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Crónicas do Professor Nuno Sotto Mayor Ferrão

Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.

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NÚMERO 30 DA NOVA ÁGUIA (2º SEMESTRE DE 2022) – REVISTA DE CULTURA DO SÉCULO XXI

NA 30.jpgRevista A Águia.htm

 

  1. Os 15 anos da revista Nova Águia

A revista Nova Águia perfaz 15 anos de existência, com 30 números semestrais enriquecidos com artigos, ensaios e poemas de autores consagrados, de novas revelações literárias e de uma panóplia variada de investigadores. Renato Epifânio, fundador e seu diretor principal desde 2010, coajuvado por outros diretores e agora por vários vice-diretores, entre os quais tenho a honra de fazer parte, orientam os conjuntos temáticos dos diversos números. Este número 30 reúne mais de 60 colaboradores, onde se contam autores como Adriano Moreira, Álvaro Costa de Matos, Ana Leal de Faria, António Braz Teixeira, Ernesto Castro Leal, Francisco Ribeiro Telles, José Carlos Pereira, Nuno Sotto Mayor Ferrão, Renato Epifânio, Samuel Dimas, entre muitos outros.

 

  1. A fonte de inspiração da revista

A revista A Águia foi uma importante revista cultural, literária e científica, do início do século XX (1910-1932), em Portugal, que congregou muitas figuras de destaque das humanidades, das artes e das ciências com distintas mundividências que veicularam visões plurais, num universo de valores ligados ao republicanismo, ao socialismo e ao anarquismo. Sobressaíram na História Cultural Portuguesa, no conjunto dos seus inúmeros colaboradores, intelectuais como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Hernâni Cidade, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, António Sérgio, entre muitos outros. A revista, nos seus 22 anos de vida, abordou temas literários, artísticos, filosóficos e de crítica cívica, que tanto inspirou os fundadores e colaboradores da Nova Águia.

 

Em diversos números da revista A Águia, foram publicados textos inéditos de Alexandre Herculano, de Antero de Quental e de Camilo Castelo-Branco. O ímpeto cultural da revista A Águia e do movimento da Renascença Portuguesa surgiu da ambição de expansão social da cultura humanista junto da população portuguesa, que se traduziu em edições, na criação de universidades populares, na prossecução de cursos e de colóquios, na constituição de bibliotecas, entre outras ações, permitindo, concomitantemente, reflexões sobre alguns dos grandes problemas do país (por exempo, o ensino, a agricultura e as instituições).

 

A Direção da revista A Águia, no espírito saudosista de Teixeira de Pascoais, dará azo à afirmação profética e pessoana, que estará na origem da dissidência de António Sérgio e de Raul Proença, que a criticaram de passadista e de idealista, ao contrário do sergianismo que se afirmou pelo realismo futurista na revista Seara Nova.

 

A Águia alicerçou-se numa matriz nacionalista e neorromântica, no combate sem tréguas contra a tese da decadência nacional, que pairava na mentalidade da sociedade portuguesa, desde o fim do século XIX. Com efeito, aos mentores da revista, em pleno contexto de instauração do novo regime Republicano, moveu-os o espírito de promoção da autoestima nacional, mobilizando-os contra a tese de declínio da nação portuguesa, deixada pairar pelo poeta Antero de Quental desde as Conferências do Casino de 1871 e contra a mentalidade positivista de Auguste Comte, que contaminava a intelectualidade europeia. Esta revista A Águia era o órgão da associação cívico-cultural intitulada Renascença Portuguesa, que procurou estimular a cultura no país, quando grassava o flagelo do analfabetismo, com mais de 70% da população portuguesa a padecer deste mal, pelo que atualmente a Nova Águia pugna novamente contra uma cultura tecnocrática, que tem desvalorizado a cultura humanista no ensino, na sociedade e no mercado de trabalho, impedindo uma visão crítica e holística da complexa realidade atual.

 

  1. Os conteúdos culturais da revista

O número 30 da revista Nova Águia contém vários dossiês ricos em contributos intelectuais. Fazem parte do corpo da revista nove secções compostas por textos do VII Congresso da Cidadania Lusófona; por textos relativos a Gilberto Freyre e à lusofonia; por textos do Centenário do nascimento do historiador Jorge Borges de Macedo; por artigos referentes a “Outros Vultos”, entre os quais destaco como figuras abordadas Adriano Moreira, Gastão Cruz, Guerra Junqueiro, Paula Rego e José-Augusto França. Em “Outros Voos” temos textos sobre a educação intercultural, sobre o significado de ser português, sobre as invasões francesas e a localidade de Paços de Arcos, sobre o Direito como força normativa, sobre reflexões introspectivas de Samuel Dimas; por alguns textos em “Extravoo”; por uma secção nova sobre “Periódicos Eternos”, como foi o caso emblemático do jornal oitocentista Correio Brasiliense. No “Biblioáguio” apresentam-se recensões críticas de diversos livros e no “Poemáguia” constam poemas de autores como Renato Epifânio, António José Borges, Luísa Costa Macedo e Delmar Maia Gonçalves, entre outros.

