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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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20 ANOS DA EXPO 98 (1998-2018) E OS 78 ANOS DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS (1940-2018)

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A 23 de maio de 2018 assinalam-se os 20 anos sobre a realização da Expo 98, certame internacional no contexto inicial da globalização, em que se celebrava o V Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Este evento motivou o nome atribuído à segunda ponte sobre o Tejo da cidade de Lisboa, com o navegador responsável pelo feito – Vasco da Gama e que foi inspirado - e muito melhor planeado - na Expo Sevilha 92, que registou publicamente a descoberta das Antilhas por Cristovão Colombo.

 

A Expo 98 veio a modernizar uma zona ribeirinha de Lisboa marcada pela paisagem industrial, permitindo aos cidadãos uma maior proximidade vivencial com o rio Tejo. António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura idealizaram este certame internacional, que renovou a paisagem urbanística de Lisboa. De uma cidade de traçado e de perfil tradicional em termos urbanísticos e arquitectónicos, não obstante as erupções modernistas de Porfírio Pardal Monteiro, transformou-se numa cidade com um pólo muito modernista, que veio a designar-se de Parque das Nações.

 

O crescimento da cidade de Lisboa, em direção ao interior, desde o início do século XX, com o surgimento das Avenidas Novas durante o Estado Novo e com bairros novos no fim do regime da ditadura e no início do regime democrático levou os lisboetas, alfacinhas, a virarem as costas ao rio.

 

Contudo, Lisboa tem duas faces inequívocas: a zona litoral ligada ao Império Colonial Português e à expansão marítima e a zona interior, que confina com a “região saloia”, hoje transformada em área metropolitana da capital com cidades-satélite e localidades autênticos dormitórios, em que as casas se debruçam sobre os campos, aproveitando o facto para fazerem pequenos quintais de produtos hortícolas, como bem o frisou o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles na sua definição da identidade alfacinha da cidade de Lisboa.

 

Tal como a Expo 98 possibilitou a renovação da área urbana na zona oriental de Lisboa, também em 1940 a zona de Belém, que se encontrava bem degradada com um hediondo parque industrial, foi nobilitada pela realização de arranjos urbanísticos no seio da Exposição do Mundo Português.

 

A exposição internacional do fim do século XX foi o motivo para a renovação urbanística deste espaço da capital portuguesa, tendo tirado partido dos ensinamentos advindos da Expo de Sevilha de 1992, em que o recinto de exposições se volveu num espaço fantasma, abondonado ao vento e aos insectos. 

 

Na Expo 98 edificaram-se pavilhões efémeros de vários países, mas também foram construídos vários edifícios perduráveis como o antigamente denominado Pavilhão Atlântico, o Pavilhão de Portugal ou o Oceanário, entre outros.

 

Na Exposição do Mundo Português a maioria dos pavilhões, como são os casos do Pavilhão da Formação e Conquista, do Pavilhão da Independência e do Pavilhão dos Descobrimentos, foram construídos em materiais efémeros e apenas alguns persistem como o denominado Museu de Arte Popular e o Padrão dos Descobrimentos, este edificado de forma definitiva em 1960 para assinalar o V Centenário da morte do Infante D. Henrique e a própria Praça do Império.

 

A Exposição do Mundo Português, que foi inaugurada a 23 de junho de 1940, em pleno contexto da 2ª guerra mundial com a Europa sob o jugo nazi, decorreu no contexto nacionalista do regime de António de Oliveira Salazar, celebrando, concomitantemente, as datas de 1140 e de 1640 ligadas à independência portuguesa do reino e à restauração da soberania nacional após o domínio Filipino. O espaço industrial de Belém foi transformado em espaço urbano, que com o decorrer das décadas do século XX se assumiu como um espaço nobre de manifestações públicas e, igualmente, um lugar privilegiado do turismo cultural.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

A RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA PORTUGUESA DE 1 DE DEZEMBRO DE 1640 E A RESTAURAÇÃO DO FERIADO NACIONAL

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As promessas de Filipe I de Portugal nas Cortes de Tomar e a riqueza do reino espanhol favoreceram a instauração da União Ibérica (1581-1640). Todavia, algo mudou no início do século XVII com a crise económica e social que afectou a Espanha e com a guerra em que se envolveu (Guerra dos Trinta Anos), que levaram à mobilização dos exércitos portugueses e ao lançamento de novos impostos em território nacional.

 

Este desrespeito pelas promessas das Cortes de Tomar levou ao descontentamento português, com vários levantamentos populares e várias revoltas em diversas regiões do país. Foi assim que, em 1637, se levantou uma revolta em Évora, dirigida por um senhor chamado Manuel (Revolta do Manuelinho, que dá nome a um largo nesta cidade alentejana), que se espalhou por outros pontos do país, mas que foi abafada pelo poder militar espanhol.

 

A restauração da independência portuguesa de 1 de dezembro de 1640 foi desencadeada para superar a crise política, decorrente da prepotente governação do conde-duque de Olivares, que tomou medidas à revelia das promessas autonómicas feitas nas Cortes de Tomar de 1581 por Filipe I de Portugal.

 

O golpe de Estado palaciano que lhe deu origem envolveu cerca de uma centena de aristocratas portugueses, que estavam afastados das benesses do domínio filipino. Este acontecimento foi acompanhado de assassínios políticos, designadamente de Miguel de Vasconcelos, dado este representar a administração espanhola de Filipe IV (Filipe III de Portugal). Esta insurreição palaciana teve uma adesão generalizada em Portugal continental nas semanas seguintes.

 

Se os motivos de descontentamento nacional se somavam contra as prepotências espanholas, a assumida liderança do movimento da parte do duque de Bragança, D. João, aquando dos apoios externos franceses e internos, da nobreza e do povo, garantiram a durabilidade do movimento da restauração da independência de Portugal face à Coroa Espanhola.

 

Com efeito, não obstante a restauração de facto ocorrer em 1640, só houve uma restauração de jure ou de nível constitucional nas Cortes de Lisboa de 1641, pois foi aí que se reconheceu a legitimidade dinástica da Casa de Bragança e a evidente usurpação do estatuto autonómico por parte de D. Filipe IV de Espanha (Filipe III de Portugal). Nos anos subsequentes, tanto a Igreja Católica como o imaginário popular corroboraram a validade do golpe de Estado restauracionista[1].

