VI CENTENÁRIO DA DESCOBERTA DA MADEIRA (1418?-2018) - UMA BREVE EVOCAÇÃO HISTÓRICA
As fontes históricas conhecidas não permitem datar, com exatidão, a chegada dos portugueses às ilhas de Porto Santo e da Madeira, havendo divergências na historiografia sobre a data deste acontecimento desde o século XIX. As autoridades madeirenses preferiram comemorar a descoberta oficial de Porto Santo, em 2018, com base numa versão historiográfica da datação, que não recolhe o consenso dos peritos.
João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo foram os navegadores responsáveis pelo achamento destas ilhas atlânticas, que se encarregaram também do seu povoamento inicial.
As ilhas da Madeira e de Porto Santo eram conhecidas desde o século XIV, como o provam documentos cartográficos, segundo os estudos de Armando Cortesão, mas foi, efectivamente, por volta dos anos de 1418-1420 que foram descobertas oficialmente. Assim, na cartografia estrangeira do século XIV aparece já a toponímia de origem portuguesa nestas ilhas atlânticas.
Sendo certo que, desde 1425, os seus territórios começaram a ser povoados, apenas nas décadas de 1440 e de 1450 se constituíram as capitanias-donatarias de Machico, do Funchal e de Porto Santo, atribuídas pelo Infante D. Henrique àqueles navegadores, com amplos poderes de administração civil, criminal e económica, configurando, no fim da Idade Média, um autêntico regime senhorial.
A ilha da Madeira constituiu-se ainda no século XV como uma importante plataforma comercial. Nesta atividade mercantil avultaram, como principais produtos de exploração silvícola e agrícola, a madeira, o pastel e a urzela como plantas tintureiras, o trigo, o vinho e o açúcar.
Nos primeiros anos do segundo quartel da centúria, afirmou-se o trigo como cereal escasso na metrópole e, a partir da década de 1470, o açúcar como o produto preponderante de comercialização.
Como é consabido, a Madeira era conhecida dos navegadores portugueses desde o século XIV, mas na realidade já se efectuavam contactos marítimos com os territórios desde a Antiguidade, ou seja, desde o século VII a. C..
As navegações iniciais de Trezentos à Madeira encontram-se descritas em fontes históricas como a Relação de Francisco Alcoforado, do primeiro quartel do século XV, o escrito de Gaspar Frutuoso As Saudades da Terra, do fim do século XVI, e a Crónica dos Feitos da Guiné de Gomes Eanes de Zurara.
É bastante provável que a descoberta oficial da Madeira tenha acontecido no contexto das navegações atlânticas, ao longo das costas do Norte de África, por ação de ventos e de correntes marítimas inusitadas.
Nuno Sotto Mayor Ferrão