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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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NÚMERO 30 DA NOVA ÁGUIA (2º SEMESTRE DE 2022) – REVISTA DE CULTURA DO SÉCULO XXI

NA 30.jpgRevista A Águia.htm

 

  1. Os 15 anos da revista Nova Águia

A revista Nova Águia perfaz 15 anos de existência, com 30 números semestrais enriquecidos com artigos, ensaios e poemas de autores consagrados, de novas revelações literárias e de uma panóplia variada de investigadores. Renato Epifânio, fundador e seu diretor principal desde 2010, coajuvado por outros diretores e agora por vários vice-diretores, entre os quais tenho a honra de fazer parte, orientam os conjuntos temáticos dos diversos números. Este número 30 reúne mais de 60 colaboradores, onde se contam autores como Adriano Moreira, Álvaro Costa de Matos, Ana Leal de Faria, António Braz Teixeira, Ernesto Castro Leal, Francisco Ribeiro Telles, José Carlos Pereira, Nuno Sotto Mayor Ferrão, Renato Epifânio, Samuel Dimas, entre muitos outros.

 

  1. A fonte de inspiração da revista

A revista A Águia foi uma importante revista cultural, literária e científica, do início do século XX (1910-1932), em Portugal, que congregou muitas figuras de destaque das humanidades, das artes e das ciências com distintas mundividências que veicularam visões plurais, num universo de valores ligados ao republicanismo, ao socialismo e ao anarquismo. Sobressaíram na História Cultural Portuguesa, no conjunto dos seus inúmeros colaboradores, intelectuais como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Hernâni Cidade, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, António Sérgio, entre muitos outros. A revista, nos seus 22 anos de vida, abordou temas literários, artísticos, filosóficos e de crítica cívica, que tanto inspirou os fundadores e colaboradores da Nova Águia.

 

Em diversos números da revista A Águia, foram publicados textos inéditos de Alexandre Herculano, de Antero de Quental e de Camilo Castelo-Branco. O ímpeto cultural da revista A Águia e do movimento da Renascença Portuguesa surgiu da ambição de expansão social da cultura humanista junto da população portuguesa, que se traduziu em edições, na criação de universidades populares, na prossecução de cursos e de colóquios, na constituição de bibliotecas, entre outras ações, permitindo, concomitantemente, reflexões sobre alguns dos grandes problemas do país (por exempo, o ensino, a agricultura e as instituições).

 

A Direção da revista A Águia, no espírito saudosista de Teixeira de Pascoais, dará azo à afirmação profética e pessoana, que estará na origem da dissidência de António Sérgio e de Raul Proença, que a criticaram de passadista e de idealista, ao contrário do sergianismo que se afirmou pelo realismo futurista na revista Seara Nova.

 

A Águia alicerçou-se numa matriz nacionalista e neorromântica, no combate sem tréguas contra a tese da decadência nacional, que pairava na mentalidade da sociedade portuguesa, desde o fim do século XIX. Com efeito, aos mentores da revista, em pleno contexto de instauração do novo regime Republicano, moveu-os o espírito de promoção da autoestima nacional, mobilizando-os contra a tese de declínio da nação portuguesa, deixada pairar pelo poeta Antero de Quental desde as Conferências do Casino de 1871 e contra a mentalidade positivista de Auguste Comte, que contaminava a intelectualidade europeia. Esta revista A Águia era o órgão da associação cívico-cultural intitulada Renascença Portuguesa, que procurou estimular a cultura no país, quando grassava o flagelo do analfabetismo, com mais de 70% da população portuguesa a padecer deste mal, pelo que atualmente a Nova Águia pugna novamente contra uma cultura tecnocrática, que tem desvalorizado a cultura humanista no ensino, na sociedade e no mercado de trabalho, impedindo uma visão crítica e holística da complexa realidade atual.

 

  1. Os conteúdos culturais da revista

O número 30 da revista Nova Águia contém vários dossiês ricos em contributos intelectuais. Fazem parte do corpo da revista nove secções compostas por textos do VII Congresso da Cidadania Lusófona; por textos relativos a Gilberto Freyre e à lusofonia; por textos do Centenário do nascimento do historiador Jorge Borges de Macedo; por artigos referentes a “Outros Vultos”, entre os quais destaco como figuras abordadas Adriano Moreira, Gastão Cruz, Guerra Junqueiro, Paula Rego e José-Augusto França. Em “Outros Voos” temos textos sobre a educação intercultural, sobre o significado de ser português, sobre as invasões francesas e a localidade de Paços de Arcos, sobre o Direito como força normativa, sobre reflexões introspectivas de Samuel Dimas; por alguns textos em “Extravoo”; por uma secção nova sobre “Periódicos Eternos”, como foi o caso emblemático do jornal oitocentista Correio Brasiliense. No “Biblioáguio” apresentam-se recensões críticas de diversos livros e no “Poemáguia” constam poemas de autores como Renato Epifânio, António José Borges, Luísa Costa Macedo e Delmar Maia Gonçalves, entre outros.

 

  1. Objetivos da mundividência cultural da revista

Em suma, o objetivo supremo da Nova Águia é alimentar o ego nacional de uma forma realista, baseado numa rica tradição humanista, escorados os seus colaboradores na inspiração criadora da “revista mãe”, que lhe deu ânimo para que pudesse voar, mas plenamente convictos da importância para o nosso futuro comum do projeto e do sentimento de identidade lusófona, no seio de uma Humanidade a necessitar urgentemente de se transfigurar eticamente.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR, O REGIME DO ESTADO NOVO E ALGUNS DOCUMENTOS FUNDAMENTAIS PARA O SEU ESTUDO

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  1. Fontes históricas e estudos historiográficos

 

Como fonte histórica incontornável para o estudo do Estado Novo foram agora publicados, neste outono de 2021, em formato e-book os Diários de Salazar (1933-1968), pela Porto Editora, embora com uma pré-apresentação pelo jornal Público. Podemos, através destes escritos, acompanhar o quotidiano de Salazar ao nível da sua vida pública e privada, numa transcrição preciosa de uma arquivista persistente, que nos permite conhecer melhor aquilo que foram as suas rotinas diárias. Ficamos a perceber, por exemplo, que começava o dia a ler os jornais às 9 horas e terminava, geralmente, os seus dias com um passeio a pé, algumas leituras, alguns telefonemas ou um encontro com alguma personalidade do regime.

 

Franco Nogueira escreveu, também, uma colossal obra memorialística de Salazar, que convém sempre consultar, pois é um testemunho importante para quem queira estudar, pesquisar e compreender o âmago das relações políticas de Salazar.

 

A magistral biografia de Salazar escrita pelo historiador Filipe Ribeiro de Meneses, ao longo de vários anos para a sua tese de Doutoramento, constitui uma obra historiográfica de grande envergadura científica, porque retrata a sua vida política e, concomitantemente, carateriza o seu contexto histórico com muita precisão, dando-nos uma interpretação original do regime político do Estado Novo.

 

Do ponto de vista da sistematização historiográfica do regime é fundamental consultar o Dicionário do Estado Novo, em 2 volumes, com uma imensidão de investigadores, que colaboraram na sua realização, sob a cuidada supervisão de Fernando Rosas e de José Maria Brandão de Brito. 

 

  1. As bases do regime do Estado Novo, as opções ideológicas, os mecanismos de repressão e os meios de enquadramento das massas

 

Na década de 1930 ergueram-se as leis fundacionais do regime do Estado Novo, os preceitos ideológicos, as instituições políticas e os meios de repressão e de enquadramento das massas, inspirados no regime fascista italiano e no seu ódio ao regime da 1ª República Portuguesa. Após a 2ª guerra mundial, surgirá uma nova conjuntura histórica, anticolonialista, que obrigará o regime a uma ligeira inflexão político-ideológica de cosmética internacionalista. A propósito da criação do regime fizemos um vídeo didático, que nos mostra as opções ideológicas e as práticas políticas do anos 30 ao fim da 2ª guerra mundial, patente em baixo.

 

As bases legais do regime foram o Acto Colonial de 1930, a Constituição de 1933, plebiscitada, e o Estatuto do Trabalho Nacional de 1933.  Nesta década foram criadas, sob a inspiração do regime de Benito Mussolini, as principais instituições  como a União Nacional, a reorganização da censura prévia, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, o corpo jurídico da organização corporativa e o Secretariado de Propaganda Nacional.

 

O pensamento conservador de Oliveira Salazar marcou a ideologia do regime, com a valorização das tradições portuguesas, com a defesa intransigente das virtudes morais do mundo rural, com a defesa da religião católica e com a afirmação de uma “Política do Espírito” através do controlo da vida cultural por parte do Estado.

 

Este regime configura-se totalitário com menosprezo das liberdades individuais, com um nacionalismo corporativo, com um culto do chefe, com um Estado forte traduzido num poder executivo centralizado no presidente do conselho de ministros, com um imperialismo colonial advindo da Conferência de Berlim de 1884-1885, com uma forte intervenção económico-social do Estado na economia, com sentimentos antiliberais, antidemocráticos, antiparlamentares e anticomunistas, fazendo corporizar a essência do mal no regime nacional da 1ª República e na ameaça internacional bolchevique.  

 

Os organismos de repressão da liberdade expressão e de liberdade de ação eram a PVDE/PIDE, a censura prévia e os valores veiculados pelo Secretariado de Propaganda Nacional. Os meios de enquadramento das massas eram a União Nacional como partido único, a Legião Portuguesa como milícia de adultos para incutir o espírito anticomunista, a Mocidade Portuguesa como milícia juvenil para inculcar o sentido patriótico e as corporações para reunir os patrões e os trabalhadores, sob a supervisão estatal, de forma a evitar-se a conflitualidade social.

 

Em suma, estes documentos, históricos e historiograficos, assumem-se como peças inestimáveis para uma melhor compreensão do âmago do regime e do seu líder criador.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

CENTENÁRIO DA CRIAÇÃO DO “DIÁRIO DE LISBOA” (1921-2021): O  PERIÓDICO LISBOETA COMO FAROL DA LIBERDADE DE IMPRENSA

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O Diário de Lisboa foi um jornal de referência da imprensa portuguesa do século XX. Colaboraram nele muitos jornalistas, que vieram a ter grande reconhecimento e ilustres figuras da cultura portuguesa, tendo perdurado de 7 de abril de 1921 a 30 de novembro de 1990.

 

Foi um jornal diário vespertino e o primeiro a ser criado em Portugal, ao tempo da 1ª República, pelo banqueiro António Vieira Pinto, que inicialmente foi dirigido por Joaquim Manso. Nos anos finais da 1ª República foi alvo de alguns mecanismos de censura, como aconteceu em alguns dias de abril de 1925 quando não lhe foi permitido vir a público.

 

O jornal assumiu uma resistência subliminar ao Estado Novo, com muitas mensagens simbólicas nas entrelinhas de textos ficcionais e de notícias, no tempo da censura prévia. Esta oposição sub-reptícia a este regime autoritário efectuou-se, sobretudo, a seguir à 2ª Guerra Mundial e no período do Marcelismo, na altura em que se ansiava mais pela democratização do país.

 

Viveu, por isso, vários ciclos no decurso da sua existência ao longo de 70 anos, de 1921 a 1990, evocando-se, neste ano de 2021, o Centenário da sua criação com a realização de um Colóquio “São Mesmo as Últimas”: Diário de Lisboa, 1921-1990 organizado pela FCSH-UNL, a Hemeroteca Municipal de Lisboa e a Fundação Mário Soares – Maria Barroso, no fim deste ano.  De meados dos anos 50 a 1990, foi dirigido por Norberto Lopes, António Ruella Ramos e Mário Mesquita. A redação do jornal esteve situada na Rua Luz Soriano, sendo propriedade da Renascença Gráfica.

 

Contaram-se, entre os seus colaboradores, eminentes jornalistas e intelectuais como Artur Portela, Carlos Ferrão, Artur Portela Filho, Fernando Pessoa, João de Barros, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, António Sérgio, José Régio, Fernanda de Castro, Ferreira de Castro, António Botto, Mário Dionísio, Alexandre O’Neill, Norberto Lopes, João César Monteiro, Fernando Assis Pacheco, António Lopes Ribeiro, José Carlos de Vasconcelos, Joaquim Letria, Vasco Pulido Valente, Marina Tavares Dias, Urbano Tavares Rodrigues, Luís Sttau Monteiro, José Saramago, José Cardoso Pires, José Jorge Letria, Orlando Dias Agudo, Mário Zambujal, Fernanda Mestrinho, Maria Judite de Carvalho, José Freire Antunes, Fernando Dacosta, Lauro António, Eduardo Prado Coelho, entre muitas outras personalidades de reconhecido mérito intelectual.

 

Aliás, a grande proximidade com o meio cultural erudito da capital do país tornou-o num dos jornais preferidos da classe média com estudos, levando-o a assumir tiragens de cinquenta mil exemplares diários na década de 1950[1]

 

Um dos aspectos mais chamativos deste periódico eram as caricaturas e os cartoons de um humor verrinoso de criadores como Jorge Barradas, Stuart Carvalhais, Almada Negreiros, Carlos Botelho e João Abel Manta. O jornal, que perpassou 7 décadas do século XX e 3 regimes políticos portugueses (a 1ª República, o Estado Novo e a Democracia Atual), constitui uma fonte inesgotável para a História Contemporânea, tanto mais que, na época coeva, a narrativa historiográfica tem de passar por um registo exaustivo de sequências cronológicas, e os periódicos como este servem este intuito na perfeição. Com um retrato vivo do golpe de estado de 25 de abril de 1974 expressou o entusiasmo popular, que se plasmou na população portuguesa.

 

Analisemos um exemplo de uma notícia relevante deste jornal. A seguir à revolução de outubro de 1917, houve na Rússia uma guerra civil (1918-1921) entre o “Exército Branco”, formado por elementos da burguesia e da nobreza apoiado pelos países ocidentais, e o “Exército Vermelho”, da parte dos apoiantes do regime comunista. A guerra civil levou à execução do czar e da sua família, à morte de milhares de russos e ao agravar da crise económica, tendo triunfado o regime bolchevique.

 

Lenine, irritado com a oposição durante a guerra civil, fortaleceu as medidas radicais: nacionalizou as empresas, a banca e o comércio externo; requisitou as colheitas agrícolas; criou o partido único – partido bolchevique; criou a polícia política (Tcheca) e a censura, perseguindo e matando milhares de opositores. A guerra civil e as medidas do comunismo de guerra pioraram a crise económica do país.