 

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Por outras palavras, a 1 de dezembro de 1640, em Lisboa, revoltosos populares e da nobreza tomaram o poder e restauraram a independência portuguesa. D. João, duque de Bragança, foi aclamado rei de Portugal, junto ao Largo de S. Domingos no palácio hoje designado Palácio da Independência. Todavia, foi necessário reforçar o exército, fabricar armas e fortalezas nas zonas fronteiriças para garantir a independência, através das guerras da restauração, que duraram de 1640 a 1668, pois só então, com o tratado de paz em Lisboa, os espanhóis reconheceram a independência portuguesa.

 

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No ano passado, em 2015, o governo português decidiu, com legitimidade histórica e bom senso patriótico, restaurar o feriado nacional, num momento em que a globalização desregulada está a passar por uma evidente crise, que o anterior governo português, sob a pressão germânica, tinha decidido “congelar” por algum tempo.

________________________________

[1] Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, “A Restauração (1640-1668)”, in História de Portugal, A Esfera dos Livros, 2010, pp. 295-302.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

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LISBOA NOS SEUS ARRANJOS URBANÍSTICOS, DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS ÀS OBRAS DA AUTARQUIA (1940-2017)

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Em 1940, em celebração da fundação da nacionalidade portuguesa (1140) e da restauração da independência portuguesa (1640), ergueu-se a Exposição do Mundo Português, no sítio de Belém, que renovou urbanisticamente uma área desfeiada com infraestruturas industriais, como já o denunciava Ramalho Ortigão, no final do século XIX no livro O culto da arte em Portugal.

 

Deste modo, com este evento ergueu-se a Praça do Império e as suas respetivas esculturas do artista António Duarte, que dignificaram o largo de acesso ao Mosteiro evocativo dos descobrimentos portugueses, bem como de docas recreativas que enobreceram o local.

 

Este evento nacional, de afirmação da ideologia nacionalista do Estado Novo, permitiu renovar a área envolvente ao Mosteiro de Santa Maria de Belém, vulgarmente designado, de forma errada, de Mosteiro dos Jerónimos. No “consulado cavaquista”, do primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva, ergueu-se o Centro Cultural de Belém, causador de acesa polémica na época pela sua proximidade ao monuento histórico quinhentista, que hoje constitui também um dos pólos inequívocos de atração turística desta zona.

 

Em 1998, assinalando o V Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia, realizou-se a Expo 98, que possibilitou renovar a área urbana hoje chamada de Parque das Nações, na zona oriental de Lisboa. Tal como em 1940, esta área encontrava-se, também, bem degradada com um feio parque industrial e a Exposição internacional foi o motivo para a renovação urbanística deste espaço da capital portuguesa, tendo tirado partido dos ensinamentos advindos da Expo de Sevilha de 1992, em que o recinto de exposições se tornou um espaço fantasma, abondonado ao vento e aos insectos.

 

Com estas duas exposições portuguesas, de 1940 e de 1998, Lisboa fez ressurgir duas zonas de enorme potencial turístico junto ao rio Tejo. Se a primeira exposição teve um carácter efémero pelas suas construções em materiais não duradoiros, apesar da construção definitiva do ex-libris da Exposição, em 1960, por altura do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, o Padrão dos Descobrimentos, o segundo certame teve um carácter perene com a projeção de um bairro de luxo que animou esta zona da capital portuguesa, marcada também pelas emblemáticas construções da Torre e da Ponte Vasco da Gama.

 

Os arranjos urbanísticos da cidade de Lisboa do atual Presidente da Câmara Municipal, Fernando Medina, previstos para decorrerem de maio de 2016 a fevereiro de 2017, que têm deixado muitos lisboetas com “os cabelos em pé” com o aumento dos congestionamentos rodoviários, poderão constituir outro salto qualitativo nos arranjos urbanísticos no centro da cidade, chamado, no projeto de arquitetura paisagística, de Eixo Central de Lisboa respeitante às avenidas Fontes Pereira de Melo e da República e às praças de Picoas e do Saldanha. Talvez a misericórdia opinativa, perante as obras deste Presidente da Autarquia, chegue por volta de 2034 ou de 2094, para os mais indignados “alfacinhas”.

 

De entre as finalidades desta renovação urbanística destacam-se a criação de condições para a atratividade turística; a garantia da sustentabilidade ambiental do centro de Lisboa, que se está a tornar pouco saudável; e o fomento da maior qualidade de vida aos seus habitantes com passeios mais largos, com ciclovias e com corredores verdejantes.

 

Neste exemplo, estas obras não estão ligadas a nenhum acontecimento evocativo da nossa memória coletiva, mas visam preparar o futuro da cidade.

 

Para alguns cidadãos, estas múltiplas obras de renovação dos espaços urbanos de Lisboa são fruto de uma finalidade eleitoralista mas, tal como os atletas e os futebolistas fazem um esforço suplementar no final das corridas ou dos seus jogos, os políticos fazem um esforço renovado no final dos seus mandatos, o que é absolutamente natural, mas logo as pessoas de outros quadrantes políticos propalam essa interpretação.

 

Nestes dias realiza-se também a “Web Summit” na cidade de Lisboa, tornando-a uma cidade apostada no empreendorismo tecnológico para o futuro.

 

Em conclusão, é importante que esta preocupação com a projeção do presente e do futuro não faça esquecer o nosso passado e, em particular, o nosso património, pois convém que a preocupação com a tecnologia seja colaborante com o respeito pela memória coletiva dos cidadãos portugueses, lusófonos, europeus e mundais, o que não foi o caso recente do turista que, no Museu Nacional de Arte Antiga, “afogado em tecnologia” querendo tirar uma fotografia, destruiu uma escultura sacra do século XVIII.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TURISMO - O CASO PORTUGUÊS

 

Portugal é um país com imensas potencialidades turísticas, pela variadade das suas regiões continentais e insulares, pelo clima temperado, pelas suas populações hospitaleiras, pela grande riqueza gastronómica, pelo largo conjunto monumental, histórico e natural, classificado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO e pelas praias infindáveis do seu litoral meridional e ocidental.

 

Podemos invocar alguns locais feéricos para cheirar o ambiente poético que paira no ar. Não é, pois, casual a designação de “Portugal como país de poetas”, tais são os inúmeros locais inspiradores das musas poéticas como Sintra, a paisagem duriense, as cidades de Lisboa e do Funchal, as pitorescas localidades de Monsaraz, de Serpa, de Linhares da Beira, de Piodão, de Freixo de Espada-à-Cinta, as sublimes cidades de Tavira, de Aveiro, do Porto, as encantatórias vilas de Ponte de Lima, da Ericeira, da Nazaré, de Óbidos, a paisagem magistral da Lagoa das Sete Cidades e as doces planícies douradas do Alentejo e tantas outras.

