Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Chegados com o vosso interesse, paciência e curiosidade às 40. 000 visitas importa fazer um breve balanço quantitativo deste nosso blogue, pois o balanço qualitativo deixo para outra ocasião ou, mesmo, para os vossos comentários. Por razões de comodidade farei arrendamentos, por aproximação, às unidades referidas. Já fiz cerca de 150 “posts” (textos) desde 23 de julho de 2009, data em que este blogue foi criado sob o estímulo de muitos amigos que já aqui tenho recordado. O blogue tem cerca de 265 comentários feitos por variadíssimos leitores, o que torna este um espaço aberto à reflexão e à discussão num ambiente de cordata amabilidade entre os diversos intervenientes.
Atualmente, o blogue conta com uma média de mais de 70 visitas diárias que variam muito no tempo de duração e com uma média mensal que ultrapassa as 2.000 visitas. Houve um salto quantitativo de 2010 para 2012, pois o blogue cresceu em média 50%, ao ano, passando de uma média mensal de cerca de 1000 visitas para as cerca de 2000 que se têm verificado no presente.
O blogue conta já com quase 1000 dias de existência e com cerca de 766 dias em que tem instalado um contador (sitemeter), que começou a funcionar a 12 de fevereiro de 2010. Este espaço de cultura, de reflexão e de liberdade, que é de todos, não seria possível sem o vosso inestimável e gratificante apoio, porque saber que estou a escrever para leitores amigos e interessados que compartilham muitas afinidades é um prazer redobrado.
49% das visitas são provenientes de Portugal, 31% têm origem desconhecida, 14% são oriundas dos Estados Unidos da América e 6% são originárias do Brasil. É interessante saber que 79% dos leitores lêem estes textos em português e 21% os lêem em inglês. Há visitantes, sobretudo, de três continentes: Europa, África e América, sendo mais raras as visitas da Ásia ou da Oceânia, mas já estão registadas algumas entradas esporádicas.
O interesse que este blogue tem recebido, com um exponencial crescimento do número de visitantes, tem tornado possível e tem acicatado muitas das minhas reflexões e investigações no âmbito de problemáticas ligadas à cultura, à cidadania e à atualidade do mundo em que vivemos. Foi, aliás, esta atividade, a par da atenção de vários leitores amigos, que tornou possível a minha colaboração em outros blogues (Milhafre – blogue do Movimento Internacional Lusófono e Mensagens do Agrupamento Damião de Góis – blogue da Biblioteca do Agrupamento Damião de Góis) e em duas revistas (Nova Águia – revista de Cultura e Brotéria – revista de Cultura Cristã), bem como o amável e estimulante desafio que recebi para proferir uma conferência inserida no II Ciclo de Estudos de Homenagem ao Professor António Telmo.
Este blogue, além de ser um espaço de opinião, procura ter uma dimensão de formação cultural nos temas que aborda pelas pesquisas que procuro ir desenvolvendo. Espero continuar a ter o prazer das vossas leituras interessadas, das vossas sugestões e dos vossos comentários. Bem-haja caríssimos/as amigos/as leitores/as!
“(…) A liberdade está ameaçada, e a educação para a liberdade é urgentemente necessária. (…)”
in Aldous Huxley, Regresso ao Admirável Mundo Novo, Lisboa, Livros do Brasil, s.d., p. 227
O nosso mundo parecendo progredir, nos últimos anos à custa de uma prometida Globalização, tem caído numa teia de crises que geram nas mentalidades das pessoas um sentimento de profunda incerteza. Na verdade, as revoluções da “Primavera Árabe”, agora no fim da sangrenta guerra civil na Líbia, tem-se traduzido numa luta contra regimes políticos opressivos no Norte de África e no Médio Oriente. No entanto, das revoluções desconstrutivistas aos sonhados regimes democráticos plenos vai uma distância abissal de um longo caminho que urge trilhar.
Assim, os povos do mundo parecem clamar por Estados de Direito, que salvaguardem a justiça social e o civismo, parecendo, na aparência, dar razão à consabida tese de Francis Fukuyama[1] de fim da História. No entanto, esta perspectiva é uma pura ilusão dos ingénuos, pois as conquistas democráticas da “Primavera Árabe” ainda são muito prematuras e o sistema internacional tem esvaziado, sob pressão de uma Globalização Financeira, os regimes democráticos. É certo que um vento de Esperança surgiu nos EUA com a eleição do Presidente Barack Obama em 2009.