 

Perante este contexto externo, numa notícia do Diário de Lisboa publicada a 15 de abril de 1921 com o título “Quem diz a verdade? O que se passa na Rússia Sovietista”, presta-se o testemunho da precariedade do regime soviético. Assim, a propósito de uma intervenção de um político espanhol no Congresso Socialista para decidir da adesão do Partido Socialista Espanhol à 3ª Internacional, Fernando de los Rios procedeu a uma análise lúcida e acutilante do regime comunista russo.

 

De los Rios elencou os meios repressivos empregues no regime russo e a precária situação sócio-económica caraterizada por uma impossibilidade de liberdade de pensamento; uma dificuldade de se mudar de profissão; uma insuficiência de alimentos necessários à sobrevivência humana da população russa; uma inexistência de liberdade comercial, levando ao surgimento de mercados clandestinos; uma penúria sócioeconómica da burguesia e do proletariado; uma proibição do exercício da greve; uma possibilidade por superior ordem política dos horários laborais excederem as 8 horas diárias; uma distribuição de víveres básicos muito mal cozinhados junto das camadas populares. Pelo que este reputado ideólogo socialista espanhol considerou que a Rússia dos Sovietes, pelo seu totalitarismo, sufocava a liberdade humana.

 

Esta notícia do Diário de Lisboa, publicada no contexto subsequente à criação Partido Comunista Português, em março de 1921, realça a seguinte mensagem de Fernando de los Rios, que carateriza o tom repressivo do regime bolchevique, colocando de sobreaviso os portugueses recentemente convertidos ao ideário comunista: “(...) D. Fernando de los Rios, delegado socialista à Rússia, fez na primeira sessão desse congresso declarações que deviam fazer reflectir o operariado, ansioso de proclamar no mundo inteiro o estado em que se encontra a Rússia. (...) É Fernando de los Rios, o delegado socialista, que conta o que viu e define a situação da Rússia dizendo: “Viver na Rússia é viver n’um presídio.(...)[2].

_______________________________

[1] Álvaro Costa de Matos, “No centenário da fundação do Diário de Lisboa (1921-2021): história & memória”, in Público, 18 de abril de 2021.  (consultado a 11 de setembrode 2021).

[2] “Quem diz a verdade? O que se passa na Rússia Sovietista”,  in Diário de Lisboa, sexta-feira, 15 de abril de 1921, nº 8, p. 7 – disponível no fundo da Casa Comum. 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

A revista cultural “Nova Águia”, número 26 – 2º semestre de 2020

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A revista cultural Nova Águia, no seu número 26 (2º semestre de 2020), abrange textos de ensaio e de poesia de assinalável qualidade.

 

Abordando como temas centrais: os 120 anos da escritora Fernanda de Castro, através de diversos textos e de testemunhos de múltiplos autores; o nosso tempo de pandemia visto através da reflexão de diversos colaboradores; a evocação do jurista Mário Bigotte Chorão no ano da sua morte e de diversos autores de Albano Martins a Pinharanda Gomes; alguns ensaios diversos de filosofia, de literatura, de educação e de cidadania; de notas inéditas de António Telmo; de recensões críticas de livros de cultura e um conjunto de poemas.

 

Entre as dezenas de colaboradores, deste número, destaco Adriano Moreira, António Braz Teixeira, Fernando Dacosta, José Eduardo Franco, Maria Leonor Xavier, Miguel Real, Renato Epifânio, Rita Ferro e Samuel Dimas, sem desmerecimentos dos outros autores, entre os quais tenha a honra de me contar.

 

A revista contém, ainda, algumas fotografias, fazendo memória de alguns eventos marcantes. Dos textos, muitos de grande profundidade doutrinária e filosófica, que serão para guardar nas bibliotecas da nossa identidade cultural, públicas e privadas, quero destacar os artigos “Sem bússola” de Adriano Moreira de uma meditação, sempre pertinente e inspirada em referências culturais, sobre a conjuntura atual, “A cultura, o mal e a esperança” de Miguel Real, “Perplexidades pandémicas” de Renato Epifânio, “Pinharanda Gomes” de Elísio Gala, “Breve reflexão sobre a tragédia” de António Braz Teixeira, “A leitura infinita: a leitura em voz alta, o que acrescenta aos textos?”, “Nove deambulações pró-lusófonas” de Renato Epifânio e nos poemas quero salientar “Arrábida” de Jesus Carlos e o excelente poema de Samuel Dimas, bem acomodado às circunstâncias sanitárias vivenciadas e de um fino recorte literário, intitulado “Pandemia: sacríficio; viver, evidência; invisível”. Parafraseando Vitorino Nemésio, quase seria tentado a salientar que muitos dos vultos literários evocados, neste e noutros números, quase os vemos viver.

 

A apresentação pública da revista Nova Águia, número 26, realizou-se no dia 22 de outubro de 2020 no salão nobre do Palácio da Independência, em Lisboa, com a presença na mesa de conferencista dos autores João Reis Gomes, de Renato Epifânio, de Francisco Ribeiro Soares e de Rodrigo Sobral Cunha, em pleno contexto pandémico.

 

A revista Nova Águia nasceu em 2008, pelo que conta doze anos de uma vida dinâmica, tendo aparecido no seio da crise profunda que abalou a Europa e Portugal no fim da primeira década do século XXI, tendo uma identidade lusófona ligada à corrente da filosofia portuguesa e à figura tutelar de Agostinho da Silva, pelo que tem uma difusão junto de leitores do espaço geográfico da lusofonia.

 

Na revista colaboram habitualmente dezenas de ensaístas em todos os números. Esta revista tem uma periodicidade semestral, contando habitualmente com cerca de 30 a 40 artigos, em média, e com diversos poemas.

 

Atualmente, fruto da conjuntura pandémica, tal como a maioria da atividades editoriais e económicas, esta nossa revista tem passado algumas dificuldades para sobreviver, mas sem ela a memória da nossa identidade cultural ficaria mais pobre, daí que a ajuda dos Amigos da Nova Águia esteja a ser fundamental.

 

A sua fonte de inspiração é a revista A Águia, uma importante revista cultural do início do século XX (1910-1932), em Portugal, que congregou muitas figuras de destaque das Humanidades, das Artes e das Ciências com distintas mundividências que veicularam visões plurais.

 

Sobressaíram na História Cultural Portuguesa, no conjunto dos inúmeros colaboradores desta revista inspiradora, intelectuais de grande envergadura como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, Raul Proença, Hernâni Cidade, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, António Sérgio, etc, que se notabilizaram pelas suas ideias ou pelas obras literárias, mas a que associaram uma dimensão de intervenção cívica invulgar, fundando, por isso, o movimento cultural da Renascença Portuguesa.

 

Por outras palavras, a revista nos seus 22 anos de vida comportou temas literários, artísticos, filosóficos e de crítica cívica, que tanto iluminam o espírito dos fundadores e dos colaboradores da Nova Águia.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

A CHINA E A NOVA GUERRA FRIA (2013-2020) – O ATUAL CONTEXTO GEOPOLÍTICO INTERNACIONAL

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A China afirma-se, em 2020, como uma superpotência mundial. Na última década do século XX, houve um equívoco na pretensa vitória dos EUA na guerra fria, pois os EUA venceram esta tensão internacional, mas sem perceberem que não tinham vencido o paradigma comunista.

 

Em 15 de abril de 1989, aconteceu, em território chinês, o simbólico protesto na Praça Tiananmen, em que os protestos estudantis foram violentamente reprimidos. Este acontecimento traduz a repressão dos Direitos Humanos, que se verifica na China até aos dias de hoje, o que aliás preocupa intensamente a comunidade internacional e os organismos dos defensores dos Direitos Humanos.

 

O comunismo chinês emerge, no século XXI, com uma vitalidade aparentemente incompreensível, pois este país conseguiu inventar aquilo a que Nuno Severiano Teixeira denomina de neocomunismo[1], dado que este país realizou uma síntese eclética entre o sistema comunista e a economia de mercado com a implantação de um Capitalismo de Estado, num regime de partido único comunista, conjugado com uma Ditadura Digital.

 

Este novo ciclo político, desta superpotência, iniciou-se com a subida ao poder de Xi Jinping em 2013. Este líder chinês investiu na estratégia internacional de afirmação geopolítica do país, com uma orientação de fundo, que passou pelo reforço do autoritarismo interno e a aposta numa nova projeção internacional do país.

 

Para alcançar o pleno controlo da população, a China ergueu um sistema de crédito social[2], tal como nos diz Raquel Vaz-Pinto, e uma ditadura digital no sentido de implantar um sistema de gestão social autoritária.

 

Na verdade, a China adquiriu o estatuto de superpotência política e económica, entrando num clima de tensão com os EUA, a nível internacional, o que poderá configurar, sem dúvida, uma segunda guerra fria.

 

Tudo começou com a guerra comercial e tecnológica entre estas duas superpotências, que se apresentam ao mundo com dois modelos políticos antagónicos, isto é, um com o singular “sistema comunista de mercado” e o outro com “o liberal capitalista”. Estas duas superpotências disputam a liderança mundial em termos económicos e tecnológicos, mudando o caráter desta nova guerra fria (2013-2020).

 

Às contestações populares que se verificaram em Hong Kong, em 2019, a China respondeu, recentemente, com a Lei de Segurança e com prepotentes violências sobre os habitantes da região desta antiga colónia inglesa. Nesta estratégia internacionalista, da China, conta-se, também, a afirmação comercial da “Rota da Seda” e a tentativa hegemónica da HUAWEI na revolução digital 5G do mundo, que está a preocupar os norte-americanos e os europeus.

 

Em suma, perante esta “nova guerra fria”, abre-se novamente o problema ético da necessidade imperiosa de regulação do Capitalismo Global, no espírito das Nações Unidas.

_________________________

[1] Nuno Severiano Teixeira, “A segunda guerra fria”, Público, 29 de julho de 2020. p. 9.

[2] Raquel Vaz-Pinto, “A China e o sistema de Crédito Social”, Brotéria, nº 190 – 5/6, maio-junho 2020. pp. 535-541.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

ACULTURAÇÃO, INTERCULTURALIDADE E A APRENDIZAGEM COM O “OUTRO” NO ESPÓLIO PATRIMONIAL DO MNAA – PASSADO, PRESENTE E FUTURO

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Num mundo crescentemente marcado por conflitos e violências, neste momento de vivência e de convívio com a pandemia do COVID-19, muito temos a aprender com a experiência de aculturação e de interculturalidade com os portugueses dos séculos XV a XVIII.  Não será por acaso que a ONU, nesta presente conjuntura do início do século XXI, está a ser liderada por António Guterres, um profundo conhecedor da estratégia do diálogo intercultural.

 

Na aprendizagem intercultural do pintor Nuno Gonçalves, nos Painéis de São Vicente,  são manifestos os seus conhecimentos empíricos das novidades e das técnicas das pinturas flamengas e italianas Quinhentistas. Apesar do grande desconhecimento sobre esta obra emblemática do MNAA, recentemente a iniciar o seu o restauro, devido a ausência de documentação histórica que nos forneça provas para muitas das questões e das teorias que rodeiam esta obra-prima da pintura portuguesa do Renascimento, muito temos a aprender.

 

Através da observação atenta desta pintura emblemática, verificamos a vivacidade das cores, a utilização da técnica a óleo e o rigor no realismo empregue na representação das vestes e da construção de figuras em vários planos, dando-nos a noção de um espaço tridimensional e de um forte realismo nos drapejamentos. Constatamos, assim, a aprendizagem do pintor com os autores flamengos e italianos. Terá estado na Flandres? Terá conhecido Van Eyck em Portugal?

 

O objetivo do pintor Nuno Gonçalves foi o de representar a nação portuguesa nos seus vários estratos sociais em volta de um Santo. É, ainda hoje, um símbolo da identidade nacional portuguesa do tempo da gesta dos Descobrimentos Marítimos. Será que a expressividade tensa das fisionomias das figuras desta obra significará a unidade nacional perante o desafio das descobertas marítimas em curso em meados do século XV ?

 

Verificamos as trocas interculturais entre os portugueses e os povos do mundo com que contactámos, entre os séculos XVI e XVIII,  através dos Biombos Namban e mediante a apresentação de diversas outras peças artísticas do Museu Nacional de Arte Antiga.

 

Na apresentação descritiva da Visita Guiada em relação aos Biombos, que apresentamos no "link" em cima, vemos representados: o arcabuz transmitido pelos portugueses aos japoneses; os elefantes desconhecidos pelos japoneses; os óculos dos portugueses que causaram intensa estranheza aos nipónicos; as cadeiras chinesas utilizadas pelos portugueses em terras nipónicas; as igrejas cristãs de estilo japonês, fruto da evangelização dos missionários jesuítas; a admiração dos japoneses pela habilidade “trapezista” dos marinheiros lusos; os animais “exóticos” como os cães  perdigueiros que os nipónicos desconheciam, etc.

 

Por outras palavras, fruto da globalização, encetada pela expansão marítima portuguesa, assistimos ao diálogo de culturas com o capitão-mor português a transportar à cintura duas espadas de samurai, o transporte no cortejo de mercadorias pelos portugueses de objetos com influências formais de múltiplas regiões do mundo ou, ainda, o esforço de adaptação dos jesuítas portugueses aos costumes japoneses, conseguindo a conversão de muitos habitantes locais, como surge representado numa figura de um nipónico vestido de jesuíta.

 

Igualmente no Museu Nacional de Arte Antiga encontramos múltiplos exemplos artísticos de interculturalidade formal, como deu a conhecer a historiadora Maria de Lourdes Riobom. Desde o Saleiro do Benim em que surgem os portugueses vistos pelos africanos, o contador mogol onde surgem representados portugueses e asiáticos; o cofre oriental, inspirado nos baús portugueses de viagem e reproduzindo uma estampa de A. Dürer que representa figuras da Sagrada Família, compaginando anjos vestidos de acordo com os costumes nativos e pastores trajados à portuguesa ou a pintura do Inferno, de autor português Quinhentista, anónimo que apresenta o Diabo como um Índio.

 

Em suma, verificamos que a aculturação, a interculturalidade e a aprendizagem com o “outro”, entre os portugueses e os povos contactados, nos permitiram no início do contexto da globalização oferecer “novos mundos ao mundo”, desde o século XVI, através do diálogo intercultural que permeia múltiplas peças do rico espólio artístico do Museu Nacional de Arte Antiga.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

RECENSÃO CRÍTICA COMPARATIVA DE 3 BIOGRAFIAS (JÚLIO DE MELO FOGAÇA, JOSÉ AGOSTINHO DE MACEDO E DE ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR)

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“(...) Ao assumir a Presidência do Conselho de Ministros, a 5 de julho de 1932, cargo que só viria a abandonar em1968, Salazar pronunciou algumas palavras. (...)”

