Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Crónicas que tratam temas da cultura, da literatura, da política, da sociedade portuguesa e das realidades actuais do mundo em que vivemos. Em outros textos mais curtos farei considerações sobre temas de grande actualidade.
Joseph M. W. Turner foi um pintor inglês do Romantismo, nascido no fim século XVIII e amadurecido no século XIX, que se destacou como precursor de correntes estéticas da pintura do fim do século XIX e do XX (Impressionismo e Abstraccionismo). Em Portugal, o Museu Caloust Gulbenkian, em Lisboa, possui obras suas devido ao interesse do coleccionador arménio, aliás, na Exposição temporária “O traço e a cor”, podemos apreciar algumas obras suas menos conhecidas.
No fim do século XVIII, Turner ingressa na Real Acadamia das Artes de Londres e começa a revelar a sua propensão para a pintura paisagística e a deixar-se inspirar pelas pinturas exteriores de Lorrain e de Poussin, vistas no Museu do Louvre. Iniciou-se na pintura, ainda adolescente, e dedicou-se à representação de paisagens com uma intensidade emocional que transparecem em muitas das suas obras de cores fortes e de luzes sugestivas à contemplação, ao mesmo tempo em que vai revelando uma personalidade marcada por uma forte misantropia.
O seu tema pictórico preferencial era a paisagem e as incidências lumínicas nas cores, que produziram quadros de uma inegável beleza estética. Neste sentido, estudou os paisagistas holandeses do século XVIII, mas a sua inata criatividade permitiu-lhe antecipar algumas tendências estéticas que só se evidenciaram umas décadas mais tarde. Também frequente é o tema das ruínas tão do agrado dos autores Românticos, tal como no-lo demonstra a exposição temporária de desenhos e aguarelas agora patente no Museu Calouste Gulbenkian.
A representação da cidade de Veneza, que visitou em várias viagens, inspirou uma panóplia de pinturas, que apresentamos num vídeo acompanhado da simbólica música de António Vivaldi. Igualmente, as cenas marítimas estão bem presentes na sua pintura, pois a Inglaterra era um potentado marítimo pelo imenso império colonial que possuía.
Os seus estudos pictóricos de momentos atmosféricos de inolvidável beleza tornaram-no um pintor famoso que esbateu o contorno de figuras e de objectos, antecipando as tendências dos pintores impressionistas do fim do século XIX. Apesar de ter vindo a falecer na solidão, a Inglaterra votou-lhe um justo reconhecimento ao colocar as suas obras nos principais Museus Britânicos de Londres e ao dignificá-lo, postumamente, com uma sepultura na Catedral de São Paulo.
A conceituada artista portuguesa, de projeção internacional, Joana Vasconcelos irá representar este ano Portugal, na Bienal das Artes em Veneza, com um projeto criativo marcado por elementos simbólicos da cultura tradicional portuguesa. Assim, esta provocadora artista, partindo de um antigo cacilheiro, do rio Tejo intitulado ”Trafaria Praia”, que está em reparação e que irá ser revestido, interna e externamente, para o transformar num pavilhão privilegiado de Portugal neste evento, que começará a 1 de junho de 2013. Será, pois, uma obra de arte, simultaneamente, arquitetónica e escultórica.
Esta obra será caracterizada por um revestimento com materiais típicos da cultura tradicional portuguesa: o azulejo, a cortiça e os tecidos. Este barco será, também, adaptado para servir de palco a conferências e a concertos de artistas portugueses.
Constituirá um autêntico pavilhão flutuante, nas águas encantadoras da cidade do romantismo, que recebeu autorização para circular na citá, tornando, assim, a presença portuguesa mais notória neste certame internacional de Belas Artes. Esta representação oficial na Bienal de Veneza é comparticipada pelo Estado Português, embora se procurem, ainda, patrocínios privados. Este chamativo cacilheiro será inaugurado na véspera da abertura da Bienal das Artes de Veneza.
Joana Vasconcelos, nascida em 1971, vive e trabalha em Lisboa, mas tem apresentado o seu trabalho ao mundo através de várias galerias de arte em cidades cosmopolitas, da Europa e da América, que têm exposto os seus trabalhos. É de assinalar que foi um retumbante sucesso, ponto culminante da sua afirmação internacional, a exposição apresentada no Palácio de Versalhes, em conjunto com outros artistas, no verão de 2012, que recebeu um volume de visitas muito significativo.