 

Aliás, num desejável conceito estratégico nacional, deve incorporar-se como uma das prioridades da pátria portuguesa a exploração sustentável desta riqueza natural ímpar, moldada pela sensibilidade estética do português, que o Criador nos legou.

 

Se as condições naturais nos favoreceram com um habitat para uma vida saudável, como a presença de importantes vestígios arqueológicos milenares pré-históricos, do norte ao sul do país, bem testemunham, apesar de não termos sido bafejados com recursos minerais valiosos, devemos agradecer à Divina Providência esta casa comum onde conseguimos medrar como povo latino de consabida inteligência emocional.

 

Se nem sempre os investimentos em infraestruturas turísticas realizadas valorizaram a paisagem, como foi o caso evidente do descontrolado crescimento urbanístico no litoral algarvio no último quartel do século XX, que desfeiou a prodigiosa paisagem natural da frente meridional, tem havido mais recentemente políticas tardias, mas sensatas, de reordenamento do território.  

 

Portugal é um país privilegiado no turismo marítimo, uma vez que através de Lisboa, cidade maravilhosa e solarenga das sete colinas, passam hoje em dia muitos navios de cruzeiro que vislumbram a sublime zona ribeirinha, alfacinha, com os seus prédios bem coloridos, a fazer lembrar as prodigiosas pinturas de Carlos Botelho e de Maluda, o magistral livro A Cidade de Ulisses de Teolinda Gersão e a homenagem do arquiteto Tomás Taveira, nos anos 80 do século XX, num conjunto arquitectónico de muito discutível gosto.

 

Neste país, periférico da Europa, mas à beira mar plantado, há uma diversificada oferta de tipos de turismo, e a título de exemplos: de saúde nas termas de Monfortinho; religioso no Santuário de Nossa Senhora de Fátima; recreativo nas praias algarvias e na sua intensa vida nocturna ou na movida lisboeta; desportivo no evento Euro 2004; cultural na multiplicidade de monumentos históricos, que a mais velha nação da Europa, na sua configuração fronteiriça, tem sabido deixar ao mundo e de negócios com a realização de múltiplos convénios profissionais e científicos internacionais, etc.

 

Na evolução histórica do turismo constam, como precedentes dos séculos I a. C. ao XV d. C., as viagens de gregos e de romanos no Mar Mediterrâneo, as míticas peregrinações medievais onde se adoravam as relíquias de muitos santos e, por fim, no crepúsculo da Idade Média, as viagens de comércio de flamengos, de genevezes, de venezianos e de florentinos.

 

Num segundo período, que compreende os séculos XVI a XVIII, houve um aumento de viagens particulares da aristocracia e da burguesia, designadamente com o Grand Tour efectuado na Europa por diplomatas e por estudantes abastados. Na sequente conjuntura histórica, em oitocentos, desenvolveram-se ainda os centros termais que se constituíram como locais singulares de convívio dos grupos de elite. As grandes guerras mundiais fizeram retrair os fluxos turísticos no mundo e, em particular, na Europa.

 

De facto, Portugal é um país com muitas potencialidades turísticas pelas suas condições naturais, pelos investimentos realizados em infraestruturas e pela capacidade criativa que está no ADN deste distinto povo latino. No entanto, só na segunda metade do século XX e com a democratização do turismo se começaram a construir estruturas hoteleiras de grandes dimensões de acolhimento de turistas nacionais e estrangeiros.

 

Com efeito, foi a partir dos anos de 1950 e de 1960, com a obtenção do direito de férias pagas e com o desenvolvimento dos transportes aéreos e terrestres, que aparecem unidades hoteleiras de dimensão considerável fora da capital, passando a proliferar as agências de viagem e as tipologias de viagens organizadas.

 

Em suma, Portugal, pelas suas caraterísticas climáticas, pela riqueza do património edificado e classificado pela UNESCO e pela diversidade das paisagens, como já o enunciava Fernando Pessoa a propósito da revista Orpheu, pela singularidade qualitativa da sua gastronomia, pelo primor dos seus vinhos e pela multiplicidade das suas tradições locais, constitue-se como país excecional para o desenvolvimento turístico. Esta deve ser, aliás, uma das prioridades estratégicas a ser tida em conta num futuro conceito estratégico nacional, que tanta falta faz ao nosso país, como o reconhece lucidamente o Professor Adriano Moreira.

 

Last but not least, não podemos olvidar-nos de uma sensibilidade humanista universalista, na aceção de Jaime Cortesão, que nos carateriza nas qualidades de acolhimento turístico bem como nas qualidades de um povo que, historicamente, soube dar novos mundos ao mundo num espírito de fraternidade, de convívio e de encontro pacífico e tolerante com outros povos desde a era dos Descobrimentos marítimos.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

SANTO ANTÓNIO (1191-1231) DE LISBOA OU DE PÁDUA ?

 

A questão com que iniciámos esta crónica é irrelevante, embora paire em boa parte da mentalidade dos portugueses e dos italianos, pois foi um pregador de uma amplitude universalista, como se constata da argumentação que vos apresentamos.

 

É, com efeito, o santo português, de nascimento, com maior relevo, que pertenceu à ordem franciscana, embora tenha estudado em Lisboa e em Coimbra, sendo a sua festa comemorada no período do solistício de verão a 13 de junho em Portugal com festas populares que a cidade de Lisboa celebra com grande júbilo. Nascido em Lisboa em 1191 com o nome de Fernando Martins de Bulhão, só recebe o nome de António quando ingressa na ordem religiosa franciscana.

                                                        

Convém recordar, por isso, que viveu em pleno contexto da reconquista cristã de Portugal. Deste modo, o ambiente de crescimento económico e urbano, que se fazia sentir na Europa, a par das grandes desigualdades sócio-políticas e da atmosfera marcial das Cruzadas fê-lo, certamente, aproximar-se dos ideais de humildade, de pobreza e de evangelização da ordem mendicante franciscana. 

 

A forte formação intelectual, iniciada com os cónegos regrantes de Santo Agostinho, permitiu-lhe profundos conhecimentos de teologia, que o veio a transformar no ano de 1946 em Doutor da Igreja.

 

Assim, a sua Santidade foi-lhe publicamente reconhecida, pois soube compaginar um imenso prestígio popular com base nos seus milagres com uma aprofundada base teológica. Em Roma existe a Igreja de Santo António dos Portugueses, de estilo Barroco (como se observa na terceira fotografia), com dependência eclesiástica do cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

 

Deixou-se inspirar pelos santos mártires de Marrocos e ingressa na ordem franciscana, motivado pelos seus exemplos, numa viagem a este território é apanhado por uma doença súbita que o conduz de novo à Europa, em particular à Itália, tendo-se posteriormente tornado um grande pregador e teólogo.