Na União Europeia, devido à falta de vontade política, os regimes democráticos têm entrado, como sustenta Boaventura Sousa Santos[2], num ritmo de baixa intensidade, reduzindo as formas de participação dos cidadãos através de liberdades sitiadas e de direitos sociais a minguar. Estes constrangimentos Europeus decorrem da ditadura dos mercados financeiros, aceites pela mulher mais poderosa do planeta[3] (chanceler alemã Ângela Merkel) e pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, que se recusam a gizar uma estratégia comunitária ousada que sirva de alternativa. De facto, este é um tempo em que domina no Velho Continente o pensamento único[4], neoliberal, que adormece e torna apática a consciência cívica dos povos Europeus.
Neste tom de resignação ideológica Ângelo Correia, figura bem conhecida da vida política portuguesa, disse, no Jornal da Noite da RTP-N de 28 de Julho de 2011, que o mundo tem de aceitar e consciencializar-se da inevitabilidade do pensamento único. Aliás, Henrique Medina Carreira[5] e Manuela Ferreira Leite[6] já advogaram implicitamente, ou mesmo explicitamente, que o controlo das contas públicas, em anos anteriores, só se seria possível com um regime autoritário.
Em conclusão, no nosso mundo as liberdades estão longe de progredir, embora as promessas de um Admirável Mundo Novo[7] façam sorrir povos oprimidos, como a Líbia a libertar-se do regime do coronel Kadafi, porque o sistema da Globalização Financeira quer impor ao mundo uma única filosofia de vida, consumista, que aproxima a Humanidade do abismo ecológico e social. Com efeito, só esta consciência das liberdades ameaçadas poderá despertar a opinião pública mundial para a iminente tragédia decorrente da apatia cívica e da falta de sentido crítico face à Globalização Financeira em que as elites têm querido adormecer as populações.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
[1] Francis Fukuyama, “A Revolução Liberal Mundial”, in O Fim da História e o Último Homem, Lisboa, Editora Gradiva, 1992, pp. 59-70.
[2] Boaventura Sousa Santos, Portugal – Ensaio contra a autoflagelação, Coimbra, Almedina Editora, 2011, pp. 131-132.
[3] De acordo com informação divulgada em Agosto de 2011 pela revista “Forbes”.
[4] Há autores inspirados que já falam nesta presente conjuntura como a manifestação de um Despotismo Esclarecido dos dissimulados defensores da ideologia neoliberal.
[5] Henrique de Medina Carreira, “O fim da ilusão”, in O fim da ilusão, Alfragide, Editora Objectiva, 2011, pp. 93-97.
[6] Ficou conhecida nos anais da História Política Portuguesa a frase de Manuela Ferreira Leite de que para endireitar as Finanças Públicas Portuguesas era necessário um interregno da democracia por uns meses.
[7] Aldous Huxley foi um escritor inglês de renome internacional que publicou um romance satírico com o título de Admirável Mundo Novo que anunciava as ameaças que o futuro parecia trazer à liberdade. É muito interessante o ensaio que passados quase trinta anos este autor escreveu sobre o mundo contemporâneo ( Aldous Huxley, Regresso ao Admirável Mundo Novo, Lisboa, Livros do Brasil, s. d.).
Mário Vargas Llosa, escritor, jornalista, ensaísta, professor universitário e político, nasceu em Arequipa, no Peru, em 1936. Foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura de 2010 na tradicional atribuição da Academia Sueca de Ciências, a 7 de Outubro, com o fundamento de ter desmascarado, nas suas descrições literárias, as opressivas estruturas das ditaduras, os meandros do poder político e de ter colocado como tema central dos seus livros a liberdade como correlativo indispensável da felicidade. A sua escrita de um apurado recorte literário, de matriz clássica, já merecia este galardão.
Da sua formação inicial destaca-se a sua frequência no Colégio Militar Leôncio Prado, na povoação de La Perla, que terá, certamente, forjado o seu temperamento fortemente disciplinado como o reconheceu, na televisão portuguesa, em entrevista à jornalista Judite de Sousa. Na capital do Peru, Lima, nos anos 50 estudou Letras e Direito na Universidade de São Marcos. Veio, mais tarde, a doutorar-se em Filosofia e em Letras na Universidade Complutense de Madrid com uma tese sobre Gabriel Garcia Marquez. No entanto, na sua vida literária manteve sempre uma forte animosidade com este escritor, tal como em Portugal António Lobo Antunes manteve com José Saramago.
Lembro-me de ter lido, através de excertos publicados no “Diário de Notícias”, as denúncias que Mário Vargas Llosa fez a propósito da invasão do Iraque em 2003 em que muito do Património Histórico da Mesopotâmia foi saqueado e roubado da Biblioteca de Bagdad.