Filipe Ribeiro de Meneses, Salazar – Uma biografia política, 2ª edição, Lisboa, Edições D. Quixote, 2010, p. 110.

 

“(...) É a rejeição da pequena elite do Cadaval forjada pelo nascimento e temperada pela riqueza da exploração da terra. O jovem fidalgo rural desaparecera. Júlio Fogaça sente-se na plenitude um filho adoptivo do proletariado (...)”

Adelino Cunha, Júlio de Melo Fogaça – O líder de origem burguesa que desafiou Álvaro Cunhal e foi apagado da históriado PCP,  Porto Salvo, Edições Dessassego, 2018, p. 52.

 

“(...) José Agostinho conseguira evitar durante mais de três anos o cutelo que sobre ele queriam abater os gracianos; mas era espada de Dâmocles, sobretudo porque o seu feitio turbulento e a sua irreprimível tendência para o disparate acabaram por lhe alienar os últimos (e poderosos) apoios que conseguira, in extremis, concitar. (...)”

António Mega Ferreira, Macedo – Uma biografia da infâmia, Porto, Sextante Editora, 2011, p.77.

 

A obra de Filipe Ribeiro de Meneses sobre António de Oliveira Salazar[1], sendo uma biografia política, é de uma excelente qualidade científica e foi elaborada como Tese de Doutoramento pelo autor, ao longo de uns 7 anos de uma exaustiva investigação histórica. É um livro que aborda o percurso formativo, académico, político e amoroso de Salazar e nos vai dando a conhecer um enquadramento das várias conjunturas históricas vividas pelo protagonista, bem como nos apresenta uma análise rigorosa, quase um “raio X”, do regime político do Estado Novo, nas suas diversas circunstâncias internas e externas.

 

Ao mesmo tempo, que fez uma cuidada análise documental, concede-nos uma interpretação original do regime e do seu fundador. Esta biografia contém uma rica documentação fotográfica, que nos permite ir acompanhando o evoluir da vida do biografado, o que não é uma qualidade muito comum nestas obras biográficas simples, sendo mais vulgares nas fotobiografias.

 

O livro de Adelino Cunha sobre Júlio de Melo Fogaça[2] centra-se muito no pensamento do dirigente comunista e nas suas bravatas de afrontamento dos dirigentes comunistas pró-soviéticos, com destaque para Álvaro Cunhal, com quem manteve profundas divergências. Este texto biográfico padece de socorrer-se, em demasia, de citações  documentais, o que reduz bastante a fluência sintáctica da narrativa histórica. Além disso, a linguagem é excessivamente científica com recorrentes análises abstractas no texto, que nos afastam das condições empíricas do biografado.

 

A exceção a esta tendência surge quando nos descreve o momento horribilis dos seus encarceramentos, na Colónia Penal do Tarrafal. Estas duas biografias, de Salazar e de Júlio Fogaça, permitem-nos ter perspectivas diametralmente opostas da mesma realidade perante o posicionamento dos biografados, ou se preferirem, do mesmo regime político.

 

Por seu turno, a biografia de José Agostinho de Macedo[3] é escrita num tom romanesco, pela sua linguagem profundamente literária, sem prejudicar a visão da vida do biografado, antes dando dela uma impressão cinematográfica, que nos permite acompanhar, com calor humano e veracidade, as estroinices do Padre José Agostinho e o seu percurso literário. De tal forma que o autor deixa-nos uma perceção muito realista da vida do biografado, embora com ajuizamentos pouco próprios de um historiador, apesar de uma grande preocupação metodológica de confronto das informações recolhidas nas fontes históricas, que compulsou.

 

Fica, assim, mais próximo do romance histórico do que da simples narração da vida do biografado, mas vai-nos brindando com uma descrição bem emotiva e dramática dos desmandos e das estronices do Padre José Agostinho. Poder-se-à questionar se este estilo literário é próprio do género biográfico, mas, no caso de um literato com o calibre deste Padre, acreditamos que a escolha e a sensibilidade de António Mega Ferreira foram correctas.

 

Um dos pontos fracos comum às 3 biografias é a ausência de cronologias da vida e da obra dos biografados. Nos documentos históricos, a biografia de Filipe Ribeiro de Meneses não nos faculta o acesso a documentos escritos nos seus anexos, mas apenas nas suas notas de rodapé, resultado da transformação da tese académica em livro de divulgação histórica.

 

A biografia de Adelino Cunha padece do facto de ser um pouco fastidiosa na sua leitura porque crava no texto narrativo demasiadas transcrições de documentos históricos, o que é excelente para o leitor de critério científico mas pouco cómodo para o leitor comum.

 

O Padre José Agostinho de Macedo é pouco conhecido da opinião pública e, por isso, esta biografia é bem pertinente. António de Oliveira Salazar, ditador português do século XX, é uma figura sobejamente conhecida da História de Portugal mas ainda pouco estudada como biografia, com exceção da parcial biografia que lhe dedicou Franco Nogueira. Júlio de Melo Fogaça foi um dissidente da ortodoxia soviética, que se confrontou no PCP durante os anos da liderança de Álvaro Cunhal. É conhecido das gerações que viveram durante o Estado Novo, mas quase completamente desconhecido das gerações mais novas.  

 

António Mega Ferreira é um veterano e talentoso jornalista e escritor, com reconhecidos méritos literários plasmados em múltiplas obras e no Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, que recebeu em 2002. Filipe Ribeiro de Meneses é um prestigiado historiador português que vive na Irlanda, sendo professor na Universidade de Maynooth, que escreveu esta biografia como tese de Doutoramento com um abundante manacial de investigação de múltiplas fontes históricas.

 

Adelino Cunha é um jornalista e professor de História Contemporânea na Universidade Europeia, com obras publicadas que partem da visão atualista do jornalista para a perceção global do historiador.

 

O género biográfico na historiografia tem merecido ser revisitado desde a Antiguidade Clássica até aos dias de hoje. Se na Antiguidade se pretendia recolher lições morais da leitura das biografias, na atualidade pretende-se suscitar a comprensão da natureza humana nas suas virtualidades e fragilidades e, ao mesmo tempo, dar a conhecer os respectivos contextos históricos, que, nos casos presentes, foram o ambiente do Salazarismo e a viragem do Antigo Regime para o Liberalismo em Portugal.

________________________

[1] Filipe Ribeiro de Meneses, Salazar – Uma biografia política, 2ª edição, Lisboa, Edições D. Quixote, 2010, 803 p.

[2] Adelino Cunha, Júlio de Melo Fogaça – O líder de origem burguesa que desafiou Álvaro Cunhal e foi apagado da história do PCP, Porto Salvo, Edições Dessassego, 2018, 317 p.

[3] António Mega Ferreira, Macedo – Uma biografia da infâmia, Porto, Sextante Editora, 2011, 366 p.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

A ‘NOVA ÁGUIA’, NÚMERO 22, COMO REVISTA DE CULTURA LUSÓFONA

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A revista Nova Águia de publicação semestral e dedicada à cultura portuguesa e lusófona é composta por artigos de ensaio e por poemas, de autores com diferentes proveniências como Portugal, Cabo Verde, Brasil, Galiza, Itália, entre outros. Neste novo número, o 22, referente ao 2º semestre de 2018, colaboram 61 autores. A revista é apresentada, geralmente, a meio de cada semestre em março/abril e em outubro.

 

Neste último número, destacam-se 3 grandes temas: as comunicações ao V Congresso da Cidadania Lusófona; artigos sobre a humanista Dalila Pereira da Costa no Centenário do seu nascimento; e comunicações referentes ao V Centenário do nascimento do humanista Francisco de Holanda.

 

Da sua composição também fazem parte textos sobre várias outras figuras de relevo da cultura portuguesa como o pedagogo Manuel Ferreira Deusdado, o padre Manuel Antunes, o poeta Adolfo Casais Monteiro, o escritor António Quadros, o pensador Agostinho da Silva, entre outros. São, ainda, publicados dois textos inéditos de Agostinho da Silva e de António Telmo.     

 

Na Nova Águia colaboram dezenas de ensaístas, entre os quais saliento como grandes autores de referência e sem qualquer menosprezo pelos demais, Adriano Moreira, António Braz Teixeira, José Eduardo Franco,  Miguel Real, Pinharanda Gomes, Samuel Dimas e Renato Epifânio, que constituem as figuras tutelares da revista, pelos seus brilhantes percursos vivenciais ou académicos, na definição de uma filosofia portuguesa. No final do volume, apresenta-se um conjunto de recensões críticas e de poemas de grande interesse.

 

Esta revista, sendo ligada ao Movimento Internacional Lusófono, é uma homenagem a uma revista de cultura que surgiu na 1ª República, da necessidade de reerguer o valor da pátria portuguesa, intitulada A Águia, na qual colaboraram figuras eminentes ligadas ao movimento cultural e cívico intitulado Renascença Portuguesa, como Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, António Sérgio, Teixeira de Pascoaes, Raul Proença, Fernando Pessoa, entre outros escritores e pensadores.

 

Nesta presente revista existe uma recensão de livros da coleção Nova Águia da Editora Zéfiro, pois tal como a Renascença Portuguesa, que na segunda década do século XX criou uma série de publicações, também a Nova Águia dá nome a uma coleção desta editora com mais de 50 livros de autores individuais.

 

A estratégia editorial da Nova Águia consubstancia-se na difusão da cultura lusófona, espraiando-se por vários espaços ligados à língua e à cultura portuguesa e inspirando-se na sua predecessora já supramencionada. Esta procurou burilar durante mais de vinte anos (1910-1932) uma cultura patriótica em torno da identidade portuguesa, tão abalada com a crise da monarquia lusa desde a última década do século XIX, em tempos em que o analfabetismo grassava na população portuguesa.

 

Salienta-se que esta revista se carateriza pela evidente escassez de publicidade comercial, sendo a existente apenas ligada às atividades editoriais, ao contrário da maioria das outras revistas culturais portuguesas e do espaço lusófono. A tiragem da revista é, geralmente, de 1000 exemplares por número. 

 

Em suma, a revista Nova Águia, numa sólida solução de compromisso, reflete sobre a identidade portuguesa na sua cultura, na sua língua e no seu pensamento, sem se esquivar ao contexto atual da globalização com a promoção de uma cultura lusófona, mediante os autores tratados, a proveniência diversa dos colaboradores da revista e os diferentes espaços da lusofonia, onde esta é apresentada.

 

Na senda de um humanismo espiritual, a Nova Águia trilha o seu caminho desde 2008, o que para um projeto cultural independente no seio deste deserto tecnocrático em que vivemos é já de assinalar vivamente. À qualidade dos seus conteúdos junta-se o enriquecimento com referências bibliográficas e, agora, com imagens e fotografias ilustrativas de alguns dos artigos publicados.  

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

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DISCURSO DE ANIVERSÁRIO NO MEU CINQUENTENÁRIO (1968-2018)

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Queridos familiares, amigos/as e leitores,

 

Tenho o ensejo de dirigir umas breves palavras de saudação aos queridos familiares e amigos, que quiseram estar presentes neste festejo e me acompanharam nestes 50 anos de vida. Não pude deixar de contar com o apoio de todos nos momentos mais difíceis, de uma forma ou de outra, e de esperar uma colaboração afectuosa rumo à sabedoria dos anos que virão.

 

Na pessoa do ilustre Diretor da revista da Nova Águia, Professor Renato Epifânio, cujo alto profissionalismo e superior dedicação à causa lusófona me é grato referir, apresento os meus agradecimentos pelo contributo, com a apresentação do número 22 da revista, que nos dá neste festejo, que pretendi familiar, mas de cunho cultural. 

 

O que significa fazer meio século de vida ? Sem dúvida, implica uma graça divina, a que procuro corresponder com o coração aberto e a alma cheia de uma fraternidade transcendental, recordando o Padre António Vieira que concebeu o V Império em que os portugueses legarão à Humanidade num futuro moldado pelos parâmetros da cultura portuguesa, pela capacidade lusa de assumir um desígnio universalista e pelo anseio cristão de um mundo onde seja possível compaginar a felicidade pessoal e a harmonia social. Daqui depreendo um significado teológico do meu aniversário ancorado na cultura portuguesa.

 

A presença de todos vós, queridos familiares e amigos, é símbolo dos laços de afecto, de companheirismo e de entreajuda, que são fundamentais para atravessarmos os mares tormentosos de todas as eras e que aparecem sempre de forma inusitada. A caminhada que fazemos na peleja pelo bem, na vossa presença e na do Espírito Santo, numa subida íngreme cheia de espinhos, com cada vez menos forças, só é possível com o vosso carinho e a esperança numa fé que nos ancora a tibieza dos nossos passos.

 

Não querendo parecer ser poético, profético ou utopista, mas um realista de alma cheia e coração aberto, quero agradecer à minha mãe, ao meu pai, à minha mulher, à minha filha, aos meus sogros, aos meus padrinhos, aos familiares e amigos o desvelo ímpar e apreço que têm patenteado ao longo desta minha caminhada.

 

A vida humana sem cultura é de uma estranheza “escanifobética”, usando um termo da minha infância, ou nas avisadas palavras do Padre Manuel Antunes, sobre quem escrevi um pequeno artigo nesta última revista da Nova Águia, que dizia: “A cultura promove a dignidade da pessoa, porque fomenta a sua liberdade espiritual, porque educa a sua capacidade de admirar, de compreender e de contemplar...” (Brotéria, novembro de 2018, p. 658). Daí que tenha dado nomes de revistas culturais portuguesas às mesas onde vos convidei a sentar, tendo procurado um significado simbólico nas mesas a que vos associei.

 

Não me identifico com as palavras existenciais de Albert Camus, mas com as palavras cinzeladas de certa espiritualidade de Vinicius de Moraes. Frisava Albert Camus numa descrença de espírito: “A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino. Nada passa mais depressa que os anos. Quando era jovem dizia: “verás quando tiver cinquenta anos”. Tenho cinqüenta anos e não estou vendo nada.”

 

Pelo contrário, afirmava, na nossa querida Língua Portuguesa, Vinicius de Moraes aquilo que verdadeiramente conta: “Queira-se antes ventura que aventura/ À medida que a têmpora embranquece/ E fica tenra a fibra que era dura./ E eu te direi: amiga minha, esquece.../ Que grande é este amor meu de criatura/ Que vê envelhecer e não envelhece.”.

 

Estes meus 50 anos de vida passaram-se num tempo histórico, que medeia entre o Marcelismo outonal, do tempo em que nasci, e os fenómenos erráticos dos populismos que emergem de uma globalização sem norte, em que vivemos submergidos. Assisti à queda do Muro de Berlim, à queda das Torres Gémeas, ao declínio da Civilização Ocidental sobre os quais espero um dia escrever um registo memorialístico ou, pelo menos, ler um livro de um historiador sem medo e com fôlego, que me faça lembrar Arnold Toynbee, Fernand Braudel ou Eric Hobsbawm.