 

Nesta altura, fazendo um grande périplo de pregação pela Itália e França torna-se um evangelizador de espírito universalista que transcende as fronteiras nacionais. Conta-se que, em Rimini, impedido, de momentaneamente, de pregar se virou para os peixes e é, este episódio, que é recriado pelo Padre António Vieira. Durante a vida teve oportunidade, pelo prestígio alcançado, de publicar os seus sermões, no fim da década de 20 do século XIII, e de continuar a pregar na Europa do Sul contra os hereges, ao mesmo tempo em que ensinava nas escolas conventuais franciscanas de algumas cidades.

 

Dos seus sermões irradia um pensamento eclético, compaginando as bases clássicas gregas com as cristãs com um recurso formal às alegorias que enfatizam os valores éticos da observação da Natureza.  

 

Em 1232, um ano após a sua morte, pelo número de milagres que lhe foram reconhecidos, foi logo canonizado. A cidade de Pádua, onde falece, organiza-lhe imediatamente um solene funeral, erguendo-lhe rapidamente uma basílica para onde vão as suas relíquias.

 

Verificamos que, não obstante, o seu nascimento e crescimento intelectual em Portugal, acaba por falecer em Pádua onde é homenageado, mas a sua ação espiritual-religiosa transcende as fronteiras destas pátrias e a questão com que iniciámos este texto não tem pois qualquer sentido.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

CALOUSTE GULBENKIAN COMO MECENAS DA CULTURA EM PORTUGAL – 58 ANOS APÓS O SEU DESAPARECIMENTO (1955-2013)

 

 

Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955) foi um empresário, diplomata, coleccionador e filantropo arménio que legou a Portugal um importante espólio Patrimonial que enriquece a Fundação com o seu nome, na época em que não existia no país um Ministério da Cultura, tal como hoje, mediante a mentalidade tecnocrática reinante, também não existe. A sua inteligência pragmática afirmou-o como um dos pioneiros da exploração petrolífera no Médio Oriente.

 

Em Inglaterra formou-se em Engenharia no King’s College de Londres e adquiriu uma apurada sensibilidade para a Cultura Histórica e Artística. Nestes anos de formação tornou-se um jovem prodígio que pela sua inteligência se destacou na Universidade, pois saiu licenciado com 19 anos. O prestígio académico levou o famoso Professor William Thomson (Lord Kelvin) a recomendá-lo a prosseguir estudos num Doutoramento, mas o seu pai preocupado com os negócios familiares dissuadi-o dessa ambição e ofereceu-lhe uma viagem ao Cáucaso.


Escreveu, então, um livro de viagens à região da Transcaucásia, na visita que efectuou a campos de petróleo, em que fez observações e considerações que o catapultaram para a ribalta política e empresarial, na medida em que foi visto como um especialista endereçaram-lhe um convite para aconselhar o Governo Otomano e iniciou negociações que o levaram à exploração bem sucedida de recursos petrolíferos no Médio Oriente, designadamente como representante, no fim do século XIX, de um milionário dos negócios petrolíferos na Europa.

 

Com a fortuna, adquirida nos negócios do Petróleo, tornou-se um coleccionador de Arte Antiga reunindo nos seus palácios, em Paris e em Londres, nas primeiras décadas do século XX um vasto conjunto de peças históricas e artísticas de inestimável valor. Durante a 2ª Guerra Mundial, em 1942, Calouste Gulbenkian refugia-se, provisoriamente, em Lisboa, em viagem de trânsito para os EUA, mas o acolhimento caloroso da população e o clima de paz vivido fê-lo fixar-se no país. Este facto acabou por determinar a fixação da sua Fundação em Portugal.


Na realidade, o seu afã de coleccionador levou-o a reunir mais de 6000 objetos de arte (pinturas, esculturas, artes decorativas, preciosidades históricas, etc.) de vários períodos da História da Humanidade e de artistas de grande prestígio internacional. Este rico espólio histórico-artístico reúne-se, na atualidade, na sua Fundação, patenteando ao país e ao mundo um prodigioso Património Histórico.

 

A sua filiação nacional tornou-o sensível às perseguições a que os arménios foram sujeitos em vários períodos históricos, em particular nos contextos de domínio do Império Otomano e, depois, do Império Soviético, o que o induziu a tornar-se um estrénuo defensor e protector das comunidades arménias no mundo. O sentimento filantrópico, de amor ao próximo, instigou-o, num tempo de grandes conflitos bélicos da Humanidade, a proteger as massacradas e ignoradas comunidades arménias.

 

Em 1953 deixou um Testamento em que legou grande parte dos seus bens e objetos artísticos a uma Fundação com propósitos culturais e de beneficência (promoção das artes, divulgação cultural, estímulo à investigação científica, ajuda às pessoas mais desfavorecidas, etc), tendo-se reunido um volumoso Património Histórico-Artístico em 1960 em Portugal, que permitiu a inauguração, em Lisboa, desta instituição no ano do Centenário do seu nascimento (1969), em pleno Marcelismo. Calouste Gulbenkian ao fixar-se em Portugal, pelo clima de paz e de tolerância, contratou os serviços médicos do Professor Fernando da Fonseca para o acompanhar no país e os serviços jurídicos do Dr. Azeredo Perdigão para formalizar a sua Fundação.

 

Em conclusão, a benemérita missão da Fundação Calouste Gulbenkian em prol da Cultura e da Ciência tem suprido, em parte, a falta de um verdadeiro Ministério da Cultura na Pátria Portuguesa, tal como foi instituído em França por Jack Lang.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão


 

 

 

A CRIATIVIDADE ESTÉTICA PORTUGUESA NA BIENAL DAS ARTES EM VENEZA (2013)

  

 

A conceituada artista portuguesa, de projeção internacional, Joana Vasconcelos irá representar este ano Portugal, na Bienal das Artes em Veneza, com um projeto criativo marcado por elementos simbólicos da cultura tradicional portuguesa. Assim, esta provocadora artista, partindo de um antigo cacilheiro, do rio Tejo intitulado ”Trafaria Praia”, que está em reparação e que irá ser revestido, interna e externamente, para o transformar num pavilhão privilegiado de Portugal neste evento, que começará a 1 de junho de 2013. Será, pois, uma obra de arte, simultaneamente, arquitetónica e escultórica. 


