Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Links

www.mil-hafre.blogspot.com

www.cortex-frontal.blogspot.com

www.duas-ou-tres.blogspot.com

www.novaaguia.blogspot.com

www.bichos-carpinteiros.blogspot.com

www.fjv-cronicas.blogspot.com

www.sorumbatico.blogspot.com

www.almocrevedaspetas.blogspot.com

www.ladroesdebicicletas.blogspot.com

Perfil Blogger Nuno Sotto Mayor Ferrão

www.centenario-republica.blogspot.com

Centenário da República

Ericeira

Origem das espécies de Francisco José Viegas

Almanaque Republicano

Fundação Calouste Gulbenkian

Centro Cultural de Belém

Blogue Biblioteca Escolar - Agrupamento Damiao de Góis

Biblioteca Nacional

Fundação Mário Soares

Arrastão

Centro Nacional de Cultura

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Academia das Ciências de Lisboa

Cinemateca de Lisboa

Ministério da Cultura

Restaurante - Lisboa

Turismo Rural

Museu da Presidência da República

Site Divulgar blog

Memória Histórica do Holocausto

Dados estatísticos nacionais

Blogue Helena Sacadura Cabral

Comunicação Social da Igreja Católica

Economia e História Económica

Blogue - Ana Paula Fitas

Sociedade Histórica da Independência de Portugal

Literatura - infantil e/ou poética

Biblioteca e Arquivo José Pacheco Pereira

José Saramago - Fundação

Escritora Teolinda Gersão

Escritor António Lobo Antunes

Comemoração do Centenário da República

Museu Nacional de Arte Antiga

Museu do Louvre - Paris

www.industrias-culturais.blogspot.com

Artes Plásticas e Poesia - blogue

Albergue Espanhol - blogue

Actualidades de História

Arte Contemporânea - Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva

Literatura - edições antigas

Carta a Garcia - blogue

Blogue da Biblioteca do ISCTE

Crónicas do Rochedo

Lusitaine - blogue

Leituras - livros e pinturas

História do século XX - site espanhol

Associação Cultural Coração em Malaca

Objectiva Editora

Lista de Prémios Nobéis

Perspectivas luso-brasileiras

Análise política - blogue

Arte e Cultura no Brasil

Exposição Viva a República

Revisitar Guerra Junqueiro

História da Guerra Colonial

Prémio Nobel da Literatura 2010

Sociedade de Geografia de Lisboa

Academia Portuguesa da História

Associação 25 de Abril - Centro de Documentação

Casa Fernando Pessoa - Lisboa

Associação Agostinho da Silva

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Aministia Internacional

UNESCO

Blogue de Estudos Lusófonos da U. Sorbonne

Entre as brumas da memória - blogue

Comunicação Social - Nacional e Estrangeira

Acordo Ortográfico - Portal da Língua Portuguesa

Países Lusófonos

Margens de erro - blogue

Museu do Oriente

Fotografias Estéticas de Monumentos do Mundo

Monumentos Classificados de Portugal

Mapas da História do Mundo

Informações sobre a União Europeia

Biblioteca Digital do Alentejo

Instituto Nacional de Estatística

Vidas Lusófonas da autoria de Fernando da Silva

Programa televisivo de Cultura

Quintus - Blogue

Fundo bibliográfico dos Palop

Instituto Camões

Museu do Fado

Livraria Histórica e Ultramarina - Lisboa

Reportório Português de Ciência Política - Adelino Maltez

Acordo português com a troika - Memorando de entendimento

Programa do XIX Governo Constitucional da República Portuguesa

Real Gabinete Português de Leitura (Rio de Janeiro)

Bibliografia sobre a Filosofia Portuguesa

Fundação Serralves - Arte Contemporânea

Casa da Música

Portal da Língua Portuguesa

Canal do Movimento Internacional Lusófono

Escritas criativas

Círculo Cultural António Telmo

Revista BROTÉRIA

Desporto e qualidade de vida

Turismo Rural

Município de Ponte de Lima

+ Democracia

I Congresso da Cidadania Lusófona

Organização - I Congresso da Cidadania Lusófona 2,3 abril 2013

Grémio Literário - Lisboa

SP20 Advogados

Zéfiro

Divina Comédia Editores

Hemeroteca Digital de Lisboa

National Geographic

Sintra - Património Mundial da Humanidade

Sinais da Escrita

Classical Music Blog

Open Culture

António Telmo – Vida e Obra

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

British Museum

Université Sorbonne

Museu Guggenheim - Veneza

Universidade de Évora

Biblioteca Digital

Universidade Católica Portuguesa

Biblioteca do Congresso dos EUA

Biblioteca de Alexandria – Egito

Oração e Cristianismo

Notícias e opiniões

PORTUGAL, PÁTRIA DE POETAS? A MATRIZ IDENTITÁRIA LATINA EM REFLEXÃO

 

