Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
A Europa encontra-se num momento de uma clara depressão colectiva resultante da Crise da Zona Euro. No entanto, os resultados das eleições em França e na Grécia neste mês de maio reabriram o debate político na Europa. O dia da Europa, que tanto foi celebrado, em anos anteriores, foi um pouco esquecido – o 9 de maio.
Na realidade, as manifestações que têm decorrido pela Europa de descontentamento com as políticas excessivas de austeridade, a par dos resultados socioeconómicos desastrosos com o crescimento das taxas de desemprego e o aprofundamento da recessão económica desencadearam a vontade de mudança política das populações de França e da Grécia, embora neste país estas eleições possam apresentar sinais preocupantes. A receita draconiana da austeridade, sem promoção do crescimento económico, tem deixado a Europa de rastos.
Convém lembrar, neste conjuntura de abertura do debate político Europeu, a frase sensata de Sékou Touré, líder nacionalista africano, que disse certo dia: “preferimos a liberdade em pobreza, à riqueza em escravidão”. Eis aqui o busílis da questão. E como escreveu com muita lucidez Paul Ricouer é necessário um equilíbrio entre a ideologia e a utopia e, neste momento, a primazia do neoliberalismo está a retirar espaço de manobra para o sonho utópico que é um constituinte fundamental da natureza humana.
Importa mais do que nunca abrir janelas de oportunidade nesta conjuntura de crise colectiva do Velho Continente. Vamos, então, puxar pelos cordelinhos da Esperança que nos deve fazer transcender o dia-a-dia da mediocridade dos falsos Deuses dos dias que passam. A posição coerente de Mário Soares, na entrevista ao jornal i, estremeceu a pobreza do debate político português que se tem confinado à aceitação do neoliberalismo do descaracterizado PSD. Deste modo, Mário Soares chamou a atenção para a necessidade de salvar a ideologia socialista democrática, a social-democracia e o pensamento democrata-cristão ao invés de se insistir inutilmente num neoliberalismo que não conduz a Europa para os caminhos da Justiça e da Paz.
Não nos podemos olvidar das dívidas de gratidão da Alemanha para com a Europa e os EUA, pois se não fosse a 2ª Guerra Mundial os alemães não teriam podido desonerar o peso de uma máquina de guerra como nos lembra o Professor Adriano Moreira e, por outro lado, o êxito da reunificação alemã não teria sido tão fácil sem o apoio da Comunidade Europeia. Por conseguinte, o grande drama atual da crise da Zona Euro reside no facto das decisões unilaterais da Chanceler, Ângela Merkel, não terem resolvido os problemas angustiantes das populações Europeias, como acabou mesmo por agravá-los nos últimos tempos. Passámos do unilateralismo do Presidente Bush a uma vontade unilateralista do Diretório Franco-Alemão.
Com a eleição de F. Hollande abre-se uma janela de oportunidade para superar este maléfico unilateralismo. Tal como nos diz, de forma lúcida, José Correia Pinto no blogue “Politeia” é fulcral saber como pagar a dívida, mas ao mesmo tempo importa assegurar que os mecanismos perversos do mercado não a fazem crescer de forma injusta.
Em suma, só com a resolução do impasse desta encruzilhada Civilizacional da Europa será possível devolver a Esperança aos cidadãos e combater sem tréguas a Resignação e a apatia política que perpassam as sociedades contemporâneas do Velho Continente. É necessário que haja líderes Europeus capazes de mobilizar os cidadãos para que esta Depressão Colectiva não se transforme em autêntica resignação cívica.
O Jogging é um desporto barato, que se pode realizar praticamente em qualquer lugar, que se assume como libertador do espírito e das tensões musculares acumuladas no corpo humano, pois permite a diminuição da ansiedade e do stress diário que caracteriza as sociedades mais desenvolvidas do início do século XXI. Parece-me uma modalidade desportiva adequada, como resposta barata, à crise económica que se faz sentir em Portugal, na Europa e no mundo. Este desporto respeita o ritmo e a cadência interna de cada cidadão e a existir competição pode ser praticada no sentido da auto superação de distâncias e de tempos contabilizados, de forma que os indivíduos podem competir serenamente consigo mesmos, sem estarem preocupados com os ritmos alheios. Aliás, é este o objectivo mais nobre de uma educação digna, em particular neste caso de uma educação desportiva saudável.