Esta obra será caracterizada por um revestimento com materiais típicos da cultura tradicional portuguesa: o azulejo, a cortiça e os tecidos. Este barco será, também, adaptado para servir de palco a conferências e a concertos de artistas portugueses.


Constituirá um autêntico pavilhão flutuante, nas águas encantadoras da cidade do romantismo, que recebeu autorização para circular na citá, tornando, assim, a presença portuguesa mais notória neste certame internacional de Belas Artes. Esta representação oficial na Bienal de Veneza é comparticipada pelo Estado Português, embora se procurem, ainda, patrocínios privados. Este chamativo cacilheiro será inaugurado na véspera da abertura da Bienal das Artes de Veneza.


Joana Vasconcelos, nascida em 1971, vive e trabalha em Lisboa, mas tem apresentado o seu trabalho ao mundo através de várias galerias de arte em cidades cosmopolitas, da Europa e da América, que têm exposto os seus trabalhos. É de assinalar que foi um retumbante sucesso, ponto culminante da sua afirmação internacional, a exposição apresentada no Palácio de Versalhes, em conjunto com outros artistas, no verão de 2012, que recebeu um volume de visitas muito significativo.


A marca pessoal da artista é a utilização de objetos comuns, com uma utilização inusitada, que interpela os seus observadores. Esta sua conceção estética inspira-se, deste modo, nas correntes de vanguarda artística, do século XX, designadamente do “ready-made”, do Novo Realismo e da Pop Arte, embora adaptando as suas obras à marca genética da identidade coletiva portuguesa. Desde 2000 que tem recebido Prémios e reconhecimentos, nacionais e internacionais, variados e sido convidada para realizar intervenções em locais públicos (Lisboa, Paris, Porto, Torres Vedras, etc).

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

DOMENICO SCARLATTI, UM COMPOSITOR DE UMA INVULGAR CRIATIVIDADE ESTILÍSTICA

 

Domenico Scarlatti (1685-1757) foi um compositor Barroco italiano que assumiu abordagens melódicas que preanunciam o estilo musical Romântico, numa tentência criativa de charneira. A prova da veracidade desta asserção está na circunstância de muitos músicos famosos terem prestado um culto particular à sua criatividade estilística (Chopin, Brahms, Bartók, Horowitz, etc), que foi marcada por uma gramática folclórica assimilada da sua longa vivência espanhola. A colossal obra de criação musical que o entusiasmou contempla várias óperas e muitas sonatas internacionalmente reconhecidas. Infelizmente, muitas das suas composições musicais perderam-se, no amontoado de pergaminhos históricos, sem terem ficado como legado Patrimonial à posteridade.

 

Desde cedo revelou a sua vocação musical e aos 16 anos ocupou o lugar de compositor e organista da Capela Real de Nápoles. Alguns anos mais tarde, na cidade de Roma, entrou numa competição de virtuosismo na interpretação de peças para cravo com Georg Handel, com quem ombreou digna e meritoriamente. Este facto contribuiu, certamente, para o seu enorme prestígio e para a sua eventual nomeação como maestro da Capela de S. Pedro nos anos de 1715 a 1719.

 

No primeiro quartel do século XVIII, D. Scarlatti visitou a cidade de Lisboa, no faustoso e venturoso reinado de D. João V, e acabou por ser contratado pela princesa Maria Bárbara de Bragança, sua filha, como seu professor em 1721. O músico acompanhou a princesa portuguesa na sua deslocação para Madrid, uma vez que esta desposou o herdeiro da Coroa Espanhola e, dessa forma, veio servir a Corte Castelha durante 25 anos.

 

Foram vários os pianistas famosos que valorizaram o legado musical de Domenico Scarlatti, designadamente devemos realçar Vladimir Horowitz e Ivo Pogorelich. Também o genial escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, o homenageou no seu celebrado romance Memorial do Convento, onde o músico aparece como uma personagem secundária do enredo narrativo.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

 

O OUTONO, AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E AS "QUATRO ESTAÇÕES" DE ANTÓNIO VIVALDI

 

O outono deste ano, na cidade de Ulisses, começou com uma inversão dos padrões climáticos tradicionais, pois a temperatura, ao invés de diminuir, aumentou. Só, mesmo, a queda das folhas, nas árvores que se despem periodicamente, indicia o tempo outonal. A instabilidade climática tem gerado mudanças abruptas das condições atmosféricas, em muitas regiões do mundo, tornando-se as intempéries, os furacões e as secas cada vez mais frequentes no nosso planeta.

 

Em Portugal, também, os fenómenos insólitos se assumem como a nova regra da climatologia, porquanto têm surgido mini tornados pouco habituais na História do país. Tem estado em Lisboa, nestes dias iniciais de outubro de 2011, um calor típico de verão em pleno início de outono, mas também em Londres tivemos conhecimento de que, alguns dias atrás, esteve um calor inusitado para esta altura do ano. Os geógrafos devem andar perplexos, da ciência feita, com tamanha instabilidade atmosférica que coloca em causa as velhas e dogmáticas classificações climáticas.

 

Em Portugal, continental, o ano de 2011 tem posto de “pantanas” a nomenclatura das quatro estações, uma vez que em fins de abril, como aqui dei conta, caiu uma geada copiosa na cidade de Lisboa, e nos seus arredores, que deixou algumas das suas freguesias completamente pintadas de branco. No entanto, neste momento, saímos de uma época estival com sabor a primavera e entramos numa época outonal com cheiro a verão. A alteração climática mundial tem sido marcada pela caraterística de um aquecimento global causado por fatores múltiplos, dos quais sobressai a emissão exagerada de gases de efeito de estufa por ação da intervenção humana, tendo como efeitos mais significativos a crescente desflorestação e o degelo dos glaciares, sobretudo, no Ártico.

 

Estamos ainda, nesta época outonal, com uma multiplicidade inacreditável de incêndios a devastarem as florestas e as matas da nação lusíada. Acreditamos, assim, que se esse prodigioso compositor barroco italiano, António Vivaldi, visitasse o nosso planeta, na atualidade, sentiria, certamente, uma estranheza imensa com a confusão atmosférica que tem baralhado o ciclo clássico das quatro estações. Não obstante, deixo-vos esta fantástica obra deste compositor que se inspirou na clareza do ciclo das estações para criar esta emblemática obra-prima da música intemporal.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

Outono Inverno

Uma névoa de Outono o ar raro vela (5-11-1932)

Uma névoa de Outono o ar raro vela,

Cores de meia-cor pairam no céu.

O que indistintamente se revela,

Árvores, casas, montes, nada é meu.