 

A vida que tenho vivido tem frutos muito doces, embora o curso da nossa vida, como bem recordava o Concílio Vaticano II, navegue sempre entre alegrias e angústias, pois isto é próprio da condição humana.

 

Os frutos dulcíssimos da nossa vida são resultado dos nossos amores maiores e das nossas paixões - os meus queridos pais, a minha cara metade, a nossa filha - de quem escrevi, no momento do seu nascimento: “Ontem um sopro de vida/ bateu inesperadamente à nossa porta./ Só tivemos tempo de o acolher de Coração aberto/ e irradiantes de Felicidade, / esperamos que o alento que lhe demos,/ com a Graça do Espírito Santo, / lhe possa servir de fermento/ para brotar como uma flor viçosa” (Nuno Sotto Mayor Ferrão), as minhas publicações e a árvore da nossa filha que plantámos no sentido de simbolizar o seu crescimento, pois só, quando edificamos sonhos, a felicidade bate à nossa porta, numa perspetiva que se afasta em tudo da preconizada por Bertrand Russell.

 

Quero agradecer esta oportunidade de estar convosco neste marco histórico pessoal, de celebração dos meus 50 anos, ao evocar a minha identidade e vossa inestimável presença neste momento simbólico. Fazendo os melhores votos pelas prosperidades e felicidades a este querido grupo de familiares e amigos, aqui reunido, quero levantar a taça/a ”flute” pela Saúde e o Bem-Estar de todos, queridos familiares e amigos.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

O CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO PADRE MANUEL ANTUNES (1918-2018) E O ANIVERSÁRIO DO BLOGUE “CRÓNICAS DO PROFESSOR FERRÃO”

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O Padre Manuel Antunes foi um sacerdote jesuíta, ensaísta e professor universitário, nascido em 1918 na Sertã, comemorando-se, portanto, em 2018, o Centenário do seu nascimento.

 

Licenciou-se em Filosofia e em Teologia e cedo assumiu a missão de docente, leccionando aos estudantes da Companhia de Jesus e aos alunos da Faculdade de Letras de Lisboa. Colaborou em inúmeros artigos na revista Brotéria e na Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura da Editora Verbo, tendo sido Diretor desta revista dos jesuítas durante muitos anos.

 

Ingressou aos 18 anos na Companhia de Jesus, pelo que ficou marcado pela espiritualidade inaciana, identificando Deus em todas as coisas. Como professor e estudioso tinha uma propensão pelas grandes sínteses e pelo saber utilitário na sua atualidade, atraindo às aulas, pelo fascínio das suas preleções, uma multiplicidade de alunos de diferentes quadrantes ideológicos.

 

A sua brilhante carreira académica e cultural foi coroada com a atribuição do Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa e pela atribuição da comenda da ordem militar de Santiago da Espada, a 10 de junho de 1983, pelo Presidente da República, Ramalho Eanes.  

 

Segundo o estudo de António Júlio Trigueiros, SJ[1], atual Diretor da revista Brotéria, do retrato feito dele por vários intelectuais na imprensa portuguesa, aquando do seu falecimento, sobressai o humanista, o pedagogo, o homem de cultura e o filósofo.

 

Escreveu inúmeros ensaios sobre temas contemporâneos, figuras da cultura, personalidades contemporâneas, temas de atualidade, e outros incidindo mesmo nas linhas mestras do seu pensamento doutrinário. Muitos destes ensaios verteu-os nas páginas da revista Brotéria, que dirigiu, durante vários anos, a partir de 1965.

 

O seu pensamento esteve marcado por um humanismo cristão, que lhe ficou a pautar a vida na integridade de conduta e na incomensurável humildade do seu relacionamento interpessoal. As suas reflexões versaram a cultura de vários povos e, em particular, a cultura portuguesa. Como jesuíta, o seu labor consagrou-o ao aperfeiçoamento da sua ordem religiosa.

 

A seguir ao seu falecimento, múltiplos foram os intelectuais (José Medeiros Ferreira, Jorge Borges de Macedo, Orlando Ribeiro, Guilherme de Oliveira Martins, Luís Filipe Barreto e outros) que, na imprensa portuguesa, em janeiro de 1985, elogiaram o papel do Padre Manuel Antunes de servir a Igreja Católica no plano cultural. Em 2018, celebra-se o Centenário do seu nascimento e convém evocá-lo como um professor que ensinou muitos alunos a reflectir e lhes mostrou uma ímpar vivência ética.

 

A 23 de julho de 2018, o blogue “Crónicas do Professor Ferrão” celebra o seu nono aniversário (2009-2018) num espírito semelhante ao do Padre Manuel Antunes na abordagem variada de temas culturais e de atualidade, procurando uma visão global das problemáticas, como é típico dos historiadores. Aliás, foi o saudoso e estimado Professor José Medeiros Ferreira que me impulsionou a concretizar este projeto cultural, que depois foi também bastante bem acolhido e incentivado por amigos, conhecidos e desconhecidos do público em geral.

 

Tal como o Padre Manuel Antunes, este blogue procura ter uma abrangência cultural ampla (versando temas científicos, filosóficos, literários, artísticos e históricos), numa visão holística do conhecimento.

 

Quero agradecer os inúmeros contributos que favoreceram o enriquecimento qualitativo deste blogue, em termos técnicos, científicos e linguísticos, que acabou por me abrir as janelas para escrever em revistas culturais relevantes, como a Nova Águia e a Brotéria. O nome deste blogue foi prévio à sua existência, pois surgiu como projeto associado a artigos publicados num site.

 

O desafio de me ligar culturalmente à internet já me tinha sido lançado por um conhecido, para integrar conteúdos históricos num portal, mas muitas pessoas foram, de facto, as alavancas anímicas para que este projeto fosse possível. Os dois assuntos, aparentemente distintos do título deste “post”, estão afinal interligados pela proximidade dos temas que interessaram ao Padre Manuel Antunes e a este blogue.

 

Por fim, quero convosco celebrar o nono aniversário deste blogue, que só tem sido possível com os vossos apoios e o interesse sempre renovado das vossas leituras.

__________________ 

[1] António Júlio Trigueiros SJ, Posfácio – Padre Manuel Antunes, o último retrato, in Padre Manuel Antunes, Portugal, a Europa e a Globalização, Lisboa, Bertrand Editora, 2017, p. 416.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

20 ANOS DA EXPO 98 (1998-2018) E OS 78 ANOS DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS (1940-2018)

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A 23 de maio de 2018 assinalam-se os 20 anos sobre a realização da Expo 98, certame internacional no contexto inicial da globalização, em que se celebrava o V Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Este evento motivou o nome atribuído à segunda ponte sobre o Tejo da cidade de Lisboa, com o navegador responsável pelo feito – Vasco da Gama e que foi inspirado - e muito melhor planeado - na Expo Sevilha 92, que registou publicamente a descoberta das Antilhas por Cristovão Colombo.

 

A Expo 98 veio a modernizar uma zona ribeirinha de Lisboa marcada pela paisagem industrial, permitindo aos cidadãos uma maior proximidade vivencial com o rio Tejo. António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura idealizaram este certame internacional, que renovou a paisagem urbanística de Lisboa. De uma cidade de traçado e de perfil tradicional em termos urbanísticos e arquitectónicos, não obstante as erupções modernistas de Porfírio Pardal Monteiro, transformou-se numa cidade com um pólo muito modernista, que veio a designar-se de Parque das Nações.

 

O crescimento da cidade de Lisboa, em direção ao interior, desde o início do século XX, com o surgimento das Avenidas Novas durante o Estado Novo e com bairros novos no fim do regime da ditadura e no início do regime democrático levou os lisboetas, alfacinhas, a virarem as costas ao rio.

 

Contudo, Lisboa tem duas faces inequívocas: a zona litoral ligada ao Império Colonial Português e à expansão marítima e a zona interior, que confina com a “região saloia”, hoje transformada em área metropolitana da capital com cidades-satélite e localidades autênticos dormitórios, em que as casas se debruçam sobre os campos, aproveitando o facto para fazerem pequenos quintais de produtos hortícolas, como bem o frisou o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles na sua definição da identidade alfacinha da cidade de Lisboa.

 

Tal como a Expo 98 possibilitou a renovação da área urbana na zona oriental de Lisboa, também em 1940 a zona de Belém, que se encontrava bem degradada com um hediondo parque industrial, foi nobilitada pela realização de arranjos urbanísticos no seio da Exposição do Mundo Português.

 

A exposição internacional do fim do século XX foi o motivo para a renovação urbanística deste espaço da capital portuguesa, tendo tirado partido dos ensinamentos advindos da Expo de Sevilha de 1992, em que o recinto de exposições se volveu num espaço fantasma, abondonado ao vento e aos insectos. 

 

Na Expo 98 edificaram-se pavilhões efémeros de vários países, mas também foram construídos vários edifícios perduráveis como o antigamente denominado Pavilhão Atlântico, o Pavilhão de Portugal ou o Oceanário, entre outros.

 

Na Exposição do Mundo Português a maioria dos pavilhões, como são os casos do Pavilhão da Formação e Conquista, do Pavilhão da Independência e do Pavilhão dos Descobrimentos, foram construídos em materiais efémeros e apenas alguns persistem como o denominado Museu de Arte Popular e o Padrão dos Descobrimentos, este edificado de forma definitiva em 1960 para assinalar o V Centenário da morte do Infante D. Henrique e a própria Praça do Império.

 

A Exposição do Mundo Português, que foi inaugurada a 23 de junho de 1940, em pleno contexto da 2ª guerra mundial com a Europa sob o jugo nazi, decorreu no contexto nacionalista do regime de António de Oliveira Salazar, celebrando, concomitantemente, as datas de 1140 e de 1640 ligadas à independência portuguesa do reino e à restauração da soberania nacional após o domínio Filipino. O espaço industrial de Belém foi transformado em espaço urbano, que com o decorrer das décadas do século XX se assumiu como um espaço nobre de manifestações públicas e, igualmente, um lugar privilegiado do turismo cultural.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

APRESENTAÇÃO DO Nº 21 DA REVISTA NOVA ÁGUIA (1º SEMESTRE DE 2018)

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A 28 de março de 2018 irá ser apresentado o novo número da revista Nova Águia (nº 21, 1º semestre de 2018) na Sociedade de Geografia de Lisboa às 16 horas e 30 minutos, depois de ser atribuído o Prémio Personalidade Lusofóna 2017 pelo Movimento Internacional Lusófono a Manuel Araújo, com a presença do Diretor da revista, Renato Epifânio.

 

Este novo número da revista não se centra em nenhum núcleo temático, mas nele se evocam figuras incontornáveis e contemporâneas da cultura portuguesa como sejam: o escultor José Rodrigues, recentemente falecido; o investigador e político Fidelino de Figueiredo no cinquentenário da sua morte; o jornalista e o escritor Raul Brandão e o poeta António Nobre e ainda surgem na publicação textos inéditos da escritora e ensaísta Dalila Pereira da Costa no centenário do seu nascimento, do escritor e filósofo Agostinho da Silva e do filósofo e  professor José Enes.

 

Os colaboradores da revista representam diferentes espaços geográficos, jazendo jus à partilha cultural no espaço lusófono, mas também se celebram em todos os números inúmeras figuras da cultura portuguesa e lusófona, designadamente porque a língua portuguesa é o elemento vital desta identidade afetiva e cultural comum.

 

A revista Nova Águia nasceu em 2008, pelo que conta dez anos de uma vida dinâmica, tendo aparecido no seio da crise profunda que abalou a Europa e Portugal no fim da primeira década do século XXI, tendo uma identidade lusófona ligada à corrente da filosofia portuguesa e à figura tutelar de Agostinho da Silva, pelo que tem uma difusão de leitores no espaço geográfico da lusofonia.

 

Na Nova Águia colaboram habitualmente também dezenas de ensaístas em todos os números, entre os quais saliento como mestres Adriano Moreira, António Braz Teixeira, João Bigotte Chorão, Miguel Real, Pinharanda Gomes, Samuel Dimas e Renato Epifânio, que atualmente a dirige em conjunto com outros colaboradores. Esta revista tem uma periodicidade semestral, contando habitualmente com cerca de 30 a 40 artigos, com um conjunto de recensões críticas e com inúmeros poemas.

 

A sua fonte de inspiração é a revista A Águia, uma importante revista cultural do início do século XX (1910-1932), em Portugal, que congregou muitas figuras de destaque das Humanidades, das Artes e das Ciências com distintas mundividências que veicularam visões plurais.

 

Sobressaíram na História Cultural Portuguesa, no conjunto dos inúmeros colaboradores desta revista, intelectuais como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Hernâni Cidade, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, António Sérgio, etc. A revista nos seus 22 anos de vida comportou temas literários, artísticos, filosóficos e de crítica cívica, que tanto inspiram os fundadores e colaboradores da Nova Águia.

 

A revista e o Movimento Internacional Lusófono estão vinculados a múltiplos eventos cívicos e culturais, sendo promotores ou co-promotores de iniciativas como os Congressos da Cidadania Lusófona, a atribuição do Prémio Personalidade Lusófona atribuído pelo MIL nos últimos anos e a múltiplos Colóquios de diversas instituições culturais e académicas, que surgem divulgados nas respectivas páginas da internet.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

DA GUERRA DA COREIA (1950-1953) ÀS POLÍTICAS MILITARISTAS DE KIM JONG-UN (1953-2017)

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A Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, insere-se no contexto internacional da guerra fria, no momento em que a Correia do Norte de ideologia marxista invadiu a Coreia do Sul, a 25 de junho de 1950, mas os Estados Unidos, com a anuência das Nações Unidas, vieram em socorro da Coreia do Sul. Por sua vez, a China e a URSS posicionaram-se do lado da Coreia do Norte.

 

Desde 1945 que as tropas dos EUA ocuparam o sul da península coreana. E logo, em 1948, a Coreia, no contexto do conflito ideológico marxismo-capitalismo, separa-se em dois Estados rivais, um de influência norte-americano a sul e outro de influência soviética a norte. As fronteiras entre as duas Coreias eram encaradas como efémeras. Quando a Guerra da Coreia teve início, a ONU condenou a invasão do exército do Norte e considerou-a ilegal, pelo que enviou um contigente de capacetes azuis para restabelecerem a paz na região.

