A CARICATURA NOS CARTOONS DESIGNADOS ZITS DE JERRY SCOTT E JIM BORGMAN
Os Zits de Jerry Scott e Jim Borgman já foram publicados em mais de 1500 jornais internacionais e estão agora disponíveis em livros traduzidos em várias línguas. O humor subtil e, tantas vezes, corrosivo dos autores retrata bem o conflito de gerações entre pais, que viveram numa outra conjuntura histórica, e filhos que vivem na conjuntura da Globalização das novas tecnologias e do consumo desenfreado. A forma sarcástica como o protagonista, Jeremy, é representado faz-nos, muitas vezes, compreender com boa disposição as angústias e as indecisões de muitos adolescentes e os constantes conflitos com os seus pais. A falta de comunicação é-nos apresentada como um dos problemas que subjaz a estas situações de corrente conflitualidade parental.
A caricatura, em Portugal, teve um tão elevado representante em Rafael Bordalo Pinheiro, na transição do século XIX para o XX, que nos deu as bases de inteligibilização destas leituras sardónicas. É caso para dizer que uma boa imagem vale mais que mil palavras… O desenho de qualidade pode, com poucas imagens, fazer-nos perceber melhor uma comunicação gestual do que muitas vezes uma descrição verbal, pormenorizada, que pode fazer-nos perder o núcleo das questões essenciais.
Além disso, as imagens metafóricas passam-nos uma mensagem de forma rápida, fazendo-nos sorrir ou rir com situações já nossas conhecidas. Nas várias pranchas cómicas dos Zits tratam-se temas, do quotidiano, dignos de reflexão: por um lado, os adolescentes são vistos como muito dependentes das novas tecnologias e amigos da descontracção e da preguiça (atente-se na forma como Jeremy se senta no sofá ou no modo frenético como se levanta depois de ter estado na preguiça mais tempo), por outro lado, os pais são perspectivados, também, pelo lado dos adolescentes como antiquados, formais e demasiado rotineiros, sendo esta a base para a compreensão de muitas faltas de entendimento entre as gerações de pais e filhos. Vale, pois, bem a pena ler estes livros!
Nuno Sotto Mayor Ferrão