 

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.

Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.

Mas entre mim e ver há um grande sono.

De sentir é só a janela a que eu assomo.

 

Amanhã, se estiver um dia igual,

Mas se for outro, porque é amanhã,

Terei outra verdade, universal,

E será como esta [...]

Fernando Pessoa

TEOLINDA GERSÃO E O SEU ROMANCE “A CIDADE DE ULISSES” (2011) – BREVE RECENSÃO CRÍTICA

“(…) Situada no Extremo Ocidente, entalada entre o mar e a Espanha, tão amiga quanto inimiga, Lisboa procurou no mar uma saída. E partiu. O verbo partir fazia parte de nós, era o lado do desejo, da insatisfação, da ânsia do que não se tinha. (…)”.

Teolinda Gersão, A Cidade de Ulisses, Lisboa, Sextante Editora, 2011, p. 47.

                                                       

 

 

 

 

A escritora Teolinda Gersão tem marcado o panorama literário português nos últimos 30 anos (1981-2011), deixando a sua marca indelével com uma escrita leve e imaginativa. Foi professora universitária, em Lisboa, na Faculdade de Letras e depois na Universidade Nova, tendo leccionado, nos últimos anos do século XX como professora catedrática a cadeira de Literatura Alemã e Literatura Comparada, até 1995.

 

Estudou alguns anos na Alemanha e viveu, também, no Brasil. Recebeu vários Prémios Literários (Prémio de Ficção do Pen Club -1981 e 1989, Grande Prémio de Romance e Novela – 1995, Prémio da Crítica da Association Internacionale des Critiques Litteráires - 1996, Prémio Fernando Namora – 1999, Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco – 2002), que a catapultaram para uma escrita cada vez mais exigente, mas longe do estrelato mediático. A sua obra está consagrada em Portugal e no estrangeiro, contando já com obras traduzidas para onze línguas e constando em inúmeros dicionários e enciclopédias internacionais.

 

A escrita de Teolinda Gersão evidencia alguma similitude literária com a escrita de José Saramago ao nível do tom coloquial, que transparece em frases populares e provérbios que utiliza nas suas narrativas, aproximando o escritor do leitor. O romance “A Cidade de Ulisses”[1] é uma história de amor, entre dois artistas plásticos, Paulo Vaz e Cecília, que se entrecruza com uma visão de alguns episódios da História, de Portugal e de Lisboa, e com a valorização das artes plásticas.

 

Esta narrativa ficcionada é, antes de mais, uma homenagem à cidade antigamente titulada de “Olissipo”, como os romanos lhe chamavam. Este livro é devedor de uma vasta pesquisa histórica e literária, centrada em Lisboa, e recebeu como inspiração algumas obras do artista José Barrias. A escritora aborda algumas das problemáticas de que se compõem as relações humanas (o amor, a liberdade, a identidade, a opressão, a criatividade, etc) no contexto das ligações deste casal.

 

Na história que nos conta, da cidade de Lisboa, começa pela lenda de Ulisses, continua numa caminhada cronológica até aos nossos dias exaltando, no fim, o valor do fado como um elemento cultural identitário da afirmação da nação portuguesa. Apesar destas infindas riquezas, imanentes a este romance, sobressai a sua crítica da presente situação do país. Assim, evoca a tese clássica do historiador e grande humanista Jaime Cortesão de que Portugal sempre praticou uma “política de transportes” e revelou uma contumaz incapacidade de praticar uma verdadeira “política de investimentos”. Por esta razão, o narrador diz-nos que os erros cometidos têm sido recorrentes, porque, mesmo, nos períodos prósperos dos Descobrimentos marítimos e da época áurea do Brasil, dos séculos XVII-XVIII, as elites dirigentes portuguesas se revelaram de vistas curtas e se tornaram perdulárias[2].

 

Traça, também, o paralelismo entre a intervenção do FMI dos anos 80 com a actual intervenção da “troika”, mas critica o facto destas entidades externas não actuarem para resolver problemas estruturais, mas tão-só acudir a urgências financeiras conjunturais[3]. É, pois, um livro de múltiplas leituras (literária, histórica, artística, política, etc) que se conjugam como pano de fundo da história de amor entre os dois protagonistas.

 

É uma história de amor bem edificante, porque tem um final feliz (a Exposição póstuma em homenagem a Cecília e o novo amor entre Paulo Vaz e Sara) e apresenta-nos o fado como a feliz simbiose entre a vida popular e a poesia de uma nação consumada em diversas mestiçagens socioculturais[4]. Esperamos que este optimismo de Teolinda Gersão se traduza na justa consagração do fado como Património Imaterial da Humanidade, a anunciar em breve pela UNESCO.

 

É, com efeito, um livro de uma pertinente intervenção social que examina os vícios cometidos pelas elites históricas portuguesas e pelas actuais elites financeiras internacionais da Globalização, revisitando uma maravilhosa Lisboa antiga e moderna. As ideias de corrupção e de incompetência fluem, no curso do livro, como a encarnação da irresponsabilidade dos governantes incapazes de sanar as dificuldades estruturais da sociedade portuguesa.

 

Contudo, apesar deste teor de soturnidade, que paira no romance de Teolinda Gersão, há uma mensagem subjacente à narrativa que é a de imensa confiança nas criatividades, artística, humana e técnica, para resolver os problemas actuais da sociedade portuguesa, da Europa e das pessoas como seres humanos, não obstante as intrincadas malhas das crises que perpassam o mundo e Portugal, neste início do século XXI. Fica, pois, uma mensagem de esperança nesta tempestuosa Era de incertezas que atravessamos, em que necessitamos de um porto de abrigo rumo à descoberta de um Novo Mundo, que sempre se assumiu como a nossa missão existencial como povo. É um excelente livro que vos recomendo, vivamente, como leitura de férias.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão



[1] Teolinda Gersão, A Cidade de Ulisses, Lisboa, Sextante Editora, 2011.

[2] Ibidem, p. 49.

[3] Aliás, o fiscalista Henrique Medina Carreira também nos salienta o mesmo no seu mais recente livro, a propósito da crise da dívida soberana portuguesa, ao afirmar que a União Europeia não esboçou ainda uma estratégia de comum para enfrentar as dificuldades de dinamismo económico que afecta todos os Estados-Membros no início do século XXI: Henrique de Medina Carreira, O fim da ilusão, Carnaxide, Editora Objectiva, 2011, p. 38.

[4] Teolinda Gersão, op. cit., pp. 198-200.