 

  1. Objetivos da mundividência cultural da revista

Em suma, o objetivo supremo da Nova Águia é alimentar o ego nacional de uma forma realista, baseado numa rica tradição humanista, escorados os seus colaboradores na inspiração criadora da “revista mãe”, que lhe deu ânimo para que pudesse voar, mas plenamente convictos da importância para o nosso futuro comum do projeto e do sentimento de identidade lusófona, no seio de uma Humanidade a necessitar urgentemente de se transfigurar eticamente.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

ANTÓNIO DE SENA DE FARIA DE VASCONCELOS (1880-1939) – PEDAGOGO INTERNACIONAL E FUNDADOR DA SEARA NOVA

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António de Sena Faria de Vasconcelos Azevedo foi um professor universitário e um prestigiado pedagogo internacional, ligado à corrente da “Escola Nova”. Nasceu em Castelo Branco, a 2 de março de 1880, filho de Luís Cândido Faria e Vasconcellos, juiz e de Maria Rita Sena Bello Vasconcellos, pianista. Frequentou um colégio Católico, em Braga, e, posteriormente, tornou-se bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, por pressão familiar. Um dos seus primeiros trabalhos académicos teve por temática «o materialismo histórico e a crise religiosa do século XVI», o que denota o seu afastamento precoce perante as questões jurídicas.

 

Não nos espanta, por isso, que tenha terminado o curso a 12 de junho de 1901 e, pouco depois, tenha partido em busca da sua vocação para a Bélgica, com o intuito de se doutorar em Ciências Sociais na Universidade Nova de Bruxelas.

 

Em 1902, num dos regressos ao país, publica um opúsculo intitulado O Pessimismo, em que critica a ética individualista e, neste mesmo ano, profere uma conferência que aponta para a necessidade de uma educação cívica das multidões, ao mesmo tempo que se mostra preocupado com o elevado analfabetismo que grassava em Portugal. 

 

Obteve o grau de Doutor em Ciências Sociais, em 1904, com grande distinção e passou a leccionar a cadeira de Psicologia e de Pedagogia, no Instituto de Altos Estudos de 1904 a 1914, nessa universidade belga. Iniciou, então, a sua filiação doutrinária no movimento da Escola Nova, tornando-se um grande divulgador nacional e internacional das suas estratégias pedagógicas. Em 1909, e já com um enorme prestígio, proferiu um conjunto de lições sobre pedagogia na Sociedade de Geografia de Lisboa, com o patrocínio da Liga da Educação Nacional, que resultará na publicação de um livro.

 

Em 1912, fundou, perto de Bruxelas, uma Escola Nova, chamada Escola de Bierges-Lez-Wawre, seguindo o paradigma pedagógico proposto por Adolphe Ferrière. Esta experiência veio a ser publicada em livro escrito em francês, em 1915, com o título Uma escola nova na Bélgica, tendo sido traduzido em várias línguas (em inglês, em espanhol e, mais tarde, em português). Ferrière teceu um rasgado elogio ao trabalho pedagógico de Faria de Vasconcelos. Este livro irá dar-lhe um prestígio internacional inegável, que o transformará num “embaixador cultural” do paradigma da Educação Nova em parte da América Latina.

 

Com a 1ª guerra mundial, em 1914, viu-se obrigado a fugir da Bélgica pela invasão alemã, o que o levou a Genebra, na Suiça, para se juntar ao grupo dos adeptos da pedagogia da Escola Nova do Instituto Jean-Jacques Rousseau. Por indicação de Ferrière, dirigiu-se a Cuba e depois à Bolívia, onde difundiu a metodologia pedagógica desta corrente, ajudando-a a internacionalizar. De facto, a influência de Faria de Vasconcelos assumiu um grande impacto sobre parte da América Latina, com a difusão da Didáctica da Escola Nova. 

 

Com efeito, Faria de Vasconcelos, enquanto professor e Diretor da Escola Normal de Sucre, na Bolívia, frisa que a pedagogia da Escola Nova concedia prioridade às aprendizagens com base na experiência dos alunos, valorizando os trabalhos manuais e as suas autonomias.

 

Em finais de 1920, regressa a Portugal, passando a exercer o cargo de Professor de Pedagogia na Escola Normal Superior e integra o grupo da Seara Nova, como fundador e colaborador da revista, ao mesmo tempo que se empenha na Universidade Popular Portuguesa e no jornal A Batalha. Em 1922, torna-se assistente da Faculdade de Letras de Lisboa. 

 

Na Seara Nova publica um conjunto de artigos sobre possíveis soluções para os problemas da educação em Portugal, que irão inspirar a Lei de Bases da Educação Nacional apresentada oficialmente pelo Ministro João Camoesas, em 1923. Teve, também, nesses anos, algumas colaborações nas revistas Homens Livres e Lusitânia.

 

Na qualidade de professor da Faculdade de Letras de Lisboa, assumiu a leccionação da cadeira de Psicologia Geral e publicou, em livro no ano de 1924, o teor das lições ministradas.

 

Em 1925, funda em Lisboa o Instituto de Orientação Profissional, porque compreendeu, pela sua experiência pessoal, a importância de um correto encaminhamento vocacional, para evitar a intromissão dos pais no futuro profissional dos filhos. Em 1931, esteve na organização do Instituto Dr. Navarro de Paiva, para que rapazes delinquentes até aos 16 anos fossem reeducados, com vista à orientação para o exercício de um ofício. Esteve envolvido em inúmeros projetos de educação popular e, em 1925, passou a dirigir a revista Educação Escolar.   

O seu pensamento pedagógico alicerçou-se nas suas convições da psicologia da aprendizagem[1]. Integrou a corrente da Escola Nova, pelo que sustentava que os alunos deviam ser ativos no processo de ensino/aprendizagem, ao contrário do que era comum no paradigma pedagógico tradicional em Portugal, na Europa e no mundo. Foi, então, influenciado, nas suas obras dos anos 30, por assumir um pressuposto psicológico behaviorista na sua concepção da aprendizagem humana, como se constata pela referência bibliográfica constante a Edward Lee Thorndike, figura axial desta corrente psicológica.