 

Apesar de no início a Coreia do Norte estar em vantagem militar, os aliados da Coreia do Sul impuseram, posteriormente, algumas derrotas às forças Norte-Coreanas. Os EUA e os seus aliados conseguiram empurrar as tropas Norte-Coreanas para trás das suas fronteiras iniciais, o que motivou a intervenção militar da China ao lado da Coreia do Norte, dando algum equilíbrio às forças no terreno.

 

Nos anos de 1951 e de 1952, manteve-se uma guerra de pequenos incidentes em terra mas com uma firme resistência na linha divisória do Paralelo 38. Por outro lado, a guerra aérea intensificou-se com os EUA a submeterem as cidades norte-coreanas a bombardeamentos constantes e a península a ser alvo de combates de caças a jato entre as forças beligerantes. Este foi um dos primeiros episódios da guerra fria, em que os pilotos estrangeiros do mundo comunista e do mundo capitalista vinham em auxílio dos seus aliados político-ideológicos. Nesta Guerra da Coreia destacaram-se várias batalhas aéreas na zona chamada Alameda dos Migs, onde muitos aviões foram abatidos e ceifadas inutilmente 4 milhões de vidas.

 

A Guerra terminou em 27 de julho de 1953, com a assinatura dum periclitante armísticio. Todavia, este acordo prévio não desencadeou nenhum tratado de paz, apenas se estabeleceu uma zona desmilitarizada de separação das duas Coreias, pelo que, por definição, ambas permanecem na atualidade em guerra, arrastando-se as hostilidades fronteiriças e das cúpulas políticas.

 

Em 2017, o mundo acordou assustado com a capacidade de hostilidade nuclear da Coreia do Norte, que criou uma poderosa bomba de hidrogénio, cuja experiência provocou abalos sísmicos nas zonas limítrofes. Kim Jong-un vem ameaçando que esta bomba nuclear pode ser colocada num míssil balístico intercontinental, podendo atingir grandes distâncias.

 

Com as recentes experiências, no verão deste ano, a Coreia do Norte tem assustado os seus vizinhos e a comunidade internacional. A tensão entre os EUA e a Coreia do Norte tem sido protagonizada pelos seus exuberantes e erráticos líderes, com atitudes provocatórias muito perigosas. Isto deu lugar à atribuição pela Academia Sueca do Prémio Nobel da Paz de 2017 à instituição ICAN.

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A tensão EUA-Coreia do Norte não é nova pois advém já do contexto da guerra fria, agudizando-se essa tensão desde a tomada de posse de Donald Trump. Algumas fricções têm percorrido a segunda metade do século XX, como aconteceu, em 1968, quando a Coreia do Norte capturou um navio norte-americano chamado USS Pueblo e, no ano seguinte, quando derrubou um avião de reconhecimento norte-americano. No fim de século, o líder Kim Jong-il, sucessor dinástico do regime setentrional coreano, prometeu desmantelar o seu programa nuclear, mas, na verdade, passado algum tempo o seu país experimenta um míssel balístico de longo alcance.

 

A tensão internacional exacerba-se mesmo depois da guerra fria, quando George W. Bush, na era do terrorismo global, declara como trilogia demoníaca - o Iraque, o Irão e a Coreia do Norte - que rotula de “Eixo do Mal”, por suspeitas de encobrirem atividades terroristas. Este fator potenciou a intensificação do programa nuclear norte-coreano, como estratégia preventiva de defesa do país em face de um eventual ataque hostil dos EUA.

 

Em 2008, os EUA, e ainda durante a administração Bush, reconhecem que a Coreia do Norte não apoia fenómenos terroristas, mas continua a exigir o controlo dos equipamentos nucleares do país. Apesar de este facto amenizar a tensão, continuou a haver acontecimentos nefastos neste ambiente de crispação, designadamente com a detenção na Coreia do Norte de vários norte-americanos.

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Com King-Jong-un e a liderança de Donald Trump, a tensão internacional com os EUA voltou a reemergir no plano mundial. Há, assim, um pré-conflito que tem uma dimensão histórica e ideológica inegável, uma vez que o líder norte-coreano pretende exacerbar o ódio ao inimigo externo para poder unir o seu povo em volta da necessidade de construir armas nucleares.

 

Ao mesmo tempo, Trump tem ameaçado a Coreia do Norte, acentuando-se, em agosto e em setembro de 2017, este clima de hostilidade, em que a comunidade internacional chegou mesmo a temer o início de uma guerra nuclear, de efeitos previsivelmente catastróficos para a região e o mundo.

 

Desde 2006 que o regime norte-coreano tem feito testes nucleares e a ONU tem deliberado sanções, ao nível do embargo de armas e de natureza económicas, sobre o país, o que tem prejudicado bastante a economia do país e agravado ainda mais a miséria da população.

 

A Coreia do Norte intimida a comunidade internacional pelo seu programa nuclear e pelos seus testes nucleares provocatórios aos países vizinhos (Coreia do Sul e Japão) e o seu isolamento internacional também vem criando temores no mundo dos nossos dias, uma vez que pouco se conhece sobre o país e o seu singular líder, que detém um poder ditatorial individual.

 

Será que o início de um eventual conflito nuclear, entre a Coreia do Norte e os EUA e os seus aliados, configurará uma 3ª guerra mundial?

 

Este conflito não parece configurar uma guerra mundial, embora possa ter um impacto ambiental mundial pela irradiação dos gases tóxicos na atmosfera, dado que os especialistas julgam que não há condições para a formação de duas alianças militares rivais, como aconteceu na 1ª e na 2ª guerras mundiais. Seria, deste modo, um conflito de âmbito regional, possivelmente circunscrito à Ásia, mas que teria, obviamente, um impacto catastrófico sobre o nosso planeta.

 

Em suma, sair desta situação de tensão internacional é crucial. Para isso a mediação da UE ou da China num diálogo diplomático entre as partes hostis pode ser um caminho efetivamente recomendável e a recente passagem de Donald Trump pela China indica que esta estratégia estará em curso. Contudo, o afastamento total desta ameaça de guerra só será possível fazendo sair a Coreia do Norte do impasse em que se meteu, isto é, apesar de ter conseguido um progresso militar e nuclear bastante significativo, a sua população vive num estado económico deplorável e de grande opressão dos seus Direitos Humanos.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

EGAS MONIZ (1874-1955), DA POLÍTICA AO PRESTIGIADO GALARDÃO DE PRÉMIO NOBEL DA MEDICINA EM 1949

 

 

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“(...) Psicologicamente notável é a deslocação da ‘paixão’ política para a pesquisa médico-científica – uma decisão consciente de descobrir novas rotas no mar ignoto dos meios de diagnóstico e de tratamento. (...)”.
Barahona Fernandes, Egas Moniz, pioneiro de descobrimentos médicos, Amadora, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1983, p. 133.

 

António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz foi uma personalidade polifacetada como académico, médico, escritor e político, tendo vivido no contexto do fim da monarquia constitucional a meados do regime salazarista. Com as suas descobertas neurológicas tornou-se o nome mais importante das ciências médicas portuguesas do século XX.

 

No final do século XIX, formou-se no Colégio Jesuíta de S. Fiel mas acabou por se afastar da prática da religião católica, sem se deixar contaminar pelo vírus anticlerical das hostes republicanas, que veio a enfileirar. Socialmente descendeu de uma família da nobreza provinciana da Beira Litoral. Apesar desses pergaminhos nobiliárquicos, foi educado no culto do trabalho, como era tradicional na época, o que se vincou na sua vivência com a emigração dos familiares mais próximos.

 

Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, em 1898, com média final de 16 valores. Entretanto, em 1901, prestou provas de doutoramento na mesma instituição com uma dissertação que versou as vivências sexuais, num contexto sócio-histórico de repressão dos impulsos libidinosos, onde foi aprovado com 17 valores, tornando-se lente nesta Universidade e, dez anos mais tarde, transferindo-se para a Universidade de Lisboa. Nesta altura, foi promovido a professor catedrático de Neurologia, após uma intensa formação com o seu Mestre Augusto Rocha e de um estágio em Paris. 

 

Na conjuntura finissecular, foi-se impregnando de espírito liberal no contacto com a juventude da época. Descontente com os rumos políticos do país, que colocaram Portugal à beira da bancarrota e do desespero patriótico, aproximou-se dos críticos do rotativismo parlamentar, dado que os partidos do statu quo colocavam os homens à frente das ideias políticas.

 

Neste sentido, iniciou a sua atividade política como deputado, em 1903, na Monarquia Constitucional, como seguidor da disssidência Progressista de José Alpoim. Nesta conjuntura, foi várias vezes deputado e assumiu-se contra o radicalismo da ditadura de João Franco, tendo-se transformado num indefectível do regime republicano, com o aprofundar da crise do regime monárquico. 

 

Com a instauração da República, tornou-se deputado na Assembleia Constituinte em 1911, destacando-se pelas suas qualidades oratórias. Foi, ainda, várias vezes deputado na 1ª República. Em 1916, foi preso no conturbado contexto político-social, salientando-se pelo seu antagonismo a Afonso Costa.  Ideologicamente, foi um liberal moderado, que sustentou o reatamento das relações diplomáticas com a Santa Sé, uma vez que tinha ficado bastante incomodado com o anticlericalismo primário de Afonso Costa.

 

Em 1917, tornou-se o principal dirigente do Partido Centrista, logo integrado no Partido Nacional Republicano como suporte da afirmação política de Sidónio Pais. Nesta época, foi líder parlamentar do grupo sidonista no Governo, embora se tenha afastado das prepotências cesaristas de Sidónio Pais, fazendo-nos lembrar da atitude do atual dirigente turco Recep Erdogan com as suas ambições presidencialistas. Mas, no âmbito do consulado sidonista, foi ainda Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e veio a desempenhar o cargo de Presidente da Delegação Portuguesa à Conferência de Paz de Paris em 1918-1919.

 

Desgostoso com o rumo político português, resolve apostar na investigação científica. Nesta sua caminhada, obteve um inegável sucesso com as suas pesquisas médicas pioneiras nos campos da neurologia e da psiquiatria com as técnicas da angiografia cerebral (arteriografia), em 1927, e a leucotomia pré-frontal, em 1935, que permitiram respetivamente diagnosticar tumores cerebrais e aplicar a neurocirurgia à cura de certas psicoses. Depois destes retumbantes êxitos técnico-científicos, foi distinguido com o Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina em 1949.

 

Escreveu vasta obra ligada à ciência médica e muitos ensaios ligados à arte, patenteando o seu pendor humanista tão típico nestas gerações de médicos.

 

As suas técnicas cirúrgicas inovadoras foram ensaiadas no Hospital Júlio de Matos e no Hospital de Santa Maria. A técnica da leucotomia foi alvo de grande polémica pública, mas facultou a compreensão aprofundada das bases cerebrais da vida psíquica normal e patológica.

 

Contudo, o seu prestígio começou em 1927 como inventor da técnica da arteriografia cerebral, já com 53 anos, que permitiu diagnosticar com precisão doenças e tumores cerebrais. Foi - segundo o reputado psiquiatra Barahona Fernandes -  um dos primeiros neuropsiquiatras a divulgar, em Portugal, a doutrina psicanalítica de Sigmund Freud e as suas virtudes terapêuticas. Egas Moniz, com as suas descobertas técnico-científicas, concedeu um notável impulso à neurocirurgia.

 

Este médico, professor, investigador morou em Lisboa num palacete estilo D. João V, na Avenida Luís Bivar, repleto de uma rica biblioteca e recheado de requintadas obras de arte. Foi uma personalidade multifacetada que tanto resolvia os problemas triviais do quotidiano como se extasiava com os aspetos sublimes da arte e da natureza, sabendo manter um espírito estóico ante as dificuldades vivenciais e uma energia singular no seu percurso de investigador científico.

 

Possuidor de uma vasta cultura humanista, tão distante das visões tecnocráticas preponderantes nos dias de hoje, debruçou-se nos seus ensaios sobre figuras históricas carismáticas como Camilo Castelo Branco, o Papa João XXI, José Malhoa ou Maurício de Almeida. De facto, escreveu muito, além dos temas médicos, tendo abordado escritores e artistas, alguns por especial interesse no tema da loucura humana, mas muitos outros por mera motivação estética, evidenciando a sua mentalidade de investigador em trabalhos como Júlio Dinis e a sua obra.

 

Aos 74 anos escreveu as suas memórias de investigador no incontornável livro (essencial para compreender as suas invenções técnico-científicas) intitulado Confidências de um investigador científico. Trabalhou até à derradeira hora, então com 81 anos, na clínica particular e no hospital, além de ter presidido durante vários anos à Academia das Ciências de Lisboa.

 

Em conclusão, Egas Moniz desconstruiu o complexo de inferoridade dos portugueses em termos científicos com as suas descobertas médicas. Afirmou-se como um médico humanista preocupado com o bem-estar psíquico dos seus semelhantes, que eram muitas vezes remetidos para manicómios. No tempo da Ditadura Salazarista, opôs-se a este regime autocrático pelo facto deste oprimir as liberdades individuais, embora sem grande ativismo político nestas décadas finais da sua vida.

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Barahona Fernandes, Egas Moniz, pioneiro de descobrimentos médicos, Amadora, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1983, 169 p..

Sérgio Campos Matos, “António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, s.l., Publicações Alfa, 1990, pp. 201-202.  

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O TRICENTENÁRIO (1717-2017) DO INÍCIO DA CONSTRUÇÃO DO PALÁCIO-CONVENTO DE MAFRA E A CANDIDATURA A PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE

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O palácio-convento de Mafra constitui um conjunto arquitetónico de estilo barroco, que reúne o palácio real, a basílica e o convento dos monges franciscanos arrábidos. Foi construído em função de um desejo do monarca D. João V, que prometeu erguer o edifício quando nascesse um herdeiro ao trono. A primeira pedra da construção foi lançada em 1717, embora a sua sagração só tenha ocorrido em 1730. Evocação máxima deste monumento é a obra-prima literária de José Saramago - Prémio Nobel da Literatura em 1998 - intitulada Memorial do Convento.

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Esta imponente obra joanina foi rapidamente erguida, e apesar das suas colossais dimensões, devido à vontade régia, à disponibilidade financeira permitida pela abundância do ouro brasileiro e pelo infindável número de trabalhadores envolvidos.

 

O magnificente conjunto arquitetónico é constituído pela basílica e pelo palácio, que forma uma imponente fachada encenando o poder absoluto régio e que está ladeada por dois torreões, e na parte traseira situa-se o complexo conventual. A basílica centraliza a frontaria do conjunto arquitetónico, assumindo, nas suas caraterísticas de simplicidade, claras reminiscências do estilo barroco romano.

 

O monumento tem uma evidente imponência que se vê do exterior e se sente no interior, para o que basta dizer que os corredores do edifício, na sua totalidade, têm vários quilómetros e conta com mais de 150 escadarias.