 

FRANCISCO JOSÉ VIEIRA MACHADO (1898-1972) E A ESTRATÉGIA ECONÓMICA, IMPERIAL PORTUGUESA, NA CONJUNTURA DA 2ª GUERRA MUNDIAL

 

 

Francisco José Vieira Machado (1898-1972), filho do general Francisco José Machado, licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa em 1919. Posteriormente, tirou em Paris um Curso de Ciências Económicas que lhe permitiu ser integrado nos quadros do Banco Nacional Ultramarino e alçar-se a banqueiro de instituições financeiras coloniais. Da sua carreira político-administrativa, durante o Estado Novo, salientou-se no cargo de Subsectretário de Estado das Colónias (1934-1936), de Ministro das Colónias (1936-1944) e de Governador do Banco Nacional Ultramarino (1951-1972).

 

De facto, foi ministro no período crítico da história universal em que se iria desenrolar a Segunda Grande Guerra (1939-1945). Na sua concepção ideológica, o reforço das relações económicas no espaço imperial foi decisivo no concretizar daquilo a que ficou conhecido pelos historiadores como “Pacto Colonial”, isto é, a interdependência económica dos produtos metropolitanos e coloniais. Pretendeu, no seu longo “consulado”, à frente da pasta das colónias que as matérias-primas das terras de "além-mar" fossem absorvidas pela metrópole e que os produtos manufacturados metropolitanos fossem consumidos nas colónias.

 

Em suma, procurar materializar o conceito de império na vertente económica da relação comercial entre a metrópole e as colónias. Deste modo, assume que as colónias estavam ao serviço dos interesses económicos metropolitanos. Foi neste sentido, que impôs limites ao crescimento industrial das colónias, que tornou obrigatórias algumas culturas agrícolas nas colónias, que reforçou o regime do trabalho forçado dos "indígenas", que procurou impulsionar a exploração dos produtos coloniais e garantir o mercado colonial como mercado privilegiado para o consumo dos produtos industriais metropolitanos através de um sistema aduaneiro filtrador do comércio externo[1].

 

 Estas medidas técnicas tomadas por Francisco José Vieira Machado enquadram-se numa resposta à pressão sofrida por Portugal em Junho de 1937 na qual diversos autores estrangeiros contestam a nossa capacidade económica e legitimidade histórica de administrar as próprias colónias. Foi neste contexto histórico antecedente ao grande conflito mundial que a imprensa nacional e estrangeira invoca a possibilidade de algumas potências europeias pretenderem ceder territórios das colónias portuguesas à Alemanha e à Itália como forma de apaziguar os impulsos de expansionismo bélico de Adolfo Hitler e de Benito Mussolini.

 

A sua acção promotora da propaganda da ideologia colonial fomentou Congressos, Comemorações e Exposições Coloniais, das quais se destacou, nesta fase, a Exposição do Mundo Português de 1940, comemorativa do duplo centenário da nacionalidade (1140 e 1640) que permitiu a revalorização urbanística do sítio de Belém, à frente do Mosteiro dos Jerónimos, uma vez que essa zona estava ocupada por uma importante aglomeração industrial. Esta Exposição procurou patentear o mundo português, que se espraiava no tempo e no espaço, através dos diversos Pavilhões que rodeavam a Praça do Império, requalificando esteticamente essa área urbana de Lisboa.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão



[1] João Carlos Paulo, “Franscisco José Vieira Machado”, in Dicionário de História do Estado Novo, vol. II, Lisboa, Editora Bertrand, 1996, pp. 535-536.

 

 

 

TEMPORAL EM LISBOA EM FINS DE ABRIL E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

 

 

A 29 de Abril de 2011, por volta das quinze horas e trinta minutos, caiu em Lisboa Norte uma inusitada tempestade composta por trovoadas violentas, chuva forte e queda de pedaços de granizo, de dimensões inesperadas, que deixaram os lisboetas estupefactos ou aflitos se estavam em situação de mobilidade. Este temporal afectou, sobretudo, as zonas da Amadora, de Benfica, da Pontinha, de Queluz e de Oeiras, onde as corporações de Bombeiros de diversas partes de Lisboa foram chamadas a intervir, com centenas de alertas, devido a inundações e a bloqueios das vias públicas por causa da queda de granizo.

 

Após o sobressalto, que este temporal provocou nos lisboetas, houve reportagens em catadupa que inundaram os meios de comunicação social com fotografias e filmes, particulares, de uma situação insólita apesar do provérbio popular: “Abril águas mil”. O Estádio da Luz, onde ontem se jogou a primeira mão de uma das meias-finais de futebol da Liga Europa, encontrou-se esta tarde vestido de branco do granizo caído, apesar de ontem ter estado vestido de vermelho para apoiar o Sport Lisboa e Benfica, num jogo memorável, contra o Sporting Clube de Braga.

 

Com as alterações climáticas, o mundo nos últimos anos tem assistido a fenómenos naturais repentinos que subvertem as tipologias tradicionais de classificação de climas. Com efeito, as circunstâncias atmosféricas, padronizadas em relação a uma determinada região, estão a mudar em função da Globalização dos imprevistos ambientais que tem assolado o planeta e o nosso país. Estas tempestades, súbitas, estão a ser uma constante atmosférica que tem provocado o caos no momento, inúmeros prejuízos e, mesmo, vítimas que levou as Autoridades da Protecção Civil a criar um sistema de alertas da população.

 

Lembremo-nos do que aconteceu na zona oeste de Portugal (sobretudo em Torres Vedras e na Lourinhã) em 23 de Dezembro de 2009, onde muitas famílias no Natal ficaram sem electricidade. Os cientistas dizem-nos, também, que o aquecimento do planeta tem originado a existência de mais vapor de água na atmosfera que induz a uma crescente instabilidade do clima. Assim, tem-se registado um número crescente de mini-tornados, em Portugal e no mundo, devido a estas alterações climáticas.

 

A Conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas realizada em Copenhaga, em Dezembro de 2009, foi muito inconclusiva, facto, aliás, que despertou uma crítica veemente de Luís Inácio Lula da Silva, na altura Presidente do Brasil.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 


 

LISBOA ANTIGA E MODERNA - RECONHECIMENTOS URBANÍSTICOS NA CIDADE DAS SETE COLINAS, APROXIMAÇÕES EMPÍRICAS À OLISIPOGRAFIA

Lisboa é uma cidade cheia de encantos que se espraia por uma área irregular alcandorando-se sobre o rio Tejo, donde partiram as naus e as caravelas para “abrir novos mundos ao mundo” nos séculos XV e XVI. As luzes, as sombras e as cores magníficas que sobressaem dos recantos pitorescos e das paisagens dos inúmeros miradouros enfeitiçam os turistas, mas, por vezes, na azáfama das nossas rotinas e das nossas angústias, que a crise financeira de rosto nacional e global e a crise de sustentabilidade ambiental, esquecemo-nos de observar e contemplar esta tão maravilhosa cidade.