Assim, a prática desta modalidade desportiva se exercida com sensatez e sentido de equilíbrio garante o cumprimento do belo ideal Helénico: “corpo são, em mente sã”, porque um dos dramas da saúde pública atual é a obesidade dos jovens e dos adultos resultante dos processos de sedentarização das cidades contemporâneas. O ritmo alucinante e a anomia ética das sociedades atuais em processo de Globalização desregulada, devido à ditadura da tecnocracia financeira, têm feito perder qualidade de vida aos cidadãos que precisam de serenidade para travarem os processos de alienação colectiva em função de uma ideologia única que se quer impor.
José Sócrates é um exemplo de uma personalidades pública que praticava jogging e que procurava incutir uma mentalidade otimista aos portugueses. Hoje em dia, as notícias nefastas limitam-se a “dar murros no estômago” de Pedro Passos Coelho, de que é exemplo a notícia, saída ontem, de que a agência Standard and Poor’s baixou o rating da dívida pública portuguesa para o nível de “lixo”. Os políticos estão, hoje em dia, manietados ao poder da ditadura dos mercados devido a uma Globalização desregulada, em que primam os mecanismos especulativos em detrimento do Bem Público. E é necessário, recordando o grande filósofo francês Paul Ricoeur, fazer a Humanidade recuperar uma dialéctica equilibrada entre a ideologia e a utopia, mas com a conjuntura presente da crise financeira de 2008 a alastrar à Europa e a estrutura de um “Capitalismo de Casino” a minar as formas de desenvolvimento sustentável dos cidadãos que vão perdendo progressivamente níveis de qualidade de vida esta finalidade está mais distante. O prato da balança do pretenso progresso pende, na atualidade, para a ideologia neoliberal que muitos querem impor como uma inevitabilidade e falta, com efeito, um pouco de utopia.
Se nos anos 60 o prato da balança pendia para as tendências utópicas com as revoluções juvenis, hoje passa-se o contrário. Temos de ser realistas, mas convém manter os níveis de esperança numa Humanidade talentosa capaz de superar esta violenta crise que está a abalar as economias do Ocidente e do mundo. Ora, este realismo otimista só é possível com menos ideologia neoliberal e mais sentido crítico, através de ideais utópicos, que nos façam superar a desmoralização que está corroer o próprio “Homem Ocidental”. A bitola do sucesso não pode passar por associar um Capitalismo tóxico com uma democracia minguada que reduza o poder de participação dos cidadãos, como muito bem explicitou Boaventura Sousa Santos num dos seus mais recentes ensaios.
O jogging é, a meu ver, um desporto que faz fluir a imaginação criativa que é tão necessária à motivação humana para a resolução dos ingentes desafios com que a Humanidade está confrontada. A filmografia americana trata bem o tema do jogging como uma atividade crucial para as pessoas para reflectirem sobre as suas rotinas e ganharem força para enfrentarem os dilemas que têm pela frente. Ao mesmo tempo, o jogging exerce um trabalho de tonificação muscular e de descompressão das cargas de stress emocional que são benéficas a uma vida mais saudável. O jogging pode proporcionar em certas personalidades, mais atreitas a dons espirituais, a inspiração simbólica para fazer renascer os ideais utópicos tão necessários nos dias que correm.
Urge o aparecimento de figuras carismáticas, na aceção de Max Weber, que sejam capazes de mobilizar os cidadãos sem a desconfiança constante que a opinião pública tem criado em relação aos políticos. Fica, aqui, uma dessas figuras históricas carismáticas que viveu na Era que designo de Utópica (Ernesto Che Guevara), pois temos de voltar a encontrar as dinâmicas sociais ajustadas ao equilíbrio político da Humanidade para que passa compaginar de forma dialéctica a ideologia (o statu quo) com a utopia (o ideal a reificar).