                       Luís Vaz de Camões                                                                                 Teixeira de Pascoaes

 

                       Fernando Pessoa                                                                                     Miguel Torga

 

 

Sophia de Mello Breyner Andersen


MAR PORTUGUÊS

"Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!


Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.


Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu"

FERNANDO PESSOA

 

Portugal é um país de grandes poetas devido à sua matriz identitária latina, pejada de uma sensibilidade lírica, de fino recorte criativo. Possivelmente, por esta razão, os países do Norte da Europa tenham muito a aprender connosco, na medida em que o Homem é um ser multidimensional que se deve desenvolver nas suas múltiplas facetas (materiais e espirituais). A inspiração e a capacidade criativa dos portugueses, transposta para a poesia por muitos escritores, foram sublimadas pelo poder imaginativo de Fernando Pessoa, que soube dar “novos mundos ao mundo” poético, tendo-se tornado uma figura de valor universal indiscutível.

 

A matriz de arrebatamento emocional dos latinos tem possibilitado uma invulgar veia artística e estética aos povos latinos. Aliás, num estudo recente este temperamento mais arrebatado dos povos latinos foi valorizado, pois dizia-se que as pessoas que exteriorizavam mais as emoções, sendo os povos latinos pouco fleumáticos, ao contrário das pessoas do Norte da Europa, tinham uma predisposição para terem uma vida mais longa.  

 

Em Portugal germinaram grandes poetas como Luís Vaz de Camões, Almeida Garrett, Teixeira de Pascoaes, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, António Gedeão, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andersen, Eugénio de Andrade, David Mourão-Ferreira, entre muitos outros que expressaram a alma pátria através desta arte literária. O temperamento latino está timbrado por esta colossal riqueza emotiva, que na paleta semântica da poesia soube ser imensamente prolífera. A localização geográfica desta pátria no sudoeste Europeu, com um clima ameno, e uma paisagem de grande variedade e beleza incitaram a inspiração criativa. Aliás, foi esta tocante natureza de tons paradisíacos que inspirou o grande poeta britânico Lord Byron a qualificar Sintra como a “mais bela vila do mundo”, num êxtase de inspiração que o ambiente pitoresco do local potenciou.


Não é, também, de menosprezar a intensa vivência lusófona, ao longo da História de Portugal, que constituiu uma fonte de vivências abertas que entusiasmaram o poder de criação poética de alguns escritores portugueses, onde avulta o nome de Luís Vaz de Camões.

 

Em face destas fosforescentes estruturais mentais, do povo português, não admira as capacidades extraordinárias que tem revelado para cantar o Amor na versão poética. Esta alma poética dos portugueses fez surgir um grande realizador de cinema de projeção internacional, Manuel de Oliveira, que nos seus filmes nos manifesta esta alma lusíada.

 

De facto, esta valorização do património poético que é um traço de identidade dos portugueses pode servir de lição para que o mundo e a Civilização Ocidental, em particular (numa permuta culturalmente enriquecedora entre o Sul e o Norte da Europa), encontrem novos pontos de equilíbrio para compaginarem o desenvolvimento material e o desenvolvimento espiritual do Homem. Mais do que nunca, nesta presente fase histórica, perante a crise multipolar que a Humanidade vive, este dom espiritual dos portugueses, de serem poetas nos momentos de adversidade, pode despertar a Esperança, para que se procurem as alternativas necessárias, de forma que o desânimo não catapulte a nossa Civilização para uma depressão coletiva.

 

A intervenção cívica da poesia em Portugal teve em Miguel Torga e em Sophia de Mello Breyner Andersen bons expoentes. A inteligência emocional, de que nos falam os modernos cientistas, não se coaduna com a mentalidade materialista e tecnocrática que reina impunemente nas nossas sociedades e abafa as virtualidades do espírito Humanista.