A marca pessoal da artista é a utilização de objetos comuns, com uma utilização inusitada, que interpela os seus observadores. Esta sua conceção estética inspira-se, deste modo, nas correntes de vanguarda artística, do século XX, designadamente do “ready-made”, do Novo Realismo e da Pop Arte, embora adaptando as suas obras à marca genética da identidade coletiva portuguesa. Desde 2000 que tem recebido Prémios e reconhecimentos, nacionais e internacionais, variados e sido convidada para realizar intervenções em locais públicos (Lisboa, Paris, Porto, Torres Vedras, etc).
A exótica beleza da cidade de Veneza (Venezia) reside no facto de estar construída sobre bancos de areia desde a Idade Média. Como contrariedade cíclica é afetada por inundações recorrentes (como as que se verificaram na primeira quinzena de novembro de 2012) que têm aumentado de volume com o degelo do “aquecimento global”, decorrente das alterações climáticas.
Não obstante, o ritmo Veneziano está, ainda hoje, cadenciado pelas travessias dos “vaporettos”, dos barcos e das gôndolas que atravessam o grande canal e, no caso destes, os pequenos canais, não sendo muito diferente do ritmo de vida do século XVIII, com exceção feita aos magotes de turistas que acorrem à cidade e, em especial, à “Piazza San Marco”. Contudo, nos locais mais interiores da complexa e labiríntica rede urbanística, andando a pé ou de gôndola, pode sentir-se o ritmo tranquilo do romantismo que pulsa por toda a urbe, fazendo convergir para este local muitos casais de apaixonados.
O romantismo é potenciado pelos monumentos e momentos artísticos que nos atropelam em muitas esquinas da cidade, com edifícios antigos de rara beleza e com músicos espontâneos que surgem na “Piazza di Roma” ou a bordo de alguma gôndola. Os transeuntes revelam uma simpatia “sui generis” para com os casais apaixonados, que não se sente com facilidade em outras paragens turísticas, porque o tempo está mais ajustado aos batimentos sentimentais do coração. Nas suas ruelas castiças pode ouvir-se o chilrear dos pássaros, o movimento das águas, o sussurrar do vento nas árvores, mas, seguramente, a chinfrineira urbanística, insuportável das buzinas das grandes metrópoles, está arredada para a parte nova da cidade - Veneza Mestre.
Veneza teve historicamente o seu auge no tempo dos Doges (magistrado supremo do Estado), mormente na Idade Média, quando foi capital da “Sereníssima República de Veneza” que conseguiu expandir um vasto império comercial sobre o Mediterrâneo oriental, controlando as rotas do Levante que traziam as riquezas do oriente, antes dos Descobrimentos Marítimos dos Portugueses terem inaugurado a rota do Cabo. Símbolo desta abertura cosmopolita ao oriente foi a famosa viagem, de reconhecimento da rota da Seda, do Veneziano Marco Polo, que deu nome ao aeroporto da cidade.
No decorrer desta dinâmica histórica, a cidade foi perdendo o seu estratégico poder de charneira Civilizacional entre o Ocidente e o Oriente, que se plasma em muitos pormenores da arquitetura religiosa veneziana marcados pelo bizantinismo decorativo. Esta degenerescência da antiga opulência aristocrática, dos múltiplos palácios que se espraiam ao longo do grande canal, levou a que Napoleão Bonaparte (1769-1821) a conquistasse no fim do século XVIII e no terceiro quartel do século XIX tenha sido integrada no reino de Itália.
O patrono da cidade é São Marcos, pois as suas relíquias trazidas de Alexandria permitiram edificar a grandiosa Basílica que constitui um dos “ex-libris” da “citá”. O “Palazzo Ducale”, residência oficial dos Doges, apresenta em muitas das suas pinturas referências ao santo e uma monumental pintura Renascentista de Jacopo Tintoretto, ao mesmo tempo que o chão estremece ao ritmo dos passos do visitante. É, pois, um monumento recheado de obras de arte que embasbacavam os diplomatas estrangeiros. Deste modo, percebe-se, em função de todo este manancial de bens culturais que pululam na cidade, a sua classificação pela UNESCO de Património Mundial da Humanidade.
