PÁSCOA – BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2010
O Homem sempre viveu desde tempos “ponderados” (Civilização Helénica) a noção da sua própria dualidade existencial (corpo versus espírito). No entanto, houve épocas mais recentes da História humana que quiserem olvidar a consciência metafísica ao ponto de surgir o Existencialismo, no século XX durante o rescaldo da Segunda Guerra Mundial, como corrente filosófica contrária ao Essencialismo Ontológico.
O Papa, neste seu texto, situa-nos as raízes das injustiças humanas no coração perverso de muitos homens permeados do niilismo ético, herdeiro de F. Nietzsche, carente dos sãos influxos da transcendência. Daí, a prevalência nas sociedades, contemporâneas e pós-modernas, de fenómenos emergentes como o egoísmo e o individualismo como forças anti-éticas e pouco construtivas de conjuntos populacionais mais justos.
Radica nesta evidência de mal-estar colectivo o apelo que os cristãos sentem de se tornarem participantes de iniciativas em prol de um mundo melhor. É nesta dialéctica, da bondade, que nos introduz Karl Popper ao desconstruir a benignidade dos sistemas ideológicos fechados. Com efeito, a justiça cristã exige o nosso despojamento hiperbolizado do sentimento individual feito, tantas vezes, de afirmações agressivas. Assim, o cristão é convocado a praticar o Bem e a lutar por sociedades mais justas! O patamar da justiça divina que deve estar entranhado na boa conduta do cristão faz-nos seus agentes ao vivenciarmos o amor, a generosidade, os dons e a esperança que Deus nos concedeu como virtudes teologais. Em suma, como dizia o apóstolo São Paulo: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.
Antes que se gerem equívocos, Sua Santidade recorda-nos a existência de duas justiças, a divina e a humana. A conciliação destas duas dimensões pode-se fazer pela justiça trina (justiça cristã = justiça divina x justiça humana). A justiça divina assume-se, assim, como o coeficiente acrescido à justiça social, que tem mobilizado muitas forças políticas dos nossos dias. Em síntese, a justiça cristã advém da infinita misericórdia e das graças que Deus nos concede.
Neste contexto da ética cristã, a vivência plena da Quaresma implica a manifestação, cabal, dos sentimentos cristãos mais nobres (da caridade, da fé, da bondade, da compaixão, da generosidade, etc.) para praticarmos uma justiça ancorada num Cristianismo autêntico.
Nuno Sotto Mayor Ferrão