Em suma, a saúde das democracias, a saúde mental dos cidadãos, a saúde das sociedades desta Globalização desregulada exigem a revitalização do património poético para o bem-estar comum da Humanidade. Neste pressuposto, a riqueza cultural de Portugal e de toda a Comunidade Lusófona podem ser uma mais-valia importante para superar este impasse gerado por uma ideologia totalitária que tem inquinado as relações internacionais neste início do século XXI.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

LEITURAS DE VERÃO (I) – VALTER HUGO MÃE - UMA RECENSÃO LITERÁRIA


valter hugo mãe, a máquina de fazer espanhóis[1] – é um romance moderno que nos fala da problemática do envelhecimento das pessoas, na sociedade portuguesa contemporânea, através do seu estilo literário sui generis marcado pela ausência de maiúsculas e de identificação formal do discurso direto. É já um best seller, com múltiplas edições nacionais e estrangeiras, que enquadra o tema do envelhecimento à luz dos atuais hábitos e constrangimentos dos cidadãos portugueses.

 

No livro o protagonista faz uma viagem nas suas memórias de vida, sendo a sua Consciência despertada pela passividade com que lidou com o regime Salazarista. No enredo narrativo, o autor procede a uma análise da mentalidade dos portugueses em que se denota a passividade cidadã[2], herdada da ditadura, e o traço iberista resultante do complexo de inferioridade de ser português[3]. O autor manifestou, sobretudo, uma descrença ateia na imortalidade da Alma, em oposição aos pressupostos Kantianos.

 

Na sua aceção intelectual, ateísta, a crença em Deus decorre das necesidades espirituais do Homem que o levam a acreditar na Vida Eterna e na importância da regulação Moral da Existência. Não obstante, esta perceção ideológica deriva da mentalidade anticlerical do próprio autor e da sua perceção vivencial da vulnerabilidade humana. O protagonista, no fim do romance, com o evoluir do envelhecimento vai perdendo a Memória, que compensa inteligentemente pelo uso da imaginação criativa.


Com efeito, este livro é uma homenagem ao pai do escritor que não chegou à terceira idade e constitui uma reflexão literária sobre este tema tão fundamental dos nossos dias. Do epílogo, do romance, sobressai o racionalismo emocional de valter hugo mãe, pois a morte do protagonista revela-nos uma descrença religiosa e a sua crença nas potencialidades humanas da Consciência que poderão alçar a Humanidade para um novo patamar de Solidariedade, levando-a à criação do Homem Novo.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

[1] Valter hugo mãe, a máquina de fazer espanhóis, Lisboa, Editora Objetiva, 2011.

[2] Na senda do filósofo de José Gil, Portugal Hoje: o medo de existir.

[3] Contudo, este traço iberista não faz sentido como nos ensinaram os grandes mestres e humanistas ligados à Renascença Portuguesa. 

A ATRIBULADA VIAGEM DE JOAQUIM ZEFERINO – UM CONTO (AUTORIA DE NUNO SOTTO MAYOR FERRÃO)

 

 Joseph Mallard William Turner, Naufrágio 1805

 

Joaquim Zeferino, pescador da Ericeira, com uma tez curtida pelo Sol e pela Vida aprestava-se a embarcar para uma nova viagem, de longo curso, no alto mar para a pesca do Bacalhau nas Águas Frias do Mar da Noruega. A sua ausência por longas semanas despertava na sua mulher, Ermelinda, e nos seus filhos, Paula e Fernando, um sentimento de profunda saudade. Joaquim para mitigar este sentimento costumava despedir-se com um forte e sentido amplexo a Ermelinda, a Paula e a Fernando. Desta vez, com uma sensação premonitória de algo a acontecer, que extravasou a expressão pura do afecto, sorriu e chorou, o que os deixou muito comovidos.

 

Ermelinda perguntou, então, a Joaquim:

- Homem, o que se passa contigo?

- Cheira-me que algo vai acontecer!

- Mas o quê, Homem?

- Alguma tragédia que o Mar trará…

- Deixa-te de tolices que assustas os miúdos!!

 

Passada esta curta troca de palavras e de afectos, Joaquim começou a fazer os preparativos para a sua longa jornada de labuta. Juntou os seus pertences, alguma roupa e alguns enlatados para a sua viagem aos Mares Nórdicos. Entretanto, Quim, como era conhecido no seu círculo íntimo, saiu para ir ao café, junto às Ribas, despedir-se dos amigos com quem se costumava encontrar, com frequência. De facto, o companheirismo, a solidariedade e a união fraterna eram traços bem característicos da comunidade piscatória. Antes de embarcar, Joaquim, cristão devoto, passou pela Capela de Santo António para rezar uma prece, rogando a Nossa Senhora da Boa Viagem uma jornada tranquila às águas do “Bacalhau”.