 

Neste sentido, concebe o professor como um orientador da aprendizagem ativa dos alunos. Mostrou, também, preocupação com a formação integral dos alunos, de forma que estes desenvolvessem capacidades intelectuais, físicas, sociais, morais, motoras e afetivas.

 

Outra trave-mestra do seu pensamento pedagógico consistiu na relevância dada a uma educação pragmática, na senda de John Dewey, pelo que considerava que os currículos deviam estar virados para a entrada dos alunos no mercado laboral. Daí ter pugnado, em Portugal nos anos 30, no contexto do regime do Estado Novo, pela integração de elementos profissionalizantes nos currículos escolares, na qualidade de Diretor do Instituto de Orientação Profissional “Maria Luísa Barbosa de Carvalho”. Frisou que alguma liberdade de escolha dos alunos, relativa às suas aprendizagens, era um importante meio de responsabilizá-los.

 

Em conclusão, reconheceu, na esteira da corrente psicológica behaviorista, que a aprendizagem humana dependia, sobretudo, dos estímulos objetivos do meio físico e social. Deste modo, acreditou, firmemente, na metodologia objetiva da psicologia comportamentalista, condicionando dessa forma os seus paradigmas pedagógicos. Em função desta crença educacional, reduziu o espaço criativo concedido à pedagogia individual dos docentes. 

_________________________

[1] Nuno Sotto Mayor Ferrão, Interpretação do pensamento pedagógico de António de Sena de Faria de Vasconcelos, na coleção ”Biblioteca de Cultura Pedagógica” pela Livraria Clássica Editora, nos anos de 1933 e 1934, Trabalho da cadeira de História da Cultura Portuguesa Contemporânea no âmbito do Mestrado em História Contemporânea, Lisboa, FLUL, 1994, pp. 22-41.   

Nuno Sotto Mayor Ferrão

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO HISTORIADOR JORGE BORGES DE MACEDO (1921-2021)

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A 3 de março de 2021 assinala-se e inicia-se a celebração do centenário do nascimento do historiador Jorge Borges de Macedo (1921-2021). Esta efeméride irá decorrer até ao primeiro trimestre de 2022, com referências na comunicação social, designadamente com artigos que já saíram no Diário de Notícias de Ana Leal de Faria, de Álvaro Costa de Matos (também no Público), de Luís Aguiar Santos, de Raul Rasga, de Paulo Miguel Rodrigues, de Maria João Martins e com uma sessão solene na Academia Portuguesa da História em que participará Álvaro Costa de Matos, transmitida através da plataforma Zoom no dia 17 de março entre as 15 e as 17 horas[1], dado o contexto geral de confinamento a que o país está sujeito. Está, ainda, previsto um conjunto de artigos que serão publicados num dos próximos números da revista cultural Nova Águia.

 

A 3 de março de 1921, em pleno contexto da 1ª República, nasce Jorge Borges de Macedo, filho de José Pinto de Macedo, político republicano radical e administrador colonial, e de Maria de Conceição Borges. Fez os estudos do ensino secundário no Liceu Passos Manuel, em Lisboa.

 

Na década de 1940 e na seguinte, no período em que militou nos setores da esquerda radical e se deixou influenciar pelo ideário marxista[2], licenciou-se na Faculdade de Letras de Lisboa em Ciências Histórico-Filosóficas, no ano de 1944 e no período da 2ª guerra mundial, com a tese A Situação Económica no Tempo de Pombal - Alguns Aspectos[3], que se tornou uma referência nos estudos historiográficos. Nesta década, colaborou na imprensa periódica, designadamente em O Diabo, na Seara Nova e em Vértice. No decorrer da vida, o seu pensamento foi evoluindo, passando ideologicamente de um quadrante de esquerda radical para um posicionamento de direita conservadora.

 

Nos anos 40, contraiu matrimónio com Branca Rosa de Mendonça Braga, tendo como filhos Jorge Avelino Braga de Macedo, Branca Maria Braga de Macedo e Ana Irene Braga de Macedo, tendo-se nestes anos dedicado bastante à família. Esteve ligado também, neste período, aos sectores oposicionistas ao regime do Estado Novo, tendo militado no Movimento de Unidade Democrática e apoiado a candidatura presidencial do general Norton de Matos, o que o conduziu à prisão[4].

 

Entre 1946 e 1949 dedicou-se ao ensino técnico na Escola Machado de Castro e na Escola Fonseca Benevides e, pouco depois, no fim dos anos 40 e princípio dos anos 50 foi professor de História e de Filosofia no Colégio Moderno, em Lisboa. Em 1953 entra para os quadros dos CTT, onde permanece até 1957.

 

Em 1957, por volta dos 36 anos, tornou-se professor assistente da Faculdade de Letras de Lisboa dos professores Vírginia Rau e Manuel Heleno, nas cadeiras de Teoria da História e de História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Nos anos 50 e 60 leccionará as cadeiras de História Moderna e Contemporânea, de História da Cultura Portuguesa, de História da Cultura Moderna, de História de Portugal I e II. Entre 1957 e 1973 foi secretário do Centro de História da Universidade de Lisboa desta Faculdade.

