mundial, de 2001 a 2010, tem questionado o pensamento único imposto pelo Capitalismo Financeiro e delineado caminhos alternativos para uma Humanidade preocupada com os Direitos Humanos e o bem-estar global das populações. Vide Boaventura Sousa Santos, “Outro mundo é possível”, in Portugal – Ensaio contra a autoflagelação, Coimbra, Edições Almedina, 2011, pp. 137-150.

PROGRESSO ECONÓMICO E SAÚDE NO MUNDO DE 1810 À ACTUALIDADE

Vale a pena observar este interessante vídeo que nos mostra um pouco da História do progresso económico, dos níveis de saúde no mundo ao longo dos últimos dois séculos, de 1810 a 2010. Verificamos, claramente, a existência de um progresso da Humanidade em termos de indicadores de riqueza e de saúde, o que agradaria certamente a Adam Smith na sua teoria do enriquecimento das Nações, mas a continuação da subsistência de grandes desigualdades, de assimetrias económicas e de diferenças no acesso aos cuidados básicos de saúde, internas e externas, nesta Era da Globalização, certamente o fariam reflectir sobre a sustentabilidade da sua teoria económica.

 

Este vídeo, que vos apresento, trata-se de um meritório trabalho de divulgação de um médico britânico que importa conhecer para se perceber a importância da qualidade de vida e do debate em torno dos modelos de desenvolvimento. Estamos a caminhar rapidamente para 2015 e tarda fazer cumprir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio assinados por quase 200 países perante o alto patrocínio da ONU.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão  

 

CIMEIRA DA NATO (OTAN), 2010, EM LISBOA – BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E GEOPOLÍTICAS

 

O envolvimento de Portugal nas operações da Nato no Afeganistão e a necessidade de prestigiar o nosso país neste momento em que os voláteis mercados internacionais desconfiam da nossa capacidade de solver os juros dívida pública externa podem ter determinado os órgãos de soberania da pátria lusitana a fazer esta proposta, de realização da Cimeira de Lisboa em 2010 a 19 e 20 de Novembro, aos dirigentes da Nato.

 

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN/NATO) foi criada em 1949 no contexto inicial da guerra fria entre as duas superpotências (EUA-URSS), tendo Portugal ingressado no período do Estado Novo, de forma imediata nesta Aliança de defesa militar, pela sua política geoestratégica de protecção das suas colónias no conturbado ambiente anticolonialista do pós-guerra. Constituiu-se, assim, como uma aliança militar anti-soviética em pleno período de corrida ao armamento e de tensão entre os dois blocos rivais, capitalista e comunista. Aderiram à Nato os países da América do Norte e da Europa Ocidental, integrantes do modelo capitalista.

 

Após a queda do muro de Berlim (1989) e a desintegração da URSS (1991) o mundo deixou de ser bipolar, passando a ser unipolar por uns anos, mas com as incapacidades político-militares reveladas pelos EUA tornou-se evidente que o mundo passou a ser, na Era da Globalização, multipolar e, como prova disso, sucedeu o alargamento do G7 para G8 e, posteriormente, para G20. Com o trágico acontecimento de 11 de Setembro de 2001, o mundo aprendeu a viver nas incertezas, de um planeta demasiado intercomunicante, que o transformou numa pequena aldeia de grandes vulnerabilidades.

 

Assim, neste contexto do início do século XXI, emergem novas ameaças a que a Nato, superiormente representada pelo Conselho do Atlântico Norte, procura dar uma resposta eficaz. Das ameaças à segurança dos países membros sobressaem: o perigo terrorista, a eventualidade de uma guerra clássica, a proliferação de armas de destruição maciça (designadamente das bombas atómicas nas mãos de vários países), o risco de uma guerra química ou biológica e o vazio institucional de alguns países que se tornaram “antros” de malfeitores. Por outro lado, a incapacidade militar da Organização das Nações Unidas (ONU) de fazerem prevalecer as normas jurídicas internacionais procedentes do Conselho de Segurança tornou a Nato um instrumento fundamental da segurança colectiva da Civilização Ocidental.