 

Ao início do dia seguinte, transcorria o ano de 2011, dirigiu-se com alguns companheiros ao Porto de Peniche, de onde iria sair o barco que os levaria à pescaria do “fiel amigo”. Joaquim, mal o barco entrou no Oceano Atlântico, benzeu-se pedindo a Deus uma viagem tranquila, pois, apesar da sua longa experiência, o respeito que as vagas marítimas lhe mereciam faziam-no ter recorrentemente este gesto simbólico. Nos primeiros dias a viagem correu sem sobressaltos, no entanto na segunda semana de viagem houve um dia em que tiveram de enfrentar uma violenta tempestade que provocou vagas alterosas. A união e a proficiência deste grupo de pescadores eram bem visíveis neste tipo de situações, além de que o barco era bem resistente. 

 

A dada altura o timoneiro solta um brado aflito da ponte de comando:

- Há navio a naufragar a estibordo!

Diz a tripulação em uníssono:

- Vamos acudir!

- Temos que ter cuidado, mantendo a distância, para não chocarmos com o outro barco em apuros.

- Sim! Mas temos de agir!

- Lancemos os nossos botes e as bóias salva-vidas para os socorrer!

 

Joaquim Zeferino lançando, energicamente, mão destes instrumentos de socorro marítimo, mal o barco se aproximou, arremessou-os para junto dos náufragos. A tempestade rugia, assustadoramente ao mais experimentado pescador, e o mar agitado tornava o barco cambaleante, mas Joaquim habituado a estas lides deu consigo a meditar, instantaneamente, que era nos momentos de tormentas que a unidade do género humano se via, pois que da tripulação que estava a ser resgatada se desconhecia, inclusivamente, a nacionalidade.

 

Após grandes esforços para salvar a tripulação do barco naufragado, tendo sido, ainda, solicitada a ajuda de um navio que navegava nas proximidades, verificou-se que infelizmente tinham perdido a vida três náufragos. Foi, contudo, para Joaquim uma sensação de grande alívio saber que pôde, com os seus camaradas de bordo, salvar algumas dezenas de seres humanos que andavam na faina piscatória.

 

Perguntou-lhes Joaquim na sua inata curiosidade:

- Qual é a vossa nacionalidade? Quel es votre nacionalité? What is your nacionality?

- We are english, from Portsmouth.

Trocadas algumas outras impressões, os náufragos foram abrigados do temporal no interior do barco e procedeu-se ao socorro dos feridos. Foram agasalhados e deram-lhes alguns víveres para recuperarem forças do extenuante sacrifício que se viram obrigados a fazer para conseguirem sobreviver. Logo se combinou com o pessoal do outro navio inglês, alertado, que mal o temporal amainasse se faria o transbordo dos náufragos, uma vez que o barco que submergiu pertencia à mesma companhia do outro navio que respondeu ao pedido de socorro. 

 

Entretanto, a viagem do barco “Nau Catrineta”, assim se chama a embarcação em que Joaquim Zeferino seguia, pôde prosseguir em direcção às terras frias da Noruega, tendo contudo enfrentado, ainda, novas tempestades sem que se tenham verificado novos contratempos de permeio. Feitas as pescarias, ao longo de vários dias, do “fiel amigo”, como é popularmente conhecido o bacalhau pelas mil e uma maneiras de o cozinhar, teve a tripulação oportunidade de regressar à pátria com uma carga muito inferior à esperada. Infelizmente, para Joaquim Zeferino e seus camaradas de labuta, o preço do bacalhau tinha descido, a sua abundante pesca e a constante contaminação dos mares com escórias das explorações petrolíferas tinham tornado estas jornadas a bordo dos bacalhoeiros bastante menos rentáveis.

 

Na viagem, de regresso à pátria, Joaquim Zeferino sentiu uma sensação ambivalente de enormes saudades de Ermelinda, de Paula e de Fernando e, simultaneamente, uma constrangedora decepção por saber que a pescaria tinha sido pouco produtiva. Joaquim, apesar da sua fraca escolaridade, possuía uma lucidez e uma sensatez, invulgares, escoradas numa fé cristã inabalável que lhe apaziguava a alma com laivos de esperança. Por isso, resolveu pensar que esse contragosto se recomporia.

