Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
valter hugo mãe, a máquina de fazer espanhóis[1]– é um romance moderno que nos fala da problemática do envelhecimento das pessoas, na sociedade portuguesa contemporânea, através do seu estilo literário sui generis marcado pela ausência de maiúsculas e de identificação formal do discurso direto. É já um best seller, com múltiplas edições nacionais e estrangeiras, que enquadra o tema do envelhecimento à luz dos atuais hábitos e constrangimentos dos cidadãos portugueses.
No livro o protagonista faz uma viagem nas suas memórias de vida, sendo a sua Consciência despertada pela passividade com que lidou com o regime Salazarista. No enredo narrativo, o autor procede a uma análise da mentalidade dos portugueses em que se denota a passividade cidadã[2], herdada da ditadura, e o traço iberista resultante do complexo de inferioridade de ser português[3]. O autor manifestou, sobretudo, uma descrença ateia na imortalidade da Alma, em oposição aos pressupostos Kantianos.
Na sua aceção intelectual, ateísta, a crença em Deus decorre das necesidades espirituais do Homem que o levam a acreditar na Vida Eterna e na importância da regulação Moral da Existência. Não obstante, esta perceção ideológica deriva da mentalidade anticlerical do próprio autor e da sua perceção vivencial da vulnerabilidade humana. O protagonista, no fim do romance, com o evoluir do envelhecimento vai perdendo a Memória, que compensa inteligentemente pelo uso da imaginação criativa.
Com efeito, este livro é uma homenagem ao pai do escritor que não chegou à terceira idade e constitui uma reflexão literária sobre este tema tão fundamental dos nossos dias. Do epílogo, do romance, sobressai o racionalismo emocional de valter hugo mãe, pois a morte do protagonista revela-nos uma descrença religiosa e a sua crença nas potencialidades humanas da Consciência que poderão alçar a Humanidade para um novo patamar de Solidariedade, levando-a à criação do Homem Novo.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
[1] Valter hugo mãe, a máquina de fazer espanhóis, Lisboa, Editora Objetiva, 2011.
[2] Na senda do filósofo de José Gil, Portugal Hoje: o medo de existir.
[3] Contudo, este traço iberista não faz sentido como nos ensinaram os grandes mestres e humanistas ligados à Renascença Portuguesa.
A escritora Gilda Nunes Barata tem uma ampla e eclética formação cultural que se está a firmar nas Letras Portuguesas, com uma já vasta obra, que passou por vários trilhos académicos ( jurídico, literário e filosófico ). A sua obra bibliográfica abarca incursões na literatura infantil, na poesia e em estudos filosófico-literários e colhe desta polivalência uma riqueza de linguagem e de substância pouco comum.
O seu mais recente livro intitulado “Rockinho – Por um Mundo Melhor” foi publicado pela promissora Editora Objectiva, que arrancou em Portugal no fim de 2009, embora já com provas dadas em Espanha e na América Latina, tendo recebido o selo de colecção da Alfaguara Infantil. Teve um bem interessante lançamento na Feira do Livro de Lisboa, a 9 de Maio.
Este seu livro tem um forte carácter pedagógico nas lições ambientais que transmite às crianças e aos jovens. Com efeito, a escritora vai apresentando os problemas ambientais com que o mundo se confronta, presentemente, e deixando pistas de cidadania para que as novas gerações não agravem esta crise. Deixa aos seus jovens leitores uma reconfortante mensagem imbuída de um realismo optimista para fazer frente a esta imenso desafio. Ao longo da obra vai dando, concomitantemente, a conhecer aos pequenos leitores alguns segredos da Mãe-Natureza.
Este livro insere-se no espírito do Festival “Rock in Rio” que está no ar de novo em Lisboa. Este evento festivo tem por mascote, para os mais pequenos, o “Rockinho” deste livro de Gilda Nunes Barata. Este espectáculo, chamativo de muitas estrelas deste género musical, na esteira de outros festivais de Rock da segunda metade do século XX, destina alguns dos seus recursos financeiros para acções de apoio Social ou Ambiental em Portugal e no Brasil. Por essa razão, a escritora doou os seus Direitos para o projecto Social deste mega evento.
O tom poético da história do “Rockinho” é uma das marcas da linguagem de Gilda Nunes Barata. Por vezes, aparece também o tom irónico a espaços, por exemplo, quando alude ao cabelo espetado, do protagonista, à moda.
O Rockinho, como herói do livro, é assim o símbolo do jovem rebelde com um coração de ouro, numa quase personificada figuração dos jovens dos nossos dias.
Deste modo, esta história com um simbolismo de grande actualidade vai revelando aos pequenos leitores as valências da música (como fonte de inspiração, fonte de afectos, fonte para o indispensável alerta de educação ambiental, fonte de serenidade de espírito, etc). A moral da história interpela os pequenos leitores com a deixa de que a música pode despertar um estado de êxtase que pode levar ao vigor cívico para enfrentar com ânimo e jovialidade todos os graves problemas ambientais incutindo confiança aos mais novos em relação às possibilidades de se superarem estes ingentes dilemas da Humanidade.
Por fim, a obra patenteia uma notável originalidade gráfica, com ilustrações bem expressivas de Ney Megali, que sobressaí no logótipo da capa que se aparenta com o seu congénere do festival. É também, bem meritório, a diversidade policromática do grafismo dos títulos e dos textos que se evidencia como elemento adocicado que motivará, certamente, muitos jovens à sua leitura.