 

O arquiteto encarregue dos planos de construção foi João Frederico Luduvice, mas trabalharam aqui também outros artistas de grande quilate como o arquiteto Custódio Vieira, os pintores como Trevisani, Wolkmar Machado e Domingos Sequeira e, ainda, o afamado escultor Machado de Castro. No interior do monumento, em particular na igreja, utiliza-se muito o mármore rosa, imprimindo uma dignidade especial ao espaço sagrado.

 

A Biblioteca é considerada uma das mais belas do mundo e dispõe de um rico acervo bibliográfico do século XVIII. Também faz parte do conjunto monumental a Tapada Real/Nacional com cerca de 800 hectares, que integra uma notável floresta onde pululam mais de 500 animais, demonstrando uma rica biodiversidade. De especial relevo são, igualmente, os 2 carrilhões, os 119 sinos e os 6 orgãos históricos da basílica.

 

Embora o tricentenário do monumento (1717-2017) se perfaça no dia 17 de novembro deste ano, já está a decorrer um programa comemorativo desde o fim de 2016, mobilizando cidadãos portugueses, lusófonos e europeus. Os trabalhos de beneficiação do conjunto patrimonial, nesta fase comemorativa, encontram-se em fase de conclusão, designadamente os restauros dos carrilhões e a pintura mural da sala do trono, e estando a ser melhorada a acessibilidade física e o processo de comunicação para os turistas.

 

Estas comemorações estão a decorrer com múltiplos espetáculos que podem ser consultados na seguinte programação: comemoração do tricentenário do palácio-convento de Mafra.

 

Em janeiro deste ano, foi entregue o projeto de candidatura do monumento em conjunto com a Tapada de Mafra, para ser classificado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Se o monumento receber esta ansiada classificação, as entidades organizadoras da comemoração do tricentenário pretendem fazer coincidir o anúncio público com o dia 17 de novembro de 2017, data exata dos 300 anos do lançamento da primeira pedra. Assim, pretende-se com esta candidatura fomentar o fluxo turístico e dinamizar economicamente o concelho de Mafra.

 

Os três elementos mais distintivos do conjunto arquitetónico e do espaço florestal, que agora se candidata a Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, são os carrilhões e o conjunto sineiro, que nos oferecem sonoridades excecionais para peças musicais de grande pompa, a sala do capítulo de planta elíptica e a magnífica biblioteca, construída um pouco mais tarde.

 

Em suma, este monumento merece esta classificação internacional pela grandiosidade e pela monumentalidade do refinado conjunto histórico-artístico, que demorou vários anos a ser edificado, tendo-se tornado uma autêntica escola de arquitetos e de escultores barrocos da época.   

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

A RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA PORTUGUESA DE 1 DE DEZEMBRO DE 1640 E A RESTAURAÇÃO DO FERIADO NACIONAL

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As promessas de Filipe I de Portugal nas Cortes de Tomar e a riqueza do reino espanhol favoreceram a instauração da União Ibérica (1581-1640). Todavia, algo mudou no início do século XVII com a crise económica e social que afectou a Espanha e com a guerra em que se envolveu (Guerra dos Trinta Anos), que levaram à mobilização dos exércitos portugueses e ao lançamento de novos impostos em território nacional.

 

Este desrespeito pelas promessas das Cortes de Tomar levou ao descontentamento português, com vários levantamentos populares e várias revoltas em diversas regiões do país. Foi assim que, em 1637, se levantou uma revolta em Évora, dirigida por um senhor chamado Manuel (Revolta do Manuelinho, que dá nome a um largo nesta cidade alentejana), que se espalhou por outros pontos do país, mas que foi abafada pelo poder militar espanhol.

 

A restauração da independência portuguesa de 1 de dezembro de 1640 foi desencadeada para superar a crise política, decorrente da prepotente governação do conde-duque de Olivares, que tomou medidas à revelia das promessas autonómicas feitas nas Cortes de Tomar de 1581 por Filipe I de Portugal.

 

O golpe de Estado palaciano que lhe deu origem envolveu cerca de uma centena de aristocratas portugueses, que estavam afastados das benesses do domínio filipino. Este acontecimento foi acompanhado de assassínios políticos, designadamente de Miguel de Vasconcelos, dado este representar a administração espanhola de Filipe IV (Filipe III de Portugal). Esta insurreição palaciana teve uma adesão generalizada em Portugal continental nas semanas seguintes.

 

Se os motivos de descontentamento nacional se somavam contra as prepotências espanholas, a assumida liderança do movimento da parte do duque de Bragança, D. João, aquando dos apoios externos franceses e internos, da nobreza e do povo, garantiram a durabilidade do movimento da restauração da independência de Portugal face à Coroa Espanhola.

 

Com efeito, não obstante a restauração de facto ocorrer em 1640, só houve uma restauração de jure ou de nível constitucional nas Cortes de Lisboa de 1641, pois foi aí que se reconheceu a legitimidade dinástica da Casa de Bragança e a evidente usurpação do estatuto autonómico por parte de D. Filipe IV de Espanha (Filipe III de Portugal). Nos anos subsequentes, tanto a Igreja Católica como o imaginário popular corroboraram a validade do golpe de Estado restauracionista[1].

 

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Por outras palavras, a 1 de dezembro de 1640, em Lisboa, revoltosos populares e da nobreza tomaram o poder e restauraram a independência portuguesa. D. João, duque de Bragança, foi aclamado rei de Portugal, junto ao Largo de S. Domingos no palácio hoje designado Palácio da Independência. Todavia, foi necessário reforçar o exército, fabricar armas e fortalezas nas zonas fronteiriças para garantir a independência, através das guerras da restauração, que duraram de 1640 a 1668, pois só então, com o tratado de paz em Lisboa, os espanhóis reconheceram a independência portuguesa.

 

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No ano passado, em 2015, o governo português decidiu, com legitimidade histórica e bom senso patriótico, restaurar o feriado nacional, num momento em que a globalização desregulada está a passar por uma evidente crise, que o anterior governo português, sob a pressão germânica, tinha decidido “congelar” por algum tempo.

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[1] Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, “A Restauração (1640-1668)”, in História de Portugal, A Esfera dos Livros, 2010, pp. 295-302.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

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LISBOA NOS SEUS ARRANJOS URBANÍSTICOS, DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS ÀS OBRAS DA AUTARQUIA (1940-2017)

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Em 1940, em celebração da fundação da nacionalidade portuguesa (1140) e da restauração da independência portuguesa (1640), ergueu-se a Exposição do Mundo Português, no sítio de Belém, que renovou urbanisticamente uma área desfeiada com infraestruturas industriais, como já o denunciava Ramalho Ortigão, no final do século XIX no livro O culto da arte em Portugal.

 

Deste modo, com este evento ergueu-se a Praça do Império e as suas respetivas esculturas do artista António Duarte, que dignificaram o largo de acesso ao Mosteiro evocativo dos descobrimentos portugueses, bem como de docas recreativas que enobreceram o local.

 

Este evento nacional, de afirmação da ideologia nacionalista do Estado Novo, permitiu renovar a área envolvente ao Mosteiro de Santa Maria de Belém, vulgarmente designado, de forma errada, de Mosteiro dos Jerónimos. No “consulado cavaquista”, do primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva, ergueu-se o Centro Cultural de Belém, causador de acesa polémica na época pela sua proximidade ao monuento histórico quinhentista, que hoje constitui também um dos pólos inequívocos de atração turística desta zona.

 

Em 1998, assinalando o V Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia, realizou-se a Expo 98, que possibilitou renovar a área urbana hoje chamada de Parque das Nações, na zona oriental de Lisboa. Tal como em 1940, esta área encontrava-se, também, bem degradada com um feio parque industrial e a Exposição internacional foi o motivo para a renovação urbanística deste espaço da capital portuguesa, tendo tirado partido dos ensinamentos advindos da Expo de Sevilha de 1992, em que o recinto de exposições se tornou um espaço fantasma, abondonado ao vento e aos insectos.

 

Com estas duas exposições portuguesas, de 1940 e de 1998, Lisboa fez ressurgir duas zonas de enorme potencial turístico junto ao rio Tejo. Se a primeira exposição teve um carácter efémero pelas suas construções em materiais não duradoiros, apesar da construção definitiva do ex-libris da Exposição, em 1960, por altura do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, o Padrão dos Descobrimentos, o segundo certame teve um carácter perene com a projeção de um bairro de luxo que animou esta zona da capital portuguesa, marcada também pelas emblemáticas construções da Torre e da Ponte Vasco da Gama.

 

Os arranjos urbanísticos da cidade de Lisboa do atual Presidente da Câmara Municipal, Fernando Medina, previstos para decorrerem de maio de 2016 a fevereiro de 2017, que têm deixado muitos lisboetas com “os cabelos em pé” com o aumento dos congestionamentos rodoviários, poderão constituir outro salto qualitativo nos arranjos urbanísticos no centro da cidade, chamado, no projeto de arquitetura paisagística, de Eixo Central de Lisboa respeitante às avenidas Fontes Pereira de Melo e da República e às praças de Picoas e do Saldanha. Talvez a misericórdia opinativa, perante as obras deste Presidente da Autarquia, chegue por volta de 2034 ou de 2094, para os mais indignados “alfacinhas”.

 

De entre as finalidades desta renovação urbanística destacam-se a criação de condições para a atratividade turística; a garantia da sustentabilidade ambiental do centro de Lisboa, que se está a tornar pouco saudável; e o fomento da maior qualidade de vida aos seus habitantes com passeios mais largos, com ciclovias e com corredores verdejantes.

 

Neste exemplo, estas obras não estão ligadas a nenhum acontecimento evocativo da nossa memória coletiva, mas visam preparar o futuro da cidade.

 

Para alguns cidadãos, estas múltiplas obras de renovação dos espaços urbanos de Lisboa são fruto de uma finalidade eleitoralista mas, tal como os atletas e os futebolistas fazem um esforço suplementar no final das corridas ou dos seus jogos, os políticos fazem um esforço renovado no final dos seus mandatos, o que é absolutamente natural, mas logo as pessoas de outros quadrantes políticos propalam essa interpretação.

 

Nestes dias realiza-se também a “Web Summit” na cidade de Lisboa, tornando-a uma cidade apostada no empreendorismo tecnológico para o futuro.

 

Em conclusão, é importante que esta preocupação com a projeção do presente e do futuro não faça esquecer o nosso passado e, em particular, o nosso património, pois convém que a preocupação com a tecnologia seja colaborante com o respeito pela memória coletiva dos cidadãos portugueses, lusófonos, europeus e mundais, o que não foi o caso recente do turista que, no Museu Nacional de Arte Antiga, “afogado em tecnologia” querendo tirar uma fotografia, destruiu uma escultura sacra do século XVIII.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

O POLÉMICO PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA DE 2016 ATRIBUÍDO AO MÚSICO BOB DYLAN

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A literatura é, por definição, a produção estética mediante a linguagem transformada em obras escritas. Ora, a atribuição pela Academia Sueca do Prémio Nobel da Literatura ao músico Bob Dylan, sendo inovadora, corre o risco de desvirtuar o galardão e o nome desta instituição prestigiada, que tem consagrado escritores de todo o mundo. Como se sabe, Bob Dylan não é um produtor de obras literárias, havendo aqui um equívoco evidente, pois, por muito que as artes hoje em dia sejam complementares, este hibridismo cultural não honra a literatura universal.

 

Por detrás da polémica decisão da Academia Sueca do Nobel em relação à literatura, talvez esteja a questão de tentar dignificar a cultura de massas através da poesia inerente às músicas de Bob Dylan. No entanto, a democratização da literatura não se deve fazer mediante a inserção de letras nas músicas populares, pois trata-se, claramente, de um engodo. Se, ao invés, a Academia Sueca pretendia render homenagem à carreira musical de Bob Dylan, então devia ter criado um Prémio Nobel das Artes.

 

Dylan não é, nem nunca foi, um escritor de dimensão mundial, mas sim um músico carismático que escreveu muitas letras das suas músicas, que tomaram caminho no universo internacional. Este critério, revolucionário, da Academia Sueca do Nobel é um sintoma claro da crise de valores em que vivemos deste o início do século XX, neste caso dos valores literários que devem ser apreciados, sem excesso de preocupação em democratizá-los.

 

É indiscutível que Bob Dylan se tenha tornado um músico popular consagrado, já na altura do Live Aid (1985), mas, sobretudo, no início do século XXI com a obtenção de vários galardões artísticos, cívicos e da crítica musical (Medalha da Liberdade dado pelo Presidente dos EUA, Barack Obama; um Óscar, um Grammy e um Globo de Ouro). O inarrável é, mesmo, ter ganho o Prémio Nobel da Literatura de 2016 que configura um grande escândalo literário, embora tenha escrito poemas quando jovem e  para as suas músicas. 

 

O fundamento apresentado pela Academia Sueca para a atribuição do Nobel da Literatura é, claramente, insuficiente porque a sua obra não honra a literatura universal nem os grandes escritores da Humanidade como William Shakespeare, Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Miguel Cervantes, Vítor Hugo, Walter Scott, José Saramago, Mário Vargas Llosa, etc.

 

A justificação para a atribuição deste prémio é o valor das novas formas de expressão poéticas das músicas de Bob Dylan. Porém, este critério está à revelia da qualidade da obra literária, que neste músico é praticamente inexistente, com exceção de alguns poemas, mas que não configuram um corpo literário significativo.

 

Tantos escritores  sublimes ficaram por premiar, como autores portugueses, lusófonos e estrangeiros, e foram selecionar, erroneamente, um criador musical. Importa não confundir “alhos com bugalhos”, como o fez a Academia Sueca neste ano de 2016, a 13 de outubro quando a notícia foi tornada pública.

 

O ativismo cívico de Bob Dylan é obviamente meritório, mas todos os talentos acumulados deste criador cultural não fazem dele um bom escritor. Esta afirmação evidente deixa numa posição incómoda a Academia Sueca dos Prémios Nobel, que seguiu um critério excessivamente revolucionário. Os critérios literários na avaliação da sua obra cultural, colocam-no numa posição desprezível em termos puramente literários, a não ser que queiramos transformar a cultura de massas no valor literário número um.

 

Desta forma, a literatura de cordel do século XIX ou a literatura dos best sellers da atualidade poderão em breve tornar-se sérios candidatos ao Nobel... “Os deuses devem estar loucos...”, como dizia Astérix, e a crise de valores chegou, mesmo, aos critérios do júri do Prémio Nobel da Literatura.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

LINHAS DE FORÇA DA HISTÓRIA UNIVERSAL DO SÉCULO XXI (2001-2016)

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A História Universal do início do século XXI tem-nos trazido, em maior número, grandes acontecimentos negativos do que positivos. Esta afirmação, eventualmente polémica, faz-nos perguntar: onde mora a marcha progressiva da Civilização mundial ? Ora passemos, em revista, os principais acontecimentos que marcaram o início do século XXI.