 

No ano de 1958, no tempo da candidatura presidencial de Humberto Delgado, tornou-se bolseiro do Centro de Estudos Históricos do Instituto de Alta Cultura[5] iniciou estudos sobre a História Económica, abordando os problemas das indústrias em Portugal no século XVIII, o que lhe permitiu elaborar a sua tese de Doutoramento e defendê-la, em junho de 1964, na mesma instituição académica com a classificação de 19 valores[6]. Em 1967, tornou-se professor agregado de História e dois anos depois, com cerca de 48 anos, atingiu o lugar de professor Catedrático.

 

Na sequência da revolução de 25 de abril de 1974, em função do seu posicionamento ideológico conservador, foi saneado da faculdade. Porém, após os exaltados anos pós-revolucionários, em 1977, é que pôde ser admitido no ensino universitário como professor de História Económica e de História Diplomática na Universidade Católica de Lisboa e, em 1980, reintegrado na Faculdade de Letras de Lisboa como lente de História Contemporânea de Portugal, tendo-se jubilado em 1991.

 

Neste ano, proferiu a sua última aula, a 10 de dezembro, subordinada ao tema “A sociedade portuguesa no tempo de Camões”, num dos auditórios da Faculdade de Letras de Lisboa e foi agraciado, pelo Presidente da República Mário Soares, com o grau honorífico de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’iago da Espada. Foi também distinguido com os Prémios Abílio Lopes do Rego e Alexandre Herculano. Pela sua ligação à comunidade científica internacional, foi tradutor e supervisor de inúmeras obras historiográficas estrangeiras, designadamente de autores como T. S. Ashton, Lucien Febvre e Carl Grimberg.

 

Jorge Borges de Macedo foi orientador da tese de Doutoramento do professor José Manuel Tengarrinha, apesar das diferenças ideológicas que os separavam. Devido ao grau de exigência que imprimia aos investigadores sob a sua alçada garantiu a qualidade científica da dissertação deste historiador de renome da imprensa portuguesa.

 

Em 1990, foi convidado pelo Secretário de Estado da Cultura, Dr. Pedro Santana Lopes, para o cargo de Diretor dos Institutos dos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo, tendo inaugurado as novas instalações do imponente e antissísmico edíficio da Cidade Universitária de Lisboa, ao mesmo tempo em que impôs restrições apertadas para a consulta documental aos investigadores. Ocupou este cargo até ao seu desaparecimento, a 18 de março de 1996, perfazem-se agora 25 anos. Em ato testamentário doou a sua vasta biblioteca à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

 

Na sua obra historiográfica, Jorge Borges de Macedo procurou romper com as investigações históricas muito monográficas, sem se deixar incorrer nos processos explicativos exclusivamente abstractos. De acordo com o recente e pertinente artigo de Luís Aguiar Santos[7], o mergulho de Borges de Macedo na história económica derivou do seu interesse em afastar a investigação do passado coletivo das perniciosas tendências ideológicas dominantes no período de formação do historiador.

 

Uma das suas obras de referência, no âmbito da história diplomática e das relações internacionais, é o livro intitulado História Diplomática Portuguesa: Constantes e Linhas de Força. Estudo de Geopolítica. Nesta obra, abordam-se as orientações estratégicas e as perplexidades imanentes às estruturas históricas da vida diplomática portuguesa.

 

Segundo Luís Aguiar Santos, a opção de Borges de Macedo pelos temas de história económica foi uma forma de se desvincular das tendências ideológicas, marxistas ou nacionalistas, que dominavam a historiografia de meados do século XX, em Portugal. Neste sentido, o pombalismo foi assumido como um mecanismo de centralização do poder régio com reforço dos instrumentos administrativo-militares e não como resultado de um “plano iluminista”. Desta forma, procurou atingir um procedimento metodológico que alicerçasse as explicações históricas em dados concretos, numa apreensão quase positivista de captação da realidade passada.

 

Na sua tese de doutoramento, ao abordar os problemas da indústria portuguesa no século XVIII, destaca-nos Aguiar Santos que Borges de Macedo investigou inovadoramente os registos do “imposto da décima” e analisou os custos de transportes no território português. Salienta-nos, ainda, este investigador que o historiador defendeu a tese de que os arremedos de políticas mercantilistas e proteccionistas se deveram mais a necessidades fiscais do que a autênticas vontades de industrialização do país, defendida por algumas correntes historiográficas. Também na obra ensaística A problemática tecnológica no processo da continuidade república - ditadura militar - Estado Novo, de 1979, Borges de Macedo procurou explicações concretas para tentar fugir às leituras ideológicas.

 

Esta interessante interpretação de Aguiar Santos olvida que o objecto de estudo da História pertence à área das Ciências Sociais e Humanas e, como tal, o historiador não estará nunca imune a tendências ideológicas, por mais implícitas que estas possam ser. Lembremos, aliás, que a psicologia sofreu do mesmo drama, ao longo do século XX, isto é, da tendência mais behaviorista ou mais espiritualista dos estudos da psique.

 

Em suma, o seu método historiográfico parece ser devedor da Escola dos Annales, ao pretender situar os acontecimentos económicos em estruturas de continuidade histórica e em conjunturas, para a inteira racionalidade dos fluxos evolutivos e involutivos da realidade passada do país, procurando desfazer ideias feitas, por várias correntes historiográficas, à luz das suas investigações e de um forte espírito crítico.