Deixando-se arrastar pelas suas férreas convicções e pela força da sua consciência assumiu-se como um político de Direita, de laivos conservadores, que se candidatou à Presidência da República do Peru em 1990. Fê-lo, com o apoio partidário da FREDEMO, subscrevendo ideias liberais de luta contra a estatização da economia Peruana, no entanto a sua peleja política saldou-se por uma derrota eleitoral que deu a vitória a Alberto Fujimori. Devido ao ambiente adverso que sentiu no seu país, após esta derrota, adquiriu a nacionalidade espanhola, tendo hoje uma dupla nacionalidade.
A marca distintiva da sua valorosa obra literária foi, sempre, o seu combate pela liberdade individual que procedeu de alguma influência filosófica recebida do Existencialismo de Jean-Paul Sartre, apesar das evidentes diferenças de quadrante político-ideológico. Assim, a sua escrita caracteriza-se por um estilo fluente, que nos absorve, de uma matriz classicista expressa numa linguagem cuidada no respeito pelas regras gramaticais e pelo enriquecimento lexical dos leitores.
Por outro lado, quanto aos conteúdos das suas ficções abordou com grande mestria os temas políticos e eróticos. Sempre considerei que era um dos escritores que melhor escrevia por compaginar o rigor dos cânones gramaticais ao tratamento de temas que apelavam à imaginação ou ao empenhamento político nas sociedades Latino-Americanas. Já tinha vincado, num dos “posts” deste blogue, o valor que lhe atribuía em “A Literatura e a blogosfera”, pois a sua prosa escorreita e bem firmada nos valores do Património Cultural da Humanidade fazem-me lembrar o vigor criativo de Marguerite Yourcenar.
Da sua prolífera obra literária destaco como livros de ficção mais emblemáticos: A Casa Verde (1966), Conversa na Catedral (1969), O falador (1987), Quem matou Palomino Molero ? (1986), Elogio da Madrasta (1988), Os cadernos de Dom Rigoberto (1997), O Paraíso na Outra Esquina (2003) e Travessuras da Menina Má (2006).
No entanto, o livro que me abriu ao inesgotável universo Llosiano foi o seu fantástico romance “O falador” na medida em que se confrontam duas mundividências, a racional de um amigo de um etnólogo e a de um contador de histórias indígena, a partir de duas visões cósmicas de uma mesma tribo amazónica. Um livro verdadeiramente encantatório para quem pretenda começar a conhecer a literatura deste consagradíssimo escritor. Outro livro que recomendo, vivamente, é “O Paraíso na Outra Esquina” que nos fala da procura da felicidade, contando-nos um pouco a história de vida de Paul Gauguin e do seu contacto com Vicent Van Gogh. Deixo-vos aqui um empolgante testemunho, do próprio Mário Vargas Llosa, do que deve ser o papel crucial da Literatura na vida da Humanidade.
O regime do Estado Novo, tal como os regimes autoritários seus contemporâneos, limitou os direitos e as liberdades individuais amesquinhando as virtualidades criativas dos fenómenos culturais. Houve, assim, um empobrecimento das actividades culturais que eram alvo da censura prévia: na imprensa, no teatro, no cinema, na rádio e na televisão. Neste contexto repressivo, o Secretariado de Propaganda Nacional/ Secretariado Nacional de Informação, inicialmente dirigido por António Ferro até 1949, procurou criar padrões culturais adaptados à ideologia Salazarista na designada “Política do Espírito”.
Como exemplo da tentativa de refrear os ímpetos de insinuações simbólicas na Literatura podemos evocar o livro do escritor Aquilino Ribeiro “Príncipes de Portugal suas grandezas e misérias”[1] publicado em 1952 e impedido pela Direcção dos Serviços de Censura de ser reeditado no ano seguinte.
Com a Revolução do 25 de Abril de 1974, que comemoramos este ano o trigésimo sexto aniversário, instaurou-se um regime de liberdade política e cultural que permitiu que as criações culturais se espraiassem pelo país. Apareceram as obras de marcada índole interventiva ( nas canções, na poesia e na “arte mural” ) que ajudaram à desestruturação das mentalidades da sociedade portuguesa. A cultura portuguesa foi, pois, bafejada por uma lufada de ar fresco que lhe permitiu renovar-se.
A revista “Nova Águia”[2], surgida em 2008, sendo inspirada na revista “A Águia” pretende recriar o vigor cultural e espiritual dos criativos agentes intelectuais do início do século XX. No “Manifesto” da “Nova Águia” evidencia-se a crise cultural em que o país vive, pretendendo-se com o concurso de várias sinergias sociais e institucionais incutir um novo vigor cultural a Portugal.