 

Assim, conta-se em maior número os gigantescos acontecimentos deprimentes, do que os grandes acontecimentos esperançosos. Pretendemos traçar, com estas linhas, uma breve síntese de alguns dos traços históricos mais relevantes do século XXI.

 

O nosso século começou, de forma francamente negativa, com o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 às Torres Gémeas em Nova Iorque, que ceifou a vida de mais 3000 a 4000 pessoas. Desconcertado com a vulnerabilidade do seu país, o presidente norte-americano G. W. Bush resolveu atacar o Afeganistão, nesse ano, e envolver-se numa guerra difícil no Iraque, que só terminou na primavera de 2003 com a deposição do regime totalitário de Saddam Hussein. Um dos poucos sinais de esperança, no início deste século, foi a independência de Timor-Leste em 2002 sob os auspícios da comunidade internacional, que afastou este país das garras indonésias.

 

Os anos subsequentes da primeira década do século XXI foram tingidos de negro com o trágico tsunami asiático de 26 de dezembro de 2004, com a prisão do maior aldrabão financeiro da história da Humanidade, Bernie Madoff, que cometeu uma gigantesca fraude financeira que prejudicou uma multidão de seres humanos, com a crise financeira de 2008-2009, que começando na banca, abriu caminho a uma violenta crise económica mundial com nefastas repercussões na sociedade mundial, fazendo reviver, à Humanidade, os tons escuros da violenta crise económica de 1929.

 

O primeiro grande sinal de esperança, neste século, surgiu com a galvanização mundial resultante da eleição do presidente norte-americano, Barack Obama em 2008, primeiro presidente americano negro, que lançando o slogan “Yes, we can” entusiasmou grande parte da comunidade mundial.

 

Pouco depois, apareceu um grande pedregulho na marcha da Humanidade com a crise das dívidas soberanas europeias, o que foi descoberto em 2010 na Grécia, pondo em causa a sustentabilidade financeira da Zona Euro. Apesar deste desaire económico europeu, ventos de leste lançaram alguma esperança na economia mundo com a República Popular da China a afirmar-se, neste mesmo ano, como a segunda potência económica mundial.

 

Em 2011 Osama Bin Laden foi capturado e morto por forças norte-americanas, numa operação de sequestro, e a comunidade internacional julgou, prematuramente, que, face a isto, a Al-Qaeda e as organizações terroristas perderiam vigor. Nada mais enganador.

 

Entretanto, desde o fim do século XX que o fenómeno da globalização, nas suas virtudes e nos seus defeitos, se aprofunda, designadamente criando crescentes clivagens sociais entre as pessoas muito ricas e as pessoas muito pobres no mundo e deixando as classes médias cada vez mais afogadas em dificuldades fiscais. Não obstante, vingou positivamente a revolução digital desde o fim do século XX, que tornou o mundo, cada vez mais, uma verdadeira “aldeia global”, favorecendo o acesso à informação, mas não à sabedoria, de milhões de pessoas em todo o mundo.

 

Em 2010 emergiu um fenómeno virtuoso com a designada “Primavera Árabe”, que acabou por ser um bom prenúncio, mas que tarda em afirmar-se como uma realidade. Em 2013 surgiu um sopro de esperança com a eleição de Francisco como Papa, que com a sua simplicidade franciscana e a sua sabedoria de jesuíta, tem levado a Igreja Católica a modernizar-se de acordo com o espírito do Concílio Vaticano II e a entusiasmar a comunidade católica e muitas populações pacifistas dos nossos dias.

 

Em 2014, com as guerras civis da Síria, da Ucrânia, com a prepotente anexação da Península da Crimeia sob o impulso imperialista de V. Putin e com a criação do Estado Islâmico, na região transfronteiriça da Síria e do Iraque, o mundo parece deixar-se tolher pelas dinâmicas nefastas das forças inversas da bondade.

 

No ano de 2015, a Europa foi acordada por uma violenta crise humanitária de refugiados, que acorreram à Europa em busca de asilo ou de melhores condições de vida. No entanto, este ano, referido, terminou com alguns fumos brancos de esperança nas conclusões da cimeira mundial do ambiente, realizada em Paris, não sem que antes a cidade Luz tenha acordado em 13 de novembro com um lastimável ato terrorista.

 

O presente ano, de 2016, foi marcado pelo trágico sismo que abalou a Itália, mas presentemente a comunidade internacional está a ser bafejada pela expetativa de António Guterres, político, diplomata e humanista cristão português, de alma lusófona, poder vir a ser eleito Secretário-Geral das Nações Unidas e vir a tentar reformar os meios humanitários desta benemérita instituição supranacional, em busca de um mundo melhor, numa utopia indispensável nos dias que correm, sempre velozes, na senda das Comemorações dos 500 anos do lançamento da obra Utopia de Thomas  More.

 

Sabendo o condicionalismo desta leitura, de sociologia histórica dos nossos dias, fortemente influenciada pelos meios de comunicação social, para os quais é notícia “o homem que mordeu o cão”, fui levado pela minha intuição histórica a testemunhar a veemência das linhas de força negativas que estão a comandar as dinâmicas sociais mundiais dos primeiros anos do século XXI.

 

Não obstante, há bons sinais de esperança, mas para isso é preciso que homens e líderes se deixem guiar, q.b., por um pragmatismo temperado por alguns ideais utópicos. Em suma, como dizia o pensador francês Paul Ricouer, sem uma Humanidade que saiba cozinhar a ideologia, em voga, com ideais utópicos não se alcançarão os progressos desejáveis do nosso evoluir histórico coletivo como Humanidade.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

EVOCAÇÃO DE VERGÍLIO FERREIRA NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO (1916-2016)

 

No presente ano, de 2016, em que transcorrem 100 anos sobre o nascimento de Vergílio Ferreira (1916-2016) e 20 anos sobre a sua morte, importa evocá-lo em toda a magnitude da sua singularidade de escritor e de ensaísta. Na realidade, ele foi um eminente escritor e um exigente professor da disciplina liceal de Português, que culminou, por um lado, o seu destino literário com o galardão do Prémio Camões e, por outro, sua carreira docente no Liceu Camões.

 

Assim, nos seus derradeiros passos, a coroar o seu retumbante percurso literário, de 1979 a 1992, foi honrado com o título honorífico de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’iago da Espada, assistiu e participou na adaptação à sétima arte do seu romance emblemático Manhã Submersa e foi eleito membro da Academia das Ciências de Lisboa.

 

A sua obra literária ramifica-se em vários géneros que soube cultivar com uma inexcedível mestria, tais como a ficção em romances, o ensaio cultural e o diário, tendo sido marcada por duas correntes filosóficas, o neorrealismo e o existencialismo. Com efeito, a sua obra passou por dois períodos literários, um influenciado, nos anos 40 e 50, pelo neorrealismo e, outro, marcado pelo existencialismo, desde os anos 60, tendo o primeiro incutido nas suas primeiras obras um cunho próximo do marxismo, enquanto o segundo o conduziu a um afastamento do catolicismo.

 

Se os primeiros romances foram eivados do tom neorrealista, já os seus livros mais amadurecidos dos anos 50 e 60 foram apanhados na teia existencialista, que caraterizou em particular o contexto do pós 2ª guerra mundial. Torna-se interessante notar que a sua obra-prima foi, porventura, o romance Manhã Submersa, que se baseou na sua vivência de seminarista beirão, o qual trilhou um caminho diverso do seminarista de Santa Comba Dão.

 

Entretanto, forma-se em Filologia Clássica, em 1940, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo seguido a carreira docente, iniciando um périplo profissional por vários liceus do país, sem nunca abdicar da sua veia ficcionista.

 

Na sua obra literária o tema da felicidade é transversal aos diversos períodos artístico-filosóficos, dado que se constitue como o eixo nuclear da condição humana. Outro dos temas do seu pensamento literário é a imponderabilidade da vida humana, com os imprevisíveis desvios das caminhadas vivenciais. Nos seus livros perpassam ainda temas recorrentes como a morte da arte, a sensação da ausência de Deus, de um agnóstico perplexo, e a busca do sentido da existência num universo vazio, sem âncoras valorativas.

 

Depois dos seus primeiros romances, entre 1938 e 1953, atinge uma fase de amadurecimento literário, deixando-se contaminar pela corrente existencialista, então em muito em voga no contexto do pós-guerra, e nos seus romances, em particular na obra Manhã Submersa, patenteia a descrença em Deus e a crença em si próprio, mas concomitantemente evidencia-se amargurado com a crise de valores potenciada pela conjuntura histórica contemporânea[1] e, em especial, com a desintegração social da arte. 

 

Nos últimos anos da sua vida, entre 1980 e 1994, publicou um diário em vários volumes com o título Conta-Corrente, nos quais dissertou sobre a evolução das ideias em Portugal no século XX, ao mesmo tempo em que foi desvendando a sua intimidade. Deste modo, se terminou inesperadamente a sua vida literária com o género diarístico, convém não olvidar que começou a escrever livros de ficção com 22 anos, iniciando a sua criatividade literária com uma obra de um título paradoxal A curva de uma vida, em 1938, embora só publicado postumamente.

 

O grande drama humano, que o seu pensamento assume, é o paradoxo entre a eternidade da alma e a corruptibilidade do corpo, sendo esta intransponível dicotomia geradora de um sentimento angustiante na senda da corrente existencialista.

 

Do vasto conjunto da sua obra literária destacam-se os seguintes livros, pelo impacto social que tiveram: O Caminho fica longe (1943), Manhã Submersa (1954), Aparição (1959), Da Fenomenologia a Sartre (1962), Introdução a “O Existencialismo é um Humanismo”, de Jean-Paul Sartre (1962), Espaço do Invisível (4 volumes, 1965-1987), Nítido Nulo (1971), Conta-Corrente (5 volumes, 1980-1988). Revelaram-se atentos estudiosos da sua obra autores como Eduardo Lourenço, António Quadros, Eduardo Prado Coelho, Jacinto do Prado Coelho, João Décio ou Alexandre Pinheiro Torres, entre outros investigadores.  

 

Na verdade, Vergílio Ferreira merece ser evocado na vida e obra neste ano do Centenário do seu nascimento, pois foi um escritor marcante de Língua Portuguesa da 2ª metade do século XX. 

___________

[1] Nuno Sotto Mayor Ferrão, “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, janeiro de 2012, pp. 47-51.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TURISMO - O CASO PORTUGUÊS

 

Portugal é um país com imensas potencialidades turísticas, pela variadade das suas regiões continentais e insulares, pelo clima temperado, pelas suas populações hospitaleiras, pela grande riqueza gastronómica, pelo largo conjunto monumental, histórico e natural, classificado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO e pelas praias infindáveis do seu litoral meridional e ocidental.

 

Podemos invocar alguns locais feéricos para cheirar o ambiente poético que paira no ar. Não é, pois, casual a designação de “Portugal como país de poetas”, tais são os inúmeros locais inspiradores das musas poéticas como Sintra, a paisagem duriense, as cidades de Lisboa e do Funchal, as pitorescas localidades de Monsaraz, de Serpa, de Linhares da Beira, de Piodão, de Freixo de Espada-à-Cinta, as sublimes cidades de Tavira, de Aveiro, do Porto, as encantatórias vilas de Ponte de Lima, da Ericeira, da Nazaré, de Óbidos, a paisagem magistral da Lagoa das Sete Cidades e as doces planícies douradas do Alentejo e tantas outras.

 

Aliás, num desejável conceito estratégico nacional, deve incorporar-se como uma das prioridades da pátria portuguesa a exploração sustentável desta riqueza natural ímpar, moldada pela sensibilidade estética do português, que o Criador nos legou.

 

Se as condições naturais nos favoreceram com um habitat para uma vida saudável, como a presença de importantes vestígios arqueológicos milenares pré-históricos, do norte ao sul do país, bem testemunham, apesar de não termos sido bafejados com recursos minerais valiosos, devemos agradecer à Divina Providência esta casa comum onde conseguimos medrar como povo latino de consabida inteligência emocional.

 

Se nem sempre os investimentos em infraestruturas turísticas realizadas valorizaram a paisagem, como foi o caso evidente do descontrolado crescimento urbanístico no litoral algarvio no último quartel do século XX, que desfeiou a prodigiosa paisagem natural da frente meridional, tem havido mais recentemente políticas tardias, mas sensatas, de reordenamento do território.  

 

Portugal é um país privilegiado no turismo marítimo, uma vez que através de Lisboa, cidade maravilhosa e solarenga das sete colinas, passam hoje em dia muitos navios de cruzeiro que vislumbram a sublime zona ribeirinha, alfacinha, com os seus prédios bem coloridos, a fazer lembrar as prodigiosas pinturas de Carlos Botelho e de Maluda, o magistral livro A Cidade de Ulisses de Teolinda Gersão e a homenagem do arquiteto Tomás Taveira, nos anos 80 do século XX, num conjunto arquitectónico de muito discutível gosto.

 

Neste país, periférico da Europa, mas à beira mar plantado, há uma diversificada oferta de tipos de turismo, e a título de exemplos: de saúde nas termas de Monfortinho; religioso no Santuário de Nossa Senhora de Fátima; recreativo nas praias algarvias e na sua intensa vida nocturna ou na movida lisboeta; desportivo no evento Euro 2004; cultural na multiplicidade de monumentos históricos, que a mais velha nação da Europa, na sua configuração fronteiriça, tem sabido deixar ao mundo e de negócios com a realização de múltiplos convénios profissionais e científicos internacionais, etc.

 

Na evolução histórica do turismo constam, como precedentes dos séculos I a. C. ao XV d. C., as viagens de gregos e de romanos no Mar Mediterrâneo, as míticas peregrinações medievais onde se adoravam as relíquias de muitos santos e, por fim, no crepúsculo da Idade Média, as viagens de comércio de flamengos, de genevezes, de venezianos e de florentinos.

 

Num segundo período, que compreende os séculos XVI a XVIII, houve um aumento de viagens particulares da aristocracia e da burguesia, designadamente com o Grand Tour efectuado na Europa por diplomatas e por estudantes abastados. Na sequente conjuntura histórica, em oitocentos, desenvolveram-se ainda os centros termais que se constituíram como locais singulares de convívio dos grupos de elite. As grandes guerras mundiais fizeram retrair os fluxos turísticos no mundo e, em particular, na Europa.