 

Perante estas novas ameaças está a ser revisto, e discutido, o novo conceito estratégico de defesa dos países-membros do Conselho do Atlântico Norte. Quais são, então, os novos inimigos dos países ocidentalizados? No plano da segurança colectiva, os actores hostis parecem ser os guerrilheiros do terror, que atacam as populações civis indefesas, dos países economicamente mais prósperos ou mais interventivos no plano da segurança colectiva Global. Os países sem Estado, como a Somália e o Afeganistão em reconstrução, entre outros, constituem motivo de profunda preocupação, porquanto grupos e indivíduos, aí entrincheirados, fornecem cobertura a actividades criminosas para a segurança internacional, respectivamente com a pirataria no oceano Índico e com o terrorismo de escala planetária.

 

A necessidade de gerir de forma racional os recursos militares da Nato, face à presente crise económica mundial e aos imparáveis gastos militares, exige, nas palavras do Secretário-Geral da Nato, Anders Fogh Rasmussen, a reestruturação das cadeias de comando dos quartéis-generais da organização, implicando uma redução dos comandos estratégicos por uma questão de economia de custos. Neste contexto economicista, o quartel-general da Nato em Oeiras vislumbra-se dispensável no novo figurino institucional da organização. Ou seja, a lógica desta reestruturação passa por reconfigurar as estruturas institucionais, no sentido de as tornar mais leves, reduzindo gastos financeiros, sem perda de capacidade operativa das suas forças responderem com eficácia às novas ameaças emergentes nesta conjuntura da Globalização.

 

Portugal possuiu, actualmente, contingentes militares integrados nas operações da Nato no Kosovo e no Afeganistão. Aliás, em Novembro de 2005 morreu o militar português João Paulo Roma Pereira, do Alandroal, nas operações de segurança no Afeganistão num serviço de grande dignidade prestado à Pátria e à Humanidade. A crise económica internacional constitui uma pressão complementar para uma eventual retirada, faseada, das forças da Nato deste país. Eventualmente, haverá outro ponto informal da agenda desta Cimeira, a introduzir por vontade do seu Secretário-Geral, que será o debate sobre o sistema antimíssil a criar nos países-membros.

 

A Nato e a Rússia estão em processo de reaproximação, depois da queda do figurino político da Europa de leste, resultante da guerra fria, e da integração destes países na União Europeia, daí a sessão de trabalhos prevista entre os responsáveis políticos do Conselho do Atlântico Norte e os responsáveis Russos. A Federação Russa sente necessidade de aproximação ao Ocidente devido à insegurança interna que sente pelo terrorismo checheno e pelas organizações clandestinas que subsistem no país devido ao mercado negro.

 

Perante esta Cimeira internacional, e o impacto mediático que irá ter, os meios de segurança interna foram reforçados na vigilância e na monitorização da circulação aérea, naval e terrestre no território nacional. Nesta medida, foi suspenso por alguns dias o acordo de Schengen, de liberdade de circulação de pessoas da União Europeia, e foi montado por todo o país um sistema de controlo fronteiriço de indivíduos. Este sistema de prevenção foi montado, porque se conhecem os distúrbios que algumas Manifestações, mais aguerridas, habitualmente causam e se acautelam eventuais actos indesejáveis sempre possíveis nestas ocasiões mediáticas.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

Para informações complementares consultar: Cimeira da Nato em Lisboa 2010 e Organização do Tratado do Atlântico Norte

 

 

 

 

 

 

 

 

11 DE SETEMBRO DE 2001: HOMENAGEM EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DA TRAGÉDIA

 

O 11 de Setembro de 2001 foi sem dúvida uma terrível página da História Universal que se traduziu no massacre horripilante e sanguinolento de milhares de inocentes...[1] O colapso do World Trade Center e de parte do Pentágono mostrou ao mundo a vulnerabilidade das grandes potências.