_________________________________________________________________

[1] https://zoom.us/j/91611214480pwd=ZTlLZlFzT0Z1aHdqakxEaWI0YTR4Zz09;  ID da reunião: 916 1121 4480; Senha de acesso: 136099 (https://academiaportuguesadahistoria.gov.pt/eventos/2021-03-17/).

[2] Como o testemunhou Mário Soares no livro memorialístico Portugal Amordaçado.

[3] Jorge Borges de Macedo, A Situação Económica no Tempo de Pombal - Alguns Aspectos, Porto, Portugália Editora, 1951, 307 p..

[4] Reportagem da RTP sobre o falecimento de Jorge Borges de Macedo.

[5] Álvaro Costa de Matos in http://hemerotecadigital.cmlisboa.pt/EFEMERIDES/JBMacedo/Biografia.htm

[6] Jorge Borges de Macedo, Problemas de História da Indústria Portuguesa no século XVIII (tese de doutoramento em História na Universidade de Lisboa), Lisboa, Edição de autor, 1964, 394 p..

[7] Luís Aguiar Santos in https://www.dn.pt/opiniao/a-historia-economica-na-obra-de-jorge-borges-de-macedo-13389190.html

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

VÍDEOS HISTÓRICOS SOBRE SOBRE JORGE BORGES DE MACEDO:

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/entrevista-a-borges-de-macedo-2/

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/entrevista-a-borges-de-macedo/

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/ultima-aula-de-borges-de-macedo/

EVOCAÇÃO DE MATILDE ROSA ARAÚJO NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO (1921-2021)

Matilde Rosa Araújo.jpgTila MRA.jpg

Mãe, as flores adormecem

Mãe, as flores adormecem

Quando se põe o Sol!

Filha, para as adormecer

Canta o rouxinol…

 

Mãe, as flores acordam

Quando nasce o dia!

Filha, para as acordar

Canta a cotovia…

 

Mãe, gostava tanto de ser flor!

Filha, eu então seria uma ave

                                    Matilde Rosa Araújo

Matilde Rosa Lopes de Araújo nasceu, em Lisboa, a 20 de junho de 1921, ao tempo da 1ª República numa quinta dos avós, em Benfica e, por isso, neste ano de 2021, celebramos o primeiro Centenário do seu nascimento. Estudou no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo, tendo beneficiado de preceptores em casa. Teve uma formação musical, frequentando o Curso Superior do Conservatório em Lisboa, daí, talvez, a sua propensão para a criação poética como musicalidade. Matilde tinha dois irmãos e nunca se casou, nem teve filhos.

 

Em 1946, terminou o seu curso na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, tendo-se licenciado em Filologia Românica com uma tese sobre o jornalismo[1]. Como estudante, foi aluna de Jacinto de Prado Coelho e de Vitorino Nemésio e colega e grande amiga de Sebastião Salgado, poeta de renome, tendo com ele trocado, com muita frequência, correspondência desde 1944. Travou, também, amizade com outros estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa como David-Mourão Ferreira, Helena Cidade Moura, Maria de Jesus Barroso e Urbano Tavares Rodrigues[2]

 

Começou a sua atividade literária aos 22 anos com o livro de ficção A Garrana, cujo enredo versava sobre o tema da eutanásia. Enquanto estudante universitária publicou este livro, assim como alguns artigos com que colaborou na revista Mundo Literário.

 

Foi professora da disciplina de Português e de Literatura Portuguesa na Escola Industrial Fonseca Benevides, em Lisboa e, também, em escolas no Barreiro, no Porto, em Portalegre, em Elvas, além de ter sido formadora de professores na Escola do Magistério Primário de Lisboa.

 

Em 1965, a autora, como membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Escritores, viu as instalações deste grémio literário serem invadidas por agentes da PIDE, que demitiu a direção em bloco, porquanto esta tinha premiado o trabalho literário do angolano José Luandino Vieira, em pleno contexto da guerra colonial, que se encontrava preso no campo de concentração do Tarrafal.

 

No âmbito da sua intervenção cívica, dedicou-se à defesa dos Direitos das Crianças através de alguns dos seus livros e mediante a intervenção em organismos como a UNICEF-Portugal e o Instituto de Apoio à Criança. Esta preocupação cívica e literária, na sua poesia, com as crianças que sofrem aproximam-na das correntes neorrealistas. Nos seus poemas aparecem muitas vezes abordagens centradas na intimidade do eu, mas com uma preocupação com as fragilidades e dificuldades do Outro, em especial, pelos que são vítimas de marginalização social[3].

 

Afirmou-se como escritora de dezenas de livros de contos e de poesias, tanto para adultos como para crianças, entre 1943 e 2008, com publicações nacionais e estrangeiras. Os seus livros trataram os temas da infância dourada, da infância agredida e da infância projeto. Reflectiu sobre a importância da literatura infanto-juvenil e a educação do sentimento poético na criança. O seu primeiro livro infantil intitulado O Livro da Tila, de 1957, foi alvo de transposição musical, através das composições de Fernando Lopes-Graça, tornando-se uma das suas obras-primas.

 

Recorre, nos seus livros infantis, a uma sensibilidade especial, relativamente ao mundo das crianças que esteve patente nas inúmeras referências ao brinquedo, ao jogo simbólico, às histórias tradicionais, às canções infantis, às lengalengas, às rimas popularizadas entre as crianças e ao encantador mundo de animais humanizados, fundamentais na literatura infantil desde As Fábulas de Jean de la Fontaine, datadas do século XVII, que terá certamente influenciado a autora, como o reconhece José António Gomes.

