O OUTONO, AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E AS "QUATRO ESTAÇÕES" DE ANTÓNIO VIVALDI
O outono deste ano, na cidade de Ulisses, começou com uma inversão dos padrões climáticos tradicionais, pois a temperatura, ao invés de diminuir, aumentou. Só, mesmo, a queda das folhas, nas árvores que se despem periodicamente, indicia o tempo outonal. A instabilidade climática tem gerado mudanças abruptas das condições atmosféricas, em muitas regiões do mundo, tornando-se as intempéries, os furacões e as secas cada vez mais frequentes no nosso planeta.
Em Portugal, também, os fenómenos insólitos se assumem como a nova regra da climatologia, porquanto têm surgido mini tornados pouco habituais na História do país. Tem estado em Lisboa, nestes dias iniciais de outubro de 2011, um calor típico de verão em pleno início de outono, mas também em Londres tivemos conhecimento de que, alguns dias atrás, esteve um calor inusitado para esta altura do ano. Os geógrafos devem andar perplexos, da ciência feita, com tamanha instabilidade atmosférica que coloca em causa as velhas e dogmáticas classificações climáticas.
Em Portugal, continental, o ano de 2011 tem posto de “pantanas” a nomenclatura das quatro estações, uma vez que em fins de abril, como aqui dei conta, caiu uma geada copiosa na cidade de Lisboa, e nos seus arredores, que deixou algumas das suas freguesias completamente pintadas de branco. No entanto, neste momento, saímos de uma época estival com sabor a primavera e entramos numa época outonal com cheiro a verão. A alteração climática mundial tem sido marcada pela caraterística de um aquecimento global causado por fatores múltiplos, dos quais sobressai a emissão exagerada de gases de efeito de estufa por ação da intervenção humana, tendo como efeitos mais significativos a crescente desflorestação e o degelo dos glaciares, sobretudo, no Ártico.
Estamos ainda, nesta época outonal, com uma multiplicidade inacreditável de incêndios a devastarem as florestas e as matas da nação lusíada. Acreditamos, assim, que se esse prodigioso compositor barroco italiano, António Vivaldi, visitasse o nosso planeta, na atualidade, sentiria, certamente, uma estranheza imensa com a confusão atmosférica que tem baralhado o ciclo clássico das quatro estações. Não obstante, deixo-vos esta fantástica obra deste compositor que se inspirou na clareza do ciclo das estações para criar esta emblemática obra-prima da música intemporal.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
Outono Inverno
Uma névoa de Outono o ar raro vela (5-11-1932)
Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.
Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.
Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]
Fernando Pessoa