A “Nova Águia” colhe, pois, a inspiração da ínclita geração dos intelectuais portugueses do início do século XX que verteram a sua criatividade, inteligência e sensibilidade na revista “A Águia”, mas deseja responder aos prementes desafios de padronização cultural implicados pelo processo da Globalização. Deste modo, esta revista, semi-revivalista, acredita nas potencialidades do legado do património cultural português que nos define como uma identidade nacional, cujo valor é relevante para enfrentar estes imensos desafios. Daí o paradigma cultural da “Nova Águia” assentar na concepção de um universalismo lusófono, defendido por Jaime Cortesão, que permita a Portugal ajudar a edificar uma alterglobalização[3].
Assim, tal como a “Águia”, se constituiu como órgão de informação da “Renascença Portuguesa”, a “Nova Águia” é o veículo informativo/formativo de comunicação do Movimento Internacional Lusófono que pretende pela acção cívica e cultural dentro do espaço geográfico da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa consolidar um sentimento de pertença e de entreajuda entre os povos irmãos em afinidades afectivas e experiências históricas.
O tema do número cinco da revista “Nova Águia” resulta do entrelaçamento entre a comemoração do nascimento da revista “A Águia” de 1 de Dezembro de 1910, dado que esta foi um projecto que teve frutos espirituais muito importantes[4], e da ponderação dos diversos colaboradores relativamente ao diagnóstico da situação cultural portuguesa dos nossos dias. Se nos diversos textos de qualidade e rigor, que nos são apresentados, aparecem diversas perspectivas, todas nos traduzem um labor de pesquisa, de reflexão e de inspiração em torno da articulação destas duas problemáticas. Em particular, destaco, pelo vigor conceptual, os textos dos Professores Adriano Moreira, Paulo Borges e Pinharanda Gomes.
Como vos disse a cultura portuguesa no quadro da Globalização em curso está cada vez mais estereotipada e manietada pelos constrangimentos desta conjuntura internacional. Na verdade, a cultura surge como um bem crescentemente subalternizado, em detrimento de uma Civilização intelectual e eticamente responsável, pois a educação crescentemente tem sido submersa pela exacerbada valorização dos paradigmas tecnicistas tão ao gosto dos políticos tecnocráticos de serviço. A constatação desta realidade socioeducativa do nosso mundo, que vive numa sociedade da informação, desperta-nos para o paradoxo subsistente no facto de uma grande parte da população, apesar de alfabetizada, permanecer num estado de iliteracia que dificulta a intervenção cívica.
Não espanta que os tecnocratas “esfreguem as mãos” de contentamento ao manietarem as capacidades de intervenção cívica das populações com este tipo de paradigma educativo e com a crescente complexidade da teia legislativa. Edmund Burke[5], teorizador do conservadorismo no século XVIII, ficaria radiante com esta estratégia dos modernos tecnocratas que tem conduzido à prevalência das “democracias musculadas” de que os politólogos nos têm falado.
A cultura segundo a acepção dos sociólogos[6] tem uma dimensão mais lata por abranger valores, princípios, normas e costumes e, por isso, quanto mais claustrofóbica for uma cultura menos possibilidades criativas lhe são oferecidas. Reside, portanto, aqui o verdadeiro dilema das sociedades contemporâneas que se querem excessivamente competitivas e organizadas, que ao reduzirem os tempos de lazer, levam ao fechamento cultural, ao empobrecimento qualitativo da vida dos cidadãos e à pouca estimulação das capacidades criativas em benefício da domesticação tecnocrática das democracias e dos cidadãos.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
[1] Aquilino Ribeiro, Príncipes de Portugal suas grandezas e misérias, Lisboa, Portugália Editora, 2008.
[3] Vide para uma percepção actualista o livro no prelo de Renato Epifânio, A via lusófona – um novo horizonte para Portugal, Sintra, Edições Zéfiro, 2010 é fundamental ou, para uma sistémica percepção cultural, o livro de Paulo Borges, Uma visão armilar do mundo, Lisboa, Edição Verbo, 2010.
[4] Nuno Sotto Mayor Ferrão, “Leonardo Coimbra, a revista “A Águia” e o panorama cultural contemporâneo”, in Nova Águia, nº 5, Sintra, Editora Zéfiro, 2010, pp. 34-36.
[5] António de Sousa Lara, “Edmund Burke (1729-1797), in Da História das ideias políticas à teoria das ideologias, Rio de Mouro, Editor Pedro Ferreira, 1995, pp. 192-196.
[6] Antonhy Giddens, Sociologia, Lisboa, Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 2009, pp. 46-47.