 

Subjacente à sua poesia infanto-juvenil encontra-se a noção de que as crianças garantem, pela sua simplicidade e autenticidade, uma alavanca para um futuro ridente, votado ao progresso social de uma sociedade mais livre, igualitária e respeitadora das diferenças. No entanto, a estética poética, presente na sua obra, está marcada por um cunho tradicionalista e classicizante, que carrega a leveza de um lirismo encantatório[4]. A sua poesia transporta uma sensibilidade atenta ao cosmos, em perfeita comunhão com a natureza, com os seres vivos numa dialética franciscana com Deus.

 

O seu labor intenso na escrita e o seu prestígio foram reconhecidos, em 1980, com o Grande Prémio de Literatura para Crianças da Fundação Calouste Gulbenkian; em 1991, no Brasil, com o prémio para o melhor livro estrangeiro atribuído ao livro O Palhaço Verde pela Associação Paulista de Críticos de Arte e, em 2003, com o grau honorífico de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique atribuído pelo Presidente da República, Jorge Sampaio. Por fim, em 2004, recebeu o Prémio Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

 

Foi, também, uma colaboradora de jornais nacionais, regionais e de revistas, de que realço os seguintes periódicos A Capital, República, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Comércio do Funchal, Jornal do Fundão, Seara Nova e Colóquio/Letras, entre outros.

 

Das dezenas de obras publicadas, ao longo de uma longa carreira de 65 anos, de 1943 a 2008, destaco  as mais conhecidas: O livro de Tila, de 1957; O Palhoço Verde, de 1960; O Sol e os meninos dos pés frios, de 1972; Fadas Verdes, de 1994; O Chão e a Estrela, de 1997. Nas suas obras perpassam realidades e sentimentos como a alegria, o amor, a amizade, a infância, a velhice, a paz, o perdão e a morte.

 

A 6 de julho de 2010, Matilde Rosa Araújo faleceu com 89 anos em Lisboa. O seu corpo esteve em câmara ardente na Sociedade Portuguesa de Autores, tendo seguido para o talhão dos artistas no Cemitério dos Prazeres.

_____________________

[1] Matilde Rosa Araújo, A reportagem como género: génese do jornalismo através da constante histórico-literária (tese de licenciatura em Filologia Românica), Lisboa, Ed. M. Araújo,1946.

[2] https://setubalmais.pt/sebastiao-da-gama-e-matilde-rosa-araujo-a-santa-alegria-1/ - consultado a 23 de janeiro de 2021.

[3] http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/mobile/correntes/matilde1.htm - consultado a 23 de janeiro de 2021.

[4] Fernando J. B. Martinho, «A Poesia Portuguesa dos Anos 50», in AA.VV., A Phala – Edição Especial – Um Século de Poesia, Lisboa, Assírio & Alvim, 1988, p. 118-25.

Nuno Sotto Mayor Ferrão

ANTÓNIO SÉRGIO (1883-1969) – PENSADOR DO PARADIGMA DEMOCRÁTICO NA POLÍTICA, NA ECONOMIA E NO ENSINO

 

António Sérgio de Sousa Júnior (1883-1969) foi um insigne pensador e político português, que foi considerado pelo historiador Joel Serrão como o maior ensaísta português de todos os tempos. O seu ensaísmo aborda temas diversificados que se estendem da filosofia à economia, mediante um padrão humanista com um racionalismo  de tendência materialista.

 

Arrancou com a sua prolífera atividade ensaísta no movimento cultural Renascença Portuguesa, escrevendo e polemizando na revista A Águia ao lado de figuras como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra ou Fernando Pessoa.

 

Este pensador recebeu uma formação intensamente militar no Colégio Militar e na Escola Naval, além de ter passado também pela Escola Politécnica, uma vez que no seu seio familiar pontuavam muitos militares[1]. Iniciou a atividade profissional como oficial da Marinha, mas cedo abandonou a carreira militar por ter jurado fidelidade ao rei D. Manuel II.

 

Durante os primórdios do regime republicano, concorre como assistente de filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa mas como não foi escolhido, ingressou no Instituto Jean-Jacques Rosseau, em Genebra, entre 1914 e 1916, onde estudou com a sua mulher, Luísa Epifâneo da Silva, as tendências pedagógicas da Escola Nova, impulsionadas por Éduard Claparéde, que lhe permitiu influenciar a reforma do ensino do ministro João Camoesas. 

 

Desde o início do regime republicano colabora em diversas revistas (A Águia, Pela Grei, Seara Nova e Lusitânia), com o intuito de fazer ressurgir a Nação da letargia instalada, que a contaminava já no fim do regime da monarquia liberal. Aliás, as suas funções na direção da revista Seara Nova conduziram-no a abraçar o Ministério da Instrução Pública, o que fará com grande convicção. Depois desta experiência política, e com o singrar da ditadura militar, é levado ao exílio em França de 1926 a 1933.

 

Em 1945, quando termina a 2ª Guerra Mundial, abre-se a expectativa de modificação do regime Salazarista, em virtude da derrota dos autoritarismos de extrema-direita consubstanciada na rendição das potências do Eixo, e então António Sérgio integra o Movimento de Unidade Democrática, juntamente com uma plêiade de eminentes figuras públicas como Alves Redol, Norton de Matos, Bento de Jesus Caraça, Fernando Lopes Graça, Ferreira de Castro, Miguel Torga, Vitorino Magalhães Godinho, Francisco Salgado Zenha, entre muitos outros.