 

No meio deste turbilhão emocional, Joaquim e seus companheiros foram recebidos em apoteótica recepção, da parte da comunidade piscatória Ericeirense e das entidades locais, porque desta vez os pescadores da Ericeira desembarcaram na praia das Ribas e os restantes seguiram viagem até ao porto de Peniche. Assim, as pessoas que os recebiam manifestavam uma particular comoção pelo heroísmo e bravura com que estes humildes pescadores salvaram, no meio de uma violenta tempestade em pleno Oceano Atlântico, dezenas de náufragos estrangeiros. Joaquim, pela sua alma generosa, cheia de uma doce bondade, sempre foi acarinhado nesta terra de sãs convivências, mas o seu prestígio de homem de bem, de coragem e de boa vontade cresceu com a circulação desta notícia na Ericeira e nas suas imediações.

 

No entanto, as marés da vida de Joaquim estavam longe de ser amenas, quase parecendo as marés vivas oceânicas que tanto conhecia e respeitava. Os fracos resultados da venda do bacalhau levaram o Mestre e dono da embarcação “Nau Catrineta” a confessar a Joaquim que teria, com grande probabilidade, de diminuir os salários da sua tripulação.

 

O nosso personagem, oprimido com a notícia, propôs-lhe com grande angústia que pagasse os salários combinados, mas que, no limite, se fosse preciso vendesse a sua embarcação, dado que o negócio da pesca e a salga do bacalhau estava pelos “mares da amargura”. Este prudente conselho, de Joaquim a Mestre André, convenceu-o. Assim, poucos dias após esta conversa franca, Mestre André vende o seu barco e num gesto inusitado paga aos seus assalariados um montante bastante inferior ao acordado, o que deixa Joaquim e os seus companheiros muito indignados e revoltados com esta injusta atitude. Joaquim, homem de bom coração e de redobrada reputação devido ao seu heroísmo, incita os seus companheiros, com o apoio do sindicato dos pescadores, a iniciarem uma judicialização da contenda.

 

Nesta altura, Joaquim Zeferino, com 52 anos de idade, tem de enfrentar uma ingrata situação de desemprego, mas graças ao seu prestígio ético e aos biscates que faz consegue ir sobrevivendo sem desesperar. Vale-lhe ainda, neste tempo de penúria, a mão amiga dos seus familiares, dos seus irmãos, que lhe dão o apoio financeiro para se amanhar no sustento do seu “doce lar”.

 

O nosso protagonista, cheio das suas férreas convicções, apesar do abatimento moral resultante do desemprego e da necessidade de aceitar as ajudas familiares, não abdica da reivindicação dos legítimos Direitos, seus e dos respectivos companheiros, de ser ressarcido das trafulhices do seu patrão e incita-os à resolução judicial da injustiça cometida. Esta sua fibra moral é muito admirada pelos seus amigos, pela Ermelinda, pela Paula e pelo Fernando que o acarinham pela sua abnegação cívica a favor dos legítimos Direitos dos pescadores lesados.

 

Este momento de crise laboral foi para Joaquim Zeferino bastante reconstrutivo, pois pelo seu bom coração tornou-se rendeiro de um proprietário rural com terras em Mafra, dedicou-se à realização de biscates e pôde empenhar-se como voluntário em obras de beneficência social promovidas pela Igreja de São Pedro, da Ericeira. Esta situação apaziguou o seu espírito generoso por poder, num tempo de uma violenta crise económica, nacional e internacional, garantir uma subsistência digna e, ao mesmo tempo, poder concretizar uma obra social a favor dos seus semelhantes mais próximos. Todavia, foi do seu íntimo que lhe brotou essa satisfação e não tanto das formas exteriores de reconhecimento, uma vez que o fez por convicção e por um sentimento de profunda compaixão para com os seus conterrâneos.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

Monumento ao bacalhoeiro – Freguesia de Lavos (Figueira da Foz)