 

De facto, Portugal é um país com muitas potencialidades turísticas pelas suas condições naturais, pelos investimentos realizados em infraestruturas e pela capacidade criativa que está no ADN deste distinto povo latino. No entanto, só na segunda metade do século XX e com a democratização do turismo se começaram a construir estruturas hoteleiras de grandes dimensões de acolhimento de turistas nacionais e estrangeiros.

 

Com efeito, foi a partir dos anos de 1950 e de 1960, com a obtenção do direito de férias pagas e com o desenvolvimento dos transportes aéreos e terrestres, que aparecem unidades hoteleiras de dimensão considerável fora da capital, passando a proliferar as agências de viagem e as tipologias de viagens organizadas.

 

Em suma, Portugal, pelas suas caraterísticas climáticas, pela riqueza do património edificado e classificado pela UNESCO e pela diversidade das paisagens, como já o enunciava Fernando Pessoa a propósito da revista Orpheu, pela singularidade qualitativa da sua gastronomia, pelo primor dos seus vinhos e pela multiplicidade das suas tradições locais, constitue-se como país excecional para o desenvolvimento turístico. Esta deve ser, aliás, uma das prioridades estratégicas a ser tida em conta num futuro conceito estratégico nacional, que tanta falta faz ao nosso país, como o reconhece lucidamente o Professor Adriano Moreira.

 

Last but not least, não podemos olvidar-nos de uma sensibilidade humanista universalista, na aceção de Jaime Cortesão, que nos carateriza nas qualidades de acolhimento turístico bem como nas qualidades de um povo que, historicamente, soube dar novos mundos ao mundo num espírito de fraternidade, de convívio e de encontro pacífico e tolerante com outros povos desde a era dos Descobrimentos marítimos.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

O VANGUARDISMO ARTÍSTICO DE JOSEPH M. W. TURNER (1775-1851) E A EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA “O TRAÇO E A COR” PATENTE NO MUSEU CALOUST GULBENKIAN

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/76/Turner_selfportrait.jpg

Joseph M. W. Turner foi um pintor inglês do Romantismo, nascido no fim século XVIII e amadurecido no século XIX, que se destacou como precursor de correntes estéticas da pintura do fim do século XIX e do XX (Impressionismo e Abstraccionismo). Em Portugal, o Museu Caloust Gulbenkian, em Lisboa, possui obras suas devido ao interesse do coleccionador arménio, aliás, na Exposição temporária “O traço e a cor”, podemos apreciar algumas obras suas menos conhecidas.

 

No fim do século XVIII, Turner ingressa na Real Acadamia das Artes de Londres e começa a revelar a sua propensão para a pintura paisagística e a deixar-se inspirar pelas pinturas exteriores de Lorrain e de Poussin, vistas no Museu do Louvre. Iniciou-se na pintura, ainda adolescente, e dedicou-se à representação de paisagens com uma intensidade emocional que transparecem em muitas das suas obras de cores fortes e de luzes sugestivas à contemplação, ao mesmo tempo em que vai revelando uma personalidade marcada por uma forte misantropia.

 

O seu tema pictórico preferencial era a paisagem e as incidências lumínicas nas cores, que produziram quadros de uma inegável beleza estética. Neste sentido, estudou os paisagistas holandeses do século XVIII, mas a sua inata criatividade permitiu-lhe antecipar algumas tendências estéticas que só se evidenciaram umas décadas mais tarde. Também frequente é o tema das ruínas tão do agrado dos autores Românticos, tal como no-lo demonstra a exposição temporária de desenhos e aguarelas agora patente no Museu Calouste Gulbenkian.

 

A representação da cidade de Veneza, que visitou em várias viagens, inspirou uma panóplia de pinturas, que apresentamos num vídeo acompanhado da simbólica música de António Vivaldi. Igualmente, as cenas marítimas estão bem presentes na sua pintura, pois a Inglaterra era um potentado marítimo pelo imenso império colonial que possuía.

 

Os seus estudos pictóricos de momentos atmosféricos de inolvidável beleza tornaram-no um pintor famoso que esbateu o contorno de figuras e de objectos, antecipando as tendências dos pintores impressionistas do fim do século XIX. Apesar de ter vindo a falecer na solidão, a Inglaterra votou-lhe um justo reconhecimento ao colocar as suas obras nos principais Museus Britânicos de Londres e ao dignificá-lo, postumamente, com uma sepultura na Catedral de São Paulo.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

BIBLIOGRAFIA ATUALIZADA DE NUNO SOTTO MAYOR FERRÃO – CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS DO AUTOR

 


Bibliografia de Nuno Sotto Mayor Ferrão

*Nuno Sotto Mayor Ferrão, O pensamento colonial de Sarmento Rodrigues enquanto Ministro do Ultramar (1950-1955), Dissertação de Mestrado em História Contemporânea, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1997, 233 p.

 

*Idem, Aspectos da vida e obra do Almirante Sarmento Rodrigues (1899-1979)", Mirandela, Edição Câmara Municipal de Freixo de Espada-à-Cinta, 1999, 293 p.

 

*Idem, "Leonardo Coimbra, a revista 'A Águia' e o panorama cultural contemporâneo", in Nova Águia - Revista de Cultura para o Século XXI, nº 5 - 1º semestre de 2010, Sintra, Editora Zéfiro, pp. 34-36.

 

*Idem, "Alexandre Herculano, aspectos da vida e obra e sua ascendência ideológica sobre o Republicanismo", in Sintra, Zéfiro Editora, Nova Águia - Revista de Cultura para o Século XXI , nº 6 - 2º semestre de 2010, pp. 130-135.

 

*Idem, "Fernando Pessoa: o sentimento lusófono na sua obra", inNova Águia - Revista de Cultura para o Século XXI, nº7, 1º semestre de 2011, Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 34-38.

 

*Idem, “A dinâmica histórica do conceito de Lusofonia (1653-2011)” in Nova Águia - Revista de Cultura para o Século XXI, nº 8, 2º semestre de 2011Sintra, Zéfiro Editora, 2011, pp. 204-208.

 

*Idem, “Relativismo Ético na História Contemporânea (1914-2010)”, in Brotéria, nº1, volume 174, Janeiro de 2012, pp. 47-51.

 

*Idem, “A Renascença Portuguesa e o percurso político e historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 9, 1º semestre de 2012, Sintra, Zéfiro Editora, 2012, pp. 138-144.

 

*Idem, “A poesia portuguesa: o mar e a lusofonia”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 23-24.

 

*Idem, “As linhas de força do pensamento historiográfico de Jaime Cortesão”, in Nova Águia, nº 11, 1º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 130-135.

 

*Idem, “António José Saraiva como cidadão e historiador: nos 20 anos da sua morte”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 153-159 (no prelo).

 

*Idem, “Nos 80 anos do historiador José Mattoso: a sua viva lição de sabedoria”, in Nova Águia, nº 12, 2º semestre de 2013, Sintra, Zéfiro Editora, 2013, pp. 162-163 (no prelo).

 

Citações bibliográficas do autor

 

» Clio: revista do Centro de História da Universidade de Lisboa, “Resumo das Teses de Mestrado em Letras (História)”, Lisboa, 1996, p. 168

 

» Joaquim Veríssimo Serrão, “Do berço humilde em Freixo à imortalidade da História”, Almirante Sarmento Rodrigues, 1899-1979: testemunhos e inéditos no centenário do seu nascimento, Academia de Marinha e Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Lisboa, 1999, p. 163.

 

» Cadernos de Estudos Africanos – Memórias Coloniais, Lisboa, Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2006, p. 150.

 

» Cultura: Revista de História e da Teoria das Ideias, Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, vol. 25, 2008, p. 44.

 

» Ana Reis e João Garrinhas, “2 anos sob tutela autárquica”, in Profforma (Revista do Centro de Formação de Professores do Nordeste Alentejano), nº 2, março de 2011, pp. 1-7.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

MO YAN, A DIVINA COMÉDIA EDITORES E A CHINA ATUAL

 

A Divina Comédia Editores é uma nova Editora em Portugal que iniciou a sua atividade, em novembro de 2012, com a publicação do livro de Mo Yan, escritor chinês que foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, intitulado Mudanças. Esta promissora Editora, liderada por Alexandre de Vasconcelos e Sá e pela sua sólida equipa de trabalho, pretende editar obras de ficção e de não ficção de qualidade, dando espaço à pluralidade de opiniões.

 

A sede desta Editora, adjacente à Avenida da Liberdade em Lisboa, associada ao grupo Editorial Babel de Paulo Teixeira Pinto, estará pronta em abril deste ano e começará em breve a sua atividade editorial de uma forma continuada. A imagem de marca desta Editora é uma cadeira esboçada por Alexandre Vasconcelos e Sá e um dos seus braços direitos sugeriu o nome Divina Comédia em homenagem à obra-prima, da Literatura Universal, de Dante Alighieri.  

 

O livro Mudanças de Mo Yan, pseudónimo de Guan Moye, retrata num género de romance autobiográfico as mudanças da China ao longo da segunda metade do século XX até ao início do século XXI, numa narrativa comparativa e não cronológica, embora situando os acontecimentos do protagonista no tempo. A sua prosa está recheada de uma fina ironia que tornam bastante cativante a leitura do livro.


A atual situação da China, em crescente ascensão geoestratégica mundial, redobra o interesse deste livro, porque o “Socialismo de mercado” que Deng Xiaoping burilou e se concretizou no contexto da Globalização desregulada permitiu a irrupção fulgurante da economia chinesa em tempos de estagnação da economia mundial, neste início do século XXI.

 

Transparece da vida de Mo Yan que pretendeu criticar, de forma subliminar, o próprio sistema Chinês, uma vez que na sua escrita descreve a realidade do seu país insinuando ironicamente os paradoxos da sociedade chinesa em que à eficácia e ao pragmatismo do sistema político-económico subjaz uma desumanidade profunda para com as pessoas.

 

Não nos podemos esquecer que o preço da prosperidade económica e da modernização da China foi o cerceamento da liberdade política, pois aquando de uma celebérrima manifestação juvenil, na esteira dos ventos da "Perestroika", no outono de 1989, na Praça de Tian’anmen em Pequim, houve um brutal massacre dos cidadãos chineses que criticavam e exigiam mudanças no regime.


Em síntese, este regime reformado por Deng Xiaoping deu lugar a uma conciliação da ditadura comunista com a crescente aceitação da economia de mercado, o que proporcionou a prosperidade da economia chinesa atual em detrimento do respeito pelos Direitos Humanos e pela Liberdade Política e Cívica dos cidadãos chineses, como a Amnistia Internacional bem tem denunciado.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

 

A. OLIVEIRA SALAZAR EM DISCURSO SÍNTESE SOBRE OS PILARES IDEOLÓGICOS DO ESTADO NOVO (28 DE MAIO DE 1936) – DOCUMENTO HISTÓRICO

Em Braga, a 28 de Maio de 1936, António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros, fez um discurso de explícito enaltecimento ao Golpe de Estado de 28 de Maio de 1926, liderado pelo General Manuel Gomes da Costa, que pôs fim ao regime democrático da Primeira República. Este discurso de propaganda política é uma síntese perfeita dos principais vectores ideológicos do regime do Estado Novo que Salazar arquitectou e liderou. Na sua voz castiça, de tom monocórdico, pressente-se a sua formação de seminarista que do “púlpito”, ‘Magister dixit’, criticava o caos político-social que, a seu ver, prevaleceu no anterior regime (1910-1926).

 

Salazar rodeado de militares e de políticos, ao lado do Arcebispado de Braga, profere esta súmula política perante uma parada de marinheiros e do povo que cenicamente o aclama. Os eixos ideológicos do seu pensamento aparecem enunciados de forma simples: o valor de Deus e das virtudes que lhe são inerentes; o sentimento nacionalista orgulhoso dos seus heróis; o papel da Autoridade no harmonioso e hierarquizado relacionamento da sociedade civil; a importância da família tradicional e da moral incutida aos seus membros; a relevância do trabalho e do dever como contributos para uma sociedade mais desenvolvida.

 

Na sua perspectiva Tomista[1], a concretização destes valores ideológicos foram possíveis devido aos interesses nacionais defendidos pelo Golpe de Estado[2], acima assinalado, de que se comemorava o décimo aniversário. Assim, este facto genésico, na sua mesclada linguagem de ex-seminarista e ex-lente coimbrão, permitiu quase, como diria o Dr. Pangloss do “Cândido” de Voltaire, estabelecer na pátria portuguesa “o melhor dos mundos possíveis” que conduziu à retórica nacionalista de que o “país era um jardim à beira-mar plantado”[3].

 

É nesta medida que se permitiu falar da ordem e da paz social conquistadas pela pátria, não obstante as revoltas juguladas que, entretanto, se manifestaram nos anos 30.

 

Foi nesse sentido que pôde frisar que se vivia sob um Estado Forte, com um chefe determinado, que permitiu com leis e instituições repressivas salvaguardar o funcionamento de uma administração honesta, a recuperação da economia dos abalos da Grande Guerra (1914-1918) e do colapso capitalista universal de 24 de Outubro de 1929, a constituição de uma organização corporativa que pôs fim às infindáveis lutas sindicais e a restituição da dignidade de um império colonial que se tornou fonte de auto-estima nacional[4] através de uma organização centralista da Administração das colónias e de uma propaganda interna e externa que muito ficou a dever a Henrique da Malta Galvão.   

 

Este discurso de Salazar é, pois, a síntese perfeita do seu discurso dos anos 30 durante a edificação jurídica, ideológica e institucional do Estado Novo e, para mais, no momento em que a conjuntura internacional ainda não colocava grandes resistências[5] às suas opções políticas internas e externas.



[1] Doutrina filosófica de São Tomás de Aquino que influenciou fortemente o pensamento de A. Oliveira Salazar, como nos ensinou o Professor João Medina ( João Medina, "Deus, pátria e família: ideologia e mentalidade do Salazarismo", in História de Portugal, dir. João Medina, vol. XII, Lisboa, Edições Ediclube, 1993, pp. 29-33).

[2] António de Oliveira Salazar denomina Revolução Nacional esse acontecimento histórico pelo simbolismo que lhe queria atribuir.

[3] “Jardim da Europa à beira-mar plantado” é um verso de um poema de Tomás Ribeiro (1831-1901), intitulado “A Portugal” publicado em 1862 no seu livro D. Jaime

[4] Foi célebre o lema inserido em cartaz propagandístico imperial que afirmava: “Portugal não é um país pequeno”.

[5] A política do “orgulhosamente sós”, de A. Oliveira Salazar, aparecerá apenas a seguir à 2ª Guerra Mundial em função do desmoronamento das estruturas coloniais das fragilizadas potências Europeias.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

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