OS GRANDES MESTRES DA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa tive a oportunidade de interagir com uma plêiade de notáveis professores que foram ou, ainda, são grandes mestres do saber. Além destes com quem me cruzei, outros houve que viviam no imaginário desta Faculdade pela força dos seus nomes na Cultura Portuguesa. De entre estes, quero destacar como historiadores o Padre Manuel Antunes e José Leite de Vasconcelos e o filósofo Delfim Santos.
Sem o conhecer como professor, embora pairando sempre no meu imaginário esteve o mediático professor e jornalista Fernando Piteira Santos. Também Raul Rosado Fernandes suscitava a minha admiração por ser um estudioso do classicismo greco-latino e um político conhecido do CDS, de que tive o privilégio de ler as suas Memórias cheias de uma inspiração classicista (Memórias de um rústico erudito, 2006).
De outras áreas humanísticas com os quais me cruzei sem abrir palavra, mas com retumbante admiração, contam-se os professores e escritores Urbano Tavares Rodrigues e David Mourão-Ferreira e os professores de filosofia José Barata-Moura e Viriato Soromenho-Marques.
Deste primeiro professor referido consta uma engraçada coincidência que nunca explorei: escreveu um livro relatando a visita do Almirante Sarmento Rodrigues às províncias ultramarinas portuguesas do oriente (Jornadas do Oriente "Lisboa-Goa e volta", 1956), entretanto faleceu sem que o tenha o interpelado com esta minha curiosidade.
Como professores a quem muito devo, com gratidão e reconhecimento, contam-se figuras distintas da Historiografia nacional como Joaquim Veríssimo Serrão, que escreveu uma obra volumosa e de grande erudição História de Portugal; o Professor João Medina, coordenador e orientador do meu Mestrado, que se distinguiu pela sua prosa literária, mas repleta de uma profunda erudição histórica; o Professor Jorge Borges de Macedo, que sempre se revelou de uma inteligência sintética que nos abria novas perspectivas de compreensão nas suas ricas prelecções e nos seus textos magistrais; o Professor António Borges Coelho, de uma simplicidade na maneira de ser e um trato verdadeiramente humanista, de que pude apreciar a sua apurada sensibilidade.
Do Professor Manuel Mendes Atanázio, que em matéria de História da Arte era a sumidade maior, antes da chegada de Vítor Serrão, que se destacava pela excentricidade e arrojo interpretativo, impressionando-nos pela agudeza crítica do seu olhar, sempre penetrante nas obras de arte e interessante pelo humor constante com que nos prendia a atenção.
O Professor António Dias Farinha de uma inexcedível simpatia e sempre interessado em orientar-nos com as suas pistas de investigação, que foi um grande professor da História dos Descobrimentos, mas que se veio a tornar num perito nacional na cultura islâmica.
Os professores José Manuel Tengarrinha e António Ventura, o primeiro com uma experiência política admirável como anti-salazarista, deputado constituinte e fundador do MDP/CDE e o segundo como um reputado especialista da Maçonaria e um intransigente defensor da Cultura Alentejana, com os quais convivi no Mestrado.
À Professora Ana Maria Leal de Faria, a quem muito devo pela promoção da minha auto-estima cultural, que me orientou pelos trilhos de Didáctica da História e com quem me cruzei em espaços de afeição cultural, da Biblioteca Nacional de Lisboa ao grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian.
Em suma, estes foram e alguns, felizmente, são ainda grandes mestres da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa que influenciaram gerações de estudantes, dando-nos a certeza de que nem só de pão vive o Homem, mas também do espírito que alimenta e ilumina o nosso caminho.
Nuno Sotto Mayor Ferrão