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Links

www.mil-hafre.blogspot.com

www.cortex-frontal.blogspot.com

www.duas-ou-tres.blogspot.com

www.novaaguia.blogspot.com

www.bichos-carpinteiros.blogspot.com

www.fjv-cronicas.blogspot.com

www.sorumbatico.blogspot.com

www.almocrevedaspetas.blogspot.com

www.ladroesdebicicletas.blogspot.com

Perfil Blogger Nuno Sotto Mayor Ferrão

www.centenario-republica.blogspot.com

Centenário da República

Ericeira

Origem das espécies de Francisco José Viegas

Almanaque Republicano

Fundação Calouste Gulbenkian

Centro Cultural de Belém

Blogue Biblioteca Escolar - Agrupamento Damiao de Góis

Biblioteca Nacional

Fundação Mário Soares

Arrastão

Centro Nacional de Cultura

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Academia das Ciências de Lisboa

Cinemateca de Lisboa

Ministério da Cultura

Restaurante - Lisboa

Turismo Rural

Museu da Presidência da República

Site Divulgar blog

Memória Histórica do Holocausto

Dados estatísticos nacionais

Blogue Helena Sacadura Cabral

Comunicação Social da Igreja Católica

Economia e História Económica

Blogue - Ana Paula Fitas

Sociedade Histórica da Independência de Portugal

Literatura - infantil e/ou poética

Biblioteca e Arquivo José Pacheco Pereira

José Saramago - Fundação

Escritora Teolinda Gersão

Escritor António Lobo Antunes

Comemoração do Centenário da República

Museu Nacional de Arte Antiga

Museu do Louvre - Paris

www.industrias-culturais.blogspot.com

Artes Plásticas e Poesia - blogue

Albergue Espanhol - blogue

Actualidades de História

Arte Contemporânea - Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva

Literatura - edições antigas

Carta a Garcia - blogue

Blogue da Biblioteca do ISCTE

Crónicas do Rochedo

Lusitaine - blogue

Leituras - livros e pinturas

História do século XX - site espanhol

Associação Cultural Coração em Malaca

Objectiva Editora

Lista de Prémios Nobéis

Perspectivas luso-brasileiras

Análise política - blogue

Arte e Cultura no Brasil

Exposição Viva a República

Revisitar Guerra Junqueiro

História da Guerra Colonial

Prémio Nobel da Literatura 2010

Sociedade de Geografia de Lisboa

Academia Portuguesa da História

Associação 25 de Abril - Centro de Documentação

Casa Fernando Pessoa - Lisboa

Associação Agostinho da Silva

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Aministia Internacional

UNESCO

Blogue de Estudos Lusófonos da U. Sorbonne

Entre as brumas da memória - blogue

Comunicação Social - Nacional e Estrangeira

Acordo Ortográfico - Portal da Língua Portuguesa

Países Lusófonos

Margens de erro - blogue

Museu do Oriente

Fotografias Estéticas de Monumentos do Mundo

Monumentos Classificados de Portugal

Mapas da História do Mundo

Informações sobre a União Europeia

Biblioteca Digital do Alentejo

Instituto Nacional de Estatística

Vidas Lusófonas da autoria de Fernando da Silva

Programa televisivo de Cultura

Quintus - Blogue

Fundo bibliográfico dos Palop

Instituto Camões

Museu do Fado

Livraria Histórica e Ultramarina - Lisboa

Reportório Português de Ciência Política - Adelino Maltez

Acordo português com a troika - Memorando de entendimento

Programa do XIX Governo Constitucional da República Portuguesa

Real Gabinete Português de Leitura (Rio de Janeiro)

Bibliografia sobre a Filosofia Portuguesa

Fundação Serralves - Arte Contemporânea

Casa da Música

Portal da Língua Portuguesa

Canal do Movimento Internacional Lusófono

Escritas criativas

Círculo Cultural António Telmo

Revista BROTÉRIA

Desporto e qualidade de vida

Turismo Rural

Município de Ponte de Lima

+ Democracia

I Congresso da Cidadania Lusófona

Organização - I Congresso da Cidadania Lusófona 2,3 abril 2013

Grémio Literário - Lisboa

SP20 Advogados

Zéfiro

Divina Comédia Editores

Hemeroteca Digital de Lisboa

National Geographic

Sintra - Património Mundial da Humanidade

Sinais da Escrita

Classical Music Blog

Open Culture

António Telmo – Vida e Obra

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

British Museum

Université Sorbonne

Museu Guggenheim - Veneza

Universidade de Évora

Biblioteca Digital

Universidade Católica Portuguesa

Biblioteca do Congresso dos EUA

Biblioteca de Alexandria – Egito

Oração e Cristianismo

Notícias e opiniões