 

Deixo a minha homenagem às vítimas, inocentes, da tragédia de 11 de Setembro de 2001 que merecem que lutemos por um mundo melhor onde estes horrores não voltem a ser possíveis! Só podemos tentar evitar que se repitam novos Holocaustos, novas Guerras Mundiais, novos 11.9.2001 se houver bom senso da parte dos líderes e dos povos e um paradigma Civilizacional que se distinga pelo primado da Ética e pela sensibilidade solidária através de uma ONU com poderes reforçados.

 

Com efeito, a ideia do "American Way of Life" sempre me pareceu uma ilusão caleidoscópica a que muitos cidadãos  Europeus se agarravam. Nunca me identifiquei muito com a distintíssima visão do grande pensador Alexis de Tocqueville[2] que, no século XIX, retratou os EUA como o país por excelência da liberdade. Sempre compartilhei mais o pensamento de Noam Chomsky[3] que vislumbrou o povo Norte Americano como materialista, egoísta e individualista que potenciou que as rédeas de R. Reagan, Bush pai e Bush filho levassem esta nação a uma violenta crise de auto-estima que começou com o 11/9/2001 e se prolongou até à crise capitalista despoletada pelas gigantescas fraudes financeiras descobertas na esteira de Bernard Madoff.


Assim, os EUA estão muito longe de servir de paradigma Civilizacional. Tornaram-se mais modestos e mais prudentes com o Presidente Barak Obama é certo, mas precisam de se concentrar mais na casa comum, da Humanidade que é o nosso planeta, se querem ver-se reconhecidos com autoridade moral.

 

Se é certo que, na primeira metade do século XX, houve Presidentes Norte Americanos com apuradas sensibilidades sociais e senso ético (por exemplo, W. Wilson ou D.F. Roosevelt), na segunda metade do século XX e início do século XXI destacaram-se mais os Presidentes com perfis menos sérios ou mais aguerridos, embora se possa encontrar uma ou outra excepção. Em todo o caso, os EUA tornaram-se o símbolo da sociedade da abundância com um claro embotamento das virtudes espirituais e éticas.

 

Na realidade, podemos traçar um paralelo interessante entre o paradigma Civilizacional Norte-Americano e o paradigma Civilizacional que os Romanos ergueram na Antiguidade Clássica que desembocou numa forte Crise Ética na época de declínio deste Império, como se verifica actualmente com os EUA. Assim, a exacerbação da mentalidade individualista e competitiva e a filosofia do Pragmatismo[4] que os Norte Americanos criaram acabou por moldar um Modelo Civilizacional em que os Europeus pouco acreditam. Não nos devemos iludir, pois o princípio do "salvação social do mais forte" é a lógica do darwinismo social que não permite sociedades mais coesas, mais solidárias, com sentido Ético e suscitadoras de espiritualidades criativas. Não concebo que seja este o paradigma para uma Humanidade mais feliz, socialmente mais justa e mais pacífica!

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão



[1] Foi da leitura, da observação e do comentário dos seguintes “posts” bem interessantes: do Embaixador Francisco Seixas da Costa intitulado “Duas cidades” no seu blogue Duas ou três coisas – notas pouco diárias do Embaixador Português em França, da Professora Ana Paula Fitas intitulado “11 de Setembro – Nove anos de um impacto ainda em curso” do seu blogue A Nossa Candeia e do impressionante documentário que o Advogado Osvaldo Castro nos apresentou intitulado “Memorial 9/11, Goodbye Blue Sky, Pink Floyd" no seu blogue Carta a Garcia que este texto se tornou possível, como podem confirmar nas respectivas caixas de comentários destes blogues.

[2] Alexis de Tocqueville, Da democracia na América, Cascais, Ed. Principia, 2002 ( prefácio de João Carlos Espada ).

[3] Noam Chomsky, Neoliberalismo e ordem global – crítica do lucro, Lisboa, Notícias Editorial, 2000.

[4] A escola filosófica Norte-Americana do Pragmatismo, que enfatizou a necessidade de tornar todos os conhecimentos utilitários, teve em Ralph Waldo Emerson, Charles Sanders Peirce e William James os seus grandes doutrinadores.

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