 

Para a opinião pública internacional Lisboa é a cidade de Fernando Pessoa que cá se entrincheirou na sua vida boémia e poética, mas muitos outros poetas cá nasceram e viveram. Nos bairros antigos (Alfama, Castelo, Graça, Lapa, Madalena, Mercês, Penha de França, Santa Catarina, Santa Engrácia, Santa Maria de Belém, Santos-o-Velho, São Sebastião da Pedreira, São Vicente de Fora, etc) apetece passear e desfrutar da beleza criativa que os portugueses conseguiram erguer nos seus bairros mais castiços da capital. Já nos bairros novos paira uma amarga tristeza nos insípidos bairros de prédios modernos onde a identidade urbanística se dilui.

 

Para se conhecer bem a riqueza patrimonial (histórico-cultural) e social desta cidade nada melhor que calcorreá-la em passeio pedestre de ritmo calmo, em passo antigo de cidadão Oitocentista em revivalismo romântico, para lhe sentirmos e tomarmos pulso à sua alma. Talvez, os filmes que melhor retrataram esta urbe tenham sido “Lisboa Story”, de Wim Wenders, realizado em 1994 ou “O Pai Tirano”, de António Lopes Ribeiro, de 1941 ou outra destas comédias da época de ouro do cinema português.

 

A Olisipografia[1], como conjunto de estudos históricos, culturais e sociais sobre a cidade de Lisboa, foi criada por Júlio de Castilho e desenvolvida por Gustavo de Matos Sequeira, cuja edilidade lhes reconheceu o supremo contributo para o maior conhecimento urbanístico atribuindo-lhes os seus nomes, respectivamente, a uma praça junto à rua do Limoeiro e uma rua junto à rua da Escola Politécnica. Estes iniciadores deste ramo do conhecimento urbanístico da cidade têm ainda como cultores afamados destes estudos, como pares distintos, Norberto Araújo e Marina Tavares Dias. Esta autora, nossa contemporânea, tem publicado as suas obras em ricas edições de papel lustroso.

 

Da cidade antiga faziam parte como elementos bem castiços os românticos quiosques de estilos variados, os bebedouros e os fontanários, além de que o perímetro urbano era bem mais acanhado. Basta lembrar que freguesias como Benfica ou o Lumiar eram, nos séculos XVIII e XIX, zonas de repouso das famílias aristocráticas que lá possuíam as suas quintas, ainda hoje apesar da proliferação coexistem zonas de prédios com quintas antigas como seja a Quinta da Granja, em Benfica, bem ao lado do Centro Comercial Colombo, que no fim do século XX foi tenazmente defendida a sua preservação e o seu espaço envolvente pelo arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles e recebeu uma visita de José Sousa Veloso que aí rodou um dos seus celebérrimos programas da TV Rural.    

 

Ao longo do século XX o aspecto urbanístico da cidade de Lisboa mudou radicalmente com a integração da arquitectura funcionalista. Em particular teve grande significado a tentativa de viragem da cidade para a sua zona ribeirinha, uma vez que a sua expansão geográfica a fez crescer para o interior. Com efeito, houve dois momentos históricos que procuraram reabilitar a face ribeirinha da capital: a Exposição do Mundo Português de 1940[2] que levou à intervenção no sítio de Belém e no final do século XX à edificação da nova zona urbanística reabilitada para a realização da Expo em 1998. Assim, estes antigos espaços portuários, ou antigas zonas de instalações fabris, foram requalificados para que se tornassem “salas nobres” para a vivência dos alfacinhas e a recepção dos turistas e Chefes de Estado, no caso da zona de Belém.

 

Ao mesmo tempo, pretendeu-se nestes espaços nobres da zona de Belém, intervenção recebida no tempo de António de Oliveira Salazar, e da zona Expo, intervenção recebida no “consulado” de António Guterres, criar um simbolismo histórico que fosse marcante para a identidade nacional. Este aspecto justifica que se tenham construído como marcos arquitectónicos semelhantes: o Padrão dos Descobrimentos[3] em frente à Praça do Império durante o Estado Novo e a Torre de Vasco da Gama a flanquear a zona oriental da Expo 98. Por um lado, a Exposição do Mundo Português visando comemorar a fundação do Estado Português em 1140 devido às proezas bélicas de D. Afonso Henriques e a restauração da independência em 1640 com a libertação do jugo Filipino e, por outro, a Expo 98 pretendendo comemorar os 500 anos da chegada de Portugal à Índia realçou o espírito português em contexto de Globalização.

 

Em suma, a cidade de Lisboa merece em tempo de estio e de férias, uns bons passeios a pé, porque muitas vezes quem nos visita acaba por conhecer melhor a capital do que “os alfacinhas” que se querem ausentar dela para irem para a Costa da Caparica, para o “reino dos Algarves” ou para o estrangeiro. Fica a sugestão de um passeio de reconhecimento urbanístico num dia soalheiro nesta muita bela cidade.  


[1] Fernando Castelo Branco, Breve História da Olisipografia, Lisboa, Edição Instituto da Cultura Portuguesa, 1979, 108 p.

[2] Nuno de Sotto-Mayor Quaresma Mendes Ferrão, A Praça do Império e o Padrão dos Descobrimentos à luz da mentalidade e da ideologia que os edificaram, Lisboa, Trabalho no âmbito da cadeira de História da Arte Contemporânea, Edição policopiada, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1992.

[3] O Padrão dos Descobrimentos e a Praça do Império com desenho arquitectónico de José Ângelo Cottinelli Telmo e o trabalho de importantes escultores como Leopoldo de Almeida, António Duarte Domingos Soares Branco, etc., foram erguidos em 1940 para a realização da Exposição do Mundo Português. Contudo, o Padrão dos Descobrimentos e alguns dos pavilhões foram construídos em materiais efémeros e a edificação deste “ex-libris” de Lisboa só foi erguido em materiais duradoiros em 1960 na comemoração dos 500 anos da morte do Infante D. Henrique.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

Lisboa na época das Descobertas

 

 

Vista sobre Lisboa

 

 

Liboa à noite

 

 

 

 

Expo Lisboa

 

 

 

 

 

Lisboa vista pelo pintor Carlos Botelho

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