 

Como afoito oposicionista, apoiou as candidaturas presidenciais de Norton de Matos e de Humberto Delgado e, logo nessas ocasiões, foi encarcerado, como em outras vezes anteriores, pelo ímpeto das suas convicções democráticas.

 

António Sérgio, no decorrer do seu valoroso labor intelectual, manteve uma veia polemista, esgrimindo argumentos com múltiplas figuras públicas. O seu escorreito pensamento, que se manifestou nos livros que escreveu e na sua acção, centrou-se na reforma das mentalidades, na compreensão do sentido da História de Portugal e na ideia de uma escola autónoma centrada numa educação cívica.

 

Nesta medida, foi o introdutor na historiografia portuguesa da perspetiva económica e social, na abordagem de acontecimentos como a Revolução de 1383-85 ou da conquista de Ceuta de 1415, o que nos manifesta o seu paradigma racionalista de pendor materialista. A proibição pela censura salazarista de publicar uma História de Portugal, incómoda para os registos narrativos oficiais, truncou a cultura portuguesa do seu potencial criativo em termos historiográficos.

 

Na sua larga obra ensaística preocupou-se com o aprofundamento de uma democracia efetiva, que devia ter por base uma opinião pública esclarecida e uma elite diversificada. Na verdade, no exílio, nos anos da ditadura militar, continuou a publicar os Ensaios e a advogar o rápido regresso de Portugal à democracia.

 

O seu aceso espírito crítico levou-o a levantar inúmeras polémicas com autores filiados noutras correntes espirituais distantes da sua mundividência (bergsonianos, neorromânticos, integralistas, católicos ou marxistas), considerando-se um livre pensador, mas estando, em abono da verdade, condicionado pelo seu paradigma ideológico.

 

Com efeito, era um adepto fervoroso dos regimes democráticos, que tinham de se reformar, como lhe ensinou a experiência da 1ª república[2] e, talvez, o malogro das democracias liberais europeias pós-Grande Guerra. Estes regimes tinham de passar pela reforma das escolas de modo a permitir, que ao longo de gerações, a evolução das mentalidades coletivas e a formação de elites patriotas, manifestassem atitudes cívicas desprendidas de intereses partidários. Deste modo, considerava que as democracias só podiam amadurecer se contrariassem os dogmas mentais ou preconceitos, daí a sua absoluta predileção pelo método polemista, e procedessem de maneira experimental.

 

O seu hercúleo trabalho em prol da cultura manifestou-se na direção das revistas Pela Grei e Seara Nova e como diretor da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. De facto, o seu papel pedagógico foi, tal como Faria de Vasconcelos, um difusor dos métodos pedagógicos da Escola Nova, designadamente o método de Maria Montessori, centrados nas aprendizagens dos alunos.

 

O seu magistério intelectual permeou e influenciou, através de uma convivência frequente, uma geração mais nova de figuras, que o tratavam como mestre, como Agostinho da Silva, Barahona Fernandes, Raul Lino, Rui Grácio ou Mário Soares.

 

A sua formação pedagógica na Suiça irá fazê-lo criticar a escola tradicional e os métodos diretivos do ensino português, que com a escola salazarista se arrastaram por longas décadas, propondo uma escola de aprendizagens centrada no educando que visasse autonomizar os indivíduos, com vista à produtividade económica, singular e coletiva.

 

Das suas ideias peregrinas destacam-se o ensino como catapulta para a regeneração nacional, em ambiente de acentuada decadência desde os anos 90 do século XIX, e para a criação de uma elite humanista empenhada numa democracia socialmente progressista. Neste registo reflexivo, insere-se o seu combate por um cooperativismo que fomentasse uma economia social, tendo sido um dos grandes inspiradores das cooperativas de habitação, entre outras[3]. Existindo, assim, ainda hoje em dia a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social como entidade pública criada em sua homenagem.

 

Em conclusão, António Sérgio concebia que a autenticidade da educação e da cultura só era possível em regimes democráticos, valorizando plenamente as liberdades de pensamento e de ação dos indivíduos.  Desta forma, a sua linha política situa-se num socialismo proudhoniano, influenciado pelas ideias de Antero de Quental, que combateu o corporativismo salazarista e os excessos do socialismo soviético, advogando um cooperativismo saudável para uma economia de base social. Na sua profícua capacidade de síntese, encontrou, no modelo eclético de junção da democracia liberal com o socialismo cooperativista, a alternativa para os desvios desmedidos dos autoritarismos, salazarista e do socialismo soviético.

 

[1] António Campos Matos, Diálogo com António Sérgio, Lisboa, Editorial Presença, 217 p.

[2] Sérgio Campos Matos, “António Sérgio (1883-1969)”, in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, vol. 2, Lisboa, Publicações Alfa, 1990, pp. 222-223.

[3] "(...) O cooperativismo é um movimento de ascensão moral, de reforma social, que se serve, como instrumento, das necessidades económicas dos homens. (...)", in António Sérgio, “Sobre o socialismo de Oliveira Martins", Ensaios, tomo VIII, p. 235.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão

 

 

 

AGOSTINHO DA SILVA (1906-1994), PENSADOR DA CULTURA, DA LIBERDADE E DA LUSOFONIA



George Agostinho Baptista da Silva, nasceu no Porto no início do século XX no regime da Monarquia Constitucional, tendo-se destacado como professor, filósofo e poeta. Contudo, a sua humildade e o seu sentido cívico aproximaram-no dos cidadãos, que muitas vezes tendem a olhar de soslaio para os filósofos, na medida em que procurou fazer da filosofia o móbil de legitimação da intervenção na sociedade e, por isso, mostrou a importância da “praxis” na vida dos filósofos. Deste modo, evidenciou-se como um Humanista no seu original pensamento da Liberdade e da Lusofonia que edificou com os seus escritos e com a sua vida.