Na atualidade, Veneza é famosa pelo seu Carnaval aristocrático, com as suas máscaras luxuosas feitas por artífices especializados, pelo seu Festival de Cinema onde a cinematografia de Manuel de Oliveira tem ecoado pelos argumentos poéticos. A Bienal das Artes é, também, um certame que tem dado projeção mediática à cidade, porquanto os motivos artísticos e os cenários estéticos, de inigualável beleza, interpelam os visitantes a cada recanto da cidade. Uma outra marca forte da urbe é o conjunto de sinais de uma imensa religiosidade, com as suas múltiplas igrejas e nichos exteriores de santos, que comunica serenamente com os passeantes que sentem ter todo o tempo do mundo e se escapam da fúria competitiva, da Globalização desregulada, centrada no fazer e no ter do produtivismo imoderado.
Algumas figuras históricas, naturais de Veneza, concorreram para projetar internacionalmente a singularidade desta povoação pela forte marca identitária das suas ruas serem tracejadas pelas águas do Adriático. Destacam-se nesta panóplia de personalidades de renome mundial os Papas Gregório XII e Pio X (1876-1958), os pintores Jacopo Tintoretto (1518-1598) e Giovanni “Canaletto” (1697-1768), o galanteador Giacomo Casanova (1725-1798), o viajante Marco Polo (1254-1324) e o prodigioso compositor António Vivaldi (1678-1741).
Em suma, trata-se de uma cidade que permite usufruir aos seus utentes uma inexcedível qualidade de vida, pelas suas abundantes obras de arte e locais pitorescos, apesar dos incómodos frequentes das cheias que provocam aos seus habitantes e turistas algum receio. É, pois, um bom modelo para se repensar o paradigma de Globalização, em que vivemos, e “ipso facto” recomendo vivamente uma visita a todas as pessoas de coração romântico que se afastam do ritmo tecnocrático imposto pela ideologia ditatorial dos mercados (“teologia de mercado” na expressão justa do pensador Adriano Moreira).
O Carnaval, como período lúdico em que se festeja com corsos de rua, em que pessoas e crianças trajam com disfarces e máscaras, ou com festas privadas entre amigos, está intimamente ligado à História cristã ocidental, pois antecede a quarta-feira de Cinzas e o período Quaresmal em termos litúrgicos. A folia como um género de dança, de ritmo animado, dos dias festivos, desta quadra anual, vem sendo celebrada pela Música ao longo da História e deixo-vos aqui duas peças magníficas, respectivamente, do período da Renascença e do Barroco.
A cidade de Veneza tem sido desde Giacomo Casanova (1725-1798) e, principalmente, desde o fim do século XIX, no contexto da unificação da nação italiana, uma localidade que se procurou prestigiar pelo seu rico Património Arquitectónico, Paisagístico, Pictórico e pelas suas celebrações Carnavalescas. Contudo, Casanova, escritor e aventureiro do século XVIII, terá sido um dos grandes inspiradores do Carnaval desta mítica cidade.
O Carnaval, se dissociado das brincadeiras de mau gosto que costumam surgir nesta altura, pode ser encarado como um momento privilegiado para o descanso, para as folias de descontracção dos ingentes desafios que a Humanidade, o mundo Lusófono e a Europa enfrentam neste início do século XXI. É, pois, um momento que pode ser aproveitado para se fruir dos candentes sabores da Arte da Folia e da História desta ancestral tradição da Civilização Ocidental.
António Vivaldi foi um músico, compositor e sacerdote que nasceu em Veneza em 1678 e faleceu em Viena em 1741. A sua música infunde uma energia bem característica das obras-primas musicais do período Barroco, tal como se manifesta no excerto melódico que a seguir apresento. Foi um autor de uma genial obra musical muito vasta, tendo composto centenas de concertos e dezenas de óperas, sinfonias, serenatas, cantatas, sonatas, etc. Assim, conseguiu criar em grande quantidade e em qualidade. A sua obra mais conhecida é a Opus 8 que encerra as magistrais melodias d’ “As quatro estações”, hoje muito divulgadas através de um anúncio televisivo. Desde jovem, seguindo o exemplo do seu pai, que além de barbeiro era um violinista virtuoso, tornou-se em Veneza um dos maiores violinistas do seu tempo.
Escreveu também muitas obras sacras na sua qualidade de membro do clero católico, cuja mais conhecida obra coral é “Gloria” que marca a sua inspiração divina. Autores, sem fundamentação documental, indicam-nos que terá mantido um caso amoroso com uma aluna, uma vez que era professor de violino num orfanato de raparigas. O seu trabalho foi reconhecido em vida em grande parte da Europa, o que o levou a fazer grandes viagens. A sua obra influenciou fortemente o trabalho de Johann Sebastian Bach que se tornou um compositor revolucionário de transição na música erudita Europeia.