 

Formou-se em 1928 em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto com 20 valores. Desde então passou a colaborar na revista “Seara Nova”[1], durante 10 anos, onde teve oportunidade de conhecer grande parte do escol intelectual português. Com apenas 23 anos sustentou a sua Dissertação de Doutoramento, enveredando por uma perspectiva de Filosofia da História com o seu trabalho académico “O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas”. De 1931 a 1933, já no contexto do autoritarismo português, foi estudar para Paris como Bolseiro na Sorbonne e no Collège de France.

 

No regresso a Portugal em 1935, já em pleno Estado Novo, começa a leccionar no ensino público secundário, mas tendo-se recusado a assinar um documento, que obrigava todos os funcionários públicos a declararem que não participavam em organizações secretas, é exonerado do cargo. Passa então para o ensino privado, onde foi professor de Mário Soares e de Lagoa Henriques. Nesta fase da sua vida dedicou-se com empenho às questões pedagógicas, levando-o à criação da Escola Nova de São Domingos de Benfica e do Núcleo Pedagógico Antero de Quental.

 

No início dos anos 40 quando se torna mais incómodo, pelos seus escritos, para o regime Salazarista, posicionando-se como um denodado oposicionista, a PVDE ( antiga designação da PIDE ) prende-o em 1943 e a Igreja Católica critica-o pelas suas ideias religiosas pouco ortodoxas. Estes factos adversos, indicativos de plena assumpção da sua liberdade, irão levá-lo ao exílio na América do Sul, tendo estado no Brasil, no Uruguai e na Argentina.

 

De 1947 a 1969 viveu no Brasil onde estudou e ensinou em diversas Universidades. Foi, com efeito, um intelectual empreendedor ao participar na criação da Universidade de Santa Catarina e na Universidade de Brasília e ao criar Centros de Estudos[2] que o fizeram aprofundar a compreensão da importância da Lusofonia. A proximidade intelectual que manteve com Jaime Cortesão, na investigação que desenvolveram sobre a figura de Alexandre de Gusmão e na Exposição do Quarto Centenário da cidade de São Paulo, terá sido decisiva para aprofundar a sua convicção lusófona, pois este eminente Historiador dos Descobrimentos Portugueses sempre sustentou a tese do Humanismo Universalista dos Portugueses.

 

Agostinho da Silva regressou a Portugal durante o período do Marcelismo, em 1969, e dedicou-se nessa altura, fundamentalmente, à escrita. Só após a Revolução do 25 de Abril de 1974 passou a leccionar regularmente em Universidades Portuguesas, designadamente na Universidade Técnica de Lisboa onde dirigiu o Centro de Estudos Latino-Americanos e foi designado consultor do Instituto da Cultura e Língua Portuguesa. Veio a transformar-se num dos mentores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) pelas suas concepções e vivências lusófonas de fraternidade e união cultural dos países de língua portuguesa[3], sonhando mesmo com uma futura União Lusófona. Faleceu em Lisboa em 1994 sem conhecer esta nova instituição supranacional.

 

No princípio dos anos 90 a RTP1, imbuída de uma meritória missão de Serviço Público, emitiu uma série de notáveis entrevistas com o Professor Agostinho da Silva que o popularizou na sociedade portuguesa. Irei mostrar, de seguida, dois destes documentos televisivos intitulados “Conversas Vadias”. Além desta homenagem em vida, a este promotor da Cultura Lusófona, já postumamente constituiu-se a Associação Agostinho da Silva, em 1995, realizou-se a Comemoração do Centenário do seu nascimento, em 2006 e publicou-se o terceiro número da revista Nova Águia intitulado “O legado de Agostinho da Silva – quinze anos após a sua morte”[4] em 2009.

 

O original pensamento filosófico, expresso muitas vezes numa linguagem poética de maior acessibilidade, de Agostinho da Silva, que nos foi legado pelos seus escritos e depoimentos orais, só aparentemente é libertário pelo tom provocador, crítico, que imprimiu em algumas das suas mediáticas entrevistas, mas, na verdade, este pensador foi um construtor de uma “praxis” comprometida com uma elevada consciência cívica e social actuante, como a sua vida nos demonstra sobejamente.

 

Nuno Sotto Mayor Ferrão



[1] Fernando Farelo Lopes, “Seara Nova”, in Dicionário Encclopédico da História de Portugal, vol. II, Alfragide, Selecções do Reader’s Digest, p. 216.

[2] Agostinho da Silva criou o Centro de Estudos Afro-Orientais na Universidade de Santa Catarina e o Centro Brasileiro de Estudos Portugueses na Universidade de Brasília.

[3] Renato Epifânio, “Agostinho da Silva: um legado”, in A Via Lusófona – Um novo horizonte para Portugal, Sintra, Edições Zéfiro, 2010, pp. 86-89.

[4]Nova Águia, nº 3 – 1º Semestre de 2009, Sintra, Zéfiro Editores, 203 p.

 

Entrevista do Professor Agostinho da Silva conduzida pelo jornalista Adelino Gomes

Entrevista do Professor Agostinho da Silva conduzida pelo jornalista e escritor Armando Baptista-Bastos

 

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